Câmara de Espelhos chega às salas brasileiras em 12 cidades

Um dos mais comentados documentários de 2016, o longa estreou na última quinta-feira (23), na sala CineBancários, no centro de Porto Alegre (RS), ficando em cartaz na capital gaúcha por pelo menos duas semanas (até dia 6 de dezembro). Além disso, o filme teve pré-estréia dia 25 de novembro (este sábado), em Natal (RN), no Festival EntreTodos, com a exibição em uma mostra paralela dedicada a filmes brasileiros realizados por mulheres e a realização de um debates sobre cinema e feminismo, com a participação de Dea Ferraz, na galeria Câmara Clara.

Além de entrar em cartaz em Porto Alegre, o documentário ocupa, a partir desta quinta-feira (dia 30), as principais salas nas cidades de Recife (Cinema São Luiz), Rio de Janeiro (Cine Joia), Niterói (Cine UFF), Rio Branco (Cine Teatro Rio Branco), Fortaleza (Cinema do Dragão) e Aracaju (Cine Vitoria). E a partir do dia 6 de dezembro, por São Paulo (Espaço Itaú de Cinema Augusta) por meio do projeto Kinorama – Cinema sob Demanda – logo depois Belo Horizonte (no Cine 104, a partir do dia 7) e Curitiba, já confirmada no Cine Guarani mas ainda sem data. E ainda, no Cine Teatro Cuiabá, haverá, dia 1º de dezembro, única sessão especial.

Ao longo de 2016, “Câmara de Espelhos” circulou por vários festivais brasileiros, mobilizando novos olhares e sensibilidades tanto do público quanto da crítica, sobretudo no 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no Distrito Federal, e no 9º Janela Internacional de Cinema do Recife, com sessão marcada pela manifestação de mulheres do audiovisual. Passou, ainda, pelo 12º Panorama Internacional Coisa de Cinema, em Salvador (BA), 20º Forum.Doc BH, em Belo Horizonte (MG). Este ano, esteve na 13ª Mostra de Cinema do Festival de Inverno de Garanhuns e também no 10º Festival de Cinema de Triunfo, onde levou o prêmio de Melhor Direção.

Violência e poder- A obra nasce de um anseio pessoal da realizadora: questionar lugares de violência e invisibilidade nos quais as mulheres vivem diante do consumo de imagens, inclusive delas mesmas. Funcionando por meio de um dispositivo específico, com regras e modus operandi constantes, o longa-documentário propõe a reflexão a partir de uma imagem-símbolo que desvela sentidos, falas e microespaços de poder.
Convidados a participar de um “jogo” em que, espontaneamente, emitem suas opiniões e reflexões dentro de uma sala de estar rodeada por uma caixa preta, ao todo 14 homens, divididos em dois grupos, participam como personagens de uma conversa informal que remente a uma mesa de bar tipicamente masculina, também com suas regras e discursos pré-estabelecidos.

“‘Câmara de Espelhos’, para mim, é a possibilidade de jogar luz nesse discurso subliminar, aparentemente banal, que parece invisível e que tantas vezes deixamos passar porque ‘não é tão grave’, como dizem alguns. Com o filme, tento dizer é gravíssimo”, afirma Dea Ferraz, que divide o roteiro com Joana Collier.

A partir da relação “personagem-personagem”, sem a participação efetiva da diretora ou de qualquer outra pessoa da produção, os homens interagem entre si e comentam a exibição de vídeos sobre os mais diversos temas, desde aborto, passando por sexo e casamento até violência.

“Não há nenhum contato dos homens com a direção. E o fato de termos as câmeras “escondidas” – eles não sabiam a posição específica de cada câmera, mas sabiam que estavam sendo filmados – causou um deslocamento de atuação que gosto muito. Eles atuam entre si, uns para os outros, mais do que para as câmeras objetivamente”, antecipa Dea. “Não imaginei que o documentário seria tão violento. Na verdade, imaginava que seria difícil trazer à tona esse discurso naturalizado do machismo para dentro de uma sala cheia de câmeras e com o consentimento dos personagens. Mas o que vi e vivi foi brutal”, conta.

Sinopse e processo do filme-dispositivo

“Câmara de Espelhos” recorta a mesa de bar do cotidiano, o universo masculino, joga dentro de uma caixa e nos faz olhar para os discursos banais do dia-dia, desfilando a violência que caminha submersa. Opiniões são reveladas diante do espelho. O que nos dizem da imagem feminina que se apresenta? E onde as mulheres estão? Dentro, fora ou no limite da caixa?

A seleção dos participantes deste filme-dispositivo foi feita a partir de um anúncio de jornal, convocando interessados em expor suas opiniões e reflexões na tela do cinema, de modo que eles estavam cientes de que estariam dentro de um filme. O perfil exigido era de homens com faixa etária de 18 a 80 anos, com boa capacidade de expressão e que morassem na Região Metropolitana do Recife.

Antes das gravações, 60 homens foram pré-selecionados para entrevistas individuais. Sob orientação de Dea Ferraz e conduzidos pelas assistentes de direção Nathalia Gomes e Leo Ferrario, tais encontros foram filmados e tinham o objetivo de fazer um recorte sob o critério de diversidade social, levantando dados gerais sobre relações familiares, escolaridade, classe social etc.

O dispositivo é composto basicamente por três elementos: a caixa em si, os vídeos, e a escolha dos personagens. Os vídeos funcionam não somente como estímulos para o debate interno, como também podem ser vistos como o mundo externo que entra pela sala. A pesquisa das imagens midiáticas exibidas (material de Youtube, novelas, filmes, reportagens jornalísticas, programas evangélicos etc) foi realizada durante dois meses, sob a coordenação e supervisão da professora Tatyane Guimarães Oliveira, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

A exibição dos vídeos nas filmagens foi dividida em temas: sexualidade e corpo; religião, casamento e domesticidade; humor; violência. Ao todo, foram seis sessões com cada grupo de homens. Cada sessão durou cerca de 1h40.

O papel das vozes femininas, que “atuam” dentro do dispositivo sem presença corpórea, é outro aspecto importante dentro do longa. Uma das que conduzem os participantes rumo à caixa preta e ao dispositivo, sem aparecer ou revelar o rosto, é a atriz e bailarina Bella Maia. “Pensar minha presença na caixa foi a tentativa de encontro comigo mesma e com o que quero falar. Perceber-me em fendas, rasgos, invisível mas não ausente, é perceber-me como muitas. Como o próprio feminino que está sempre à margem da sociedade, nas fendas do mundo, longe dos olhos do machismo”, justifica a diretora.

Sobre a diretora Dea Ferraz

Dea Ferraz é diretora e roteirista, formada em jornalismo e com especialização em documentários na Escuela Internacional de Cine y TV (EICTV), de San Antonio de los Baños – Cuba. Há mais de 15 anos pesquisa a linguagem documental e em 2017, além de lançar Câmara de Espelhos” em 14 salas de cinema do país, um filme que também teve circulação por importantes festivais nacionais, a diretora lança também “Modo de Produção” na 20a Mostra Tiradentes, seguindo circuito por outros festivais nacionais como 6o Olhar de Cinema, 50o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, 10o Janela Internacional de Cinema, entre outros. Realizadora de curtas, médias e longas, Dea acumula prêmios em vários festivais no Brasil e no exterior, incluindo México, Argentina, Cuba, entre outros.”Alumia”,seu primeiro média metragem (2009), percorreu a América Latina e sagrou-se vencedor nos festivais de Santiago Alvarez, em Santiago de Cuba (Cuba); e no Contra el Silencio todas las Voces, encontro hispano-americano de cinema e vídeo-documentários durante a 5ª edição do DOCSDF (México). Em 2013, a diretora recebeu o convite para dirigir “Sete Corações”, longa-metragem documental sobre os mestres de frevo vivos. Depois de participar do Janela Internacional de Cinema, MIMO e In-Edit, entrou em cartaz no Recife dois anos depois. O doc musical também foi exibido na Rede Globo Nordeste, atingindo a marca de 820 mil espectadores.

Serviço:
Câmara de Espelhos
(Doc, 2016, 79 min)
Classificação etária: 14 anos
Direção: Dea Ferraz

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