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Passos que contam histórias: 15 anos das Caminhadas Domingueiras

Movimento que une lazer, memória e mobilidade urbana segue transformando a relação dos recifenses com a cidade e inspirando novas formas de ocupação do espaço público. Andar com fé eu vou / A fé não costuma faiá. A letra do clássico de Gilberto Gil bem que poderia ser o hino das Caminhadas Domingueiras. Há 15 anos, o grupo percorre as ruas do Recife e de Olinda, unindo lazer, encontros e movimento. Mais do que exercitar o corpo e conviver nas ruas da cidade, essas caminhadas têm despertado o olhar para os valores históricos e arquitetônicos da capital pernambucana, além de alertar sobre os desafios da infraestrutura para pedestres. Mas, lembrando a canção, esse grupo segue percorrendo com fé as calçadas da cidade, na expectativa de encontrar novas paisagens em seus trajetos futuros. Os primeiros passos desse grupo foram dados pelo seu idealizador, o consultor e arquiteto Francisco Cunha. Ao caminhar pela cidade, ele passou a perceber muitos detalhes que não eram visíveis na velocidade e da janela do automóvel. Sensível às causas urbanas e incomodado com a degradação de lugares históricos, os seus passeios inicialmente individuais, passaram a contar com amigos, pequenos grupos e assim foram crescendo. “As Caminhadas Domingueiras foram pioneiras. Eu andava sozinho, sem ninguém nas ruas nos domingos de manhã. Depois surgiram vários grupos que promovem passeios pelo Recife”. O surgimento do grupo está diretamente ligado a um período desafiador para o Recife, quando a cidade enfrentava altos índices de violência no País. Foi nesse contexto que nasceu o movimento Observatório do Recife (ODR), com o objetivo de organizar indicadores estratégicos para subsidiar a formulação de políticas públicas. Além desse trabalho, o movimento convidou Francisco Cunha para liderar outro passeio, que acontecia aos sábados, o Olhe pelo Recife! “Uma das atividades do Observatório do Recife, além da produção de indicadores estratégicos da cidade, e do fomento ao debate sobre eles, foi o incentivo às caminhadas para observação in loco das dificuldades e também belezas, inclusive his- tóricas, do Recife, gerando novas dinâmicas microeconômicas e, sobretudo, novas relações urbanas que proporcionam trocas entre espaço público e seus usuários”, destacou o professor da UFPE, Roberto Montezuma, em sua tese de doutorado em urbanismo, pela Universidade de Lisboa. As Caminhadas Domingueiras e o Olhe pelo Recife se fundiram e o grupo seguiu crescendo. A caminhada temática das pontes, por exemplo, chegou a reunir mais de 250 pessoas. Em média, atualmente, são 100 em cada oportunidade. A cada mês, muitas pessoas estão participando desses passeios pela primeira vez. Entrando e saindo em igrejas, fortes, museus ou simplesmente passando por ruas icônicas do Recife, Francisco reuniu um pequeno exército de pessoas apaixonadas por caminhar que foram se tornando também amantes da cidade. Mais do que uma atividade de lazer, as Caminhadas Domingueiras vêm se consolidando como uma forma de redescobrir a cidade e compreender suas mudanças ao longo do tempo. A professora do departamento de História da UFRPE e coordenadora do Laboratório de Estudos e Ensino sobre o Recife (RecLab), Mariana Zerbone, ressalta a importância desse movimento para a valorização do espaço urbano e da memória coletiva. “As Caminhadas Domingueiras são muito importantes para a cidade. É uma forma de as pessoas que vivem na cidade e também os turistas conseguirem conhecer os espaços públicos, a paisagem, identificar a transformação que a cidade sofre ao longo do tempo a partir dos registros que ficam impressos na paisagem”, destaca. Ela ressalta, no entanto, que para decifrar esses vestígios do passado é essencial a presença de especialistas que guiem os participantes e os ajudem a interpretar a paisagem. “Lógico que é preciso que tenha sempre alguém que faça esse trabalho, que guie, pois a paisagem não revela tudo. Os pesquisadores precisam fazer essa mediação com o público que acompanha para mostrar questões interessantes do que foi a cidade e do que ela é hoje”, declara Mariana. "As Caminhadas Domingueiras são uma forma para as pessoas que vivem na cidade e também os turistas conseguirem conhecer os espaços públicos. Lógico que é preciso que tenha sempre alguém que guie, pois a paisagem não revela tudo." Mariana Zarbone Pequenos detalhes do cotidiano urbano podem passar despercebidos, mas carregam um rico histórico sobre a formação e as transformações do Recife. “Às vezes um trilho no chão ou uma fachada diferente, uma placa. E tem muita história por trás de tudo isso. É importantíssimo saber ler a cidade”, exemplifica a professora, reforçando a necessidade de um olhar mais apurado para a cidade. Nas Caminhadas Domingueiras, além da própria condução de Francisco Cunha, que é um estudioso sobre a história do Recife, que já publicou o livro Pernambuco Afortunado, em parceria com o historiador Carlos André Cavalcanti, alguns passeios contaram também com parceria de especialistas nas temáticas escolhidas para o mês. O jornalista Paulo Santos, por exemplo, autor da A Noiva da Revolução: Romance da República de 1817, esteve no passeio que marcou os 200 anos desse movimento. Os temas desses encontros pela cidade passam pela história, pelos engenhos do Recife, pelas escolas arquitetônicas, entre outros. O grupo já atravessou as fronteiras da capital pernambucana, visitando Olinda, bem como já caminhou por algumas das periferias urbanas. CAMINHANTES DE ONTEM E DE HOJE Andar pelas ruas do Recife em grupo se tornou uma oportunidade de reencontro com a cidade, suas histórias e contrastes para o empreendedor e ex-secretário de Inovação Urbana da Prefeitura do Recife, Tullio Ponzi. Ele considera que essas jornadas a pé representam mais do que simples passeios: elas permitem enxergar o Recife para além do cotidiano apressado e revelam uma cidade que, muitas vezes, seus próprios habitantes desconhecem. “A gente às vezes conhece Miami, conhece a Europa, mas muitas vezes não conhece a nossa própria cidade. E para o Recife, isso continua sendo uma oportunidade de promover uma integração socioeconômica, mostrar que é possível um só Recife, que a cidade formal e a cidade informal podem e devem cada vez mais reduzir os abismos entre si. As caminhadas aos domingos sempre simbolizaram esse sonho, esse redescobrimento

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O dilema do uso da água no Semiárido

*Por Geraldo Eugênio VALE A PENA PLANEJAR... É sabido que o estado que melhor se dedicou ao planejamento dos recursos hídricos na região Nordeste é o Ceará. Um estado basicamente tomado por terras semiáridas, do Cariri ao litoral, com problemas crônicos de disponibilidade de água para população, durante muito tempo símbolo de escassez, das migrações e das descrições do que representa uma seca em seus aspectos mais drásticos. Entre 1991 e 1995, quando Ciro Gomes governou esse estado, coincidindo com um período longo de seca, o grande temor era o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza, o que se configuraria um caos total. Em um esforço louvável, a gestão estadual focou nesse problema, acelerando a construção de canais e adutoras de modo que a população da capital deixasse de ter o colapso de suprimento de água como um fantasma que a per seguia sem trégua. Há de se reconhecer que antes desse episódio, o governador Tasso Jereissati, quando assumiu a gestão do estado pela primeira vez em 1987, com seu time de gestores, havia colocado a questão hídrica como um dos principais desafios para o Ceará que, sem a segurança de contar com recursos hídricos, não haveria como atrair novos empreendimentos e crescer com sua economia. Ele tornou esse desafio um tema que sombreava qualquer diferença política, uma vez que mesmo seus adversários sabiam que ir de encontro a esse movimento seria assinar o atestado de óbito político. Hoje o Ceará é considerado como aquele que conta com o mais eficiente sistema de recursos hídricos em todo o País, capitaneado pelo louvável trabalho que realiza a Funceme (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos), fundada em 1974. …BEM COMO USAR O QUE SE TEM Pernambuco, há de se reconhecer, tem conseguido assegurar as linhas mestras de um plano de recursos hídricos para o Estado, por vários mandatos de governantes de linhas políticas distintas. Exemplos notórios são as barragens concluídas ou em construção em torno da região metropolitana, as barragens de por te médio no interior, e aproveitando da melhor forma possível o programa de Transposição das Águas do Rio São Francisco, uma iniciativa do Governo Federal. Destaque-se a finalização da Adutora do Agreste, o que resolve, ao menos em médio prazo, a de manda hídrica das principais cidades do Agreste e de dezenas de municípios e comunidades da região. Por falar na magnitude do que representa o funcionamento pleno dos canais da transposição, é importante lembrar que asseguram o abastecimento do açude Castanhão no Ceará e a presença da água nas torneiras de municípios como Campina Grande, na Paraíba, e Caruaru, em Pernambuco. Em se tratando de Pernambuco, chama a atenção o fato de uma de suas cadeias produtivas mais robustas, a avicultura, seja de corte ou de ovos, espera ansiosamente pela finalização das obras de modo que um município como São Bento do Una, um dos mais importantes locais de produção de ovos do País, deixe de ver suas granjas e processadoras serem abastecidas por carros pipas. INDÍCIOS DE UM GRANDE TESTE À FRENTE Este início de 2025 tem acendido o sinal de alerta. Chegando a segunda quinzena de março com poucas roças estabelecidas do Sertão do Araripe ao Agreste. Neste estágio do ano já deveriam estar ocorrendo colheita de feijão de corda e o milho entrar no estágio reprodutivo com o surgimento dos pendões e espigas. Mesmo que, ao chegar em julho, consiga-se constatar que a quantidade hídrica foi um pouco abaixo da média histórica, o desafio a partir de agora é de como poder armazenar água suficiente que garanta a sobrevivência e o manejo adequado dos rebanhos de caprino, ovinos e bovinos, principal atividade econômica do semiárido dependente de chuvas. Em 21 de janeiro deste ano, a governadora Raquel Lyra publicou um decreto de emergência cuja ação abrangia 118 municípios com risco de seca hidrológica que afeta diretamente a toma da de água pelos principais reservatórios e a distribuição nesse conjunto de cidades. Há de se considerar que foi uma atitude de acerto ímpar, uma vez que o desenrolar do período chuvoso comprovou a precisão da medida. Reconheça-se a ação da Secretaria Estadual de Recursos Hídricos, comandada por José Almir Cirilo e da APAC (Agência Pernambucana de Água e Clima) sob a liderança de Suzana Montenegro. Considerando-se que entre 2019 e 2024, um período de seis anos na região semiárida como um todo, ocorreram chuvas entre a média histórica ou um pouco acima desta, não se falando em secas regionalizadas, pode ser que a região tenha que se preparar para encarar um novo período de instabilidade aguda de disponibilidade de água. Repetindo o que vem sendo comentado, há algum tempo na coluna, a seca é a irmã que nem sempre será bem-vinda, mas fazendo parte da família, é essencial que se conviva bem com ela. Prever é se antecipar ao problema e quem melhor estiver preparado para enfrentar o desafio conta com maiores chances de solução para a equação que se põe à frente. TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO NO USO DOS RECURSOS HÍDRICOS O enfrentamento de uma seca, quando ocorrer, não é um atributo apenas dos governos. É fundamental a participação da sociedade civil e nesse aspecto algumas lições devem ser lembradas: 1ª. Situação das cisternas: Vale ressaltar que foi realizado um esforço e investimentos marcantes para dotar o semiárido com mais de um milhão de cisternas. Quantas estão funcionando? Quantas contam com calhas de coleta de água? Qual o uso que tem sido dado à água armazenada e àquela que chega por meio de carros pipas? Qual a responsabilidade para quem não manteve esse reservatório em funcionamento? 2ª. Aproveitamento das águas pluviais e subterrâneas para irrigação: Que se foque no uso racional e eficiente da água disponível para uso agrícola ou pecuário. Recomenda-se investir no uso do que existe de mais moderno na pequena e média propriedade. 3ª. Gestão de secas: Um fenômeno cíclico e, portanto, previsto, não se pode levar pelo acaso. O Brasil continua pecando em não dar a devida atenção aos mecanismos de

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II Simpósio de Estudos sobre o Recife: Dinâmicas Urbanas Ontem e Hoje

Evento promove debates sobre a história, cultura e urbanização da capital pernambucana em sua região metropolitana. Foto: Renaldo Segundo Em comemoração ao aniversário do Recife, o II Simpósio de Estudos sobre o Recife já começou e acontece até o dia 13 de março, promovido pelo Laboratório de Estudos e Ensino sobre o Recife (RecLab), vinculado ao Departamento de História da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Com o tema central "Dinâmicas Urbanas Ontem e Hoje", o evento busca criar um espaço para debate e troca de conhecimentos sobre a cidade e sua região metropolitana, além de promover conexões com outras metrópoles. O simpósio é estruturado em quatro eixos temáticos: Histórias do Recife e seus arrabaldes; Dinâmicas contemporâneas metropolitanas; Espaço, cultura e patrimônio; e Diálogos Urbanos. O caráter multidisciplinar do evento reunirá pesquisadores de diversas áreas, como história, geografia, ciências sociais, museologia, arquitetura, urbanismo e arqueologia, que compartilharão seus estudos sobre o Recife e suas articulações com outras metrópoles. Os participantes poderão refletir sobre as temáticas sociais, culturais, paisagísticas, históricas e territoriais da cidade, por meio de diálogos, reflexões e debates. O objetivo é criar um espaço contínuo para o compartilhamento de pesquisas e experiências relacionadas às dinâmicas urbanas, analisando criticamente os dilemas enfrentados pelo Recife e sua região metropolitana. Dentre as palestras programadas, destacam-se temas relevantes como "O Recife e Maconha: Proibicionismo e Controle sobre Espaços e Sociabilidades da Cidade (1970-1974)", "Carnaval e Modernidade: Transformações Urbanas e Culturais no Recife (1880-1930)", e "O Papel da Malha Cicloviaría na Mobilidade Urbana do Recife: Desafios e Perspectivas". Além disso, discussões sobre a condição socioespacial das Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) e a urbanização de João Pessoa (PB) em contracorrente às demais capitais litorâneas brasileiras também fazem parte da programação. O II Simpósio de Estudos sobre o Recife visa, ainda, promover o intercâmbio de saberes entre diversos agentes que moldam as dinâmicas urbanas, incluindo pesquisadores, educadores, movimentos sociais e a sociedade civil. Ao analisar o Recife sob diferentes perspectivas, o evento se propõe a contribuir para a superação das desigualdades e injustiças territoriais, refletindo sobre a cidade tanto no passado quanto no presente. O Laboratório de Estudos e Ensino sobre o Recife (RecLab), vinculado ao Departamento de História da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), é especializado em pesquisa, ensino e extensão sobre Recife e seu território metropolitano. Apresenta uma perspectiva interdisciplinar, com bases na Geografia, que se articula com História, Ciências Sociais, Arqueologia, Educação, Ciências, Arquitetura e Urbanismo, entre tantas outras áreas que venham a colaborar com a proposta de pensar o Recife, suas potencialidades, processos, conflitos e desafios. O RecLab visa a consolidação de uma rede de pesquisadores e colaboradores para pensar seu território, com o intuito de difusão e divulgação do conhecimento produzido, ampliando a articulação entre universidade e sociedade. Mais informações no site oficial do evento: https://doity.com.br/ii-simposio-de-estudos-sobre-o-recife

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BNB disponibiliza R$ 2 bilhões para revitalização do Centro do Recife

Financiamento do Banco do Nordeste incentiva recuperação de imóveis para moradia e comércio na região central da capital. Foto: FOTOS: Izabele Brito/Recentro O Banco do Nordeste (BNB) anunciou um fundo de R$ 2 bilhões para financiar a revitalização do Centro do Recife, com foco em complexos multiusos que reúnem moradias e espaços comerciais. O incentivo foi apresentado durante o Conexão Recentro, evento promovido pela Prefeitura do Recife em parceria com a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e o banco estatal. A iniciativa busca atrair empresários, incorporadoras e investidores interessados em utilizar os recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) para retrofit e novas ocupações na região. Com prazos de pagamento de até 12 anos e carência de quatro anos, o financiamento pode cobrir de 50% a 100% do valor do investimento, dependendo do porte da empresa e da localização do empreendimento. Segundo o superintendente do BNB em Pernambuco, Hugo Queiroz, projetos de parcerias público-privadas (PPPs) e coliving também estão contemplados, facilitando a reocupação dos imóveis e reduzindo o déficit habitacional. "Além dos incentivos fiscais que a Prefeitura do Recife já oferece de ITBI, ISS e IPTU, agora, com esta parceria com a Sudene e com o BNB, estamos oferecendo financiamento para moradias, comércio e serviços", destacou a chefe do Gabinete do Centro, Ana Paula Vilaça. O evento reuniu mais de 100 empresários e investidores no auditório do BNB, localizado na avenida Conde da Boa Vista, reforçando o interesse do setor produtivo na recuperação da área central. O superintendente da Sudene, Danilo Cabral, ressaltou que a ação conjunta cria "uma janela de oportunidades" para o desenvolvimento urbano e social da região. Entre os projetos apresentados, há propostas para transformar depósitos subutilizados em moradias, flats para turismo e centros comerciais. “O financiamento, sem dúvida, vai ajudar muito”, afirmou o empresário Amaury Rezende. Os interessados no financiamento podem procurar qualquer uma das 40 agências do BNB para apresentar seus projetos. O processo inclui entrevistas, visitas técnicas e entrega da documentação necessária para a liberação dos recursos.

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antonio miranda

"A atual situação hídrica em Pernambuco é grave"

Antonio Miranda, Engenheiro do Comitê Tecnológico Permanente do Crea-PE, analisa o impacto da escassez de chuvas no abastecimento hídrico no Estado e as perspectivas com a influência das mudanças climáticas. Também alerta para possibilidade de salinização da água de poços em bairros como Boa Viagem e levanta preocupações com o modelo de concessão da Compesa. Nesta semana o Governo do Estado decretou situação de emergência em 118 dos 184 municípios pernambucanos em razão da escassez de chuvas. Especialista em gestão de serviços de saneamento, o engenheiro civil Antonio da Costa Miranda Neto alerta que a situação do abastecimento hídrico em Pernambuco é grave, com 18 reservatórios em colapso, segundo dados da Apac (Agência Pernambucana de Águas e Clima). Nesta entrevista a Cláudia Santos, Miranda, que é integrante do Comitê Tecnológico Permanente do Crea-PE (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco), analisa esse cenário e o impacto futuro das mudanças climáticas no agravamento da redução das chuvas. Para enfrentar a crise, ele afirma ser necessário atualizar, com maior frequência, o planejamento da gestão hídrica, principalmente em relação à elevação média da temperatura e da quantidade de ondas de calor em Pernambuco. “Essa elevação traz duas consequências ruins, simultaneamente: o aumento da evaporação dos mananciais superficiais e do consumo hídrico, combinação que agrava a escassez de água de abastecimento”, alerta. Diante da gravidade da situação, o engenheiro afirma que medidas, como o reuso da água e um melhor armazenamento de águas de chuva, passaram de recomendáveis a imperativas. O especialista enfatizou ainda sua preocupação com o modelo de concessão da Compesa, no qual a estatal permanece responsável pela produção de água tratada e a distribuição fica a cargo de concessionárias. “A depender de como ficará a modelagem, caso a Compesa não produza em quantidade suficiente, as empresas privadas poderão acioná-la no sentido de serem indenizadas pela falta de água para venda. Nesta hipótese, teríamos sérios problemas econômicos”, adverte. No início de janeiro, a Compesa divulgou um calendário emergencial de abastecimento de água diante da ausência de chuvas e das altas temperaturas no Estado. E, nesta semana, foi decretada situação de emergência. Como o senhor avalia a situação hídrica em Pernambuco e o impacto no abastecimento de água? A atual situação é grave, com 18 reservatórios em colapso, segundo a Apac. Desses, 14 ficam no Sertão, zona mais atingida pela estiagem, mas há também reservatórios vazios no Agreste, Mata Norte e até na Região Metropolitana do Recife. Sabemos que o Agreste pernambucano é a região de menor disponibilidade de água por habitante do Brasil, o que já por si só mostra o tamanho da nossa vulnerabilidade e justifica todos os investimentos na transposição do São Francisco, fazendo com que uma parte dessa água chegue nessa região. Também não é novidade para ninguém que as secas são cíclicas, então o que enfrentamos hoje é o agravamento desses ciclos. A tendência é o aumento de temperatura e das ondas de calor. O ano de 2024 esteve 1,5°C acima da média da Terra em relação aos níveis pré-industriais, o que é uma tragédia. Estamos, portanto, com uma frequência maior na ocorrência desses problemas. É óbvio que isso tudo repercute no abastecimento de água. É também verdade que a Compesa, historicamente, não conseguiu eliminar os seus problemas de produção e de distribuição de água. Salvo engano, foi em 1982 que a empresa institucionalizou os rodízios de abastecimento, para nunca mais deixar de tê-los. Por isso a Região Metropolitana já foi, e talvez continue sendo, a que apresenta maior consumo per capita de água mineral engarrafada no País. Outro reflexo disso é a quantidade de poços perfurados para abastecer os prédios, em diversos bairros, para não ficar dependendo da Compesa. Com a perspectiva de acirramento dos períodos de estiagem, em razão das mudanças climáticas, essas dificuldades no abastecimento de água em Pernambuco tendem a aumentar? A mudança climática está agravando a situação. Entretanto, as projeções neste momento são muito imprecisas, não conseguimos estimar ainda aonde isso vai parar. Se você perguntar hoje aos maiores especialistas da hidrologia, da climatologia, sobre uma perspectiva para 2030, eles não são capazes de informar com segurança, porque estamos ainda em processo de transformação. Por isso, é necessário elaborar revisões frequentes do planejamento da gestão de recursos hídricos que levem em conta as últimas atualizações científicas. Os estudos de hoje não indicam para Pernambuco nenhuma situação calamitosa. Haverá o agravamento das secas e das chuvas, mas não temos razões objetivas para esperar a transformação de zonas do semiárido em áridas, como já existem no Norte da Bahia. Da mesma forma não há previsão de que aconteçam em Pernambuco as tragédias que assolaram o Rio Grande do Sul. Agora, provavelmente, teremos uma frequência maior de ondas de calor. O aquecimento geral do planeta, que causa a elevação do nível do mar, também é uma preocupação muito grande que todos nós devemos ter, principalmente no Recife. O que poderia ser feito para enfrentar os impactos do aumento da temperatura e da escassez hídrica no abastecimento de água? É necessário passar a atualizar, com maior frequência, o planejamento da gestão hídrica, com especial atenção ao aumento médio da temperatura e da quantidade de ondas de calor em Pernambuco. Esses aumentos trazem duas consequências ruins, simultaneamente: o aumento da evaporação dos mananciais superficiais e do consumo hídrico, combinação que agrava a escassez de água de abastecimento. É igualmente prudente considerar a ocorrência de períodos mais severos e prolongados de estiagem no Estado. Mas insisto, será indispensável realizar atualizações frequentes dos cenários, utilizando o que de melhor se dispõe em termos científicos, para estabelecer as medidas necessárias à gestão hídrica, muitas delas urgentes, desde o manejo dos mananciais até medidas de redução das perdas de água e do consumo médio em todas as categorias de consumidores. Nesse contexto, o reuso da água e o melhor aproveitamento de águas de chuva passaram de recomendáveis a imperativos. Em relação à situação dos bairros situados na faixa litorânea do Recife, a grande quantidade de poços aliada à impermeabilidade do

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Juan Sebastian Bustamante

Juan Sebastian Bustamonte: "Temos uma grande obsessão por conectar Medellín"

Urbanista e professor da Universidade EAFIT conta como investimentos em mobilidade, educação, parques e comunicação contribuiram para transformar Medellín de cidade mais perigosa do mundo na mais inovadora. Ele também ressalta que as mudanças foram feitas prioritariamente em áreas vulneráveis e que os planos agora incluem o enfrentamento da crise climática. Juan Sebastian Bustamonte, urbanista e professor da Universidade EAFIT Medellín, é uma das principais vozes do urbanismo social na América Latina. Em entrevista a Rafael Dantas, ele destacou a transformação de Medellín que superou um passado de violência e desigualdade com políticas inovadoras, integração urbana e o fortalecimento da cultura cidadã. Uma inspiração para a capital pernambucana. Durante visita ao Recife, acompanhado por Murilo Cavalcanti, ex-secretário de Segurança Cidadã, o especialista conheceu o Compaz Eduardo Campos, no Alto Santa Terezinha, e ressaltou a importância de priorizar áreas vulneráveis, promover conexões entre bairros e investir em educação e mobilidade para construir cidades mais equitativas. Na entrevista ele compartilhou a importância do metrô para a estruturação da cultura cidadã em Medellín e apontou também alguns dos sonhos dessa cidade inovadora, que saiu da posição de mais violenta do mundo para a liderança na recepção de turistas da Colômbia, como um destaque global de inovação. Qual seria para o senhor o conceito de urbanismo social? É uma ferramenta para transformar a realidade das pessoas que vivem em lugares em que há grande desigualdade e violência. Na experiência de Medellín, vocês tiveram muitos serviços sociais e a construção de centros comunitários. Mas esse foi o único caminho para barrar os indicadores de violência? São quase 30 anos de trabalho. Há um programa do Governo Nacional que começou a ser implementado nos anos 1990, que se chamava Consejería Presidencial (Conselho Presidencial para Reconciliação, Normalização e Reabilitação). Na liderança estava uma mulher, María Ema Mejia. Ela deixou um livro que conta a história de como ela trabalhou na transformação da cidade. É muito interessante porque é possível aplicar a países onde há desigualdade e violência. A Consejería Presidencial chegava a Medellín, com recursos do Governo Nacional, aos bairros onde havia mais violência para conversar com os jovens, escutá-los, gerar acordos, como parte de um processo de paz. O programa recebeu também uma cooperação alemã que permitiu que esse trabalho de conversar e escutar os jovens, onde há mais desigualdade e violência na cidade, se fortaleça. Isso fez com que desde os anos 1990 e 2000, Medellín tenha 20 anos de trabalho de fortalecimento de organizações de base comunitária. Quais as descobertas dessa escuta ativa das comunidades? A capacidade de liderança dos bairros de maior desigualdade e violência é muito alta. Há pessoas que têm capacidades de trabalho e de geração de acordos e espaços de conversação importantes. É um processo de paz de 20 anos. Começaram a ser implementadas estratégias de melhoramento integral dos bairros, como parte de um programa do município de Medellín. Esse programa tem o objetivo de melhorar as condições de acessibilidade e mobilidade nos bairros com maior precariedade, melhoramento das moradias e dos serviços públicos. O programa se chama Primed, Programa Integral de Melhoramento de Bairros Informais de Medellín. Quais as mudanças implementadas pelo Governo Nacional? Em 1991, paralelo a isso que estou dizendo, a Constituição da Colômbia sofreu uma mudança. Segundo os especialistas em políticas públicas, temos uma das melhores constituições do mundo. E parte das coisas que levaram a essa transformação da Carta, como fruto de um produto de um país que estava em guerra e que estava procurando como melhorar a situação da violência, que era o mais perigoso do mundo, é descentralizar o poder no país. Isso deu poder a cada município. Então, a primeira cidade que aproveitou essa mudança na Constituição foi Bogotá. Ela demonstrou ao país que uma cidade pode se transformar de uma maneira radical. Isso começou na gestão de Antanás Mockus, que é o nosso grande professor de cultura cidadã. Depois Henrique Peñalosa, entre outros prefeitos que são inspiradores para pessoas de Medellín, que estavam trabalhando em empresas, ONGs e universidades. Essa experiência inicial em Bogotá impulsionou Medellín? Essas pessoas em Medellín entenderam que não iriam mudar a realidade se não entrassem na política. Então, vendo o que estava acontecendo em Bogotá decidiram entrar na política. Esse grupo chegou ao poder em 2004, ficando por dois mandatos. Um grupo de pessoas que, pela primeira vez, estava na política, todos especialistas em seus temas. Cultura, urbanismo, economia, saúde… todos haviam estudado muito bem a cidade. Sabiam quais eram os problemas, quais eram as oportunidades que haviam. E, durante oito anos, como política pública, o urbanismo social foi implantado. Nos bairros de maior desigualdade e violência estão os maiores investimentos que há em Medellin. Um projeto somando a toda a sociedade, empresas, comunidades, governo e as universidades. Há uma aposta por educação para transformar a cidade no sentido mais amplo. Na prática, como essa aposta por educação aconteceu? O professor é a pessoa mais importante da sociedade. O primeiro prefeito é matemático (Mockus) e trabalhou toda a vida na universidade. É um acadêmico. Ele crê profundamente na educação. Seu pai foi arquiteto, um dos melhores da Colômbia. É muito sensível com a arquitetura, muito sensível com o desenho da cidade. Mais que fortalecer os professores, com capacitação, e promover a educação pública, foram criados planos de novos equipamentos educativos para o empreendedorismo, para o esporte, a recreação… foram fortalecidos os equipamentos públicos nos bairros de maior violência. Foram priorizados os mais pobres para melhorar as condições de moradia e habitação. E temos uma grande obsessão por conectar a cidade. Nossas cidades estão desconectadas. Há desigualdade, mas são fragmentadas entre aquelas que têm acesso a recursos e os que não tem. As comunidades são invisibilizadas e estigmatizadas. Em Medellín aconteceu que essas cidades eram percebidas como dos sicários (assassinos, facínoras), da pobreza e das pessoas ruins. Isso acontece também em várias outras cidades. Qual o papel das melhorias na mobilidade tiveram nessa transformação? Temos obsessão por conectar. Aí, aparece o sistema de transporte público massivo.

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44% do território do Recife tem risco alto para inundações

Dá para o Recife se prevenir de eventos extremos? *Por Rafael Dantas A situação dramática do Rio Grande do Sul liga um sinal de alerta em todo o País. No Recife, capital brasileira mais vulnerável ao aquecimento global e a 16ª em todo o mundo, há uma corrida contra o tempo. Segundo relatório inédito produzido pelo IRRD (Instituto para Redução de Riscos e Desastres), iLIKA (Instituto Keizo Asami) e pela APC (Academia Pernambucana de Ciências), 44% do território recifense tem um risco alto para inundações. Jones Albuquerque,professor da UFRPE e pesquisador do IRRD, iLika e da APCE, faz uma comparação entre o período da Covid-19 e os eventos extremos. Ele afirma que enquanto as cidades brasileiras conseguiram reagir ao período da crise sanitária, a adaptação às catástrofes provocadas pelas mudanças climáticas não têm tido a mesma resposta. Ele lembra que muitos municípios brasileiros, inclusive, guardam nomes que explicam a origem desses lugares, ligados a regiões alagadiças. Avanços do passado sobre a região das águas, com inúmeros aterros, que hoje reivindicam de volta o seu espaço. “Este episódio no Rio Grande do Sul nos alerta para estarmos preparados. Lembremos que o Brasil é cheio de cidades e bairros com nomes sabiamente batizados por nossos antecessores como Canoas ou Porto Alegre. No Recife, não é diferente. Basta averiguarmos a origem dos nomes Várzea e Afogados, além do mais famoso de todos que batiza nossa capital, a Veneza Brasileira”, salienta. Segundo Jones, os modelos matemáticos para analisar as transformações climáticas mudaram em 2021, mas os sistemas de monitoramento de riscos de desastres do País não se adaptaram a essa mudança. Essa nova modelagem foi apresentada pelos cientistas Syukuro Manabe, Klaus Hasselmann e Giorgio Paris, há três anos, o que lhes rendeu a conquista do Prêmio Nobel de Física, que reconheceu o trabalho deles para compreender os sistemas físicos complexos. O modelo ajuda na compreensão dos componentes que explicam o clima da Terra. O trabalho se propunha a quantificar a variabilidade desses eventos e a entender os efeitos do aquecimento global. A fenomenologia dos dados climáticos, segundo Jones mudou muito e já não é mais possível fazer projeções a partir do modelo antigo.” Ela não parece ser mais linear. É muito inconstante e gera projeções errôneas por muito tempo, até que a gente tenha dados suficientes para entender essa fenomenologia”, informou Jones Albuquerque. Entre os variados indicadores que se relacionam com esses episódios extremos, o pesquisador destaca o índice de CO2 na atmosfera e a temperatura dos oceanos. Ambos muito acima das médias históricas. O derretimento das geleiras e a morte dos corais são alguns dos sintomas dessas mudanças. Ao olhar como esses eventos intensificam as vulnerabilidades para a capital pernambucana, Jones afirma que 52% do Recife está sob risco de ocorrência de inundações – somando o alto risco (44,05%), médio risco (6,8%) e baixo risco (1,3%). Os cálculos são feitos a partir de dados de satélites, comparando a altimetria (medição de alturas ou de elevações) dos terrenos e do nível do mar. “Isso foi comprovado em 2022, cruzando os pontos de alagamentos já marcados pela Defesa Civil de Pernambuco e pelo órgão de monitoramento do trânsito. Alguns desses pontos precisaram de resgates especializados, dentro das áreas de risco vermelho”, explica Jones Albuquerque. Embora os eventos mais traumáticos do Recife estejam relacionados às cheias dos anos 1970 a cidade viveu uma situação dramática em 2022. Nesse episódio mais recente, as comunidades vizinhas à Bacia do Rio Tejipió foram as mais afetadas. Os milhares de desabrigados e mais de 100 mortes deixaram uma marca. Olinda e Jaboatão também computaram baixas e muitas áreas críticas de alagamento. Fora da região metropolitana, Pernambuco assistiu a uma grave cheia no ano de 2010, na Bacia do Rio Una. Cidades como Barreiros, Palmares e Água Preta tiveram um vasto rastro de destruição. Prédios públicos, igrejas, comércios e muitas casas ficaram submersos. Parte do município precisou ser reconstruído numa área mais elevada. As catástrofes na capital e no interior indicam, há alguns anos, a necessidade de intensificar a adaptação do Estado aos efeitos do aquecimento global. “Precisamos atuar preventivamente para reduzir os impactos dos eventos extremos. Temos que focar na resiliência. Isso vai envolver aspectos de engenharia, sociais e, com certeza, ecológicos. No episódio que aconteceu no Rio Grande do Sul, por exemplo, nenhuma cidade aguentaria esse volume de chuva, mas existiram falhas na preparação para esses eventos. Podemos pensar: será que o Recife é vulnerável a algum evento desse? Com certeza. O nível do mar está subindo, com a tendência de termos dias piores pela frente”, considera o engenheiro e professor da UPE e da UFPE, Jaime Cabral. O pesquisador, que tem larga experiência em recursos hídricos (água subterrânea e drenagem urbana) avalia que houve um choque de realidade nas instituições ligadas ao monitoramento e prevenção desses eventos extremos no Recife, após 2022. O Estado, também, após os traumas das cheias da década de 1970 respondeu com infraestrutura. As barragens ao longo do Capibaribe contribuem com esse papel de proteger a capital da descida veloz das águas pelo curso do rio. PROMORAR E AS RESPOSTAS DO RECIFE AOS RISCOS Uma das reações da capital pernambucana aos traumas deixados em 2022 é o Promorar (Programa de Requalificação e Resiliência Urbana em Áreas de Vulnerabilidade Socioambiental). O poder municipal conseguiu um aporte do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) de R$ 2 bilhões para proteção de encostas, urbanização integrada em comunidades vulneráveis e a macrodrenagem da Bacia do Rio Tejipió. “O sistema de macrodrenagem da cidade está extremamente sobrecarregado. O Rio Tejipió costumava ter em alguns locais 70 metros de largura e hoje tem locais com 10 a 15 metros”, exemplificou a secretária executiva do Promorar Recife, Beatriz Carneiro Menezes. O programa prevê a retirada de pelo menos três mil imóveis de áreas de maior vulnerabilidade, para o direcionamento dessa população para lugares próximos às mesmas comunidades, mas em regiões sem riscos. Sobre o desafio de executar essa macrodrenagem do Rio Tejipió, a secretária conta que foi concluído um modelo hidrológico

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Itamaraca Arthur de Souza

Governo inicia reconstrução de ponte histórica na Ilha de Itamaracá

Obra integra revitalização do Litoral Norte com foco no turismo e mobilidade local. Foto: Arthur Souza O Governo de Pernambuco anunciou a reconstrução da ponte de acesso à Vila Velha, na Ilha de Itamaracá, região reconhecida por sua importância histórica e turística. A obra, que começa em janeiro de 2025, será realizada pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) e conta com um investimento de R$ 1,3 milhão. A iniciativa faz parte de um esforço mais amplo para revitalizar o Litoral Norte, atraindo visitantes e fortalecendo a economia local. Segundo a governadora Raquel Lyra, a reconstrução da ponte complementa outras ações na região, como as obras na PE-001, que leva ao Forte Orange, e na PE-035, que conecta a ilha ao continente, totalizando R$ 34 milhões em investimentos. “Pernambuco tem riquezas únicas que fortalecem nosso turismo, e obras de infraestrutura impulsionam ainda mais essa indústria que tanto cresce”, afirmou a governadora. Além de reestruturar o acesso à Vila Velha, localizada na Trilha dos Holandeses, a nova ponte sobre o Rio Paripe beneficiará diretamente moradores e visitantes. “Essa obra em Itamaracá, tão importante para o turismo de Pernambuco, é mais uma das significativas entregas para fortalecer o turismo na região”, destacou Paulo Nery, secretário de Turismo e Lazer. Com previsão de conclusão em um ano, a ponte está localizada em uma área de proteção ambiental e faz parte de um sítio arqueológico tombado pelo Estado. O local, que inclui povoados e sítios históricos, é protegido por legislação específica, reforçando seu papel como patrimônio cultural de Pernambuco. Serviço:A obra terá início em janeiro de 2025, com previsão de término no mesmo mês de 2026.

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compesa

Pernambuco lança consulta pública para concessão dos serviços de água e esgoto

O Governo de Pernambuco, em parceria com municípios e iniciativa privada, iniciou uma consulta pública para impulsionar a concessão dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, conforme o Marco Legal do Saneamento Básico. O projeto prevê um investimento de R$ 18,90 bilhões até 2033, contemplando a atuação da Compesa na captação e tratamento de água e a concessão dos serviços de distribuição e esgotamento sanitário para concessionárias regionais. A iniciativa integra o programa Águas de Pernambuco, que já conta com R$ 6,10 bilhões em investimentos. As contribuições podem ser feitas por e-mail ou durante audiências públicas, com deliberação final prevista para fevereiro de 2025. AEmbora tenha a nobre meta de resolver a insegurança hídrica e ampliar a cobertura de saneamento básico no estado, a proposta foi elaborada com apoio técnico do BNDES deve ter fortes resistências dos técnicos de setor de engenharia no Estado. O CREA-PE já realizou um evento sobre a pauta, com referências nacionais do setor, apontando uma série de efeitos negativos dos processos mais amplos de concessão desses serviços. Até mesmo a experiência internacional tem apontado a remunicipalização do abastecimento devido à imensa dificuldade das empresas privadas de cumprirem as metas assinadas no processo de concessão. O evento, realizado pelo CREA-PE em agosto deste ano está disponível no canal do YouTube da instituição. A Algomais também publicou uma reportagem de capa sobre essa discussão, ouvindo os técnicos do setor. A matéria pode ser conferida no nosso site: O desafio para ofertar água e tratamento de esgoto em Pernambuco

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arte urbana

Megamural em São Paulo celebra a cultura popular pernambucana

Obra "La Ursa pelo Direito à Cidade", do artista Osù, resgata tradições nordestinas e promove reflexão urbana. Fotos: Tamara dos Santos A cidade de São Paulo recebeu uma nova obra de arte urbana que homenageia a cultura popular nordestina. O megamural La Ursa pelo Direito à Cidade, criado pelo pernambucano Osù, ocupa três empenas do Condomínio Residencial Novo Horizonte, no bairro Jardim Matarazzo. Com 375 metros quadrados, a obra faz parte do projeto Museu de Arte de Rua (MAR), promovido pela Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo. Inspirada na tradicional brincadeira da La Ursa, típica do Carnaval de Pernambuco, a arte simboliza a resistência cultural e a ocupação dos espaços urbanos pelas periferias. Para Osù, o mural é um marco de pertencimento e memória cultural. “É sobre ocupar a cidade, sobre resistência. Precisamos ocupar todos os espaços, mas ainda existem lugares que não conseguimos acessar”, reflete. A obra combina elementos como um percussionista com a camisa da bandeira de Pernambuco e a figura completa da La Ursa, além de referências à arquitetura histórica de Olinda. "O graffiti está ali, nas ruas, disponível para todos, assim como a La Ursa, que também cumpre esse papel e traz reivindicações junto", acrescenta o artista, reforçando a conexão entre a arte de rua e as manifestações populares. Além de resgatar a figura da La Ursa, a obra destaca questões como o sucateamento da cultura popular e as desigualdades sociais. A tradicional frase “A La Ursa quer dinheiro, quem não dá é pirangueiro” representa as necessidades de um povo que transforma criatividade em resistência. Osù relembra sua infância no Cabo de Santo Agostinho, quando improvisava fantasias com caixas de papelão e baldes: “Era uma forma de criar, de pertencer”. A arte no megamural convida o público a refletir sobre a valorização da cultura periférica e seu papel na construção da identidade urbana. Para os moradores do Condomínio Novo Horizonte, o mural trouxe identificação e memória afetiva. Segundo Osù, “o síndico é pernambucano, e quando viu o trabalho, entendeu na hora do que se tratava. Outras pessoas, nordestinas ou pernambucanas, que já viram ou brincaram de La Ursa, com certeza vão se sentir abraçadas”. Ele considera o graffiti um registro histórico e uma ponte entre histórias e tradições que conectam gerações e territórios. Osù, nascido em Ipojuca e criado no Cabo de Santo Agostinho, iniciou sua trajetória no graffiti aos 15 anos, em 2012. Com mais de uma década de experiência, seus trabalhos dialogam com temas como ancestralidade, espiritualidade e vivências periféricas. Além de La Ursa pelo Direito à Cidade, o artista já assinou outras obras de grande impacto, como Memórias de Plantação, também em São Paulo, e Nossa Rainha Já se Coroou, no Recife. Sua arte, carregada de simbolismos, busca representar e conectar pessoas às suas raízes culturais.

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