Arquivos Cultura e história - Página 353 de 354 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Cultura e história

O mais pernambucano dos alagoanos ou o mais alagoano dos pernambucanos?

Para ambas as questões a resposta é afirmativa. Aldemar Paiva é honra e glória de Alagoas e Pernambuco, protagonista de um inesquecível caso de dupla naturalidade. Caso começado cedo, diga-se, quando ele, militar, foi transferido de Maceió para o Recife. Aqui, dia a dia, se foram distanciando os sons das ordens-unidas, dando lugar aos que vinham da Rádio Clube de Pernambuco. Foi naquela emissora que ele deu os seus primeiros passos como radialista e, para começar, enfrentou a árdua missão de substituir ninguém menos que Chico Anysio. Deu conta do recado, e com perfeição. Tanta, diga-se, que de lá para cá só conheceu o sucesso, tornando-se um dos mais disputados profissionais do mercado, inclusive fora do meio radiofônico. Afora haver sido produtor, apresentador e diretor artístico da Rádio Clube de Pernambuco, ele teve igual sucesso nas rádios Tamandaré e Jornal do Commercio, na TV Rádio Clube, onde foi diretor de teleteatro, e na TV Jornal do Commercio, onde foi apresentador. Registre-se, igualmente, que ele manteve coluna no jornal Fatorama, de Brasília, e foi redator da Golden Publicidade, na época a mais importante agência de propaganda do Estado. Fora do meio de comunicação, presidiu a Empresa Metropolitana de Turismo, planejou e instalou a Empresa Cearense de Turismo, atuou como ator e diretor do Teatro de Amadores de Pernambuco e dirigiu o Museu Murillo La Greca. Um homem de valor, não é mesmo? – mas ele foi, essencialmente, um homem de profunda sensibilidade. Assinou mais de 70 composições musicais, em meio a elas Saudade e Me abufelei, frevos-canção. Fez também Pajuçara, homenagem à bela praia maceioense, onde, dizia a letra, havia mais encanto, mais luz. Em parceria com o maestro Nelson Ferreira, compôs Frevo da saudade e Sopa no mel – frevos, Brasil campeão do mundo – hino, Elegia a Calheiros – canção, Se me viste chorar – bolero, entre outras. Notou a versatilidade dos gêneros musicais? No rádio, ele reinou. Basta dizer que, no horário, foi líder de audiência durante 25 anos ininterruptos, com o programa diário Pernambuco, você é meu. E não foi seu único sucesso. Credite-se-lhe igualmente Dona Pinoia e seus brotinhos, Festa no varandão, O céu é o limite, Campeonato das cidades... Aldemar Paiva também escreveu livros e publicou seis: O caso eu conto, Monólogos e outros poemas, A chegada de Nelson Ferreira ao céu, Gilberto Freyre descobridor do Brasil e A saga do 44 espada d’água. Com muita razão, pois, ele foi membro da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, sócio honorário da Academia Maceioense de Letras, e foi homenageado com os títulos de Cidadão do Recife, Cidadão de Pernambuco, Memória Viva da Cidade do Recife, e o Troféu Cipriano Jucá, da Academia Maceioense de Letras. Peças teatrais? Também escreveu, bastando registrar Auto do Batizado, um especial da Rede Globo sobre a Inconfidência Mineira. Que tal conhecer agora o Aldemar Paiva poeta? Para falar dele, nada melhor do que sua própria poesia. Como este monólogo: Eu não gosto de você Papai Noel! | Também não gosto desse seu papel de vender ilusão pra burguesia. | Se os meninos pobres da cidade soubessem o desprezo que você tem pelos humildes; pela humildade, eu acho que eles jogavam pedra em sua fantasia. I Talvez você não se lembre mais, eu cresci me tornei rapaz, sem nunca esquecer daquilo que passou… | Eu lhe escrevi um bilhete pedindo o meu presente… a noite inteira eu esperei contente…| Chegou o sol, mas você não chegou. | Dias depois meu pobre pai cansado me trouxe um trenzinho velho, enferrujado, pôs na minha mão e falou: Tome filho, é pra você. Foi Papai Noel que mandou! | E vi quando ele disfarçou umas lágrimas com a mão. | Eu inocente e alegre nesse caso, pensei que meu bilhete, embora com atraso, tinha chegado em suas mãos no fim do mês. | Limpei ele bem limpado, dei corda, o trenzinho partiu, deu muitas voltas… O meu pai então se riu e me abraçou pela última vez. | O resto eu só pude compreender depois que cresci e via coisas com a realidade. | Um dia meu pai chegou assim pra mim como quem tá com medo e falou: -Filho, me dá aqui seu brinquedo, eu vou trocar por outro na cidade. | Então eu entreguei o meu trenzinho quase a soluçar, como quem não quer abandonar um mimo, um mimo que lhe deu quem lhe quer bem | Eu supliquei… Pai! Eu não quero outro brinquedo, eu quero meu trenzinho… Não vai levar meu trem pai…! | Meu pai calou-se e de seu rosto desceu uma lágrima que até hoje creio tão pura e santa assim só Deus chorou, ele saiu correndo, bateu a porta assim, como um doido varrido. | A minha mãe gritou: -José! José! José… Ele nem deu ouvido, foi-se embora e nunca mais voltou…| Você! Papai Noel, me transformou num homem que a infância arruinou… | Sem pai e sem brinquedo, Afinal, dos meus presentes não há um que sobre da riqueza de um menino pobre, que sonha o ano inteiro com a noite de Natal! | Meu pobre pai, malvestido, pra não me ver naquele dia desiludido, pagou bem caro a minha ilusão… | Num gesto nobre, humano e decisivo, ele foi longe demais pra me trazer aquele lenitivo; tinha roubado aquele trenzinho do filho do patrão! | Quando ele sumiu, eu pensei que ele tinha viajado, só depois de eu grande minha mãe em prantos me contou… que ele foi preso, coitado! E transformado em réu. | Ninguém pra absolver meu pai se atrevia. Ele foi definhando na cadeia até que um dia, Nosso Senhor… Deus nosso Pai…Jesus entrou em sua cela e libertou ele pro céu. Aldemar Buarque de Paiva, justo orgulho de alagoanos e pernambucanos, nasceu em Maceió, em 20 de julho de 1925 e repousa eternamente no Recife, desde 4 de novembro de 2014. Poeta, cordelista, radialista, jornalista, compositor, produtor artístico e publicitário, foi um homem de múltiplos talentos e incontáveis admiradores. *Por

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Isadora Melo no ExcentriCidades

O projeto ExcentriCidades recebe em sua segunda edição de 2016, um show especial da cantora Isadora Melo, amanhã (24). O show acontecerá no sexto andar do Edf. Pernambuco, na Dantas Barreto, a partir das 19h. O ingresso custa R$ 10 (antecipado no local do evento) e R$ 15 (na hora). Para a apresentação, que faz uma prévia de algumas canções do primeiro álbum autoral de Isadora, o Vestuário, a cantora virá com a formação completa. Acompanhada dos músicos Juliano Holanda (violão e guitarra), Walter Areia (baixo acústico), Rafael Marques (bandolim) e Julio César (acordeon), ela executará algumas canções contidas no álbum, além do cover da música "Pra Marte", de Maurício Pereira. Aninha Martins também é participação confirmada no show. Num dueto, elas interpretarão canções de ambas. Confira no vídeo a voz delicada e cheia de personalidade de Isadora Melo.  

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Reflexões pós-carnavalescas

Mais um Carnaval se foi, levando consigo os quatro dias de alegria contagiante. Nas ruas, hoje desnudas de confetes e serpentinas e órfãs de sorrisos escancarados, ecoam – ainda bem que o melhor de tudo não se foi – os acordes dos nossos frevos mais belos. Vassourinhas, por exemplo, de Matias da Rocha e Joana Batista Ramos, composto há mais de 100 anos, até hoje incendeia ruas e salões, parecendo trazer mais energia ao folião. A arte de Levino Ferreira não deixa por menos, com sucessos do naipe de A cobra está fumando, Diabo solto, Retalhos de saudade, e tantos outros sucessos. Lídio Francisco, mais conhecido como Lídio Macacão, ou ainda como O Conde de Guadalupe (bairro olindense), se faz presente com Escama de peixe, Três da tarde e Condessa, exibindo a indiscutível qualidade característica da sua obra. O que dizer de Zumba, havido pelo sociólogo Gilberto Freyre e pelo maestro Guerra Peixe como um dos maiores compositores do frevo pernambucano, ombro a ombro com Capiba e Nelson Ferreira? Zumba, que em 1972 compôs seu último frevo, Alegria do Nordeste, sucesso do Carnaval daquele ano, teve cerca de 100 músicas gravadas. Como se vê, foram e são incontáveis os nossos compositores de frevos, como Toscano Filho, Edson Rodrigues, José Bartolomeu, Lourival Oliveira, Raul e Edgar Morais, Levino Ferreira, Severino Araújo, Getúlio Cavalcanti, J. Michilis, Heleno Ramalho, isso sem falar dos consagrados Capiba, Nelson Ferreira, Luiz Bandeira, Irmãos Valença... Se você não conhece, tenha o prazer de conhecer mais um excepcional compositor pernambucano: Clídio Nigro. Para começar, saiba que ele é o autor de um vasto repertório, incluindo o frevo Olinda n°1, hino do bloco Elefante de Olinda, transformado, pela suprema vontade do povo, no hino do Carnaval olindense, tão logo foi composto, em 1954. Não lembra? Vai lembrar agora. A última estrofe é esta: Olinda! | Quero cantar | A ti, esta canção, | Teus coqueirais, | O teu sol, o teu mar | Faz vibrar meu coração | De amor a sonhar | Minha Olinda sem igual, | Salve o teu Carnaval. É música tão importante, que Chico Buarque, que passava o carnaval aqui, ao escutar a multidão cantando a música em uníssono exclamou: Isto é que é o verdadeiro compositor popular. Olha, o povo inteiro cantando a música! Curiosamente, Clídio Nigro não foi sempre um compositor de frevos. Suas primeiras composições datadas de 1937, foram valsas, canções, sambas e até música orfeônica, chegando à Escola Cantorum São Pedro Mártir, em Olinda. A partir dos anos 1940, no entanto, dedicou-se integralmente ao frevo, enriquecendo com suas inspiradas composições a alegria dos clubes, dos blocos e das troças do carnaval olindense. Foi assim que Clídio Nigro tornou-se um carnavalesco sem ser folião. Mas voltando ao Hino do Elefante, apesar de a canção ser uma das mais ouvidas ano após ano, pouca gente sabe que seu nome primordial é Olinda nº 1 e tem uma história curiosa. Chegou a ser oferecida ao grupo rival, Pitombeira dos Quatro Cantos, que não a aceitou. Sabe como foi que a música cumpriu seu destino de ser um clássico carnavalesco? Clídio Nigro e os primos fundaram o bloco Elefante, que incorporou o frevo, e assim nasceu o hino carnavalesco da cidade de Olinda. Mas a consagrada canção tem outra história curiosa, que até parece pautada no realismo fantástico, posto ser fruto de uma parceria inusitada. A letra foi criada por um músico que também era escrivão criminal, enquanto a melodia – eis algo beethoveniano – resulta de parceria com o poeta surdo Clóvis Vieira. Conheça a trajetória desse talento tão vasto. Quando criança, Clídio Nigro tomava aulas de piano duas vezes por semana. Sua sensibilidade era tanta, que o fez expandir, em pouquíssimo tempo, sua criatividade musical. Logo ele se tornou capaz de compor de ouvido, sem subordinação à teoria musical. Talento abundante, desde muito cedo, com um grupo de jovens como ele formou um pequeno regional e com ele chegou a se exibir na Rádio Clube de Pernambuco, o veículo de comunicação de maior importância naquela época. Criador ímpar, legou à posteridade uma obra variada, destacando-se a marcha de bloco Marim dos Caetés, homenagem à sua Olinda, o frevo de rua Cinquentenário de Vassourinhas de Olinda, Banho de Conde, e tantos outros frevos. Autêntico homem dos sete instrumentos, tocava piano, tocava bandolim, tocava violão, tocava cavaquinho, e vez por outra, também tocava pistom. Mesmo assim, apesar de tanto talento, de tanta versatilidade, Clídio Nigro era um homem extremamente simples, um pai de família calmo, caseiro, e profissionalmente um modesto escrivão do cartório de Olinda. Falecido no dia 22 de setembro de 1982, aos 73 anos de idade, Clídio Nigro teria, segundo sua filha Cleonice Nigro, enviado uma mensagem psicografada nestes termos: Tudo não passou de um sonho o meu caminhar na vida. Caminhos tão serenos, numa existência tão querida. Encontro a realidade e vivo novos sonhos, sublimes e tão lindos, quem me dera nova vida. Quando se aproximava aquele 22 de setembro, já soando ao longe os clarins da hora da partida, os blocos, sabendo que ele estava seriamente enfermo, todos, passavam em frente à sua casa, e reverenciavam o invulgar olindense. Ele ficava na janela vendo os blocos que o cumprimentavam com seus estandartes, e as lágrimas transbordavam dos seus olhos. Na bela Marcha da quarta-feira de Cinzas, os autores, Vinicius de Moraes e Carlos Lyra, dizem que acabado o Carnaval ninguém ouve cantar canções... Pois em Pernambuco, e não só no Carnaval, a música de Clídio Nigro é ouvida e sentida, como que Olinda esteja ao mesmo tempo cantando e pranteando o seu filho tão ilustre. *Por Marcelo Alcoforado

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Uma princesa negra

Nestes dias em que o preconceito racial insiste em contrariar a razão, convêm alguns esclarecimentos. Para começar, diga-se que as etnias – ou raças, se você preferir – possuem características que as diferem graças a fatores como a adaptação aos diversos ambientes onde os agrupamentos humanos viviam. Já que os negros são os mais atingidos pela discriminação, pergunta-se: você sabia que a etimologia da palavra África significa algo como ensolarado...? É na luz solar que se pode entender o porquê da pele escura. A pele branca é característica dos que vivem em ambientes onde o sol é menos intenso, não significando, pois, que ser branco implique alguma vantagem. Acontece que a pele clara faculta sintetizar a vitamina D com menos claridade, enquanto as pessoas de pele escura precisam de mais sol para sintetizar a mesma quantidade da vitamina. Se fosse possível transpor todos os brancos para a África e todos os africanos para a Europa, os primeiros sofreriam o efeito decorrente da insolação, enquanto os africanos passariam a ter avitaminose D e suas consequências. Basicamente, então, está explanada a única função da pele clara. É apenas uma adaptação evolutiva, não havendo nenhum motivo para alguém se sentir superior pelo simples fato de ser alvo e ter os olhos azuis. Ademais, como é sabido, viemos de homens primitivos, negros, que migraram da África para a Ásia e a Europa. Então, a conclusão é lógica, praticamente não existe a decantada raça pura. Aliás, a ideia do arianismo, glorificada por um maníaco racista, resultou na Segunda Guerra Mundial com seus 85 milhões de mortos. Por que, então, o racismo? – você, com razão, há de perguntar. Desde a Antiguidade, os povos guerreavam e os perdedores, não importava a cor da pele, se tornavam cativos do vencedor. O preconceito era chauvinista e não racial, independentemente da cor dos indivíduos. Ocorre que o desenvolvimento europeu trouxe conquistas territoriais e culturais. Os louros de olhos azuis impunham aos vencidos cultura, religião e tudo o mais, restando para os que não se submetiam a morte que, por sua vez, realimentava o racismo nos vencedores e nos submetidos. Com o Renascimento ocorreu o domínio europeu em todo o mundo, alegando ser uma raça superior, destinada por Deus e pela história a comandar o mundo e dominar as raças que não eram europeias, portanto inferiores. Assim, quando os conquistadores portugueses chegaram à África, cristalizou-se a ideia da superioridade racial. Logo se intensificou o comércio de escravos que, naquela época, era aceito como uma forma de aumentar o número de trabalhadores numa sociedade. Daí resultaram fatos de que nem Deus duvida. Um deles foi a tese de que, assim como os índios, escravos não eram seres humanos, e que, como animais, não tinham alma, sendo justificada por Deus, pois, a sua exploração para o trabalho e os suplícios a que se submetiam. Daí ao entendimento de que os negros eram uma raça inferior, não houve demora. A discriminação passava a ter base racial. Em sua ignorância, os conquistadores não sabiam que brancos, amarelos, índios, negros, tinham todos os mesmos ancestrais. Foi nesse cenário de obtusidade que se destacou uma admirável mulher negra que viria a ser mãe de Ganga Zumba e avó materna de Zumbi dos Palmares. Seu nome, Aqualtune Ezgondidu Mahamud, uma princesa do Congo, que liderara, em 1665, dez mil homens na Batalha de Mbwila, havida entre o Congo e Portugal. Derrotada, ela foi escravizada e trazida para o Brasil. Muito bonita, tão logo chegou ao porto do Recife Aqualtune foi vendida como escrava reprodutora a um fazendeiro especializado em gado que, ao saber da sua origem nobre, a entregou à escória dos homens da fazenda. Engravidada, ela foi revendida para o engenho de Porto Calvo, onde ouviu falar de um tal Reino dos Palmares, criado por negros que, desde o primeiro momento da escravidão no Brasil, haviam fugido para o interior e criado centros de resistência. Em torno de 1606, um grupo de escravos conseguira se estabelecer nas montanhas de Pernambuco, e ali, na região conhecida como Palmares, formara um mocambo. O ideal de liberdade logo tomou forma. Surgiu na princesa negra a vontade de fugir e se juntar ao povo de Palmares. Assim fez. Com um grupo de escravos, destruiu a casa--grande e, em seguida, realizou uma bem-sucedida fuga para Palmares. Ao longo do caminho, mais escravos foram se somando ao grupo, registrando-se que com ela chegaram ao destino cerca de 200 escravos. Logo sua origem real teria sido reconhecida, e ela passou a liderar o reino. Foi ali que ela fundou o Quilombo dos Palmares, e deu à luz a dois filhos, ambos viriam a ser valorosos guerreiros, que também entraram para a história: Ganga Zumba e Ganga Zona, conhecidos pela sua coragem e liderança. Aqualtune também teve uma filha, Sabina, que mais tarde teve um menino chamado Zumbi, que anos depois ficaria famoso como Zumbi dos Palmares, reconhecido como um dos maiores líderes negros da história. Ganga Zumba e Ganga Zona se tornaram chefes de dois dos mais importantes mocambos de Palmares, um dos principais quilombos do período escravocrata, enquanto ela passou a governar um território quilombola onde as tradições africanas eram mantidas e cada mocambo organizava-se de acordo com suas próprias regras. Ali, os ex-escravos organizavam um Estado Negro abrangendo povoados distintos confederados sob a direção suprema de um chefe, mas em 1677 a aldeia de Aqualtune, que já era idosa, foi queimada pelas expedições coloniais. Não se sabe a data de morte da princesa negra, mas os quilombolas permaneceram lutando até serem finalmente derrotados, em novembro de 1695, pelo bandeirante Domingos Jorge Velho. De qualquer forma, seu final da vida é controverso. Uns registram que ela teria morrido queimada na vila onde vivia com outros idosos da comunidade, enquanto outros asseveram que, como ocorrera em Porto Calvo, ela teria conseguido fugir. Houve também quem afirmasse que ela simplesmente morrera de doenças da velhice. Há uma lenda segundo a qual os deuses da África teriam tornado a guerreira imortal, um espírito ancestral

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Combogó é nova agência de comunicação de PE

Liderada pela jornalista e especialista em Comunicação Empresarial e em Gestão da Inovação, Kássia Alcântara, parte da equipe que era da Signo Comunicação passa atuar, a partir deste mês, como a Combogó Comunicação e Estratégia. Um dos pontos de destaque da Combogó é que, mesmo sendo nova, a agência já nasce com um notável portfólio de trabalhos e de clientes, além de todo o know-how na área da comunicação corporativa conquistado ao longo dos mais dez anos de atuação dos seus integrantes no mercado. Os "combos", como estão se apelidando os integrantes da equipe - por somarem experiência com conhecimento multisciplinar e fazerem parte do dia a dia do cliente - atuarão junto aos clientes de forma estratégica, integrada e inovadora, promovendo resultados sólidos e de acordo com as necessidades de cada empresa. O desenvolvimento de ações e a produção de conteúdos estarão relacionados diretamente à estratégia do negócio do cliente. Entre as soluções oferecidas estão diagnóstico e planejamento em comunicação, produção editorial, comunicação interna/endomarketing, campanhas institucionais, design promocional, relação com a mídia, gestão da presença nas mídias digitais, entre outras. A empresa foi buscar inspiração para o nome e sua forma de atuação no mercado na forma popular de pronunciar a palavra cobogó, elemento construtivo estruturante e inovador da arquitetura moderna brasileira criado na capital pernambucana na década de 1920. "A imagem do combogó associa a tradição, experiência e solidez à inovação de sua origem, a comunicação entre o interno e o externo, entre as pessoas e o mundo. Seus elementos refletem a nova forma de gerir e de atuar das empresas de forma colaborativa, em rede, inovadora, que incentiva a troca e o aprendizado, e que estimula a criatividade. Um ambiente onde as barreiras são quebradas, a interação é maior e é comum um ganho de produtividade", explica Kássia. A empresária conta, ainda, que a escolha do nome também reflete os elementos que formam a palavra Combogó: "Com", de comunicação; bogo, do inglês Buy One, Get One (compre um, leve um) uma estratégia de marketing de origem americana; e de bogar, que em espanhol quer dizer remar para fazer avançar uma embarcação. Assim como nos projetos de sucesso desenvolvidos no antigo empreendimento que dirigia, Kássia vai poder contar com a experiência da jornalista Bruna Cruz, como coordenadora de atendimento, e do designer João Paulo Angelim, como diretor de arte, para continuar atendendo clientes como a Solar Coca-Cola, a Rota do Mar e a TOTAL Combustíveis. Entre as outras empresas e instituições que atendiam e que continuaram apostando na expertise e resultados alcançados estão o Moda Center Santa Cruz, o Urbano Vitalino Advogados, a Imobi, a Eletronord, a Procenge, a Agência Recife para Inovação e Estratégia (ARIES)/Projeto Recife 500 Anos, o Gabinete Português de Leitura, a SMF/TGI Editora, a Ara Empreendimentos, a Duarte Construções e o Grupo de Ajuda à Criança Carente com Câncer - Pernambuco (GAC-PE). Outras informações: www.combogocomunicacao.com.br [1], FB/combogocomunicacao, contato@combogocomunicacao.com.br ou pelo telefone (81)3227.5513. .

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Livros usados num click

Em tempos tecnológicos, comprar pela internet se transformou em uma ótima opção para quem busca comodidade e economia. Dentro da "lista online" dos consumidores, os livros também estão presentes. Se antes os sebos eram o destino certo para os que desejavam procurar obras literárias mais baratas e raras, nos últimos anos, os "endereços eletrônicos" especializados na venda de títulos vêm ampliando essas possibilidades. Com sites que congregam livrarias de todo o País, o leitor tem a apenas um click milhares de exemplares disponíveis. Mais facilidade, então, para achar aquela publicação esgotada e gastar menos. Uma economia que pode chegar a 84%, segundo o principal site do setor no Brasil, o Estante Virtual (EV). Com aproximadamente 1.350 sebos e mais de um milhão de títulos disponíveis em sua página, o maior acervo do mundo em língua portuguesa, revela o poder que o e-commerce de livros vem ganhado. No último trimestre, foi registrado um aumento de 19% nas vendas e, em janeiro, 13.544 obras foram vendidas em apenas 24 horas. Com números como esses, ficou difícil até mesmo para os livreiros mais tradicionais dizerem não à internet. "Primeiro, entraram os sebos mais tecnológicos, que há muito tempo estavam querendo um site como o nosso. Aos poucos, foram entrando os outros e, por último, até os mais desconfiados aderiram a essa forma de venda", conta o fundador do Estante Virtual, André Garcia. Formado em administração, André resolveu abandonar o emprego e seguir carreira acadêmica. Foi esse o "start" para criar a E.V ."Eu lia cerca de cem livros por ano e tinha muita dificuldade em encontrar alguns deles, pois apenas seis sebos estavam com seu acervo disponível na internet", lembra O EV começou a funcionar em 2005 e o livreiro Amauri Mapa foi o responsável pela primeira venda do site. Paulista, ele havia acabado de transferir o sebo da agitada Vila Mariana, em São Paulo, para o bairro da Torre, no Recife, e viu na plataforma uma maneira de conseguir clientes mesmo estando longe do centro da cidade. "Desde que eu decidi sair de São Paulo, eu tinha a intenção de desenvolver um site para poder fazer as vendas, mas era algo complexo. Foi quando o Estante Virtual surgiu", diz. Hoje, a página é responsável por 50% das vendas do empresário e Amauri comemora sua ida diária aos Correios para enviar os livros aos mais variados destinos do Brasil. Antes mesmo do "boom" dos sites de livros, um dos sebos mais tradicionais da capital pernambucana, a Livraria Brandão, já apostava na venda à distância. Se antes os catálogos foram responsáveis por tornar o estabelecimento conhecido nacionalmente, hoje portais ajudam no faturamento das lojas da marca. "Por causa da falta de tempo e dificuldade de estacionamento, muitas pessoas preferem comprar online. Às vezes, tem gente que paga frete para mandar livro aqui mesmo para a Boa Vista (bairro onde a loja fica localizada)", conta Martha Brandão. Para quem pesquisa pelas "prateleiras onlines", comprar pela internet pode sair uma verdadeira "pechincha". "Tem livro que você encontra por R$3", afirma a dona de brechó Ana Lúcia Cavalcanti, 68 anos. Ela é o que se pode chamar de uma devoradora de livros. São pelo menos 6 por mês. "O que mais gosto de fazer é comprar livros. Eu não sei viver sem ler." As páginas de venda de obras literárias foram, então, uma descoberta valiosa para Dona Ana. Depois de procurar nos sebos físicos e não encontrar, recebeu, então, a dica de pesquisar na web. Menos de dois anos se passaram e mais de 100 títulos já chegaram à correspondência da casa dela. Se os ambientes virtuais que reúnem sebos geralmente são associados à venda de livros usados, isso não significa que não se possa encontrar exemplares novos. Depois de passar por uma reformulação em 2014, o Estante Virtual oficializou a entrada no mercado de livros novos. "Há muitos anos, as livrarias convencionais estão se concentrando nos títulos mais vendidos. Isso cria uma demanda não atendida dos livros de catálogo", coloca André. Cliente antigo dos endereços eletrônicos de exemplares usados, o fotógrafo Eduardo Queiroga, agora também aproveita a web para encontrar obras recentes. "Mesmo que eu veja uma obra na livraria, eu prefiro comprar em sites especializados, porque eu acredito que eles ajudam a evitar o desaparecimento e até colaboram com o surgimento de outros sebos", reflete. MAIS OPÇÕES. Se o Estante Virtual foi pioneiro, já não está mais sozinho nesse nicho do mercado. O Livronauta é um dos mais antigos concorrentes e, ao longo dos anos, as opções para os consumires vem crescendo. Motivado tanto pelos índices positivos do segmento como pela insatisfação de clientes e vendedores com os sites até então existentes, o ex-livreiro do Estante, Julio Daio Borges, resolveu colocar no ar o Portal dos Livreiros. Com apenas 6 meses de funcionamento, a página já apresenta números expressivos. São cerca de 7 mil exemplares disponíveis e só no mês de setembro, foram mais de 200 mil acessos. O portal ainda não cobra mensalidade, apenas um percentual de 10% sobre a venda (incluindo a taxa da forma de pagamento). Enquanto, segundo ele, no Estante, os livreiros chegam a pagar 20% sobre o que vendem. "Os livros tendem, então, a ficar mais baratos, no Portal dos Livreiros, para o consumidor final." No endereço online, o leitor ainda pode vender ou trocar os livros que têm em casa e não usa mais. "Nós estamos abertos a esse tipo de vendedor, bem como a autores, pequenos editores e até pequenas livrarias", completa Julio. Outra alternativa para os amantes da literatura é o Sebos Online. Ativada desde 2007, a página foi formulada pelo analista de sistemas Alcir Teodoro apenas como um complemento de um software para livrarias desenvolvido por sua empresa. Nele, os livreiros expõem gratuitamente suas obras. "O site foi pensado como algo a mais para os nossos clientes, porque queríamos auxiliar nas vendas", explica Alcir. Se comparado a concorrentes como o Estante Virtual, o Sebos Online possui uma estrutura mais defasada, o que não deve continuar

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O pai de todos. Ou quase

Genghis Khan, o guerreiro que conduziu os mongóis na conquista da maior extensão contínua de terras da história da humanidade, não foi só o homem que há cerca de 1,2 mil anos fazia o mundo tremer ante o tropel do seu exército. A partir do que hoje se conhece como a Mongólia, ele subjugou povos e festejou suas vitórias com golpes de aríete em cidadelas mais aconchegantes. Explica-se: nas campanhas militares daqueles tempos, o produto dos saques era dividido igualmente entre soldados e comandantes, porém todas as mulheres – mulheres jovens, bem entendido – eram, obrigatoriamente, pertencentes a Genghis Khan. Travavam-se, então, após as batalhas banhadas de sangue e sofrimento, as refregas prazerosas do sexo. O resultado é que, de tanto guerrear, o líder mongol espermatizou tantas mulheres – isso sem contar as esposas oficiais –, que, mais do que os muitos e magníficos feitos militares, ele realizou uma façanha reprodutiva sem precedentes na história humana. Espalhou em uma área abrangendo do Pacífico ao Cáspio descendentes que representam 8% dos homens que vivem nas fronteiras do antigo Império Mongol. São nada menos do que 12 milhões de pessoas, caso as estimativas dos estudiosos estejam corretas. A família há de ter contribuído para o feito, é bem provável, já que Kublai Khan, neto do conquistador, tinha, na qualidade de imperador da China, a prerrogativa de manter milhares de concubinas... Foram séculos de poder e apoderamento de despojos de guerra, bastando dizer que o último descendente de Genghis Khan a governar um reino, Shahin Girai, imperador da Crimeia, morreu em 1783. Durante cerca de quinhentos anos, pois, o clã deteve com uma intensidade sem precedentes o poder e as mulheres de um continente inteiro, isso sem se levar em conta que, ao menos por enquanto, é difícil dizer se Genghis Khan deixou descendentes também entre os russos, que viveram por séculos sob domínio mongol. Para simplificar, um em cada 200 homens existentes na Terra descende dessa linhagem, afirmam os pesquisadores. Você sabia que o Brasil, ou mais especificamente Pernambuco, também teve um inseminador, embora bem longe dos padrões exuberantes de Genghis Khan? Quer saber quem foi ele? Acompanhe a história. Quando o primeiro donatário Duarte Coelho e sua mulher Brites de Albuquerque chegaram à capitania de Pernambuco, em 1535, trouxeram com eles o jovem Jerônimo de Albuquerque, irmão dela. O donatário precisava de ajuda para administrar aquela área tão grande, que abrangia os atuais Estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e parte da Bahia. Encontraram um ambiente hostil, tanto que, tão logo chegou, envolvido numa das lutas que teve que travar contra os índios tabajaras, ele recebeu uma flechada que o levou a perder um dos olhos, ficando conhecido pelo apelido de Torto. Ferido, tornou-se prisioneiro dos índios, foi condenado à morte, mas como acontece nas mais doces histórias de amor, Tabira, a filha do cacique, se apaixonou por ele e o quis como marido. O casamento selou a paz entre os tabajaras e os colonizadores portugueses, e Jerônimo de Albuquerque passou a se mostrar um competente soldado das batalhas amorosas. Da união de Jerônimo de Albuquerque e Tabira, depois batizada como Maria do Espírito Santo Arco Verde, em homenagem à festa de Pentecostes que se celebrava no dia do batismo, nasceram oito filhos. O primogênito, Jerônimo de Albuquerque Maranhão, anos mais tarde lutou contra a invasão francesa no Maranhão, e foi também um dos fundadores da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Vieram em seguida Manuel, André, Catarina, que se casou com o fidalgo florentino Filipe Cavalcanti; Isabel, Joana, Antônio e Brites. Jerônimo de Albuquerque teve ainda – sem necessidade de guerras – mais cinco filhos, todos por ele reconhecidos, com outras mulheres brancas, índias e africanas. Entendeu de onde vem a nossa miscigenação? Acontece que naqueles tempos – corria o ano de 1562 – casamento não era decisão dos apaixonados. Assim, em obediência a uma carta-intimação de Catarina da Áustria, rainha de Portugal, ele deveria casar-se com Felipa de Mello, filha do nobre Cristóvão de Mello. Para a rainha Catarina, sendo ele sobrinho de Afonso de Albuquerque, um descendente de reis, não deveria seguir a lei de Moisés, ou seja, não deveria manter trezentas concubinas! O que diria ela de Kublai Khan, o imperador da China, que tinha milhares delas... Do casamento com Felipa de Mello nasceram mais onze filhos: João, Afonso, Cristóvão, Duarte, Jerônimo, Cosme, Felipe, Isabel, Maria, além de dois que morreram logo após o nascimento. Assim, Jerônimo de Albuquerque teve 35 filhos, entre legítimos e legitimados, o que lhe valeu o apelido entre os historiadores brasileiros de o "Adão Pernambucano". Por uma questão de justiça, porém, reconheça-se que ele fez mais do que filhos. Como administrador da capitania de Pernambuco, auxiliou Duarte Coelho na pacificação dos índios, na expulsão dos invasores e no desenvolvimento econômico e social pernambucano. Em 1554, indo a Lisboa, Duarte Coelho deixou no governo a esposa, Brites de Albuquerque, e seu irmão Jerônimo de Albuquerque. Acontece que ali Duarte Coelho veio a falecer, permanecendo ambos no comando da capitania até a maioridade de seus filhos, Jorge de Albuquerque Coelho e Duarte de Albuquerque Coelho que, na época, estudavam na Europa. Em 1560, então, Duarte de Albuquerque Coelho atingiu a maioridade, vindo assumir o governo da capitania. Acontece, no entanto, que os irmãos Duarte e Jorge de Albuquerque pouco ajudavam na administração. Em 1565, pois, Jorge retornou a Portugal e Duarte decidiu voltar em 1572, falecendo em 1578, em Alcácer-Quibir. O fato concreto é que auxiliando Duarte Coelho, quer como substituto do capitão-mor, quer como sucessor do donatário, ou ainda como povoador do Brasil, Jerônimo de Albuquerque muito contribuiu para o nosso desenvolvimento. Em suas terras, nas proximidades de Olinda, fundou o primeiro engenho de açúcar de Pernambuco, o Engenho Nossa Senhora da Ajuda, depois denominado de Forno da Cal. Convém observar que naquela quadra da vida brasileira a implantação de um engenho de açúcar era um marco de desenvolvimento. Equivalia a implantar, hoje, uma grande indústria

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João Pernambucano: O que há em um nome?

Não está muito longe o tempo em que os apaixonados faziam serenatas para a mulher amada, que pelas frestas das venezianas faziam escapar suspiros de amor. Lá fora, sob o brilho da lua-cheia, o cantor, com seu fiel companheiro – o violão – colado ao peito, transformando, por essas artes que só o amor explica, batimentos cardíacos em compassos musicais. Violão, esse companheiro fiel, tem uma longa história a contar. Não indiscrições, mas o relato de uma longa caminhada na estrada do tempo. O começo teria sido há quase dois mil anos antes de Cristo, na antiga Babilônia, onde já se usavam instrumentos parecidos com o violão. No Egito e em Jerusalém, o povo usava um instrumento de cinco cordas também assemelhado ao violão, ao passo que em Roma, eram corriqueiras as serenatas ao som de um instrumento de bojo e cordas também parecido com o violão. O fato é que por volta do ano 300, o instrumento já se difundira pela França e Alemanha e, mais tarde, na Idade Média, o instrumento chegara à Espanha, onde sempre foi muito executado pelos virtuoses da época e onde também ganhou a sexta corda. Em seguida, já com as características atuais, foi levado para Lisboa. Para uns, o violão descende do alaúde árabe, chegado à península Ibérica com os mouros, enquanto para outros, ele é filho da cítara romana, cujo uso se expandiu com a expansão de Roma. No Brasil, no entanto, registra-se que tudo começou com a introdução da viola, trazida pelos portugueses quando da época colonial. Não se confunda, no entanto, viola com violão. A utilização deste é das mais diversificadas, tanto na música instrumental, quanto no acompanhamento da voz. A propósito, diga-se, só como curiosidade, que durante muito tempo o violão foi tido como instrumento dos boêmios e seresteiros. Instrumento de capadócios, como dizia o seresteiro Sílvio Caldas. Por aqui, um dos pioneiros do instrumento foi João Pernambuco, um pernambucano, como se pode imaginar pelo nome. Nascido em Jatobá – atual Petrolândia – em 2 de novembro de 1883, em verdade seu nome de batismo era João Teixeira Guimarães. Ainda na infância, ele começou a tocar viola, influenciado por cantadores e violeiros locais como Bem-te-vi, Mandapolão, Manuel Cabeceira, o cego Sinfrônio, Fabião das Queimadas e Cirino Guajurema. Aos 12 anos de idade, ele já tocava em festas. E assim se fez músico, violonista e compositor que criou mais de 100 choros, e também jongos, valsas, toadas, maxixes, emboladas, cocos, canções, prelúdios e estudos. Após o falecimento do seu pai, ele se mudou para o Recife, onde trabalhou como ferreiro e em outros postos de menor importância e salário. Então, buscando dias melhores, em 1902 ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar como operário. Não deixou, contudo, de tocar e compor. Ali travou contato com violonistas populares, ao mesmo tempo em que varava jornadas de até 16 horas diárias. Para os seus amigos e admiradores, em número sempre crescente, diga-se, sempre encontrava tempo para contar e cantar coisas de sua terra, daí o apelido de João Pernambuco. Passados seis anos, transcorria 1908, ele era considerado um dos expoentes do choro, ombreado com Quincas Laranjeiras, Ernani Figueiredo, Zé Cavaquinho e Sátiro Bilhar, os maiorais da época. Pode ser que você não saiba ou não se lembre de quem foi João Pernambuco, mas vai lembrar, sem esforço, de uma das músicas que ele compôs. O nome original era Engenho de Humaitá, mas depois de celebrada uma parceria com Catulo da Paixão Cearense, a música passou a se chamar Luar do Sertão. Ainda não lembra? Então eis os primeiros versos: Não há, ó gente, ó não | luar como este do sertão... É quase um hino à beleza sertaneja, mas sobre essa música há um fato não tão belo a ser comentado. Como João Pernambuco era analfabeto, costumava dar suas composições para que outros pudessem escrevê-las e, por conta disso, Luar do Sertão terminou sendo registrada exclusivamente em nome de Catulo da Paixão Cearense, o mesmo ocorrendo com outra criação, a toada Caboca di Caxangá, memorável sucesso do carnaval de 1913. Posteriormente, porém, a coautoria de João Pernambuco foi reconhecida. Sabendo dos problemas do compositor pernambucano com o apoderamento de suas canções, Heitor Villa-Lobos se propôs, de boa-fé, a registrar e transcrever várias de suas canções, o que fez sem nenhum problema. Considere-se, no entanto, que a associação com Catulo da Paixão Cearense também trouxe benefícios para João Pernambuco, como o acesso à alta burguesia e à intelectualidade, em cujas tocatas ele exibia o seu talento para figuras de proa daquela época, como Afonso Arinos e Rui Barbosa. De 1928 até 1935 João Pernambuco morou em um casarão onde funcionava uma república que abrigava, em sua maioria, músicos e jogadores de futebol. Ali ele organizava animadas e concorridas rodas de choro que contavam com a participação de Donga, Pixinguinha, Patrício Teixeira, Rogério Guimarães e, ocasionalmente, Villa-Lobos. Foi lá que ele conheceu, por intermédio do amigo Levino Albano da Conceição, um jovem violonista chamado Dilermando Reis. Mente criativa, João Pernambuco formou o Grupo de Caxangá, um estrondoso sucesso com a participação de Pixinguinha e Donga, e introduziu a percussão nordestina no Sudeste. Fez mais: participou, também com Pixinguinha, dos grupos Os Oito Batutas e Os Turunas Pernambucanos. E ainda com Donga e Pixinguinha, ele percorreu o Brasil coletando música folclórica brasileira, por encomenda de Arnaldo Guinle. Como violonista, gravou pela primeira gravadora brasileira estabelecida, Casa Edison, e também para os selos Columbia e Phoenix. A santíssima trindade dos precursores do violão brasileiro foi constituída por Quincas Laranjeiras, João Pernambuco e Levino Albano da Conceição, mas a obra violonística de João Pernambuco era de tal densidade e profundidade que, a respeito dela, disse Villa-Lobos: Bach não se envergonharia em assinar os estudos de João Pernambuco como sendo seus. Mozart de Araújo, renomado musicólogo, não poupou elogios: João Pernambuco está para o violão assim como Ernesto Nazareth está para o piano. Já o violonista Maurício Carrilho certa vez escreveu sobre

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Gabinete Português de Leitura recebe mostra fotográfica sobre Macau

A mostra fotográfica “Macau, Uma História de Sucesso" aporta no Gabinete Português de Leitura (GPL), como parte de sua programação de 165 anos. A exposição, organizada pelo Instituto Internacional de Macau (IIM), comemora o 15º aniversário da antiga antiga colônia portuguesa. As 52 fotos revelam a riqueza cultural da cidade que se modernizou e hoje figura entre as mais ricas do mundo. Em 1999, Macau deixou de ser um território sob administração portuguesa e foi entregue à China, tornando-se uma das duas regiões administrativas especiais do país (a outra é HONG KONG). Em 2002, o governo central quebrou o monopólio do jogo. Assim, a cidade passou a receber investimentos bilionários. Só em 2013, o jogo trouxe US$ 44 bilhões em receita para Macau, sete vezes mais do que Las Vegas (EUA) A exposição fica durante o mês de novembro no GPL depois de passar por Lisboa (Portugal), Toronto (Canadá), São Francisco (EUA), e nas cidades de Santos (SP) e Rio de Janeiro (RJ), no Brasil. Completam a exposição três vídeos e as publicações "Macau - Festas e Festividades" e "Macau-Recife - Duas Cidades, Dois Mundos, Duas Histórias, Relações e Contrastes", de José Manuel Fernandes. O horário de visitação é de segunda a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 17h.

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Caixa Cultura recebe músico angolano que cria instrumentos

Recife recebe pela primeira o artista angolano-portugês Victor Gama. O compositor e designer se apresenta pelo projeto Solo Música na Caixa Cultural no dia 27 de outubro. Com o show “Sol(o)”, ele exibe instrumentos musicais que construiu a partir de uma variedade de materiais. Entre os instrumentos peculiares criados por ele estão Acrux, Dino e Toha. O concerto às 20h e os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia), com venda a partir das 10h do dia do espetáculo. Victor, que ainda é engenheiro eletrônico, criou uma organização sem fins lucrativos para desenvolver pesquisa em música. O projeto é inovador estuda um sistema de escrita no qual introduz uma componente tridimensional, que permite a exploração da conexão entre o som virtual e o físico, o digital e o analógico. Victor Gama cria novas músicas para o século 21, misturando tecnologias atuais de fabricação digital com ideias, materiais e tradições inspiradas pelo mundo natural. “Ele possui um belo e importante trabalho de criação e construção de instrumentos, que traz uma semelhança com Walter Smetak e UAKTI, artistas que o influenciaram. Mas as composições de Gama traduzem suas origens na África, com uma mescla do eletrônico”, diz Alvaro Collaço, produtor e curador da Série Solo Música. Serviço: Solo Música - Victor Gama Data: 27/10 - 20h. Local: CAIXA Cultural Recife, Avenida Alfredo Lisboa, 505 – Praça do Marco Zero – Bairro do Recife Antigo. – 3425-1900/1915 Classificação indicativa: 10 anos.

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