A Comunidade Quilombola do Barro Branco é o foco e a inspiração do artista Carlos Mélo na Residência Belojardim 2018, que fica aberta até o dia 30 de junho. O projeto do Instituto Conceição Moura chega a sua segunda edição levando arte contemporânea para a cidade de Belo Jardim, no Agreste de Pernambuco.
Localizada há 10 quilômetros do centro, a comunidade quilombola foge dos esteriótipos que a população brasileira tem dos povos tradicionais. No lugar de uma reunião ao redor da fogueira, uma roda de crianças com celulares na mão conectadas com o mundo. Essa é uma das ilustrações mencionadas por Carlos do que ele encontrou nesse seu período de imersão em Belo Jardim, que irá durar ao todo aproximadamente 4 meses. A Comunidade Quilombola do Barro Branco, luta pelo reconhecimento oficial, mas também luta em um auto reconhecimento. Sem uma história escrita ou mesmo conhecida dos seus antepassados, há um processo de identidade territorial ainda em construção dessa população que é de aproximadamente 70 famílias.
O artista mudou-se para Belo Jardim em março, quando começou a interagir com a comunidade. Nesse período Carlos começa a rodar também a produção do média-metragem Barro Oco, que tem como objetivo trazer esse olhar sensível sobre a comunidade como gerador de dinâmicas de resgate de sua subjetividade. Junto à comunidade ele construiu uma cerca com 4 mil ossos, que simboliza não apenas a demarcação, mas a resistência e força desse povo. A intervenção atravessa parte do terreno da comunidade quilombola e parte de uma propriedade privada da região.
Além do filme e das intervenções na comunidade, a residência tem desenvolvido uma programação cultural na Fábrica Mariola, espaço cultural ligado ao Instituto, que tem funcionado como ponto irradiador de conversas e de contato com a população da cidade.
Carlos Mélo/1969
É um artista plástico brasileiro conhecido pelas suas performances, fotografias, vídeos e instalações. Segundo Moacir doa Anjos, “seus estranhos auto-retratos fundem corpo e palavra, fazendo do signo da língua uma marca da individualidade, índice de um corpo genérico”. Ou ainda: “Também as imagens que cria buscam diluir o que torna o seu corpo único e mostrá-lo, ao contrário, como corpo comum e exemplar. Prosseguindo e, ao mesmo tempo, desviando esta linha de interpretação, mais do que marcar a suposta individualidade do corpo e sua unicidade, ele talvez marque a esfera representacional identitária que o fixa numa forma e, junto com ela, a forma de uma subjetividade”.
A obra de Carlos busca afirmar o singular, o intensivo, o afetivo. Da acordo com Suely Rolnik, “a obra de Carlos demarca um território, ou melhor, o instaura. Como nos animais, isso se faz por meio de dispositivos sempre ritualizados, que são, mais do que tudo, ritmos. Porém, diferentemente dos animais, aqui, o ritual e seu ritmo estão constantemente mudando; eles se inventam a cada vez em função do meio onde se fazem e do campo problemático que buscam enfrentar. Para isso o artista instala-se na imanência do mundo, ao pé do real vivo, só apreensível por afeto”.
Com várias formações e pesquisas no ramo das artes e filosofia, desenvolve uma atividade artística regular de âmbito nacional e internacional. Expõe regularmente em circuitos institucionais (entre eles VideoBrasil, São Paulo; MAMAM, Recife; Fundação Joaquim Nabuco, Recife; Itaú Cultural, São Paulo; Krannert Art Museum, Champaign, EUA; Plataforma Revólver, Lisboa. Trabalha com a Galeria Emmathomas (São Paulo) e Amparo 60 (Recife). Foi premiado em diversos salões de arte nacionais e em 2006 recebeu com o Prêmio CNI Marcantonio Vilaça para as artes visuais.
Serviço:
Residência Belojardim — Carlos Mélo (Ciclo de exposições artísticas em Belo Jardim)
Até o dia 30 de junho de 2018
Espaço Oco
Fábrica Mariola
Praça Jorge Aleixo, s/n
Centro – Belo Jardim