Certamente, sim, mas você não liga o nome à pessoa. Melhor dizendo, não liga os nomes à pessoa. Assim mesmo, no plural. Afinal ele já foi Beto, Tuco, Belchior, Cláudio, Agripino, Duda, Douglas Fabiani, Adolfo, Júlio, Afonsinho Henriques Mourão, Tito Moreira França, Cândido, Tenente e dezenas de outros personagens que imortalizou em telenovelas, filmes e peças teatrais. O resultado é que ele enriqueceu a arte cênica brasileira, como você irá constatar mais adiante. Novelas, programas e especiais, por exemplo, foram diversos. Na Globo, Selva de Pedra foi o primeiro, em 1972. Em seguida vieram A Grande Família (a primeira comédia de costumes da Globo), Cuca Legal, Pecado Capital, Estúpido Cupido, Nina, Sinal de Alerta, Dinheiro Vivo, Memórias de Amor, Olhai os Lírios do Campo, Plantão de Polícia (participação especial), O Resto é Silêncio, Os Imigrantes, As Cinco Panelas de Ouro, Avenida Paulista, Nem Rebeldes nem Fiéis, Os Imigrantes: Terceira Geração, Caso Verdade, Roque Santeiro, A Grande Família Especial, Abolição, A História de Ana Raio e Zé Trovão, Fronteiras do Desconhecido, Pantanal (participação especial)¸ Filhos do Sol, O Guarani, Guerra sem Fim, Confissões de Adolescente - Osório Neto, A Idade da Loba, Você Decide, Mandacaru, Sem Limite, e Concertos para a Juventude. Na Tupi, atuando na novela Dinheiro Vivo, ele se destacou no papel de Douglas Fabiani, o apresentador de um fictício programa de perguntas e respostas. Seu trabalho foi tão benfeito que, dez anos depois, ele apresentou, de fato, um programa parecido, o Sem Limite. Sua presença cinematográfica também foi marcante. Estreou em 1974, com As Alegres Vigaristas, e fez mais onze filmes: O Monstro do Santa Teresa, O Namorador, O Caso Cláudia, O Grande Palhaço, Parceiros da Aventura, Pra Frente, Brasil, A Mulher Serpente e a Flor, Janete, Por Incrível que Pareça, Os Trapalhões no Auto da Compadecida e O Que é Isso, Companheiro? – que marcaram sua atuação na cinematografia brasileira. Aliás – O Que é isso, Companheiro foi indicado, no ano do lançamento, ao Oscar de melhor filme estrangeiro. No teatro, atuou na peça Salomé, de Martim Gonçalves, Ésquilo, Sófocles, Shakespeare, Molière e Gorki, no entanto foi com a montagem da desconhecida Freud Explica!, de Ron Clark e Sam Brobick, que ele ganhou, no início dos anos 1970 , seu primeiro prêmio de melhor ator. Fez ainda Não me Maltrate, Robinson, de Paulo Afonso Grisolli, primeira peça que produziu; e em 1987, Nossa Senhora das Flores, de Jean Genet, em meio a outras. Além disso, codirigiu a Idade da Loba, Os Ossos do Barão e a minissérie Chiquinha Gonzaga, retratando da vida da grande compositora brasileira nascida nos anos 1800. Para arrematar, ele emprestou o belo timbre de sua voz abaritonada a diversos comerciais, aumentando, ainda mais, o valor do seu legado. Nascido no Recife, em 22 de fevereiro de 1945, Luiz Armando Queiroz foi ainda jovem para o Rio de Janeiro, onde compatibilizou os estudos do Conservatório de Teatro com os da faculdade de Geografia, embora àquela altura já houvesse optado pela carreira artística, na qual teve formação essencialmente teatral. A propósito, as luzes da ribalta testemunharam o sucesso de sua estreia nos palcos, em 1968, na peça Salomé, de Martim Gonçalves. Acompanharam-no por toda a vida, mas se apagaram, prematuramente, no dia 16 de maio de 1999. Ainda era cedo e ele tinha muito talento a dar, mas aos 54 anos sucumbiu a um câncer dos gânglios linfáticos. Para aquele fatídico 16 de maio a vida lhe reservara um papel triste e, daquela vez, infelizmente, não era ficção. (Por Marcelo Alcoforado)