Camila Bandeira: “A Fenearte está cheia de novidades” – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Camila Bandeira: “A Fenearte está cheia de novidades”

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Camila Bandeira. Fotos: Marlon Amorim

Diretora de Promoção da Economia Criativa da Adepe, Camila Bandeira, fala dos programas lançados na feira de artesanato que este ano terá ingressos vendidos pela internet, um concurso de moda e o queijo coalho será tema das atividades gastronômicas. Ela também informa sobre ações da sua gestão no setor audiovisual.

Olhar a cultura como um negócio capaz de proporcionar uma transformação social tem sido a visão de Camila Bandeira como diretora-geral de Promoção da Economia Criativa da Adepe (Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco). Essa característica é perceptível nas mudanças que introduziu na edição deste ano da Fenearte, evento do qual é a diretora-executiva. Durante o feira, por exemplo, será lançado o Programa Pernambuco Artesão que vai oferecer oficinas, seminários, palestras, jornadas criativas para estimular o diálogo do artesanato com outras linguagens como o design e a arquitetura para fomentar a inovação, a sustentabilidade e o empreendedorismo.

Outra novidade é a Escola de Economia Criativa que vai proporcionar qualificação ao setor, um gargalo detectado na sua gestão. A moda, amplia sua participação nesta edição com o lançamento do concurso Desafio Mape para estudantes de moda e design do Estado. “O intuito é revelar novos talentos”, explica Camila. Também haverá um desfile diferenciado que o especialista Nestor Mádenes fará com peças expostas na feira. Outra inovação que vai agradar aos visitantes é a compra de ingressos por internet, o que deve reduzir as tradicionais filas para o acesso da feira que acontece de 3 a 14 de julho e que recebeu investimentos de R$ 15 milhões. A expectativa é renovar os bons números alcançados no ano passado, quando foram registrados recordes de público, com cerca de 315 mil pessoas, e impacto econômico de R$ 52 milhões.

Nesta entrevista a Cláudia Santos, Camila fala dessas inovações da Fenearte e de outras áreas da economia criativa, como a retomada da Câmara Setorial do Audiovisual da Adepe. Ainda este ano será feito um mapeamento da cadeia produtiva do setor e realizada uma rodada de negócios. “O audiovisual emprega muita gente, é uma indústria maior do que a automobilística”, ressalta.

O tema da Fenearte, este ano, é Sons do Criar, Artesanato que Toca a Gente. Você poderia explicar esse conceito?

Este ano, estamos homenageando todas as artesãs e artesãos, por meio da sonoridade, porque o artesanato toca a todos eles, literalmente, traz à tona os sonhos que surgem a partir do ofício. O talhar da madeira, o bater no barro, o ferro sendo polido, isso gera sons que tocam todos os artesãos, independente da técnica, da tecnologia. O tocar a gente, seja o toque físico ou sonoro, nos emociona, nos sensibiliza.

Este ano, Nicinha de Caruaru e Saúba de Jaboatão dos Guararapes passaram a integrar a Alameda dos Mestres. Você poderia falar um pouco do trabalho deles?

Nicinha desenvolve um trabalho em Caruaru, há cerca de 60 anos, que envolve também a questão social e política. Ela trabalha com o barro, a cerâmica e integra toda uma comunidade de mulheres e crianças por meio desse ofício. Ela forma pessoas e, inclusive, tem uma associação, no Alto do Moura, chamada Flor do Barro. Nicinha já é mestra reconhecida, mas ainda não havia estado na Alameda dos Mestres.

E Saúba é uma figura! Ele também é mestre e seu trabalho é em madeira, com brinquedos populares, como o rói-rói e o mané- -gostoso, que são super-reconhecidos. Ele vai abrilhantar a Alameda com esse lado lúdico.

Durante a Fenearte será lançada a Escola da Economia Criativa. O que vem a ser esse projeto?

A Fenearte, este ano, está cheia de novidades. A Escola de Economia Criativa é uma delas. A ideia surgiu há um ano porque entendemos que a qualificação era um gargalo, não só para o artesanato, mas em todos os setores da economia criativa. Então, estruturamos o projeto, conversamos com especialistas e demos o primeiro passo dessa escola na Fenearte, com foco no artesanato. Vamos estudar a participação das prefeituras e associações na feira, onde haverá uma curadora com esse olhar, registrando, conversando e entendendo como os municípios que estão presentes trabalham o artesanato para culminar nessa exposição, nessa comercialização.

A partir disso, ao longo do ano, desenvolveremos alguns cursos voltados para os gestores públicos municipais e estaduais, para gerar resultados na próxima Fenearte ou nas próximas feiras e mercados em que eles estiverem presentes. Pretendemos ampliar o leque da Escola de Economia Criativa para além do gestor, trabalhar com o empreendedor, o artesão, mas esse primeiro passo é voltado para gestores públicos, porque acreditamos que, dessa forma, há um poder de disseminação mais rápido e eficiente.

Outro programa lançado é o Pernambuco Artesão. Qual é o objetivo dele?

O objetivo é fomentar a cadeia produtiva do artesanato, tendo como centro o artesão. Desenvolveremos ações de formação em convênio com a Adepe e em parceria com o Sebrae. Haverá oficinas, seminários, palestras, jornadas criativas para estimular o diálogo do artesanato com outras linguagens como o design e a arquitetura, por exemplo.

Dessa forma, a gente fomenta a inovação, a sustentabilidade e o empreendedorismo. Por meio do convênio do programa levaremos alguns artesãos para expor e vender seus produtos em feiras nacionais e internacionais.

Além disso, vamos concluir o mapeamento da cadeia produtiva do artesanato. Será a conclusão da pesquisa que iniciamos na Fenearte do ano passado. Essa segunda etapa da pesquisa vai a campo, aos territórios, para termos uma visão completa.

Será feito um mapeamento do setor de artesanato em todo o Estado?

Isso. Por incrível que pareça, não existem dados locais com foco no artesanato. Há alguns trabalhos a nível nacional, mas não existe um mapeamento da cadeia produtiva de artesanato em Pernambuco. Então, vamos levantar essas informações. A importância desse estudo é nos direcionar para a tomada de decisões e realização de ações mais assertivas com base nessa realidade. Essa pesquisa tem quatro vertentes: o mercado, o artesão, o produto e o território. Com isso, teremos um olhar completo do artesanato do Estado. Esse mapeamento será divulgado na Fenearte do ano que vem.

E na área de moda, quais são as novidades?

O Moda Fenearte é uma das grandes novidades. A moda está cada vez mais se misturando ao artesanato e, na economia criativa, esse diálogo entre as linguagens é muito potente. Então, estamos usando a Fenearte como plataforma de visibilidade à moda. Ressignificamos o espaço da Passarela Fenearte e, além dos desfiles, vamos trazer oficinas especializadas, bate-papos e quatro exposições.

Dentro do Moda Fenearte, lançamos o Desafio Mape, que também é o nome da nossa loja de Moda Autoral de Pernambuco. Para o desafio, foram convidados estudantes de moda e design de todas as universidades e cursos do Estado. O intuito é revelar novos talentos, fomentar essa nova produção. Além do prêmio em dinheiro, o vencedor ganhará uma mentoria com um grande nome da moda, uma pessoa especializada na área.

Outra novidade é o desfile da loja Mape, voltado para as marcas daqui e que, neste ano, homenageia Naná Vasconcelos. Também haverá um desfile que nunca foi feito antes, que é o desfile da própria Fenearte com peças de todos os lugares que estarão presentes na feira. A curadoria será feita por Nestor Mádenes. Ele vai garimpar peças nos estandes e montar os looks na hora.

Essas mudanças no segmento da moda foram feitas com base em algum gargalo ou necessidade do setor ou da própria feira?

Com certeza. Não se trata só de desfile de moda, identificamos que existe toda uma cadeia produtiva e uma potencialidade muito grande que precisa ser trabalhada, e estamos usando a Fenearte como espaço propício para isso. A Mape, por exemplo, é uma loja colaborativa com cerca de 80 marcas comercializadas. Mas pretendemos ir além da loja, promovendo ações voltadas para o setor através da Adepe, com foco no desenvolvimento econômico. Então essas oficinas, bate-papos e exposições são uma primeira provocação que estamos fazendo nesse sentido.

E o momento é bem propício. Tem-se falado muito, por exemplo, na Fast Fashion e a produção de roupas baratas em grande escala com implicações ambientais e sociais.

Exatamente. E nosso papel, neste momento, é provocador. Pernambuco tem tudo para deslanchar na moda autoral e tem um grande Polo de Confecções. Então, o intuito é unir o melhor que esses dois mundos podem ter. É um desafio, mas nós estamos começando a provocar para que venha.

No ano passado, vocês lançaram o Circuito Fenearte. Como foi a experiência? Vai se repetir este ano?

É importante destacar que o Circuito Fenearte não é a feira de artesanato acontecendo em outros espaços, mas são outras linguagens, outras atividades, como exposições, bate-papo, festival gastronômico, que a gente ativa em outros lugares. São programações paralelas. A experiência do ano passado foi muito legal. Embora tenha sido o primeiro ano, teve uma repercussão muito positiva, tanto que, este ano, vamos repetir e ampliar.

Ano passado, essas programações paralelas aconteceram exatamente no período da feira. Este ano, o Circuito acontece de 26 de junho a 28 de julho. Então já começou dia 26 de junho com a ART.PE, que é a Feira de Arte Contemporânea de Pernambuco, e o lançamento do Circuito vai ser dentro dessa feira. Além de ampliar os dias, vamos aumentar geograficamente. Ano passado, o foco foi o Recife e Olinda, este ano, além das duas cidades, chegaremos em Caruaru, no Agreste, e Tracunhaém, na Zona da Mata, que são dois grandes polos de artesanato, onde haverá visitas a ateliês e exposições.

E na área de gastronomia, quais são as novidades?

A gente começa agora a tematizar a área de gastronomia da Fenearte, e o tema deste ano será o queijo coalho, que é uma iguaria pernambucana, está em processo de patrimonialização e queremos ressaltar enquanto símbolo da nossa identidade cultural que tem um rebatimento direto no desenvolvimento econômico. Vamos enaltecer o queijo coalho na Fenearte e no Circuito. Na feira, todas as receitas das aulas de gastronomia vão usar esse queijo como ingrediente. No Circuito, teremos uma exposição no Eufrásio Barbosa. Vamos trazer parte do acervo do Museu do Queijo Coalho de Garanhuns para o mercado e montar uma exposição bem bacana.

Vocês anunciaram também mudanças na compra dos ingressos. O que mudou?

Pela primeira vez, estamos vendendo os ingressos antecipadamente. As vendas estão acontecendo pela internet (https://www. evenyx.com/24a-fenearte) e em pontos de venda físico. Dessa forma, é possível chegar na feira já com o ingresso na mão, sem ter que enfrentar fila. É uma medida que traz mais conforto. Também para trazer maior conforto e uma experiência positiva, tanto para quem visita, como para quem está lá vendendo, vamos ter a ampliação da entrada principal da feira. Ela será praticamente dobrada de tamanho, facilitando a circulação e dando espaço para mais guichês de bilheteria no intuito de diminuir as filas.

Também dobramos o número de traslados gratuitos. Além dos que saem do Shopping Tacaruna e do RioMar, incluímos o Shopping Patteo Olinda e o Shopping Recife, levando e trazendo as pessoas para a feira, de forma gratuita, a cada meia hora ou 15 minutos dependendo do shopping.

Além dessas novidades da Fenearte, quais são os outros projetos da sua gestão?

Retomamos a Câmara Setorial do Audiovisual da Adepe e pretendemos emplacar alguns projetos estruturados para o setor ainda este ano, fazendo um mapeamento da cadeia produtiva – da mesma forma que foi feita com o artesanato – promover eventos de mercado que tragam grandes players, compradores para ver a nossa produção por meio de rodada de negócios, enfim vamos fazer uma feira de mercado do audiovisual.

É necessário, porque o audiovisual é uma cadeia que emprega muita gente, é uma indústria maior que a automobilística. Sabemos que os editais são importantes e têm que ser mantidos. Mas não são a única alternativa. Nossa intenção é gerar negócio, desenvolver o empreendedorismo, para quem tiver interesse em empreender, porque nem todo mundo precisa ter.

Alem disso, a partir do Circuito Fenearte, vamos resgatar designers pernambucanos, como Francisco Brennand, Clementina Duarte, para dialogar com designers novos, misturar com o artesanato e ver como isso pode gerar novos produtos, inovar olhando para o mercado. Estamos também em fase de projeto avançado para fazer o redesign de todo Armazém 11. A ideia é transformá-lo em um Hub de Economia Criativa, um local de encontros, de rodadas de negócios que, além da loja de bebidas, do Centro de Artesanato e da loja Mape, tenha espaço para exposições temporárias, um café, a venda de queijos artesanais e produtos da gastronomia pernambucana.

O intuito é que as pessoas entendam que não se trata apenas de um local de exposição. Ele é uma loja e, como política pública, é importante dar visibilidade a esse canal de vendas pelos artesãos. A gente contratou o pessoal de visual merchandising especializado em vitrinismo, em comportamento do consumidor, para expor os produtos de uma forma mais adequada para valorizar e vender mais. O objetivo é aliar a arte à questão econômica. O projeto já existe, e esse redesign deve ser concluído no final do ano que vem.

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