Quem já teve de fazer sessões de fisioterapia para reabilitar alguma parte do corpo sabe o quanto o tratamento é eficaz, porém entediante. Para a alegria dos pacientes, fisioterapeutas têm recorrido aos games e os resultados têm sido muito bons. Psicólogos também constatam as vantagens de tratar casos de transtornos como o déficit de atenção transformando seus pacientes em gamers. Para quem pensa que tal novidade não é coisa séria, saiba que os jogos viraram objeto de estudos científicos de instituições renomadas que passaram a desenvolver games para usos na área de saúde. Um interessante movimento que tem integrado acadêmicos desse setor aos estudiosos da área de tecnologia. A fisioterapeuta Adelany Santos, da clínica Savita, já constata na prática os benefícios dos jogos. Ela confessa que um grande desafio da sua profissão é tornar as sessões de reabilitação mais atraentes, porque são cansativas, repetitivas e monótonas e muitos interrompem a terapia antes de concluí-la. “Usamos o videogame como uma ferramenta para o paciente aderir ao tratamento de forma mais prazerosa”, justifica. . . Nessa diversão, Adelany utiliza o console Xbox integrado a um dispositivo conhecido como Kinect, que não depende de acessório periférico, como mouse, teclado ou controle ligado a fio. Ele capta todos os movimentos do usuário por meio de um sensor. Dessa forma, ele fica com as mãos livres, o que lhe dá mais mobilidade. Quando uma pessoa joga um videogame de voleibol, por exemplo, o avatar (no caso, a animação de jogador de vôlei do jogo) realiza os mesmos movimentos do usuário. Assim, em vez de jogar sentado, o paciente joga em pé, simulando a movimentação dos jogadores numa partida. Essa “jogada terapêutica” tem sido efetiva em indivíduos que sofreram sequela neurológica, ou que estejam em recuperação no pós-operatório ou até mesmo um idoso. “Pessoas mais velhas vão perdendo suas capacidades ao longo da vida e precisam de reabilitação para restaurar algumas funções do cotidiano, como trocar de roupa, tomar banho sozinho, se deslocar”, explica Adelany. O game é escolhido pelo fisioterapeuta de modo a simular a atividade que o paciente necessita. . . O resultado dessa “brincadeira”? “Por ser mais lúdico, o videogame aumenta a adesão do paciente ao tratamento”, assegura Adelany. Mas não é só isso. Como a realidade virtual é um sistema imersivo e interativo, ela permite que a entrada e a saída de informações no cérebro sejam facilitadas. Isso possibilita uma recuperação melhor. “É como um processo de aprendizado, em que são estimuladas as células do sistema nervoso para que o paciente reaprenda um ato motor”, esclarece a profissional. Outro aspecto interessante é que na reabilitação tradicional é comum o paciente não realizar corretamente os exercícios com receio de sentir dor. “Mas ao jogar, graças à interação lúdica, ele se distrai com o game, se expondo gradativamente ao movimento, perdendo o medo. Por isso, acaba se recuperando mais rápido", relata a fisioterapeuta. Para os idosos o game trabalha o equilíbrio, estimula a coordenação motora e o próprio movimento. Com o passar do anos, muitas pessoas diminuem sua necessidade de mover-se porque a vida social se retrai, param de trabalhar e ficam mais tempo em casa. “O objetivo da fisioterapia é estimular o movimento desses pacientes, só que com o game acaba sendo de uma forma divertida”, afirma Adelany. Que o diga a arquiteta Rosa Bonfim, de 72 anos. Ela tem osteoporose em alto grau e sofreu fratura espontânea em três vértebras, além de apresentar um problema sério de coluna. “Também sou cardiopata, tenho uma prótese na válvula mitral”. Seu médico a aconselhou a não fazer exercícios que forçassem muito suas costas, mas com a ressalva de que não ficasse completamente parada. A atividade com videogame foi a solução. “Faço há dois anos. Tenho mais equilíbrio, sinto até mais segurança e é também divertido”, comemora Rosa. Apesar dos problemas de saúde, a arquiteta move-se com destreza, usando pés, mãos, braços e cabeça ao jogar games nos quais simula ser jogadora de vôlei, de ping-pong, uma artilheira de futebol e até goleira. As sessões de fisioterapia têm sido tão prazerosas que ela não teme mais realizar movimentos que antes lhe pareciam imposíveis de executar. “Nem na imaginação eu me vejo pulando com os dois pés, mas, jogando, eu consigo pular”, alegra-se Rosa, que tem uma vida ativa, trabalha e caminha sozinha de casa até a clínica para se exercitar. O futuro dos games na saúde é muito promissor, segundo Adelany. “Cada vez mais, universidades estudam essa ferramenta e algumas a usam como desenvolvimento de pesquisa”, aponta. Em Pernambuco isso é realidade. As vantagens dos games na recuperação dos pacientes, estimulou a professora de Engenharia Biomédica Alana Elza Gama a desenvolver, por meio do projeto Ikapp, no Voxar Labs, laboratório do Centro de Informática da UFPE, uma tecnologia que permite criar jogos de uma forma personalizada. Um dos games, por exemplo, usa o recurso da realidade aumentada, isto é, reproduz no computador o ambiente onde a pessoa está e inclui alguns elementos virtuais de animação. No caso, uma bola e uma cesta de basquete. O desafio é fazer um movimento para erguer o braço, simulando pegar a bola e colocá-la na cesta. “Se o paciente só levanta o braço a 20 graus, eu adapto a partida para esse alcance. Se ele conseguiu atingir a meta, elevo a localização da cesta”, explica Alana. À medida em que o movimento é feito, o paciente recebe um feedback se está se exercitando da forma correta e, ao término da sessão de fisioterapia, o sistema oferece um relatório com o percentual de acertos e erros da atividade feita. Um estudo comprovou a eficácia da tecnologia. “Entre os pacientes que faziam a reabilitação com jogo, a quantidade de movimentos dobrou. O número de exercícios corretos melhorou muito, a média foi de 93% e, sem o game, 60%”, compara Alana. A tecnologia permite ainda ao paciente se exercitar em casa, sem perigo de treinar de forma errada e se machucar, já que o sistema oferece o feedback. Benefício que aumenta a