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"Não se pode, em hipótese alguma, excluir o trecho até Suape da Transnordestina"

Adriano Lucena, presidente do Crea-PE, fala das articulações para mobilizar setores de Pernambuco em defesa da manutenção do ramal que conecta Suape à Transnordestina. Ele explica os motivos que embasam a manutenção do trecho que liga o porto à ferrovia e afirma estar esperançoso de que o problema será solucionado. D esde que assumiu a gestão do Crea-PE (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco), a nova direção da entidade decidiu voltar-se para os problemas que afligem a sociedade, destacando o papel social dos engenheiros. Questões como moradia, mobilidade, prejuízos provocados pelas enchentes têm sido alvo de ações da entidade. E foi dentro dessa linha de atuação que o Crea-PE se engajou na defesa da manutenção do ramal do Porto de Suape da Transnordestina. O trecho de Salgueiro até o porto pernambucano foi excluído num aditivo de contrato assinado entre a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e a empresa TLSA (para compreender detalhes desse tema confira a matéria de capa da edição anterior da Algomais). Nesta entrevista de Cláudia Santos com o presidente do conselho Adriano Lucena, ele fala sobre as conversas que tem mantido com outras entidades como o Sistema S, sindicatos, políticos e universidades, para construir uma mobilização em prol do porto pernambucano. Também tem mantido conversas com as secretarias estaduais, mas ressalva que precisam “avançar mais com a participação efetiva do gabinete da governadora”. O presidente do Crea-PE ressalta as razões técnicas que conferem a Suape ter a conexão com a ferrovia e se diz esperançoso com o surgimento de uma solução por parte da gestão do presidente Lula. “Nós estamos falando do aditivo assinado no governo passado. Nós mudamos essa página. Hoje, quem está no governo é quem idealizou a ferrovia em 2006”, analisa Lucena. Confira a seguir a entrevista: Qual é a posição do Crea-PE sobre o aditivo que foi assinado entre a Agência Nacional de Transportes Terrestres e a empresa TLSA que exclui o ramal da Transnordestina para Suape? Foi um equívoco a assinatura desse aditivo. Não se pode, em hipótese alguma, excluir o trecho de Salgueiro a Suape. Esse trecho, como bem colocado na reportagem da Algomais, tem uma extensão menor em comparação à Pecém, e abrange o maior porto do Nordeste que é o Porto de Suape. Então, não tem o menor sentido esse aditivo. Precisamos da mobilização da sociedade organizada em Pernambuco. Não só do Crea, mas do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo), da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), dos diversos conselhos, do Sistema S, dos políticos, para que possamos mostrar à sociedade brasileira uma forma eficiente de utilizar esses recursos que são dos brasileiros. E uma forma eficiente de realizar essa entrega é fazer o percurso até Suape. Que tipo de mobilização o Crea-PE tem feito nesse sentido? O Crea tem buscado debater esse assunto com o Sistema S, com Bernardo [Peixoto, presidente] da Fecomércio, com o Sinduscon-PE (Sindicato da Indústria da Construção Civil de Pernambuco), com o Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva). Temos buscado conversar com o mundo empresarial e também com universidades. Inclusive, sexta-feira passada (dia 10), estivemos em Petrolina conversando com o reitor da Univasf para que pudéssemos ter uma ação de forma organizada e programada, com uma cronologia para que possamos ter ações imediatas. Estava conosco em Petrolina o deputado Lucas Ramos. Essa ação tem que envolver todos os pernambucanos, em todas as frentes para que Pernambuco não seja prejudicado e não é só Pernambuco não, para que o Nordeste não seja prejudicado, porque a construção do ramal para Suape será muito boa não só para Pernambuco, mas para toda a região. Como vão as articulações do Crea com o governo estadual para uma mobilização em favor da construção do ramal da ferrovia para Suape? Conversamos com as secretarias afins ao tema, como Desenvolvimento Econômico, Mobilidade e Infraestrutura. Entendemos que precisamos avançar mais com a participação efetiva do gabinete da governadora. E quais são os próximos passos? Vamos fazer seminários, promover debates, para mostrar que do ponto de vista técnico e econômico temos o melhor traçado, e o melhor porto para que a ferrovia possa chegar. Também não pode ser um debate ou ações de palavras jogadas ao vento, precisamos ter ações concretas para mostrar a importância de concluir o traçado até Suape, mostrarmos por que temos o melhor traçado, porque ele é mais eficiente do ponto de vista econômico, ambiental e social. Essas ações têm que estar juntas, ligadas, como uma corrente, com cada peça conectada para que a gente possa tornar isso cada vez mais forte. O senhor conhece o embasamento técnico que levou a esse aditivo? Do ponto de vista técnico, o que a gente tem conhecimento, até o momento, é que o traçado até Suape, é mais vantajoso por oferecer um percurso mais curto em 100 km. Numa viagem de ida e volta, a redução é de 200 km. Além disso, Suape hoje é o melhor porto do Nordeste. Então nós não conseguimos identificar o porquê de não utilizar o traçado de Suape do ponto de vista técnico, econômico e social. A TLSA e a ANTT anunciaram que embasaram o aditivo num estudo da consultoria Mckinsey… Até o momento eu não conheço alguém que tenha conhecimento desse estudo e em todas as abordagens levamos em consideração os elementos postos no mundo técnico que mostram que o traçado até Suape é muito mais eficiente do que qualquer outro porto. A TLSA construiu a ferrovia de Eliseu Martins, no Piauí, até Salgueiro e pretende construir o restante do trajeto até Pecém. A Bemisa mostrou interesse em completar o percurso de até Suape. Qual a melhor solução para realizar o transporte de carga das duas empresas? Se a Bemisa ficar responsável para concluir o traçado até Suape, o ideal seria que ela utilize o percurso da TLSA até Salgueiro. Eu vejo como uma coisa muito ignorante do ponto de vista da modernidade fazer uma ferrovia duplicada, paralela a uma já existente. Então, a Bemisa utilizando

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"Você tem que respeitar o consumidor, porque ele não pode ser substituído"

Nesta edição de aniversário da Algomais, estreamos a seção História de Sucesso, ao trazer a trajetória de Eraldo Barbosa dos Santos, conhecido como Lau. Aos 13 anos ele vendida copos nas feiras livres de Timbaúba e hoje é um bem-sucedido empresário do setor de revenda de automóveis. Em cima de uma carroceria de caminhão, Lau com apenas 13 anos, saía do sítio onde morava com a família, na zona rural de Timbaúba, para vender copos na feira livre da cidade. Sacolejando em meio às mercadorias pelas estradas esburacadas da Zona da Mata, nos anos 1960, ele também comercializava nas feiras de São Vicente Férrer, em Itambé e em Itabaiana (PB). Logo passou a vender também tecidos e roupas e com os ganhos realizou o sonho de alugar uma casa na área urbana de Timbaúba e transferir para lá a família. “Aí, passamos a ter água encanada e energia, privilégios que a gente não tinha no sítio”, conta Lau que, depois dessa primeira conquista, passou a acumular outras tantas até se tornar um empresário de sucesso do setor de revenda de veículos. Batizado Eraldo Barbosa dos Santos – “mas só me conhecem como Lau, o Eraldo, às vezes, até eu acho estranho” – ele hoje é dono da Disnove, concessionária da Volkswagen, com 110 funcionários e um volume médio de venda de 200 carros por mês. Ano passado, ele e sua equipe de funcionários comemoraram 50 anos de atuação no mercado. Nesta conversa com Cláudia Santos, Lau contou como conseguiu, com seu tino comercial, ousadia e uma incondicional prioridade ao cliente, erguer a empresa que já recebeu vários prêmios de melhor concessionária do Brasil e foi reconhecida pela Assobrav (Associação Brasileira dos Revendedores Volkswagen) como a 14ª concessionária em faturamento entre as de cerca de 600 revendas espalhadas no País. Aos 74 anos, Lau acompanha a segunda geração da empresa com os filhos Eraldo Júnior e Evandro, mantém hábitos simples e ainda encontra tempo para ser conselheiro do time do coração, o Náutico. Como começou a sua carreira empresarial? Sou timbaubense. Saí de Timbaúba e vim para o Recife já bem estruturado. O início mesmo foi bem difícil. Morava em um sítio. Comecei a trabalhar com 13 anos de idade, por necessidade. Foi quando dei uma “fugida” e fui para a cidade. Um tio me deu um apoio e comecei a trabalhar nas feiras livres, vendendo copo americano. Depois, passei a vender também tecidos e roupas prontas. Eu vendia na feira de Timbaúba no sábado, no domingo na feira em São Vicente Férrer, na segunda em Itambé e na terça em Itabaiana. Eu era uma criança e fazia esse trabalho sozinho. Como o senhor se transportava de uma cidade para a outra? Viajava na carroceria de caminhão, com as mercadorias. Naquela época as estradas eram péssimas. Várias outras pessoas também viajavam e com a carga alta. Era muito difícil. Aos 15 anos realizei o meu primeiro sonho que foi alugar uma casa na cidade com dinheiro que eu ganhava na feira e transferir a minha família para morar lá. A nossa origem é bem humilde, somos 10 irmãos, meus pais sofriam muita dificuldade para dar alimentação aos filhos. Aí, passamos a ter água encanada e energia, privilégios que a gente não tinha no sítio. Continuei vendendo, foi aumentando o negócio e a quantidade das vendas. Depois, abandonei os copos e fiquei só com tecidos e roupas feitas nessas feiras. Aos 18 anos me casei com minha esposa Edilene. Tenho 55 anos de casado, cinco filhos, 14 netos, dois bisnetos. Depois desisti das feiras e comprei um carro, uma rural, para colocar na praça. Passei um ano e pouco, mas não me adaptei. Percebi que tinha motoristas com 20 anos, 30 anos nesse trabalho e só conseguiam ter aquele carrinho velho. Então voltei para o comércio. Mas ao invés de ser no varejo, consegui comprar peças de tecido fechadas e vendia por atacado àqueles ex-colegas meus que faziam feira. Deu certo, foi ótimo. Depois, inventei de comprar carro e vender. Saía de Timbaúba, vinha para o Recife, pegava um ônibus e ia para São Paulo. Comprava um carro novo, vinha dirigindo de lá para cá. A primeira viagem que fiz foi em 1968. Imagino em que estado estavam as estradas… Eram muito ruins. Eram quatro dias de ônibus daqui para lá. E de lá para cá, eu saía de São Paulo, dormia em Vitória da Conquista (na Bahia) sozinho, dentro do carro, porque eu não podia ter custo. Saía de Vitória da Conquista e ia dormir em Timbaúba. Geralmente fazia três viagens para São Paulo por mês. Continuei lutando com muita vontade, com muita disciplina, com despesas altas, porque depois que casei fiquei com despesas de duas famílias. Até que apareceu uma oportunidade de trabalhar na Disnove que já era revenda autorizada da Volkswagen em Timbaúba. O então o proprietário me chamou para trabalhar para ele, disse que não tinha nenhum conhecimento em automóveis, era fazendeiro e não estava satisfeito com o negócio. Eu disse a ele que não queria, porque nunca tinha sido empregado, sempre fui independente. Então, ele me fez uma proposta irrecusável para sócio, sem entrar com o dinheiro. Como foi seu desempenho? Para você ter uma ideia, a Disnove em nove meses, de janeiro até o dia 4 de outubro de 1972, vendeu oito carros, menos de um carro por mês. A situação era complicada. Eu entrei em 4 de outubro e até o final do ano, vendi 57 automóveis. Aí começaram a dizer: “esse cara não pode sair da empresa”. E qual foi esse segredo dessa performance? Nessa época eu era aquele garoto muito bem aceito na cidade, trabalhava na área. Sempre digo que temos que respeitar nosso maior patrimônio: "sua excelência, o cliente.” Sem ele não existe mercado. Depois, em segundo lugar, vêm os nossos colaboradores. Do servente até o diretor, para mim era o mesmo tratamento. Em 1977 o sócio faleceu e ficou a revenda com os herdeiros que me convidaram a continuar sócio.

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"Os assistentes virtuais serão a próxima grande onda de aplicativos"

Como toda nova tecnologia que surge, o aplicativo ChatGPT tem suscitado muita discussão tanto sobre seus benefícios, quanto seus efeitos negativos. Há temor de que ela seja empregada para facilitar a divulgação de fake news, favorecer o plágio nas teses acadêmicas e até ser usada por hackers. Ao mesmo tempo, o ChatGPT abre uma série de possibilidades de usos para auxiliar o dia a dia de pessoas e empresas. “Assim como toda ferramenta com grandes potencialidades, essa tecnologia pode ser utilizada para o bem ou para o mal”, adverte João Paulo Magalhães, professor da CESAR School. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Magalhães afirma que o primeiro impacto do uso do aplicativo ocorrerá nas áreas de atendimento ao cliente e suporte técnico, proporcionando menos tempo de espera e menores custos. Ele acredita que assistentes virtuais, como Alexa, passarão a utilizar os modelos de linguagem semelhantes ao do ChatGPT para potencializar as suas funcionalidades e, em breve, ele prevê o surgimento de uma segunda onda desses aplicativos. “Todos nós aprenderemos e faremos o nos- so trabalho acompanhado de um assistente profissional digital”, projeta o professor. O que é o ChatGPT? Estritamente falando, ChatGPT é um aplicativo de mensageria, ou chat, no qual os usuários conversam não com uma pessoa, mas com uma inteligência artificial baseada em um grande mo- delo de linguagem natural, o GPT-3, que tem como objetivo che- gar o mais próximo possível de uma conversa com um humano. O seu grande diferencial é que esse modelo aprende a partir de uma quantidade gigantesca de dados, em sua maior parte oriun- da da internet, como notícias, livros, sites, artigos de revistas, etc. Isso faz com que o ChatGPT entenda perguntas complexas e gere respostas em uma linguagem muito natural para nós, humanos. Além disso, o ChatGPT é capaz de armazenar o contexto de uma conversa, então, se você estiver perguntando sobre um determi- nado assunto, o aplicativo manterá este assunto e tudo que foi perguntado em sua memória, assim como nós fazemos, o que torna a conversa muito mais fluida. De forma mais ampla, ChatGPT é a ponta de um iceberg de possíveis aplicações extraordinárias a partir dos grandes modelos de linguagem natural. Isso é possível porque a linguagem é, por si só, talvez a ferramenta mais poderosa já desenvolvida pois, por meio dela, podemos descrever e transmitir todos os outros co- nhecimentos, bem como imagens, vídeos e praticamente tudo o que existe. Se conseguirmos criar uma ferramenta que se aproxi- ma de nossa linguagem, muito provavelmente, os impactos em todas as áreas em que atuamos pode ser potencializado. Isto já está ocorrendo na criação de imagens e vídeos, bem como na programação de computadores, por exemplo. Você poderia dar exemplos de aplicações que essa nova tecnologia pode proporcionar? A primeira leva de aplicações vai ser um salto de melhorias nos assistentes digitais como o Alexa, a Siri e o Assistente do Google, além dos chatbots em geral, que encontramos em sites diversos. Uma segunda onda será marcada pelo que estou chamando de assistentes digitais profissionais e educacionais, um assistente digital que vai ajudar os profissionais e estudantes em suas tarefas do dia a dia, potencialmente em qualquer área, como por exem- plo, para fazer pesquisas em grandes bases de dados de conhecimento e conteúdo. Neste sentido, saem na frente as profissões que fazem uso maior da escrita, como o jornalismo, a escrita de livros ou criação de resumos e conteúdos diversos, bem como a programação de computadores, que poderá ser feita por meio de uma linguagem mais próxima do natural. A tradução entre idiomas também vai dar um salto de qualidade e rapidez, eventualmente chegando a ferramentas de tradução simultânea. O ChatGPT foi baseado em redes neurais e machine learning, o que isso significa para o público leigo em tecnologia? No geral, a parte mais técnica das tecnologias não deveria significar muito para o público leigo em geral. Assim como não precisamos nos preocupar em como a energia elétrica é produzida e transmitida para nossas casas, mas sim que a luz ligue quando tocamos no interruptor. O mais importante é entender os seus potenciais usos em nossas áreas de atuação, bem como os ris- cos decorrentes de toda ferramenta poderosa. Entre esses riscos, precisamos entender que toda ferramenta que tem como base machine learning é treinada a partir de dados e vai reproduzir e potencializar os conceitos e preconceitos ali presentes. Além disso, por não se tratar de uma ferramenta algorítmica, o seu comportamento pode se tornar catastrófico em situações limítrofes. Poderia nos exemplificar situações em que o Chat GPT usará machine learning? O ChatGPT é uma ferramenta baseada no modelo de Machi- ne Learning GPT-3, pois se caracteriza por aprender (fazer relações entre perguntas e respostas) a partir de grandes bases de dados, sem a necessidade de ser explicitamente programada para cada pergunta. Desta forma, o ChatGPT faz uso de machine learning desde o seu aprendizado (processo em que armazena essas relações), passando pela forma com que gera um texto fluido e também quando corrigimos alguma informação, que passa a fazer parte de sua base de conhecimentos, pelo menos para a conversa atual. Leia a entrevista completa na edição 205 da Algomais: assine.algomais.com

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"Tudo aquilo que faz a alma pernambucana passa pela contribuição dos indígenas"

Muitos pernambucanos, que assistem estarrecidos as imagens da tragédia dos ianomâmis na Amazônia, desconhecem que Pernambuco possui uma das maiores populações indígenas do País. Elas têm sido essenciais para a formação do Estado e sempre estiveram presentes nos principais momentos históricos, como na invasão holandesa ou na Revolução de 1817. Com o intuito de contribuir para dissipar esse desconhecimento, os antropólogos Estêvão Martins Palitot e Lara Erendira de Andrade idealizaram o projeto Atlas do Pernambuco Indígena https://www.atlasindigena.org/, portal que reúne cartografias e textos com informações sobre as etnias indígenas pernambucanas e que teve o incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secult, Governo de Pernambuco. Nesta conversa com Cláudia Santos, Estêvão Palitot, que é professor do Departamento de Ciências Sociais do Centro de Ciências Aplicadas e Educação da Universidade Federal da Paraíba, fala do projeto, da situação dos povos indígenas locais, da luta pela demarcação das terras no Estado e do processo de invisibilidade que foram vítimas. “Sabemos muito bem falar das contribuições dos portugueses, dos holandeses, dos franceses, dos judeus, mas quando chegamos nas contribuições dos povos negros e indígenas, isso é silenciado, demonizado, criminalizado”, analisa o antropólogo, que se diz esperançoso com a criação do Ministério dos Povos Indígenas. O que é o projeto Atlas do Pernambuco Indígena e quais seus objetivos? O projeto foi pensado por mim e por Lara Erendira de Andrade. Somos antropólogos, trabalhamos com povos indígenas e temos duas paixões: a história e a cartografia. Os trabalhos dos historiadores são fantásticos, o dos antropólogos também, mas terminam sendo lidos por nós, por quem está na academia. A ideia do projeto é tornar esse conhecimento mais acessível ao grande público. O Atlas é um site no formato de blog com dois tipos de postagem: artigos, que têm um caráter mais acadêmico, com uma densidade maior, e as cartografias, com textos menores em que procuramos explicar os mapas, que são muito interativos. Cada pontinho do mapa pode ser clicado e aparece uma informação, com referências a outros trabalhos para aprofundar os conhecimentos. Agora, pensamos nos próximos passos, inclusive convidando colegas que têm produções relevantes para trazer para o Atlas. Pretendemos fazer um trabalho que seja vivo, sendo alimentado e podendo ser utilizados por professores, estudantes, por outros pesquisadores, pelos próprios povos indígenas nas escolas das aldeias como ferramenta de conhecimento, de luta, de valorização, de afirmação, de direitos. Por que vocês escolheram o modelo de cartografia? Os mapas também são um discurso e ferramentas de poder. Quem sempre desenhou os mapas foram os poderosos e a finalidade era dizer: “o meu poder vai até aqui”, seja o poder do Estado, da empresa, do rei, de quem quer que seja. Nessa representação da realidade apenas alguns aspectos são enfatizados. Por exemplo, os mapas históricos sobre Pernambuco, sobre o Nordeste, sobre o Brasil, não revelavam a presença dos povos indígenas. Mesmo hoje, quando você pega os mapas rodoviários, eles vão mostrar na Amazônia as terras indígenas, mas no mapa de Pernambuco, não mostram. Fazer um mapa é fazer uma escolha entre o que vai ser visível e o que vai ser invisibilizado. A nossa contribuição é produzir ou reproduzir mapas nos quais os indígenas estejam presentes, queremos ser uma espécie de amplificador das vozes indígenas. Nunca vamos querer tomar o lugar das vozes indígenas. Eles lutam continuamente para não serem apagados, riscados do mapa, literalmente. Por falar em invisibilidade, Pernambuco conta com a quarta população indígena do País, um dado que pouca gente conhece. Como está a situação dessas etnias? Pernambuco tem uma das maiores populações indígenas do Brasil, mas que é invisibilizada, que vive principalmente no Agreste e no Sertão do Estado. Os xucurus têm em torno de 10 mil pessoas, os atikuns em torno de 8 mil, os fulniôs, trukás, pankararus, em torno de 5 mil. Se contabilizarmos os que migraram, esse número é muito maior. Temos uma estimativa que existam uns 2 mil pankararus em São Paulo, os atikuns têm aldeias na Amazônia, porque vivem numa região muito seca e muitos grupos familiares migraram para o Rio São Francisco, para os serrados da Bahia, para o Tocantins e para o Pará. Há também os processos de luta por recuperação territorial. O caso dos xucurus, dos trukás e dos pankararus são os mais conflituosos, com uma série de assassinatos. No caso dos pankararus, há uma série de ameaças de morte e atentados. Recentemente um posto de saúde indígena foi destruído em razão de conflitos fundiários que ainda não estão resolvidos, muitas vezes por omissão ou lentidão do Estado. Nos últimos 70 anos, houve um processo de lenta recuperação dos territórios indígenas porque eles nunca se calaram, nunca deixaram de reivindicar. Quando, desde o Século 19, se diz que “os índios estão misturados, miscigenados” a frase seguinte era: “logo, não precisam de terras, podem virar trabalhadores nas fazendas, nos engenhos ou nas periferias urbanas. Eles podem ser pobres, eles já são brasileiros”. E os indígenas dizem: “Alto lá! A gente é até brasileiro, mas somos os primeiros brasileiros, temos direito a um pedaço de terra”. Há uma luta histórica e o Atlas procura ser um registro dela para que reverbere as frases que os indígenas dizem: “nunca mais um Brasil sem nós. Sempre estivemos aqui”. Procuramos levar esses subsídios que registramos nas pesquisas históricas e antropológicas para um conhecimento público. O que tem sido feito com os ianomâmis, já foi feito em Pernambuco e em todo o Brasil: guerras, escravizações. Há um relato de um massacre na região de Juazeiro e Petrolina, o Massacre do Rio Salitre, em que um padre acompanhou uma expedição de guerra contra um grupo de indígenas. Mais de 500 foram capturados, desarmados e dois dias depois todos os homens foram degolados e as mulheres e crianças levadas como escravas. Em Pernambuco essa violência, nas últimas décadas, foi marcada por assassinatos, como o de Xicão Xucuru e de várias lideranças trukás. O preço para reconquistar parte do território indígena foi o sangue das lideranças, a criminalização, a difamação. A sociedade pernambucana precisa ter consciência disso

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Marco Alves: "Pernambuco peca em política externa"

Especialista em direito internacional e fellow do Iperid (Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia) analisa o impacto de uma recessão global e da guerra na Ucrânia e as perspectivas do Brasil no cenário internacional. Num mundo a caminho de uma recessão global, que vive o acirramento da disputa entre China e Estados Unidos pela hegemonia econômica mundial e o impacto da guerra na Ucrânia, o fortalecimento dos Brics e do Mercosul é um fator positivo para o Brasil, segundo Marco Alves. Mestre em Ciências Políticas, em Direito Internacional e Europeu e em Relações e Negócios Internacionais, Alves afirma que esses agrupamentos evitam a dependência econômica com outros países e cria novas oportunidades, como a possibilidade de os Brics formarem uma área de livre comércio. “Já pensou uma zona comercial de 3,2 bilhões de habitantes? Seria simplesmente a maior zona de livre comércio do mundo, com duas superpotências, líderes mundiais em matérias-primas e hidrocarbonetos e um dos celeiros do mundo”. Com a experiência de ter atuado em 27 países (incluindo o Brasil, onde trabalhou para o Governo de Pernambuco), Marco Alves é fellow do Iperid (Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia), mora na França e atua no continente africano como especialista na retomada econômica em zonas complexas para organizações humanitárias. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele analisou a redução da influência política e econômica da Europa, como consequência da guerra na Ucrânia, ressaltou a importância do presidente Lula para a inserção do Brasil no cenário internacional e lamentou que Pernambuco não aproveite a rede consular de que dispõe, como estratégia para se destacar no mercado externo. O mundo caminha para uma recessão global? Quais seus reflexos no Brasil e em Pernambuco? Muitas das agências internacionais anunciam o risco de recessão para boa parte do mundo. O Banco Central Europeu já fala [que pode atingir] metade dos países da Zona do Euro, incluindo Alemanha e Itália, duas principais potências industriais do conjunto. Nos Estados Unidos, esforços do Banco Central estão reduzindo o aumento da inflação, mas terá impactos na atividade econômica do país pela limitação do acesso ao crédito. Eles só vão se segurar graças a uma economia extremamente subvencionada em detrimento do resto do mundo. A União Europeia está disposta a ir pelo mesmo caminho e aceitar que empresas fechem e o desemprego suba para controlar a inflação. A grande diferença é que na Europa vamos pagar mais caro a energia do que os EUA e vamos importar o gás deles. Na China, vamos ver como o país se recupera da crise da Covid e a abertura total de todas as restrições, o que impactará a economia mundial. Ou seja, vamos todos pagar a conta dessa crise que é de vários níveis (econômica, energética, geopolítica), alguns mais do que outros. Penso no continente africano dependente das compras chinesas de matéria-prima e das ajudas internacionais ocidentais. No Burkina Faso, país que conheço bem, a inflação atingiu mais de 20% este ano, e teve falta de gasolina (tal como em outros países vizinhos). Isso, cumulado às situações de ataques terroristas, dois milhões de deslocados no território, secas e insegurança alimentar agregam dificuldades a uma situação já extremamente complicada. O Brasil vai sentir os impactos, mas, como é costume, um pouco depois dos demais. Não está garantido que haja crescimento para 2023, segundo dados oficiais. A inflação continua presente, apesar de a taxa Selic ter aumentado umas setes vezes (se não estou enganado). O País priorizou vender commodities – em detrimento de um desenvolvimento industrial consolidado – mas como vendê-las se a maioria dos compradores está limitando seus gastos? Qual vai ser a variação do valor das commodities neste contexto internacional? Qual será o valor do barril de petróleo que terá um impacto tremendo no custo das exportações e importações brasileiras? Como equilibrar os desafios externos e internos? São perguntas essenciais e tenho a sensação de que, devido à campanha presidencial, não estão em pauta ainda, mas têm que vir logo. A vantagem que o Brasil tem em relação a outros países é sua capacidade de resiliência e sua reatividade em termos macroeconômicos. Ē um país que reage muito rápido às políticas instauradas. Veremos rapidamente se o que será executado funciona ou não. Em relação a Pernambuco, o Estado tem uma vantagem geográfica tremenda que continua mal aproveitada. Existe, no meu ver, um déficit estratégico por parte do Governo Federal que não soube valorizar o território, mesmo com os investimentos recentes. Existe também uma falta de coerência entre Estados do Nordeste, cada um puxando para seu lado para se tornar hub regional, quando um ponto focal forte traria mais resultado e poderia se espalhar para os demais. E último ponto: Pernambuco peca em política externa, aliás, não há política externa. Nada é coordenado para atuar como um pivô comercial no panorama internacional. Quantos acordos firmados e efetivos temos com outros portos do mundo? Quantas rotas marítimas diretas estão em funcionamento? Acredito que poderíamos ter feito mais, apesar de ter reduzido um pouco essa desvantagem. Acho que os dirigentes sucessivos não dimensionam o quão importante seria colocar Pernambuco no mapa, de fato. Temos uma das maiores redes consulares do País e não sabemos fazer diplomacia econômica. Vamos ter que aprender e fazer. Nesse cenário global, como fica a polarização entre China e EUA pela hegemonia econômica mundial? A guerra na Ucrânia permitiu aos EUA revitalizar a Otan, que estava parada, e fazer com que a Europa queira estar submissa à defesa americana em detrimento de construir uma Europa da Defesa. O segundo impacto da guerra é e será a perda de força da Alemanha. Ela construiu seu modelo econômico com o gás russo barato, agora vai tentar manter sua indústria comprando um gás americano quatro vezes mais caro e sem real possibilidade de reatar com os antigos parceiros, se a situação geopolítica o permitisse, porque foram sabotados os dois gasodutos Nord Stream 1 e 2. Os vencedores deste conflito, do ponto de vista político e econômico, são os

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"O desafio é garantir que o Estado olhe para a UPE como um equipamento com potencial enorme"

Maria do Socorro Mendonça Cavalcanti é a primeira reitora empossada na UPE (Universidade de Pernambuco). Filha de um pai semianalfabeto, que trabalhava nas usinas de cana-de- -açúcar, e de uma mãe que concluiu apenas o ensino primário, sua trajetória estudantil, até o doutorado, e profissional, até o comando da universidade mais capilarizada no Estado, foi marcada por muitos sacrifícios familiares e pessoais. À frente da universidade em um período de amplos desafios para o ensino superior do País, ela tem a missão de seguir expandindo a atuação da UPE, além de ofertar melhor estrutura nos campi da capital e do interior e aprovar um novo Plano de Cargos e Carreiras. Com a remuneração atual do quadro docente e de técnicos, a instituição tem encontrado dificuldade em fixar os profissionais no seu quadro. Desafios do tamanho de uma universidade que atende 22,6 mil estudantes em programas de graduação e pós-graduação, além de 5,7 mil servidores, entre professores e técnicos, 12 campi e 16 polos de educação a distância. Inicialmente, gostaria que a senhora contasse a sua trajetória até chegar à universidade. Sou filha de Leonice Ramos de Mendonça e Mário Lopes de Mendonça. Meu pai era um semianalfabeto e minha mãe concluiu o ensino primário. Mas meu pai sempre investiu muito para que os filhos estudassem. Eu nasci na Usina Jaboatão. Ele, inicialmente, trabalhava na cana, depois no adubo e chegou a trabalhar como caldeireiro na usina. Sou a primeira filha e logo aos 9 anos terminei o primário. Na época, já morávamos na Usina Ipojuca e eu não tinha como continuar os estudos pois só havia o ginásio à noite e não me aceitavam por causa da idade. Fui morar com meus avós na Usina Jaboatão, um pouco mais perto da cidade. Aí, iniciei o ginasial. Mas meu pai sentia muito a minha falta, pediu demissão e conseguiu um emprego numa usina de açúcar no Estado do Ceará, na cidade de Paracuru, que contava com um colégio e fomos morar lá. E como foi o início no ensino superior? No colégio da cidade havia apenas o curso normal naquela época, o curso pedagógico. Eu queria fazer faculdade mas meu pai não tinha condições financeiras de me manter em Fortaleza. Ele pediu demissão novamente e voltou para Pernambuco. Foi trabalhar na Usina Salgado, que fica em Ipojuca. Fomos morar na cidade de Nossa Senhora do Ó, comecei a estudar no Cabo de Santo Agostinho para terminar o ginasial. Mas naquela época havia muita enchente e eu não conseguia chegar no colégio. Foi quando o ensino público começou a ter muitas dificuldades, devido à falta de professores. Meu pai batalhou bastante e conseguimos uma vaga no Ginásio Pernambucano. Aí eu voltei a morar com meus avós na Usina Jaboatão e estudando no Ginásio Pernambucano. Após a minha avó falecer, meu pai comprou uma casa na Vila do Cabo em Cabo de Santo Agostinho e voltei para casa dos meus pais. Naquela época foi inaugurado o Colégio Contato e o diretor convidou alguns alunos para fazer seleção para conseguir bolsa. Não consegui mas meu pai fez um esforço para pagar o cursinho. Eu estudava no Ginásio Pernambucano e saía direto para o Contato. Foi um esforço enorme! A senhora vem de uma família bem humilde e de onde veio essa ideia de fazer faculdade? Alguém a inspirou? Primeiro, meu pai e, desde pequena, sempre gostei de estudar. Esqueci de dizer uma coisa: quando fui alfabetizada, meu pai na caldeira já tinha um cargo de chefia e precisava fazer a escala dos trabalhadores. Mas ele não conseguia. Era eu quem fazia e disse para ele: “vou lhe ensinar”. Eu alfabetizei meu pai. Sempre tive o desejo de estudar e ensinar e quando fui crescendo queria fazer universidade. Eu acreditava no que meus pais sempre me diziam: “estudar é a melhor forma de conseguir vencer na vida, de sair dessa situação”. Eles fizeram todos os esforços necessários para que eu e meus irmãos conseguíssemos estudar. Fui a primeira da família a fazer universidade. Sempre quis melhorar a minha condição de vida e a da minha família. A senhora é a primeira mulher reitora na universidade. Qual a importância desse marco para a universidade? Esse marco é importante para toda mulher porque elas sempre trabalharam bastante e acho que ocupar esses espaços de liderança é extremamente importante, principalmente neste momento em que a gente vive uma violência tão grande contra as mulheres. Ter mulheres em espaços de liderança só reforça essa luta que todas nós temos contra essa a discriminação e a violência. Acho que é muito importante para todas nós demarcarmos esses espaços e avançarmos nessa conquista para que mais mulheres possam ocupar esses espaços. Quais os principais desafios que vocês pretendem enfrentar e quais os planos para essa gestão? A UPE é uma universidade que se interiorizou não de forma muito planejada, com um orçamento que garantisse essa interiorização. Isso trouxe algumas dificuldades para que pudéssemos manter esses cursos funcionando. Não tínhamos prédio próprio em muitos lugares, sendo espaços emprestados ou alugados. Nem sempre tivemos concursos para professores para essas unidades. Então isso foi sendo levado como desafio. O professor Pedro Falcão (o reitor antecessor) foi uma das pessoas que abraçou este desafio. Ainda há algumas unidades que foram criadas e que ainda não têm sede própria, um dos desafios é construir o campus Palmares. O campus Caruaru, onde foi instalado um dos primeiros cursos do interior, ainda não tem sede própria também. De 2019 e durante a pandemia, a Faculdade de Odontologia foi desativada por questões de infraestrutura e hoje ainda não tem a sua sede. Os alunos estão distribuídos em três espaços: no ITEP, no Oswaldo Cruz e no CISAM. Um dos nossos desafios é conseguir a construção da FOP. O outro grande desafio é garantir que o Estado olhe para a universidade como um equipamento de governo que tem um potencial enorme. Somos a universidade que está mais capilarizada em Pernambuco. Hoje temos um alcance de chegar em 80 municípios

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"A dependência de importação de produtos para a saúde é um problema a ser enfrentado"

Jarbas Barbosa, médico pernambucano eleito para dirigir a Organização Pan-Americana da Saúde, fala dos seus planos à frente da instituição, diz que atuará para ampliar o acesso das populações a vacinas e tratamentos e conta como a vivência em Pernambuco influenciou sua trajetória profissional.

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"Espero que a gente consiga conquistar mais famílias estrangeiras e ver o Bita levando alegria pelo mundo afora"

Felipe Almeida, Sócio da Mr. Plot, fala dos percalços enfrentados até conquistar o retorno dos investimentos com o Mundo Bita, hoje sucesso em várias mídias. Também comenta a participação de artistas da MPB nos clipes do personagem bigodudo e os planos para chegar ao mercado internacional. Um simpático bigodudo conquistou os corações de crianças e suas famílias e até dos grandes medalhões da música popular brasileira. Bita surgiu como um personagem de aplicativos de jogos para tablets voltados para a garotada da primeira infância. Não demorou muito para ele, em companhias dos demais personagens do Mundo Bita, atuar em clipes, DVD, séries de TV e curta-metragem. Já há alguns anos, eles saíram das telas e encantam plateias em shows por todo o País. Mas esse sucesso é fruto de muita persistência e criatividade dos sócios da empresa Mr. Plot, criadora da figura sorridente de bigodes alaranjados. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele conta como o disco O Grande Circo Místico, de Edu Lobo e Chico Buarque, inspirou a criação do Mundo Bita, fala da sua adaptação para as diversas plataformas, a participação de artistas como Caetano Veloso, Milton Nascimento e Alceu Valença em animações musicais e os planos de internacionalizar o negócio e levar o Bita a encantar o público de vários países. Como surgiu a ideia do Mundo Bita? Tínhamos uma empresa de TI, fundada em 2008, a Quarta Dimensão, e, mais ou menos em 2010, vimos a chegada dos tablets como uma tecnologia promissora. Como os sócios eram pais recentes, percebemos que o conteúdo para crianças nesses dispositivos no mercado do Brasil era de baixíssima qualidade. Tivemos a ideia de criar uma unidade de negócio um pouco pretensiosa, a Mr. Plot, que nasceu com o objetivo de criar conteúdo para tablets voltado para famílias com crianças na primeira infância. Começamos sem nenhum conhecimento sobre essa tecnologia e ou sobre o mercado. Não havia muitos dados ou referências, estávamos naquela onda de startup, tentando criar algo que pudesse ser escalável e global. Na primeira reunião fomos apresentados ao Bita porque um dos sócios, Chaps, tinha desenhado esse personagem para ilustrar o quarto da filha recém-nascida. Além do Bita, havia um grupo de personagens, baseado na temática circense, já que ele e sua mulher escutavam muito o disco O Grande Circo Místico. Nós simpatizamos com o “bigodudo” e enveredamos a criar conteúdo em cima desse protagonista. O primeiro aplicativo se chamou O Circo Mágico do Bita, lançado em 2011 na Apple Store. Qual era o conteúdo? A estratégia inicial era fazer dois aplicativos, um gratuito para o público conhecer e, outro, pago. O primeiro foi um sucesso, ficou no Top 3 da categoria infantil, mesmo sem nenhuma publicidade. Mas o pago tinha pouquíssimos downloads porque, na época, para comprá-lo era preciso um cartão de crédito internacional. Também sentimos na pele que o brasileiro não tinha a cultura de pagar por software, mesmo que fosse 99 centavos de dólar, quando havia tantos de graça. Depois lançamos o aplicativo ABC do Bita, mais voltado para linha educacional. Usamos a mesma estratégia: lançamos o aplicativo gratuito e só com as letras A; B; C; D; E. Para ter acesso ao aplicativo completo, era preciso pagar. Ele era divertido, bem aceito, mas essa segunda tentativa também não nos trouxe resultados. Mas percebemos que a gente estava conseguindo construir uma propriedade intelectual, mesmo sem saber o que era exatamente isso. Aí, começaram a acontecer coisas positivas: fomos incubados no Porto Mídia, incubadora para projetos de economia criativa do Porto Digital, saímos na lista dos 100 melhores aplicativos brasileiros da revista Época, e nem tínhamos assessoria de imprensa. Fomos citados na CBN, a revista Crescer, ninchada no mercado infantil, fez referência à qualidade do conteúdo do aplicativo. Com isso, vimos um pico no gráfico de downloads, o que nos mostrava que o negócio tinha um potencial. Como surgiram as canções? Ao percebermos que apesar disso tudo, não estávamos conseguindo o engajamento. Então, miramos no YouTube, que começava a ganhar força. Foi quando Chaps sugeriu: “vamos fazer umas músicas?”. A ideia era usar os personagens do Bita para fazer animações que, de certa forma, é uma extensão do que a gente já fazia, o aplicativo de jogo é considerado um conteúdo audiovisual. Ele apareceu com Fazendinha, Fundo do Mar e Como é Verde na Floresta. Foi uma grande surpresa descobrir que esse sócio era um grande talento como compositor. Ele já teve banda de garagem, como um hobby, não como forma de negócio. As músicas foram para o YouTube e fizeram sucesso? Não. O número de views não era expressivo mas não era tão baixo. Foi aí que entendemos que podíamos apresentar o conteúdo em DVD. Nosso diferencial sempre foi fazer conteúdo original, inédito, o que é difícil, porque o mercado usava conteúdos de domínio público. A indústria fonográfica ainda era forte em 2012. Também visamos a televisão. Nessa época uma lei foi sancionada e obrigava a TV fechada a veicular uma cota mínima de conteúdos nacionais. Conseguimos fechar um contrato com a Discovery Kids e com a Sony Music. Percebemos que o negócio do Mr. Plot era diferente porque nosso primeiro contrato foi em inglês e recebemos em dólar, uma coisa que a outra empresa desde 2008 não tinha alcançado. Foi aí que a Mr. Plot foi fundada oficialmente como empresa do audiovisual. O sucesso se deu por meio da televisão e do DVD que gravamos com a Sony Music. Vocês estão no mercado internacional? Em 2018 começou o processo de internacionalização. Fomos induzidos a focar mais no mercado da América Latina, inicialmente, por ser uma região mais próxima e para ter uma melhor aceitação. Começamos traduzindo o conteúdo para o espanhol e fazendo o lançamento no YouTube. Mas, ainda não conseguimos tracionar como o esperado. A pandemia atrapalhou. Começamos no ano passado um trabalho de investimento de mídia um pouco maior, estamos com uma empresa argentina fazendo a divulgação desse conteúdo. Sabemos que tem muito potencial, o mercado latino é tão grande quanto o

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"Vinhos estrangeiros são contrabandeados numa quantidade 4 vezes maior do que a produção de vinhos finos brasileiros"

O contrabando e a falsificação de vinhos estrangeiros têm sido uma dor de cabeça para os produtores da bebida no Brasil. Afinal, o produto contrabandeado não paga imposto, enquanto que mais de 50% do preço dos vinhos legalmente vendidos no País corresponde ao valor dos tributos, segundo o presidente do Vinhovast (Instituto do Vinho do Vale do São Francisco) José Gualberto de Almeida. Apesar do problema, os produtores pernambucanos também têm motivos para comemorar: depois de 20 anos de intensos trabalhos, eles conquistaram a Indicação Geográfica Vale do São Francisco, concedida pelo Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Intelectual). O registro de Indicação Geográfica (IG), segundo o Ministério da Agricultura, é conferido a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria. São produtos que apresentam uma qualidade única em função de recursos naturais como solo, vegetação, clima e saber fazer (know how). José Gualberto – que também é presidente da Valexport (Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco) – conversou com Cláudia Santos sobre os benefícios que a IG trará para a vitinicultura da região (que produz 5 milhões de litros de vinho fino por ano), os problemas que o setor enfrenta, como o contrabando, e as perspectivas do enoturismo. Qual a importância da conquista da indicação geográfica para o setor vinícola do Vale do São Francisco? Com a conquista da indicação geográfica, o mundo da produção e dos negócios do vinho põe as suas vistas para a nossa região. Os grandes produtores de vinho do mundo procuram se instalar em regiões produtoras. A Miolo, da Serra Gaúcha, e a Global Wines, que produz os vinhos Rio Sol, já estão aqui e temos a certeza de que outros produtores internacionais virão. Temos um produto típico, único, feito com aquelas condições da região do São Francisco. Uma das características dos produtores e consumidores de vinhos é que eles gostam de tipicidades. Já se diz, inclusive, que a fidelidade não é uma característica dos tomadores de vinhos, porque eles se deslocam do consumo de vinho de uma região, vão para outra, comparam, trocam experiências. É isso que vai acontecer com o Vale do São Francisco. A responsabilidade é muito grande dos produtores, dos institutos e pesquisadores para que essa produção se consolide na qualidade e que essa “régua” vá sendo levantada cada vez mais para que tenhamos a possibilidade de nos firmarmos no grande teatro dos produtores de vinhos. Isso não significa que todos os vinhos e produtores vão alcançar em todos os instantes a indicação geográfica. O selo é concedido não ao produtor, mas aos produtos, e eventualmente, um produto que não se enquadre naqueles parâmetros não terá o selo. Isso não significa que não será um vinho a ser consumido. Teremos também outras vinícolas que irão se preparar para submeter seus vinhos a esse comitê permanente, dinâmico e variável que irá apreciar os vinhos e conceder essa indicação. Trata-se da primeira indicação geográfica de vinhos tropicais do mundo. É por isso que o selo demorou 20 anos para ser concedido? Exatamente. Porque não havia elementos de comparação. Existem vinhos tropicais em outros locais, mas nenhum conseguiu indicação geográfica. Uma grande questão, que será discutida ao longo dos próximos anos, é que o Vale do São Francisco produz uvas o ano todo. As pessoas dizem: “são duas safras”. Não são. São 52 safras porque podemos colher a uva na semana 1, na semana 2 até a semana 52. E serão produtos diferentes, porque no mundo clássico do vinho existe a figura da safra, que ocorre num determinado período do ano. Essa característica do Vale do São Francisco oferece uma amplitude enorme de produtos a serem conseguidos. Provavelmente, encontraremos empresas que se especializarão em vinhos de certos períodos do ano. Esses vinhos serão caracterizados, tipificados e o consumidor poderá fazer uma degustação horizontal, desde degustar, por exemplo, um Cabernet Sauvignon do primeiro trimestre e comparar com o do segundo, do terceiro, do quarto, do mesmo produtor. Ou uma degustação vertical, ao comparar vinhos produzidos no ano A, com o do ano B e com o do ano C, nos mesmos trimestres. Uma questão patente é que os vinhos produzidos na região são jovens, aromáticos, frutados e leves em razão dessa característica de poder elaborá-los o ano todo. Por isso, o produtor não está preocupado em fazer vinhos de guarda, como as regiões clássicas, que são estocados em barris de carvalho ou em aço inox por muito tempo. Além disso, os espumantes do Vale são altamente apreciados e procurados. Mas precisamos ter volume. Temos uma quantidade pequena de vinícolas (em torno de oito) mas, como eu disse, acreditamos que outras virão e atrairemos players da cadeia produtiva, como fabricantes de garrafas, rótulos etc. Isso leva a ganho de mercado, ganho de escala e ao barateamento e divulgação do produto. Haverá geração de postos de trabalho, de pesquisas, investimentos. O senhor acredita que o adensamento da cadeia produtiva do vinho vai demorar para acontecer? Acredito que vai se acelerar agora porque, além do vinho, temos a uva in natura que é um produto muito nobre, nossa região produz praticamente 100% da uva exportada pelo Brasil. Precisamos aumentar a cadeia de transporte, a logística etc. porque estamos numa região longe dos portos, o que aumenta nossos custos. Também precisamos muito de pesquisas. Para você ter ideia, para produzir uva de mesa importamos muitas variedades vindas dos EUA. A Embrapa conseguiu produzir algumas, mas o grande volume ainda é daquelas produzidas na Califórnia. Isso é um custo financeiro grande, pois pagamos royalties muito representativos, além do custo social, porque é um espaço de trabalho para pesquisa que não ocupamos. Se tivéssemos apoio massivo da pesquisa, poderíamos passar a ser exportadores de variedades ao invés de importadores. Leia a entrevista completa na edição 201.5: assine.algomais.com

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"Quero ressaltar a importância de retomar o olhar do território metropolitano como um todo".

Ao longo da série Desafios do Desenvolvimento de Pernambuco, os dados e as percepções da Condepe/Fidem (Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco) contribuíram para apontar algumas das macrotendências que deveriam nortear as políticas públicas dos próximos anos no Estado. O repórter Rafael Dantas conversou com a presidente da agência, Sheilla Pincovsky, sobre as prioridades de infraestrutura a serem encaradas pelo Governo do Estado, a importância da interiorização das universidades e a urgência de solucionar as dificuldades da população social e economicamente vulnerável. Uma questão, porém, recebeu especial destaque de Sheilla: a necessidade de implantar uma gestão da Região Metropolitana do Recife, que permitiria resolver de forma abrangente problemas como moradia, mobilidade, saúde, entre outros. Quais os principais desafios ao desenvolvimento do Estado de Pernambuco? Temos alguns desafios que eu diria que são estruturais. Demandam grandes investimentos e que não acontecem numa única gestão. Um deles, que a gente vem falando desde que eu me entendo por gente, é a Transnordestina. Ela já mudou de nome e ainda não se concretizou. Mas planejamento é assim mesmo, a gente defende, vai amadurecendo até que se concretize. O Estado abraçou essa causa da Transertaneja e ela será um importante pilar do desenvolvimento, ao lado da melhoria das estradas e rodovias, nas quais não podemos parar de investir. Temos um déficit muito grande dessa infraestrutura logística, que não é restrito às áreas mais isoladas do Estado. A manutenção dessas estradas, a duplicação em alguns trechos e triplicação em outros são fundamentais para consolidar o processo de interiorização do desenvolvimento. Isso vem avançando desde a década de 1990, mas precisa ser intensificado. Há algum outro destaque de infraestrutura? Ainda na questão viária, há grandes projetos que precisam ser enfrentados e concluídos. Um desses é o Arco Metropolitano. Essa iniciativa, apesar de abranger toda a região metropolitana, será um ativo útil para potencializar a economia de Pernambuco. Tivemos um grande avanço para conectar o Estado com os aeródromos. O que era um desafio passou a ser um ativo importante, com a chegada dessa malha aérea em Caruaru, Serra Talhada, Garanhuns e Araripina. Além de já termos o Aeroporto de Petrolina. É uma malha muito interessante que leva a um processo estruturante e permanente do desenvolvimento do interior. Temos visto também o surgimento de polos regionais educacionais e médicos no interior, como em Serra Talhada. São investimentos importantes para a manutenção da população local, evitando a migração para grandes cidades. Também são projetos que vêm lá da década de 1990 e foram parados. Mas se tornaram políticas de estado que vem perpassando vários governos. Toda política econômica desenvolvimentista deve ser uma política de estado e não de governo. Isso tem sido muito bom para Pernambuco. Como essas novas estruturas logísticas fomentam o desenvolvimento no Sertão e no Agreste? Essa infraestrutura vai facilitar muito o escoamento da produção e o deslocamento das pessoas. Isso é o que vai levar a uma maior facilidade, por exemplo, de escoamento da fruticultura do São Francisco. Uma estrada de ferro, como a Transertaneja, potencializa muito o Porto de Suape como centro de produção e de distribuição. Mas é ao mesmo tempo o caminho para integrar a produção do interior com o resto do mundo. É o grande meio para levar os nossos produtos para o mercado externo, diminuindo muito o custo logístico e o tempo, inclusive. E na via contrária, a via férrea contribui para levar os produtos e insumos para o interior. Estamos frente também a um conjunto de tendências irreversíveis, que são mais abrangentes que Pernambuco e que a gente não pode perder de vista. A Agência Condepe-Fidem tem uma longa história de planejamento junto à Região Metropolitana do Recife, na época em que era ainda apenas Fidem. Quais os principais desafios para que essa complexa metrópole se desenvolva? O plano de desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana do Recife (PDUI-RMR) dá toda orientação das diretrizes, em que analisa a realidade, as carências e as potencialidades de cada município. O que eu queria ressaltar aqui é a importância de se retomar o olhar sobre a região do ponto de vista do território metropolitano, como um todo, sem se preocupar tanto com os limites dos municípios. Ou melhor, os limites têm que ser considerados, mas é preciso haver aquela solidariedade territorial. A gente não pode imaginar um Recife sem pensar em Jaboatão, sem pensar em Camaragibe, sem pensar em Olinda. Não se pode pensar numa Itapissuma sem pensar em Igarassu, sem pensar em Araçoiaba, sem pensar em Itamaracá. A gente não pode pensar em Suape sem pensar nos municípios do Cabo e Ipojuca ou até em municípios da Mata Sul. Não se pode deixar de pensar nos municípios como um todo, de forma solidária entre eles. Leia a entrevista completa na edição 201.2 da Algomais: assine.algomais.com

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