Capital pernambucana ocupa 8ª posição entre as 10 capitais estudadas em levantamento sobre emissões líquidas, com 1,56 toneladas de CO2 por habitante. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Um levantamento do Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) apontou que Recife está na 8ª posição entre as 10 capitais brasileiras analisadas em relação às emissões líquidas de gases de efeito estufa, com 1,56 toneladas de CO2 por habitante. O estudo, baseado em dados de 2022 do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), coloca a capital pernambucana acima da meta da Agenda 2030 da ONU, que estipula 0,83 tonelada por habitante. As emissões vêm sendo impactadas principalmente por questões ligadas ao transporte, à gestão de resíduos e à expansão urbana.
O biólogo Conrado Galdino, professor e pesquisador da PUC Minas, ressalta a urgência de medidas para enfrentar esse cenário. Segundo ele, embora o controle das emissões dependa, em grande parte, do governo federal, os municípios têm um papel fundamental. “O município pode fazer muita coisa. A simples piora da qualidade do ar já deveria ser um motivo para os candidatos a prefeito priorizarem propostas que reduzam as emissões. A situação traz muita preocupação, principalmente diante das queimadas e do crescimento desordenado das cidades”, comenta Galdino, reforçando que políticas locais como a melhoria no transporte público e a gestão adequada de resíduos podem contribuir significativamente para mitigar as emissões.
Além disso, Galdino destaca a importância de engajar a população no debate sobre sustentabilidade. “A gente precisa de uma sociedade sensibilizada para as mudanças. Sem uma população ciente e engajada, qualquer política corre o risco de ficar no papel, sem impacto prático. Educação é fundamental para gerar essa consciência e facilitar a aceitação de medidas que possam ir contra o conforto imediato, mas que são necessárias para garantir o bem-estar no longo prazo”, completa o biólogo.
Marco Antonio Milazzo, professor de arquitetura e urbanismo do Ibmec no Rio de Janeiro, também destaca a necessidade de ações locais para frear as emissões de gases de efeito estufa, sobretudo no setor de transporte e na gestão do lixo. “O município pode regulamentar o transporte e investir em modais que emitam menos gases de efeito estufa, como a eletrificação do transporte público e a criação de ciclovias. Além disso, é crucial eliminar os lixões e investir em aterros sanitários adequados. Medidas assim trazem resultados rápidos e significativos”, afirma Milazzo. Ele reforça ainda que soluções como a tarifa zero no transporte público, já adotadas em algumas cidades brasileiras, são bons exemplos de iniciativas que podem incentivar o uso de transporte coletivo e reduzir o trânsito de veículos individuais movidos a combustíveis fósseis.
A Agenda 2030, estabelecida pela ONU, propõe metas ambiciosas para os governos de todo o mundo, e o estudo do ICS vem como um alerta para os municípios brasileiros. Recife, apesar de avanços em algumas áreas, precisa acelerar políticas públicas mais eficazes para alcançar as metas globais de sustentabilidade e enfrentar a crise climática em um contexto local.