Entrevistas - Página: 10 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Entrevistas

"Espero que a gente consiga conquistar mais famílias estrangeiras e ver o Bita levando alegria pelo mundo afora"

Felipe Almeida, Sócio da Mr. Plot, fala dos percalços enfrentados até conquistar o retorno dos investimentos com o Mundo Bita, hoje sucesso em várias mídias. Também comenta a participação de artistas da MPB nos clipes do personagem bigodudo e os planos para chegar ao mercado internacional. Um simpático bigodudo conquistou os corações de crianças e suas famílias e até dos grandes medalhões da música popular brasileira. Bita surgiu como um personagem de aplicativos de jogos para tablets voltados para a garotada da primeira infância. Não demorou muito para ele, em companhias dos demais personagens do Mundo Bita, atuar em clipes, DVD, séries de TV e curta-metragem. Já há alguns anos, eles saíram das telas e encantam plateias em shows por todo o País. Mas esse sucesso é fruto de muita persistência e criatividade dos sócios da empresa Mr. Plot, criadora da figura sorridente de bigodes alaranjados. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele conta como o disco O Grande Circo Místico, de Edu Lobo e Chico Buarque, inspirou a criação do Mundo Bita, fala da sua adaptação para as diversas plataformas, a participação de artistas como Caetano Veloso, Milton Nascimento e Alceu Valença em animações musicais e os planos de internacionalizar o negócio e levar o Bita a encantar o público de vários países. Como surgiu a ideia do Mundo Bita? Tínhamos uma empresa de TI, fundada em 2008, a Quarta Dimensão, e, mais ou menos em 2010, vimos a chegada dos tablets como uma tecnologia promissora. Como os sócios eram pais recentes, percebemos que o conteúdo para crianças nesses dispositivos no mercado do Brasil era de baixíssima qualidade. Tivemos a ideia de criar uma unidade de negócio um pouco pretensiosa, a Mr. Plot, que nasceu com o objetivo de criar conteúdo para tablets voltado para famílias com crianças na primeira infância. Começamos sem nenhum conhecimento sobre essa tecnologia e ou sobre o mercado. Não havia muitos dados ou referências, estávamos naquela onda de startup, tentando criar algo que pudesse ser escalável e global. Na primeira reunião fomos apresentados ao Bita porque um dos sócios, Chaps, tinha desenhado esse personagem para ilustrar o quarto da filha recém-nascida. Além do Bita, havia um grupo de personagens, baseado na temática circense, já que ele e sua mulher escutavam muito o disco O Grande Circo Místico. Nós simpatizamos com o “bigodudo” e enveredamos a criar conteúdo em cima desse protagonista. O primeiro aplicativo se chamou O Circo Mágico do Bita, lançado em 2011 na Apple Store. Qual era o conteúdo? A estratégia inicial era fazer dois aplicativos, um gratuito para o público conhecer e, outro, pago. O primeiro foi um sucesso, ficou no Top 3 da categoria infantil, mesmo sem nenhuma publicidade. Mas o pago tinha pouquíssimos downloads porque, na época, para comprá-lo era preciso um cartão de crédito internacional. Também sentimos na pele que o brasileiro não tinha a cultura de pagar por software, mesmo que fosse 99 centavos de dólar, quando havia tantos de graça. Depois lançamos o aplicativo ABC do Bita, mais voltado para linha educacional. Usamos a mesma estratégia: lançamos o aplicativo gratuito e só com as letras A; B; C; D; E. Para ter acesso ao aplicativo completo, era preciso pagar. Ele era divertido, bem aceito, mas essa segunda tentativa também não nos trouxe resultados. Mas percebemos que a gente estava conseguindo construir uma propriedade intelectual, mesmo sem saber o que era exatamente isso. Aí, começaram a acontecer coisas positivas: fomos incubados no Porto Mídia, incubadora para projetos de economia criativa do Porto Digital, saímos na lista dos 100 melhores aplicativos brasileiros da revista Época, e nem tínhamos assessoria de imprensa. Fomos citados na CBN, a revista Crescer, ninchada no mercado infantil, fez referência à qualidade do conteúdo do aplicativo. Com isso, vimos um pico no gráfico de downloads, o que nos mostrava que o negócio tinha um potencial. Como surgiram as canções? Ao percebermos que apesar disso tudo, não estávamos conseguindo o engajamento. Então, miramos no YouTube, que começava a ganhar força. Foi quando Chaps sugeriu: “vamos fazer umas músicas?”. A ideia era usar os personagens do Bita para fazer animações que, de certa forma, é uma extensão do que a gente já fazia, o aplicativo de jogo é considerado um conteúdo audiovisual. Ele apareceu com Fazendinha, Fundo do Mar e Como é Verde na Floresta. Foi uma grande surpresa descobrir que esse sócio era um grande talento como compositor. Ele já teve banda de garagem, como um hobby, não como forma de negócio. As músicas foram para o YouTube e fizeram sucesso? Não. O número de views não era expressivo mas não era tão baixo. Foi aí que entendemos que podíamos apresentar o conteúdo em DVD. Nosso diferencial sempre foi fazer conteúdo original, inédito, o que é difícil, porque o mercado usava conteúdos de domínio público. A indústria fonográfica ainda era forte em 2012. Também visamos a televisão. Nessa época uma lei foi sancionada e obrigava a TV fechada a veicular uma cota mínima de conteúdos nacionais. Conseguimos fechar um contrato com a Discovery Kids e com a Sony Music. Percebemos que o negócio do Mr. Plot era diferente porque nosso primeiro contrato foi em inglês e recebemos em dólar, uma coisa que a outra empresa desde 2008 não tinha alcançado. Foi aí que a Mr. Plot foi fundada oficialmente como empresa do audiovisual. O sucesso se deu por meio da televisão e do DVD que gravamos com a Sony Music. Vocês estão no mercado internacional? Em 2018 começou o processo de internacionalização. Fomos induzidos a focar mais no mercado da América Latina, inicialmente, por ser uma região mais próxima e para ter uma melhor aceitação. Começamos traduzindo o conteúdo para o espanhol e fazendo o lançamento no YouTube. Mas, ainda não conseguimos tracionar como o esperado. A pandemia atrapalhou. Começamos no ano passado um trabalho de investimento de mídia um pouco maior, estamos com uma empresa argentina fazendo a divulgação desse conteúdo. Sabemos que tem muito potencial, o mercado latino é tão grande quanto o

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"Vinhos estrangeiros são contrabandeados numa quantidade 4 vezes maior do que a produção de vinhos finos brasileiros"

O contrabando e a falsificação de vinhos estrangeiros têm sido uma dor de cabeça para os produtores da bebida no Brasil. Afinal, o produto contrabandeado não paga imposto, enquanto que mais de 50% do preço dos vinhos legalmente vendidos no País corresponde ao valor dos tributos, segundo o presidente do Vinhovast (Instituto do Vinho do Vale do São Francisco) José Gualberto de Almeida. Apesar do problema, os produtores pernambucanos também têm motivos para comemorar: depois de 20 anos de intensos trabalhos, eles conquistaram a Indicação Geográfica Vale do São Francisco, concedida pelo Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Intelectual). O registro de Indicação Geográfica (IG), segundo o Ministério da Agricultura, é conferido a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria. São produtos que apresentam uma qualidade única em função de recursos naturais como solo, vegetação, clima e saber fazer (know how). José Gualberto – que também é presidente da Valexport (Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco) – conversou com Cláudia Santos sobre os benefícios que a IG trará para a vitinicultura da região (que produz 5 milhões de litros de vinho fino por ano), os problemas que o setor enfrenta, como o contrabando, e as perspectivas do enoturismo. Qual a importância da conquista da indicação geográfica para o setor vinícola do Vale do São Francisco? Com a conquista da indicação geográfica, o mundo da produção e dos negócios do vinho põe as suas vistas para a nossa região. Os grandes produtores de vinho do mundo procuram se instalar em regiões produtoras. A Miolo, da Serra Gaúcha, e a Global Wines, que produz os vinhos Rio Sol, já estão aqui e temos a certeza de que outros produtores internacionais virão. Temos um produto típico, único, feito com aquelas condições da região do São Francisco. Uma das características dos produtores e consumidores de vinhos é que eles gostam de tipicidades. Já se diz, inclusive, que a fidelidade não é uma característica dos tomadores de vinhos, porque eles se deslocam do consumo de vinho de uma região, vão para outra, comparam, trocam experiências. É isso que vai acontecer com o Vale do São Francisco. A responsabilidade é muito grande dos produtores, dos institutos e pesquisadores para que essa produção se consolide na qualidade e que essa “régua” vá sendo levantada cada vez mais para que tenhamos a possibilidade de nos firmarmos no grande teatro dos produtores de vinhos. Isso não significa que todos os vinhos e produtores vão alcançar em todos os instantes a indicação geográfica. O selo é concedido não ao produtor, mas aos produtos, e eventualmente, um produto que não se enquadre naqueles parâmetros não terá o selo. Isso não significa que não será um vinho a ser consumido. Teremos também outras vinícolas que irão se preparar para submeter seus vinhos a esse comitê permanente, dinâmico e variável que irá apreciar os vinhos e conceder essa indicação. Trata-se da primeira indicação geográfica de vinhos tropicais do mundo. É por isso que o selo demorou 20 anos para ser concedido? Exatamente. Porque não havia elementos de comparação. Existem vinhos tropicais em outros locais, mas nenhum conseguiu indicação geográfica. Uma grande questão, que será discutida ao longo dos próximos anos, é que o Vale do São Francisco produz uvas o ano todo. As pessoas dizem: “são duas safras”. Não são. São 52 safras porque podemos colher a uva na semana 1, na semana 2 até a semana 52. E serão produtos diferentes, porque no mundo clássico do vinho existe a figura da safra, que ocorre num determinado período do ano. Essa característica do Vale do São Francisco oferece uma amplitude enorme de produtos a serem conseguidos. Provavelmente, encontraremos empresas que se especializarão em vinhos de certos períodos do ano. Esses vinhos serão caracterizados, tipificados e o consumidor poderá fazer uma degustação horizontal, desde degustar, por exemplo, um Cabernet Sauvignon do primeiro trimestre e comparar com o do segundo, do terceiro, do quarto, do mesmo produtor. Ou uma degustação vertical, ao comparar vinhos produzidos no ano A, com o do ano B e com o do ano C, nos mesmos trimestres. Uma questão patente é que os vinhos produzidos na região são jovens, aromáticos, frutados e leves em razão dessa característica de poder elaborá-los o ano todo. Por isso, o produtor não está preocupado em fazer vinhos de guarda, como as regiões clássicas, que são estocados em barris de carvalho ou em aço inox por muito tempo. Além disso, os espumantes do Vale são altamente apreciados e procurados. Mas precisamos ter volume. Temos uma quantidade pequena de vinícolas (em torno de oito) mas, como eu disse, acreditamos que outras virão e atrairemos players da cadeia produtiva, como fabricantes de garrafas, rótulos etc. Isso leva a ganho de mercado, ganho de escala e ao barateamento e divulgação do produto. Haverá geração de postos de trabalho, de pesquisas, investimentos. O senhor acredita que o adensamento da cadeia produtiva do vinho vai demorar para acontecer? Acredito que vai se acelerar agora porque, além do vinho, temos a uva in natura que é um produto muito nobre, nossa região produz praticamente 100% da uva exportada pelo Brasil. Precisamos aumentar a cadeia de transporte, a logística etc. porque estamos numa região longe dos portos, o que aumenta nossos custos. Também precisamos muito de pesquisas. Para você ter ideia, para produzir uva de mesa importamos muitas variedades vindas dos EUA. A Embrapa conseguiu produzir algumas, mas o grande volume ainda é daquelas produzidas na Califórnia. Isso é um custo financeiro grande, pois pagamos royalties muito representativos, além do custo social, porque é um espaço de trabalho para pesquisa que não ocupamos. Se tivéssemos apoio massivo da pesquisa, poderíamos passar a ser exportadores de variedades ao invés de importadores. Leia a entrevista completa na edição 201.5: assine.algomais.com

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"Quero ressaltar a importância de retomar o olhar do território metropolitano como um todo".

Ao longo da série Desafios do Desenvolvimento de Pernambuco, os dados e as percepções da Condepe/Fidem (Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco) contribuíram para apontar algumas das macrotendências que deveriam nortear as políticas públicas dos próximos anos no Estado. O repórter Rafael Dantas conversou com a presidente da agência, Sheilla Pincovsky, sobre as prioridades de infraestrutura a serem encaradas pelo Governo do Estado, a importância da interiorização das universidades e a urgência de solucionar as dificuldades da população social e economicamente vulnerável. Uma questão, porém, recebeu especial destaque de Sheilla: a necessidade de implantar uma gestão da Região Metropolitana do Recife, que permitiria resolver de forma abrangente problemas como moradia, mobilidade, saúde, entre outros. Quais os principais desafios ao desenvolvimento do Estado de Pernambuco? Temos alguns desafios que eu diria que são estruturais. Demandam grandes investimentos e que não acontecem numa única gestão. Um deles, que a gente vem falando desde que eu me entendo por gente, é a Transnordestina. Ela já mudou de nome e ainda não se concretizou. Mas planejamento é assim mesmo, a gente defende, vai amadurecendo até que se concretize. O Estado abraçou essa causa da Transertaneja e ela será um importante pilar do desenvolvimento, ao lado da melhoria das estradas e rodovias, nas quais não podemos parar de investir. Temos um déficit muito grande dessa infraestrutura logística, que não é restrito às áreas mais isoladas do Estado. A manutenção dessas estradas, a duplicação em alguns trechos e triplicação em outros são fundamentais para consolidar o processo de interiorização do desenvolvimento. Isso vem avançando desde a década de 1990, mas precisa ser intensificado. Há algum outro destaque de infraestrutura? Ainda na questão viária, há grandes projetos que precisam ser enfrentados e concluídos. Um desses é o Arco Metropolitano. Essa iniciativa, apesar de abranger toda a região metropolitana, será um ativo útil para potencializar a economia de Pernambuco. Tivemos um grande avanço para conectar o Estado com os aeródromos. O que era um desafio passou a ser um ativo importante, com a chegada dessa malha aérea em Caruaru, Serra Talhada, Garanhuns e Araripina. Além de já termos o Aeroporto de Petrolina. É uma malha muito interessante que leva a um processo estruturante e permanente do desenvolvimento do interior. Temos visto também o surgimento de polos regionais educacionais e médicos no interior, como em Serra Talhada. São investimentos importantes para a manutenção da população local, evitando a migração para grandes cidades. Também são projetos que vêm lá da década de 1990 e foram parados. Mas se tornaram políticas de estado que vem perpassando vários governos. Toda política econômica desenvolvimentista deve ser uma política de estado e não de governo. Isso tem sido muito bom para Pernambuco. Como essas novas estruturas logísticas fomentam o desenvolvimento no Sertão e no Agreste? Essa infraestrutura vai facilitar muito o escoamento da produção e o deslocamento das pessoas. Isso é o que vai levar a uma maior facilidade, por exemplo, de escoamento da fruticultura do São Francisco. Uma estrada de ferro, como a Transertaneja, potencializa muito o Porto de Suape como centro de produção e de distribuição. Mas é ao mesmo tempo o caminho para integrar a produção do interior com o resto do mundo. É o grande meio para levar os nossos produtos para o mercado externo, diminuindo muito o custo logístico e o tempo, inclusive. E na via contrária, a via férrea contribui para levar os produtos e insumos para o interior. Estamos frente também a um conjunto de tendências irreversíveis, que são mais abrangentes que Pernambuco e que a gente não pode perder de vista. A Agência Condepe-Fidem tem uma longa história de planejamento junto à Região Metropolitana do Recife, na época em que era ainda apenas Fidem. Quais os principais desafios para que essa complexa metrópole se desenvolva? O plano de desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana do Recife (PDUI-RMR) dá toda orientação das diretrizes, em que analisa a realidade, as carências e as potencialidades de cada município. O que eu queria ressaltar aqui é a importância de se retomar o olhar sobre a região do ponto de vista do território metropolitano, como um todo, sem se preocupar tanto com os limites dos municípios. Ou melhor, os limites têm que ser considerados, mas é preciso haver aquela solidariedade territorial. A gente não pode imaginar um Recife sem pensar em Jaboatão, sem pensar em Camaragibe, sem pensar em Olinda. Não se pode pensar numa Itapissuma sem pensar em Igarassu, sem pensar em Araçoiaba, sem pensar em Itamaracá. A gente não pode pensar em Suape sem pensar nos municípios do Cabo e Ipojuca ou até em municípios da Mata Sul. Não se pode deixar de pensar nos municípios como um todo, de forma solidária entre eles. Leia a entrevista completa na edição 201.2 da Algomais: assine.algomais.com

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"É razoável dizer às pessoas que corram para tomar a vacina contra Covid"

Quando pensávamos que finalmente a pandemia da Covid-19 estava chegando ao fim, com a redução do número de pessoas contaminadas, eis que na segunda quinzena de outubro a quantidade de casos da doença voltou a crescer em todo o País. É certo, porém, que estamos agora, num outro patamar, com uma grande parte da população vacinada, embora o percentual que tomou as doses de reforço esteja aquém do desejado. Também temos a expectativa da chegada das vacinas capazes de fornecer proteção contra as subvariantes da Ômicron e a chegada de novos recursos terapêuticos. Para analisar essa nova conjuntura da Covid-19, Cláudia Santos conversou com o infectologista Paulo Sérgio Ramos, que é professor associado da Faculdade de Medicina da UFPE e pesquisador da Fiocruz-PE. Ele destacou avanços, como a aprovação do medicamento Paxlovid pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para tratar a Covid, uma boa notícia principalmente, para os idosos que são mais vulneráveis ao coronavírus. Mas lamentou que o antiviral não ter sido ainda incorporado ao SUS, já que seu valor ficaria entre R$ 2 mil a R$ 3 mil. Também se mostrou pouco otimista com a possibilidade de todos os brasileiros serem vacinados no curto prazo, com as chamadas vacinas bivalentes que têm ação contra as novas subvariantes. E, para que o número de casos não cresça ainda mais neste fim de ano, quando ocorre o aumento de aglomerações provocadas pelas festas, ele é taxativo: “A solução é as pessoas procurarem os serviços de saúde para tomar aquelas doses que estão pendentes.” Por que os casos de Covid voltaram a crescer no Brasil? O principal fator é que a velocidade de vacinação das diversas faixas etárias das populações ditas alvos estão em níveis insatisfatórios. Em todas as faixas etárias existe ainda o delay, muitos não estão respondendo ao chamamento para tomar as doses de reforço, isso faz com que haja um gap muito grande de pessoas não vacinadas. E quanto mais pessoas não vacinadas, maior a facilidade de o vírus da Covid-19 circular entre elas e ocorrerem as mutações genéticas. Por isso que ouvimos falar, desde o início da pandemia, das variantes e agora das subvariantes da Ômicron que estão circulando com muita força, inclusive no Nordeste do Brasil. O vírus começa a sofrer mutações genéticas, a escapar dos mecanismos nos quais as vacinas foram inicialmente concebidas e calculadas. Esse é o principal motivo de estarmos, neste momento, com a recirculação do vírus, não na forma selvagem, mas na forma modificada, e de termos saído do momento de relativa calmaria e voltar a ter este aumento do número de casos de pessoas infectadas e mesmo de pessoas graves, inclusive de óbitos. A solução é as pessoas procurarem os serviços de saúde para tomar aquelas doses que estão pendentes. Além disso, as unidades de saúde sanitárias já vêm reforçando, inclusive em Pernambuco, que as pessoas retomem uso das máscaras nos ambientes coletivos. Como está a situação em Pernambuco? Tanto o laboratório central na rede pública, como os laboratórios da rede privada, todos têm reportado o aumento da demanda pelos testes de Covid – os testes rápidos ou os testes moleculares (aqueles chamados PCR). Não só ocorreu o aumento da procura por esses testes como também da positivação deles. Verdadeiramente, estamos mais uma vez sofrendo uma nova onda de casos de infecção da Covid-19. E como estão as internações? Existem dois fenômenos. Tínhamos uma situação de relativo conforto até meados de outubro, quando ainda havia leitos reservados para pacientes infectados pela Covid. Geralmente eram quadros leves e, na maioria das vezes, não eram pacientes que precisavam ir para UTI. Havia também aquele cenário de pacientes que estavam internados por qualquer outro motivo e durante o internamento se infectaram ao serem entubados e desenvolviam sintomas gripais. Mas da segunda semana de outubro para cá, sentimos novamente a necessidade de aumentar a disponibilidade de leitos para a Covid, para desafogar o serviço público. E, por esse motivo, mais uma vez tivemos que estrangular o número de leitos para outras patologias. E qual a gravidade desses casos que vão para hospitalização? O que temos visto é que a grande maioria que já foi vacinada – mesmo aqueles que foram vacinados parcialmente, que não completaram todas as doses de reforço – apresenta quadros mais leves mas, muitas vezes, é internada pela descompensação de uma doença de base como câncer, diabetes ou alguma doença pulmonar ou cardíaca. Mas os idosos, esses sim, têm a necessidade de internação hospitalar, muitas vezes requerendo cuidados da unidade de terapia intensiva e com desfechos desfavoráveis, inclusive mortes. Mesmo tendo todas as quatro doses da vacina da Covid realizadas, eles correm o risco de serem internados porque existe um mecanismo chamado imunossenescência, em que há um envelhecimento do sistema imunológico. Leia a entrevista complena na edição 201.1: assine.algomais.com

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"Repensar a cultura da empresa dentro da perspectiva da ODS agrega valor ao empresário"

Neste mês foi instalado em Pernambuco o HUB ODS do Pacto Global da Organização das Nações Unidas. A chegada dessa iniciativa acontece no momento em que há um debate em vários setores da sociedade sobre as mudanças climáticas, as questões de gênero e raciais e também sobre a ESG, as melhores práticas ambientais, sociais e de governança dentro das organizações. O HUB chega com a missão de envolver o empresariado com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) estabelecidos na Agenda 2030 da ONU. Cláudia Santos conversou com a coordenadora do HUB Eduarda Chaves a respeito de como pretende atuar para conquistar a adesão dos empresários pernambucanos. “Vamos conversar com o poder público e o setor privado para entender e definir junto com eles as métricas que possam estabelecer quais são os principais ODS críticos no nosso Estado”, planeja. Formada em administração, com 32 anos e experiência no terceiro setor, nos movimentos sociais e na iniciativa privada (na área de tecnologia e inovação), Eduarda acredita que um dos maiores desafios que vai enfrentar serão as resistências para modificar a mentalidade dos empresários mais conservadores. Porém, acredita que poderá mostrar aos gestores que eles têm muito a ganhar ao fazer mudanças na sua cultura organizacional. “Um grande exemplo é Luíza Helena Trajano, que implementou políticas para mulheres negras dentro da própria organização e, por isso, o valor do capital humano dela cresceu drasticamente”. Confira a seguir a entrevista. O que é o HUB ODS Pernambuco? O HUB é parte da iniciativa do Pacto Global, criado por Kofi Annan, então Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, no início dos anos 2000. O intuito era convocar as empresas a alinharem suas estratégias e operações aos Dez Princípios Universais nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção. O Pacto Global entende que os países signatários devem convocar a iniciativa privada a aderir a esses conceitos universais que na Conferência da ONU de 2015 (COP 21) passa- ram a ser os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O Pacto Global atua nos países por meio de redes e a Rede Brasil do Pacto Global é a segunda maior do mundo. O Programa HUB ODS da Rede Brasil do Pacto Global tem como objetivo acelerar, por meio de parcerias regionais, o envolvimento do setor empresarial com a Agenda de Desenvolvimento Sustentável da ONU até 2030 e os 17 ODS. O Brasil é um país de dimensões continentais e cada região apresenta culturas e realidades econômicas e sociais diferentes. Por isso, a Rede Brasil do Pacto Global percebeu que seria mais efetivo criar iniciativas em cada Estado, a partir dos HUBs, que pudessem entender e abranger o contexto de cada local, com suas nuances, dificuldades e potencialidades. Além disso, trabalhar com o empresariado daquele estado com o intuito de promover o incentivo para que as práticas empresariais sejam norteadas pelos ODS. O HUB foi criado pela Rede Brasil mas pode ser que outros países venham a incorporar essa ideia também. As empresas que fazem parte desse HUB não são necessariamente signatárias do Pacto Global. Mas o intuito é que todas, em algum momento, venham fazer parte do Pacto por ser uma iniciativa que colabora com a transformação social. Quais são as primeiras ações do HUB aqui em Pernambuco? Ainda estou montando o plano de ação. Assinamos a parceria com o IATI (Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação), que será a empresa receptora do Pacto e que vai alocar o HUB dentro dela. Mas a gente começou gigante, como foi dito por Carlo Pereira, o CEO da Rede Brasil do Pacto Global, durante o lançamento do HUB ODS Pernambuco. Fomos o primeiro HUB que já começou, no primeiro dia, com mais de 30 adesões, entre organizações, secretarias e iniciativa privada. Então houve, de fato, um sucesso nesse lançamento. Os próximos passos são: conversar com o poder público e o setor privado para entender e definir junto com eles as métricas que possam estabelecer quais são os principais ODS críticos no nosso Estado. Com certeza, a erradicação da fome é um deles. Em seguida, vamos entender dentro de cada perspectiva empresarial, dentro de cada setor da economia e até das organizações, das universidades, do terceiro setor também, quais são as ODS que eles precisam praticar mais, onde está o ponto crítico deles. Acredito que esses sejam os primeiros passos para definirmos as ações a se- rem realizadas e as temáticas que serão mais estimuladas. Durante o lançamento, a vice-prefeita Isabella de Roldão trouxe a temática da questão de gênero para o nosso Estado. Trata-se de tema forte, que pode ser mensurado pelos índices de violência contra a mulher que são muito altos em Pernambuco. Já a questão da saúde mental foi trazida na ocasião do lançamento pelo CEO da Rede Brasil do Pacto da ONU, Carlo Pereira, principalmente as psicopatologias do trabalho. É um problema muito discutido e antigo, existe desde quando começaram as primeiras indústrias, o filme Tempos Modernos já abordava isso. A síndrome de burnout já está enquadrada na CID (Classificação Internacional de Doenças) de número 11. Então essa temática da saúde mental acho que deve entrar também em pauta. Essas 30 empresas que já fazem parte do HUB pertencem a quais setores? É bem variado. Existem organizações do terceiro setor, secretarias do Governo do Estado e do município que aderiram ao Pacto, como a Secretaria de Meio Ambiente estadual, a Secretaria Municipal de Tecnologia e Inovação, além da Prefeitura de Vitória de Santo Antão, que já entrou em contato comigo e solicitou uma reunião. A iniciativa é voltada, de fato, para criar um link intersetorial, do primeiro, segundo e terceiro setor, mas ela foi criada, a princípio, nos anos 2000, para a iniciativa privada, para que esses líderes enxerguem e tragam os ODS para fazerem parte da cultura organizacional da sua empresa. Com relação ao setor privado, temos a adesão da Baterias Moura, empresas da construção civil, do setor de óleo e gás, do setor de energia elétrica que é a Neoenergia, do setor

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"Construir a imagem da empresa brasileira de TI não foi uma tarefa trivial"

José Cláudio, CEO da Procenge, empresa de tecnologia que chega aos 50 anos, fala do pioneirismo de atuar numa época em que depósito bancário era feito em papel e o voto colocado em urna de lona. Ele destaca inovações da companhia como ter desenvolvido a TED, a partir de determinações do Banco Central. Para quem cresceu com as facilidades de obter um extrato bancário com um simples toque no celular ou votar na urna eletrônica e conhecer o resultado da eleição horas depois, é difícil entender o cotidiano no Brasil antes dessas revoluções tecnológicas. A empresa pernambucana Procenge, que comemora 50 anos, foi testemunha e protagonista dessas transformações. Cláudia Santos conversou com o CEO da Procenge, José Cláudio Oliveira, que falou da trajetória pioneira da companhia desde os primórdios da então chamada “informática” no País. A empresa criou inovações como a TED (transferência eletrônica disponível) para o setor bancário. Bem-humorado e bom de prosa, o empresário conta passagens engraçadas como as ocorridas no tempo em que se fazia depósitos em papel nos bancos. Confira a entrevista. O que leva o Recife a ter tanto destaque na área de TI? Porque o Recife é uma cidade de mascate. O forte da sua economia sempre foi a prestação de serviços, o comércio. A TI também fornece serviços. Quando você acessa um App no seu celular, você quer o serviço que é oferecido dali. Outra coisa foi o pioneirismo da UFPE em desenvolver cursos nessa área. Mas quando comecei, não havia cursos no Recife na área de tecnologia da informação. Eu nem sabia o que era um computador quando estagiei numa revenda de tratores da Caterpillar. Fiquei curioso quando vi no almoxarifado peças da empresa que vinham de São Paulo, com uns cartõezinhos amarrados. Aqui, eles não serviam para nada, o pessoal jogava fora, mas fui informado que aquilo ali era como a fábrica fazia o controle de estoque das peças. Um dia fui mandado para fazer um curso na Caterpillar de São Paulo e lá compreendi o que eram aqueles cartões perfurados: uma forma de inserir e retirar dados do computador. Eles serviam para identificar se havia estoque das peças. Achei aquilo interessante, me intrigou e me instigou. Quando me formei, fiz um concurso na IBM e passei. O senhor se formou em que área? Em engenharia mecânica na Escola Politécnica de Pernambuco. Depois, na IBM, fiz um curso de vendas. Você aprendia tudo que tinha para aprender da companhia, mas sempre sob uma ótica de venda. Recebi a incumbência de atender o setor de engenharia, que não tinha uma grande quantidade de empresas, mas havia uma que era interessante, a Astep. Ela se tornou grande referência no Brasil e no exterior por ter usado, pioneiramente, um computador para fazer cálculos nas engenharias ferroviária e rodoviária. Na Astep descobriram ser possível usar o computador também para fazer a contabilidade da empresa, a folha de pagamento, o controle de tributos e financeiro. E entenderam que se era um serviço que eles estavam demandando, as outras empresas demandavam também. Havia, portanto, um mercado para esse serviço. Nesse meio tempo, fui promovido e transferido da IBM do Recife para a matriz no Rio de Janeiro. Nessa época, o governo implantou a reserva de mercado no setor e não atentou que esse negócio necessitava de conhecimento tecnológico, de gente e de experiência que não tínhamos. Mas, como era no tempo do governo militar, tentaram fazer a coisa na força. A IBM no Brasil ficou numa situação complicada e começaram um plano de transferência das pessoas no País. Por outro lado, tive notícias de que os diretores da Astep concluíram que as aplicações que haviam desenvolvido – hoje chamadas de backoffice das empresas – não eram o negócio deles, já que atuavam com cálculo de engenharia rodoviária e ferroviária. Então decidiram criar uma outra empresa para atuar nessa área, a Procenge e precisavam de pessoas que conhecessem o mercado da informática, como chamávamos na época. Fui convidado por eles para voltar ao Recife e assumir essa área. A Procenge tinha um modelo de gestão inovador que incentivava a participação dos colaboradores para opinar no andamento da empresa. A Astep também propôs vender as ações da empresa nascente para os funcionários se tornarem sócios. Nesse momento, em 1980, a Procenge fica independente da Astep e um grupo de 21 funcionários se torna acionista da empresa. É aí eu tenho uma participação mais ativa. Como foi a trajetória da empresa, que é conhecida por ser pioneira em várias tecnologias? Além dessa área de backoffice, começamos a trabalhar em projetos tão diferentes como a despoluição do Lago Paranoá até o sistema integrado de transporte do Recife. Nesse grupo de 21 pessoas, havia uma parcela diversificada de consultores, conhecedores de vários tipos de tecnologias e técnicas diferentes, o que fez com que nos aproximássemos desses projetos, tendo o diferencial, para a época, de usar o suporte de um computador. No Recife, nessa época, todas as linhas de ônibus ligavam um bairro ao Centro. Se você quisesse ir de Casa Amarela para Boa Viagem, tinha que sair de Casa Amarela, ir para o Centro e pegar outro ônibus para ir a Boa Viagem. Se você saísse de Camaragibe para Olinda, teria que ir para o Centro do Recife e, de lá, para Olinda. Desenvolvemos um projeto com uma pesquisa de origem e destino, investigando de onde as pessoas vinham e para onde queriam ir. Em cima disso, montou-se um modelo matemático processado no computador que determinou quais seriam as linhas mais propícias para o Recife ter. Criamo um sistema entre bairros, entre cidades da região metropolitana, racionalizando o transporte público e que praticamente criou a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) que, até hoje, é a gestora do sistema de transporte subordinada ao Consórcio Metropolitano de Transporte Urbano. Trabalhamos também com sistemas bancários, em parceria com uma empresa de Blumenau. Desenvolvemos e aperfeiçoamos o sistema de controle de contas correntes porque nessa época não havia o teleprocessamento, era tudo feito no

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Queremos levar o jovem de periferia para o Porto Digital

Nesta semana, entre os dias 16 e 19, ruas e prédios do Bairro do Recife voltam a abrigar a programação do Rec’n’Play, depois de dois anos suspenso por causa da pandemia. O evento realizado pelo Porto Digital é uma oportunidade para assistir a palestras e participar de atividades diversas sobre tecnologia, economia criativa, cidades inteligentes e empreendedorismo, além de muitos shows. Afinal, esta edição do festival faz uma homenagem aos 30 anos do manguebeat. Até a garotada poderá se divertir com oficinas de robótica e apresentação do Mundo Bita. Além de proporcionar essa interação dos recifenses com os temas abordados no evento, a realização do Rec’n’Play tem um objetivo estratégico: trazer o jovem da periferia da cidade para conhecer o Porto Digital. Nesse contato, ele poderá vislumbrar que o setor de tecnologia oferece a oportunidade de um futuro de sucesso. “Vivemos um contrassenso, a cidade tem um terço dos jovens desempregados e há vagas sobrando na área de tecnologia”, lamenta o presidente do Porto Digital Pierre Lucena. Nesta conversa por videoconferência com Cláudia Santos, ele fala do esforço da entidade para incluir a população de baixa renda na área de TI, um setor que, segundo analistas, pode ter seu desempenho comprometido por falta de capital humano. “Vamos crescer muito mais rápido, incluindo as pessoas”, alerta Lucena, que também abordou na entrevista o impacto da pandemia sobre os negócios e as perspectivas com a eleição de Raquel Lyra e Lula. Como será esta edição do Rec’n’Play? No Rec’n’Play em 2019 fiz questão de fazer o evento crescer, trazendo nomes conhecidos como Gustavo Franco, Luciano Huck, Caco Barcellos, para furarmos a bolha de tecnologia e trazer a periferia do Recife para o Porto Digital. Fomos bem sucedidos, tivemos 35 mil inscritos, no anterior foram 14 mil. O objetivo do Rec’n’Play é criar uma espécie de imaginário pró-Porto Digital no Recife, pró-tecnologia, pro-economia criativa. Nesta edição vamos tratar de tecnologia, cidades inteligentes, economia criativa e adicionamos o tema do empreendedorismo. Estamos fazendo uma homenagem ao manguebeat que completou 30 anos. A parte de conteúdo acontece durante o dia e, à noite, a parte de entretenimento. No sábado faremos o Dia Kids, com oficinas na rua de pintura e de robótica para as crianças e vai ter, novamente, um show do Mundo Bita, que é a empresa mais famosa do Porto Digital. A abertura será na quarta-feira à noite, no Chanteclair, na rua mesmo, com a participação da Rural de Roger e Renato L fazendo discotecagem em homenagem ao manguebeat. Na quinta e na sexta-feira, o show será na Praça do Arsenal. Na quinta temos Almério e Bione e, na sexta, Mundo Livre e Otto. No sábado, com financiamento da Prefeitura do Recife, terá a apresentação de blocos de Carnaval. Quais serão as atrações das palestras? Entre os convidados estão André Trigueiro, da Globo News, que fala de cidades sustentáveis, Thiago André que faz um podcast muito bom chamado História Preta e Ademara Barros, atriz pernambucana do Porta dos Fundos. Terá uma trilha do Insper (Instituto e ensino e Pesquisa, o Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) também terá uma trilha e vai trazer pessoas da Olimpíada de Matemática Nacional, além da UFPE, C.E.S.A.R. School, Sebrae, Senac, Movimento LED, da Globo, todos também terão uma trilha. Vamos ter experiências, como uma arena de drones na rua, o Senac está com um espaço muito legal que vai funcionar na Casa Zero, o Itaú vai ficar no Paço do Frevo, com muito conteúdo para fintech. Haverá muitas atividades sobre cidades, como as que foram planejadas por Francisco Cunha (arquiteto e presidente do Conselho de Administração da ARIES - Agência Recife de Inovação e Estratégia, e colunista da Algomais). Teremos mais de 600 atividades, oficinas, palestras, debates, workshops. Mas, como disse, queremos levar o jovem da periferia para dentro do Porto Digital. O setor estava crescendo, mas com pessoas dentro do perfil tradicional: jovem de classe média, branco e homem. Só temos uma saída para o Recife: melhorar a renda média da população e só se consegue fazer isso se incluirmos as pessoas de baixa renda no jogo. Senão, vamos reproduzir o que Gunnar Myrdal chamava de “o princípio da causação circular cumulativa”. Gunnar estudou o negro americano e observou que ele era pobre e continuava pobre porque comia menos e estudava nas piores escolas. Aquele ciclo de pobreza foi sendo reproduzido entre as gerações e isso não é diferente no Recife e no Brasil. Por isso, estamos voltados para a formação. De que forma o Porto Digital atua para essa inclusão? Veja, vivemos um contrassenso, a cidade tem um terço dos jovens desempregados e há vagas sobrando na área de tecnologia. Por isso, montamos, em 2019, cursos co-branding com instituições como a Universidade Católica, o Senac, a Unit. Fazemos para as universidades a estrutura curricular de cursos de graduação tecnólogos, de dois anos de meio, de sistemas para internet e análise e desenvolvimento de sistemas. Uma das disciplinas é realizada dentro do Porto Digital, é uma residência, onde o aluno, durante um semestre, participa de um squad (equipe formada por profissionais de diferentes áreas que trabalham em conjunto para entregar soluções inovadoras). O aluno vai aprendendo na prática. O programa já tem 1.400 alunos, é mais do que o Centro de Informática, da Federal. Apesar de contar com muitos alunos, faltava incluir a população da periferia. Na eleição de 2020, propusemos aos candidatos que a prefeitura pagasse para incluir essas pessoas. Quando João Campos assumiu, ele topou e deu até nome ao programa, Embarque Digital, e passou a pagar o curso para 600 novos alunos por ano. O projeto está dobrando o número de formados na cidade com pessoas que vieram de escola pública e metade são negros ou pardos. São jovens talentosos que não tinham oportunidade e tiveram uma boa nota no Enem porque é preciso que a seleção seja por mérito. Programação é uma área que requer um conjunto formal de conhecimentos. Não adianta você contratar alguém que não teve uma boa

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"A cultura impacta o PIB em 2,5% e tem que ser tratada como estratégica em qualquer governo"

Uma das áreas que mais enfrentou revezes na pandemia, a cultura também amarga uma certa invisibilidade dos benefícios econômicos que proporciona e das riquezas que gera. Essa visão, segundo o produtor João Vieira Júnior, sócio da Carnaval Filmes, começa a se modificar. Para demonstrar o tamanho do setor cultural, ele se baseia num estudo da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), que revelou um contingente de 935 mil profissionais criativos empregados formalmente e uma participação de 2,5% no PIB nacional. “O que é muito mais significativo do que a contribuição da indústria farmacêutica ou automobilística”, ressalta. João Vieira Júnior tem trabalhado com vários nomes que deram ao cinema pernambucano e brasileiro um destaque internacional, como Cláudio Assis, Hilton Lacerda e Karim Aïnouz, e participado de produções como Tatuagem, Céu de Suely, Estou me Guardando pra Quando o Carnaval Chegar. Nesta semana foi lançado Paloma, filme que a Carnaval produziu, dirigido pelo diretor Marcelo Gomes (o mesmo de Cinema, Aspirinas e Urubus) e ganhador do Festival do Rio. Nesta conversa com Cláudia Santos, ele analisa o impacto no audiovisual da pandemia e das fake news sobre as leis de incentivo à cultura, e aponta as perspectivas do setor. Quais as dificuldades enfrentadas pelas produtoras do audiovisual no País? Antes de responder, gostaria de colocar algumas coisas interessantes que aconteceram este ano, como esta entrevista para a Algomais, revista que é uma antena dos negócios do nosso Estado. O fato de que eu, um produtor de cinema, esteja conversando hoje com a Algomais, é uma mudança que se operou lentamente. Ou seja, começa a haver a percepção dos gestores, das pessoas que geram riquezas, dos pensadores, dos economistas sobre o impacto econômico do setor cultural, a chamada economia criativa. Talvez, a pandemia tenha contribuído para isso. Existem estudos da ONU (Organização das Nações Unidas) apontando que a participação do setor cultural no PIB mundial chega de ser 7% e isso é uma coisa muito expressiva. No Brasil, enfrentamos a ausência de dados porque não aconteceu o Censo mas a Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) revela que, no País, o impacto da cultura sobre o PIB é de 2,5%. O que é muito mais significativo do que a contribuição da indústria farmacêutica ou automobilística, por exemplo. Sem contar que a distribuição dessa riqueza produzida pelo setor cultural é muito mais pulverizada por todos os Estados. Os estudos da Firjan, de 2021, revelaram que 935 mil profissionais criativos estavam formalmente empregados no setor cultural, o que equivale a 70% de toda a mão de obra que atua na indústria metalmecânica brasileira. Nos créditos finais de Bacurau, obra premiada de Kleber Mendonça, há uma frase informando que aquele filme gerou 800 empregos diretos e indiretos. Trata-se de um setor importante que produz riqueza material mas, também, riqueza simbólica que é incalculável porque inclui a nossa língua, o nosso jeito de pensar, o nosso jeito de vestir, de comer, de sonhar, de desejar. É a cultura que dá ao brasileiro a singularidade dele em relação ao resto do mundo. Então, o setor tem que ser tratado de forma estratégica, dentro de qualquer plano de governo, porque a cultura emprega, faz sonhar e é a indústria mais limpa também. Como produtor, sou o responsável pelo financiamento e pela realização de uma obra, tenho de analisar as condições, a partir do tamanho da minha empresa e do conhecimento da minha participação dentro do mercado. Devo analisar se posso empreender o tamanho daquela obra, se ela vai custar R$ 2 milhões, R$ 3 milhões, R$ 5 milhões. Uma obra cinematográfica, mesmo quando é de baixo orçamento, ela é muito cara, mas tem alto índice de empregabilidade: o ator tem que estar vestido e são necessários costureiras, figurinistas, maquiador, material de consumo para produzir essas roupas. Os atores estão dentro de um cenário que pode ser natural mas, também, pode ser uma casa numa zona rural que você alugou de uma pessoa, ou um sítio, material como tintas foram comprados, você trouxe pessoas de diferentes lugares, contratou alimentação, alugou veículos, comprou combustível, consumiu hospedagem para 70 pessoas. O ideal de uma empresa produtora de filmes é que, enquanto está desenvolvendo um projeto, ela possa estar filmando outro ou cuidando do lançamento de um terceiro para que tenha sempre um volume, uma capacidade para operar no mercado. Às vezes, você pode conseguir algum recurso público estadual mas, geralmente, os filmes de longa-metragem captam dinheiro federal, às vezes internacional, por meio das coproduções. Acima de tudo os empreendedores culturais, especialmente os do cinema, são investidores do Estado. Por exemplo, quando faço uma coprodução com um filme, cujo orçamento pode chegar a R$ 5 milhões – e ele não tem nenhum investimento local do Funcultura – posso dizer que essas empresas que estão envolvidas nesse filme, estão naquele momento sendo investidoras porque estão atraindo negócios para o Estado. Como você encara as críticas às leis de incentivo à cultura? Recentemente, fui convidado por um grupo de advogados para conversar com eles sobre a legislação audiovisual brasileira, porque eu me sinto numa missão constante e ininterrupta de desfazer a enxurrada de fake news a que os agentes culturais brasileiros foram submetidos nos últimos anos. Por exemplo, a Lei Rouanet é muito equilibrada, exige prestação de contas rigorosíssima, possibilita o acesso ao patrocínio dos agentes culturais no País inteiro. Um segmento da população criou distorções sobre essa lei e a força da fake news chegou a criminalizar de alguma forma os artistas. E aí, aparece a pandemia, as pessoas ficam presas em casa consumindo os produtos criativos, audiovisuais, fonográficos, o tempo inteiro. Houve uma alta demanda, mas uma produção muito baixa, porque foi o setor mais afetado, já que a cultura é um trabalho muito coletivo, que reúne muitas pessoas, além de ser um dos setores mais penalizados em investimento público dos últimos quatro anos. É um setor que foi criminalizado e perseguido. Qual o impacto da pandemia no setor? Houve um aquecimento com o streaming, com a Netflix,

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"Brasileiros e portugueses deveriam se conhecer melhor"

Q uem observa hoje o empresário Zeferino Ferreira da Costa no seu elegante escritório no bairro de Boa Viagem, no Recife, não imagina que ele trabalhou na adolescência numa mercearia em Portugal e, aos 18 anos, atravessou o Atlântico rumo ao Brasil, em busca de melhores oportunidades. Sua história de vida bem que daria um romance. Esteve à frente, junto com o irmão, num armazém de secos e molhados, que vendia para os barracões das usinas de cana-de-açúcar. Teve ainda uma padaria e um armazém de material de construção até ser um bem-sucedido empresário da construção civil. Em gratidão às oportunidades obtidas em terras brasileiras, que permitiram a sua ascensão, Zeferino Costa criou o Instituto Pernambuco-Porto, que visa a uma aproximação entre portugueses e brasileiros. Seu objetivo é promover o desenvolvimento científico, acadêmico, cultural e empresarial nas relações luso-brasileiras. Trata-se de um sonho acalentado há 25 anos e que se concre- tizou em julho passado com a inauguração da sede do instituto, um arrojado imóvel projetado por Acácio Borsói e Janete Costa, localizado dentro da Universidade do Porto. Nesta conversa com Cláudia Santos, Zeferino Costa conta sua trajetória e fala da sua paixão por unir brasileiros e portugueses e mostrar a Portugal as riquezas culturais e econômicas do Brasil. Qual o motivo que levou o senhor a sair de Portugal e migrar para Pernambuco? No meu tempo a emigração portuguesa se dirigia para o Brasil e para Angola. Quando estava em Portugal, meu pai disse para eu escolher entre esses dois países. Ele disse: “olha, tu vais para o lado que tu quiseres”. Em Angola estavam quatro irmãos meus e, no Brasil, havia um irmão que morava aqui. Optei pelo Brasil porque meu irmão estava sozinho aqui, apesar de ter muitos amigos, não havia ninguém da família ao seu lado. Em Portugal eu trabalhava desde muito jovem numa mercearia. Em 1960, aos 18 anos, eu só tinha sonhos e um deles era sair de Portugal para um país que estava melhorando. A perspectiva do Brasil era muito mais forte e eu vim para cá. Como estava a situação de Portugal nessa época para que a emigração fosse incentivada? Portugal estava melhorando, entretanto ainda tinha muito para melhorar. O espaço era pequeno, eu queria um espaço maior. O Brasil, pelo tamanho que é e com a população que tem, oferecia mais oportunidades para trabalhar. Eu pensei: vai sobrar alguma coisa para mim. Eu desembarquei aqui, no Recife, no dia 22 de janeiro de 1960, às 7 horas da manhã. Vim no navio Vera Cruz. Passei oito dias no mar. Qual atividade o senhor exerceu aqui ao chegar? Eu comecei a trabalhar com meu irmão. Ele morava em Itaqui- tinga que, naquele tempo, era um distrito de Goiana. Itaquitin- ga não é grande, é pequena, mas hoje já é considerada cidade. Trabalhava com meu irmão num armazém de secos e molhados, onde se vendia desde a charque ao feijão. Tínhamos também uma padaria para vender “por grosso”. Não vendíamos no balcão para o público mas às pessoas que tinham um barracão nos en- genhos. Nós levávamos produtos do Recife para Itaquitinga e os donos dos barracões dos engenhos compravam no nosso armazém e na concorrência também. Nesses barracões os proprietários das usinas vendiam para os trabalhadores, não é? Sim. Aqueles armazéns tinham de um tudo: tinham charque, utensílios para casa, que eram vendidos ao merceeiro, que era quem comercializava no barracão aos trabalhadores do engenho. Só vendíamos ao público aos sábados ou sextas-feiras porque era dia de feira. Entretanto, durante a semana, as vendas eram feitas apenas para o merceeiro que carregava as compras em cavalos. Na semana seguinte, ele retornava para pagar a conta que fez na semana passada e fazer outra conta para pagar na próxima semana. E aí os senhores prosperaram? Sim, deu retorno mas, como era um lugar pequeno, não tinha, como costumamos dizer, dar “panos pra mangas”, isto é, tinha seus limites e quando já não podíamos crescer mais, resolvemos vir para o Recife. Tivemos uma padaria, na rua Vinte e Um de Abril, em Afogados, onde ficamos por pouco tempo, depois adquirimos um armazém de material de construção. Depois, veio mais um outro irmão meu para cá e percebemos que um armazém só era muito pouco para três pessoas. Foi quando decidimos construir, já que tínhamos material de construção do armazém, não precisava comprar em outro canto. Começamos a construir umas casas e pequenos prédios nos bairros de San Martin, Cordeiro, Torre, Rosarinho. Depois, viemos para Boa Viagem. Colocamos o nome da construtora de Rio Ave que era minha e dos meus irmãos e, em 1996, nós nos separamos, eles ficaram com a Rio Ave com os filhos deles e eu criei a Vale do Ave, porque também já tinha meus filhos. Nós nos separamos, cada um seguiu o seu caminho, mas continuamos muito próximos e amigos. Eu me casei em Portugal, em 1979, e em seguida minha mulher, Maria do Carmo, veio para cá também. Temos quatro filhos. Todos trabalham na empresa. A Rio Ave nasceu em 1965, portanto, tenho 58 anos no setor de construção. Os senhores começaram construindo conjuntos habita cionais populares? Eu construía casas para a classe média, funcionários públicos. Eles conseguiam financiamento do próprio governo, porque contavam com o o Ipase (Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado) que era federal. Então, o imóvel já era destinado a eles. Hoje construímos edifícios para as classes média e alta, principalmente, em Boa Viagem. Acho que no Brasil há espaço para a construção de casas voltadas para as classes menos favorecidas, para a classe média e alta. E isso faz girar dinheiro. O Brasil tem muita coisa para fazer, estradas, saneamento, etc. e como ele é muito grande, tem muito espaço para quem quiser trabalhar. Como surgiu a ideia de fundar o Instituto Pernambuco-Porto e fazer essa aproximação entre pernambucanos e portugueses? Ao chegar aqui, eu gostei muito desta terra. Existe toda a história de relação entre Brasil e Portugal

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"Nós, idosos, não somos um fardo. Somos um recurso para nossas famílias e a sociedade"

Num país, como o Brasil, considerado o segundo pior para se aposentar, de acordo com ranking da consultoria de investimentos Natixis, o idoso enfrenta muitas dificuldades. Porém, as soluções existem e, algumas delas são criativas e simples. Quem garante é um expert no assunto, o médico gerontólogo Alexandre Kalache, que já comprovou isso na prática. Quando foi diretor do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial da Saúde, em Genebra, ele concebeu a iniciativa Cidades Amigas do Idoso. Implantada em Nova Iorque, em 2008, teve grande sucesso ao executar medidas como aumentar o tempo dos semáforos para permitir que pessoas mais velhas pudessem atravessar as ruas. Kalache fundou a Unidade de Epidemiologia do Envelhecimento da Universidade de Londres onde também criou o primeiro Mestrado em Promoção da Saúde da Europa. Em 2022, foi agraciado com o Prêmio Zilda Arns de Direito das Pessoas Idosas, especialmente por sua mobilização internacional por meio do movimento Velhice Não É Doença, que resultou na retirada do termo “velhice” do Código Internacional de Doença. Atualmente é presidente do Centro Internacional da Longevidade e co-diretor do Age Friendly Insititute, baseado em Boston. Desde 2021 divide seu tempo entre o Brasil, Londres e Granada, onde é professor associado da Escuela Andaluza de Salud Publica. O gerontólogo esteve no Recife para realizar uma palestra no Sesc e conversou com Cláudia Santos sobre a necessidade de uma política voltada ao envelhecimento populacional, como o tema tem sido tratado nas campanhas eleitorais e as iniciativas para o idoso ter acesso a cuidadores. Uma delas, bem criativa, está sendo discutida na capital pernambucana. Num ranking de 44 países, o Brasil aparece como o segundo pior do mundo para se aposentar. Como o senhor avalia essa situação e a ausência de propostas para o idoso nas campanhas eleitorais? É lamentável que o Brasil esteja nesse ranking. A maioria do povo brasileiro que se vê hoje numa situação muito pior do que já era há 10 ou 20 anos. A população 60+ vai dar um salto; ela hoje representa 15% dos brasileiros (em torno de 33 milhões de pessoas), em 2050 chegaremos a 31%, com 68 milhões. Temos que considerar como criar condições de vida para que essa massa de pessoas chegando aos 50 ou 60 ou 70 anos, que já perderam a oportunidade de se preparar desde a infância. E não falo só em relação à aposentadoria. Uma mulher jovem, por exemplo, que não consegue formar massa óssea, vai acabar com osteoporose. Uma pessoa que não tem acesso ao SUS, que está sendo depauperado, não vai prevenir a hipertensão e daqui a 30 anos terá um derrame aos 58 anos, vai cair na dependência, o que terá custo para a família e para o governo. Estamos despreparados e não vejo nos partidos políticos ou nos candidatos uma proposta coerente de uma política para responder ao envelhecimento populacional. Não estou sendo partidário, apenas digo que o único que apresentou – porque me foi pedido para preparar as diretrizes de políticas para o idoso – foi o candidato Lula. Isso foi entregue a ele em mãos, por mim, num evento com 40 pessoas. Não era um evento político e, sim, de conteúdo. Afinal, trabalho há 47 anos nessa área, tenho 35 anos de experiência fora do Brasil, fui diretor da Organização Mundial da Saúde, quero ser útil a este País. Quais as propostas que o senhor sugeriu?A primeira está relacionada à saúde porque 83% dos idosos dependem do SUS, que temos que fortalecer por estar depauperado e não foi ainda mais depauperado porque veio a pandemia e, sem o SUS, seria uma carnificina ainda maior. Outro pilar é a aprendizagem ao longo da vida. É preciso investir, desde a criança até o velho, para que ele continue produtivo, não se torne obsoleto aos 47 anos e perca o emprego. O terceiro pilar que peço ao governo, seja ele qual for, é o direito de participar. Não adianta ter saúde, ter conhecimento e ter as barreiras colocadas por uma sociedade que é hedonista, que não gosta de velho, acha que ele deve morrer, é um fardo. O quarto pilar é que o governo proteja, ampare, dê segurança ao idoso, porque o horror do envelhecimento é não saber se você vai envelhecer com um teto, com comida na prateleira e o mínimo de dinheiro no bolso. A soma de tudo isso é que precisamos de uma cultura do cuidado, que ele não parta apenas da família que perdeu poder aquisitivo e, às vezes, depende da pensão daquele idoso. Quando idosos morreram por Covid-19, muitas famílias entraram na miséria. Não somos um fardo, somos, acima de tudo, recursos para as nossas famílias, para nossa sociedade, para as nossas comunidades. Investir no envelhecimento saudável, ativo e digno, é um motor para a produtividade do País porque enquanto eu estiver trabalhando, pagando imposto, gerando renda, dando emprego a pessoas que trabalham comigo, sou um recurso indispensável neste momento em que teremos menos jovens e vamos precisar cada vez mais de pessoas ativas e velhas. Quais as instituições que atuam em defesa da pessoa idosa? Tivemos as criações dos conselhos pela Constituição de 1988, um deles é o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa. São compostos por integrantes do governo e da sociedade civil. Existem instituições fantásticas, não estou sendo religioso, porque não sou, mas há, por exemplo, a Pastoral da igreja católica, o Rotary Club, o Lyons, as igrejas evangélicas e há, ainda, as sociedades profissionais, como a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Esses conselhos, se forem realmente paritários, alternam o poder. Sua presidência é democraticamente eleita e por dois anos é o governo quem a encabeça, nos outros dois anos é a sociedade civil. O que aconteceu em 19 de junho de 2019? O Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa sofreu uma intervenção presidencial que tirou a diretoria democraticamente eleita, no caso a diretora era da Pastoral, e colocou um interventor, que não tem informação nenhuma em gerontologia, nem sobre envelhecimento,

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