Em meio a uma das eleições nacionais mais tumultuadas e imprevisíveis, o debate sobre os temas essenciais para o desenvolvimento do Estado ficou prejudicado. Para não perder a oportunidade de tratar sobre questões estratégicas para Pernambuco nesse pleito estadual, provocamos os candidatos ao Palácio do Campo das Princesas a tratarem de quatro assuntos. Logística, segurança cidadã, interiorização do desenvolvimento e recuperação da indústria são aspectos cruciais apontados pelo corpo técnico da pesquisa Empresas & Empresários, que é realizada pela TGI e pelo INTG, com patrocínio do Governo de Pernambuco.
Armando Monteiro Neto (PTB), Dani Portela (PSOL), Júlio Lóssio (REDE), Maurício Rands (PROS) e Paulo Câmara (PSB) responderam aos nossos questionamentos. Entramos em contato com Simone Fontana (PSTU), mas ela não nos enviou as respostas a tempo. Nas páginas a seguir apontamos as propostas para cada um desses temas e no nosso site você pode conferir as respostas na íntegra.
Hoje, no segundo dia da série, abordamos as principais propostas sobre a Recuperação da Indústria
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A atual crise econômica afetou fortemente os novos segmentos industriais que desembarcaram em Pernambuco na última década. Os candidatos comentaram esse cenário e trouxeram propostas sobre as ações para garantir a manutenção desses novos polos industriais, como nos casos da Hemobrás, Refinaria Abreu e Lima e do setor naval.
De acordo com Paulo Câmara, muitos desses empreendimentos foram trazidos para Pernambuco durante o governo Eduardo Campos e da presidência de Luís Inácio Lula da Silva. Ele ressaltou a importância desse ciclo econômico para geração de emprego e renda no Estado e fez comentários sobre um desses novos setores. “No caso específico da Hemobrás, o Governo Temer tentou levar para o Paraná a tecnologia de produção do ‘fator VIII recombinante’, uma das mais importantes da empresa, e não deixamos isso acontecer. E estamos sempre brigando pelos investimentos que já estavam acertados. E, enquanto administração estadual, trabalhamos para garantir a melhor infraestrutura para que esses projetos e outros que possam vir para Pernambuco e possam cumprir seus planejamentos”.
A consolidação desses projetos industriais dependerá de uma ação firme e articulada do governo estadual, na avaliação de Armando Monteiro Neto. Ele propõe medidas duras para a sobrevivência do polo naval, como garantir junto ao BNDES um refinanciamento das dívidas contraídas. “Além disso, defendo a adoção de um plano estrutural para o futuro dessa indústria que envolva uma política de conteúdo local equilibrada: que tenha foco, metas de produtividade e o caráter temporário para obtenção dos resultados”. Em relação à refinaria, propõe estabelecer uma missão comercial para mostrar as potencialidades do Estado e as vantagens que o investidor internacional teria em participar do empreendimento. Sobre a Hemobrás, ele acredita que é necessário um parceiro privado para a conclusão da fábrica de fracionamento de plasma e a instalação da planta de recombinante.
Maurício Rands promete empregar sua experiência parlamentar e executiva para atrair mais investimentos estruturadores. “Pernambuco não vai conseguir se desenvolver apenas com dinheiro “azul e branco”. Nisso, as forças políticas que estão no executivo e no legislativo não pontuaram bem”. Ele sugere meios inovadores para garantir mais recursos nesses setores. “Vamos utilizar mecanismos criativos de modelagem econômico-financeira. Como, por exemplo, o conceito de Project finance (modelo específico de financiamento de projetos de infraestrutura que foi desenvolvido na Inglaterra e viabilizou grandes obras como o canal da Mancha)”.
Os recursos para garantir a consolidação e o desenvolvimento desses empreendimentos dependem principalmente da União, na avaliação da candidata Dani Portela. “Já o papel do Estado é atuar como facilitador do processo de captação de recursos. Nosso governo vai lutar para mudar a atual conjuntura, propondo a rediscussão do pacto federativo, a fim de que o Estado tenha maior capacidade de investimento”.
Júlio Lóssio defende uma articulação junto ao Governo Federal para conclusão de obras estruturadoras, como a Transposição e a Transnordestina, além de outras ações para garantir mais competitividade. “É preciso conectar nosso polo tecnológico (Porto Digital) com nossos polos econômicos (agricultura irrigada no São Francisco, gesso no Araripe, confecção no agreste), além de rever o modelo tributário, com estímulos a pequenas e médias empresas e não apenas aos grandes conglomerados”.
PERGUNTAMOS A TODOS OS CANDIDATOS: Com a recente crise econômica vários dos novos segmentos produtivos industriais Pernambucanos (como a Hemobrás, RNEST e o Polo Naval) estão em dificuldades, com risco de fechamento. São empreendimentos federais ou privados, mas de grande relevância para a economia local. Qual a sua proposta de atuação do Governo do Estado para contribuir na recuperação desses empreendimentos/setores? As respostas na íntegra seguem abaixo.
PAULO CÂMARA
Muitos desses empreendimentos foram trazidos para Pernambuco durante os Governos Eduardo Campos e do presidente Lula. Uma parceria que ajudou o nosso Estado a gerar muito emprego e renda, a garantir mais desenvolvimento e a consequente melhoria da qualidade de vida da nossa população. No caso específico da Hemobrás, o Governo Temer tentou para levar para o Paraná a tecnologia de produção do “fator VIII recombinante”, uma das mais importantes da empresa, e não deixamos isso acontecer. E estamos sempre brigando para que os investimentos que já estavam acertados. E, enquanto administração estadual, trabalhamos para garantir a melhor infraestrutura para que esses projetos e outros que possam vir para Pernambuco possam cumprir seus planejamentos.
ARMANDO MONTEIRO NETO
Polo Naval – Com medidas mais urgentes é preciso se trabalhar em duas frentes. Primeiro, garantir junto ao BNDES um refinanciamento das dívidas contraída com a extensão do prazo de carência e o alongamento do período para amortização dos empréstimos contratados.
Segundo, articular junto à Petrobras o afretamento de embarcações que comporiam a renovação da carteira de encomendas. Há interesse de parceiros privados em encomendar embarcações para transporte de petróleo e derivados, além da construção de navios petroleiros do tipo Suezmax, dimensionados para atender os limites impostos pela travessia do Canal de Suez. No entanto, essa solução dependeria do afretamento das embarcações pela Petrobras. Vale destacar que o cancelamento da encomenda da Petrobras de sete navios ao Estaleiro Atlântico Sul, desestabilizou o planejamento inicial da empresa. O mesmo ocorreu com o Vard Promar, o outro estaleiro do estado.
Além disso, defendo a adoção de um plano estrutural para o futuro dessa indústria que envolva uma política de conteúdo local equilibrada: que tenha foco, metas de produtividade e o caráter temporário para obtenção dos resultados. O EAS recebeu investimento de R$ 3 bilhões e depois de muitas dificuldades conseguiu capacitar mão de obra e obter ganhos de produtividade. Hoje, o estaleiro atingiu de 70% a 75% da curva de aprendizado, e opera com produção de cinco navios por ano. Portanto, para manter os empregos em Pernambuco e estimular a cadeia produtiva no estado, sobretudo no setor metal-mecânico se faz necessário uma ação coordenada para garantir a efetividade dessas medidas.
Refinaria – Com relação à RNEST podemos estabelecer uma missão comercial para mostrar as potencialidades do nosso estado e as vantagens que o investidor internacional teria em participar do empreendimento da refinaria em Pernambuco, ao ampliar a capacidade de processamento do petróleo dos atuais 100 mil barris para 230 mil barris. Nesse sentido, destacaríamos a nossa vocação logística, tanto no que se refere à importação de equipamentos e plataformas, quanto na grande capacidade de comercialização para os outros estados do País, sobretudo o Nordeste.
Hemobrás – A Hemobrás foi constituída ainda em 2004, decorrente da necessidade natural de se implantar um empreendimento para a produção de hemoderivados e produtos relacionados à hemoterapia para fornecimento direto ao Ministério da Saúde, dado que há um dispositivo constitucional (Art. 199) que veda a comercialização de sangue e seus derivados no Brasil.
Assim, a Hemobrás foi criada com os objetivos: de obter segurança no fornecimento de longo prazo dos produtos de modo a reduzir a dependência externa ou privada; diminuir os atuais elevados custos com a importação dos produtos e capacitar o País tecnologicamente na área de engenharia genética voltado para hemoterapia, atendendo inclusive uma lógica do desenvolvimento regional, de modo a ancorar o polo farmoquímico e de biotecnologia em Pernambuco.
Nesse sentido, defendi no Senado Federal e junto com outros parlamentares da bancada federal conseguimos o compromisso e a decisão do atual governo em manter o projeto da fábrica de recombinante em Pernambuco, que é o produto de maior valor agregado e de mais alta densidade tecnológica. Assim manterei essa posição e como governador estarei à frente desse processo de negociação. Tenho a convicção que a conclusão da fábrica de fracionamento de plasma e a instalação da planta de recombinante envolve a participação de um parceiro privado, o que concordamos em função do cenário de grave desequilíbrio fiscal. Portanto, o governo federal precisa estabelecer as condições para todos possíveis candidatos – em termos de prazos, investimentos e transferência de tecnologia, inclusive levando em consideração a atual parceria hoje existente, que demanda ajustes.
DANI PORTELA
Os recursos para garantir a manutenção desses empreendimentos são de grande porte, portanto, dependem dos recursos da União para sua consolidação e desenvolvimento. Já o papel do estado é atuar como facilitador do processo de captação de recursos. Nosso governo vai lutar para mudar a atual conjuntura, propondo a rediscussão do pacto federativo, a fim de que o estado tenha maior capacidade de investimento.
MAURÍCIO RANDS
Vamos empregar nossa experiência no parlamento, no executivo e no setor privado, inclusive no exterior, para atrair mais investimentos estruturadores para o estado. PE não vai conseguir se desenvolver apenas com dinheiro azul e branco. Nisso, as forças políticas que estão no Executivo e no Legislativo não pontuaram bem. Durante meus três mandatos de deputado federal desenvolvi uma capacidade de articulação e networking que agora vai se reverter para o bem do desenvolvimento do estado. Vamos também utilizar mecanismos criativos de modelagem econômico-financeira. Como, por exemplo, o conceito de Project finance (modelo específico de financiamento de projetos de infraestrutura que foi desenvolvido na Inglaterra e viabilizou grandes obras como o canal da Mancha). Por esse modelo, a empresa construtora da obra obtém financiamento
JÚLIO LÓSSIO
Articulação junto ao governo federal para conclusão de obras estruturadoras como transposição e transnordestina. Conectar nosso polo tecnológico (Porto Digital) com nossos polos econômicos (agricultura irrigada no São Francisco , gesso no Araripe, confecção no agreste , etc). Revisão modelo tributário e estímulos à pequenas e médias empresas e não apenas aos grandes conglomerados.