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Manu Siqueira

Existe vida após o divórcio? 

Por Manu Siqueira  Medo. Tontura. Taquicardia. Desespero. Angústia. Solidão. Choro, muito choro. Tristeza. Melancolia. Raiva. Desilusão. Dor, muita dor.  Alívio. Sorriso. Empatia. Descobertas. Renascimento. Solitude. Amor-próprio, muito amor-próprio. Amigos. Diversão. Viagens. Novidades. Vida, muita vida.  Tentei procurar algumas palavras que se encaixassem bem nessa ampla e complexa palavra chamada divórcio. Confesso que o segundo parágrafo foi mais fácil de escrever, embora eu tenha passado por todos esses sentimentos, ora gradativamente, ora tudo misturado.  Anunciado com letras garrafais em manchetes sensacionalistas, o divórcio sempre ganha as capas de jornais e revistas, principalmente nesta era digital, quando a rapidez da notícia consegue ser tão grande quanto a quantidade de likes que ela recebe. Penso que parte da curiosidade do público seja apenas pela fofoca. Se o divórcio acontecer com um ídolo então, mais textão nas redes sociais ele ganha. Porém, acredito que, em alguns casos, o consumo de notícias desse tipo deva acontecer por meio de identificação.  Embora muitas mulheres com mais de 40 anos já sigam em seus segundos ou terceiros casamentos, muitas delas ainda buscam amparo e consolo em fatos que as aproximem daquela situação. Se reconhecer na dor ou no alívio, compartilhando esses sentimentos com outro alguém que passa por situação semelhante, abranda a agonia de uma separação. Tenho a impressão de que, quando os divórcios acontecem entre casais com filhos, o assunto tende a ser ainda mais doloroso. Afinal, filhos são laços eternos.  Dizem que apenas conhecemos verdadeiramente o nosso parceiro ou parceira quando nos separamos. Ali, descobrimos quem fica com o faqueiro e com o conjunto de louça e quem fica com a paz; quem quer as fotos do filho guardadas numa caixa amarelada ou quem prefere ficar com o apartamento; quem quer o carro ou quem prefere trocá-lo pela liberdade.  Eu sempre acreditei que as relações amorosas devam existir até quando fizerem sentido para o casal, e nunca porque juraram amor eterno na frente de qualquer líder religioso. Tenho algumas amigas que já me confidenciaram que o segundo casamento é mais gostoso, mais tranquilo e que, com o tempo, a gente vai aprendendo a selecionar melhor os parceiros e, consequentemente, fazer escolhas mais acertadas. Concordo. Vibro junto. Torço demais.  Há quem, depois de um divórcio traumático, também escolha “jogar luz” em outras áreas da vida, o que é completamente entendível. Porém, deixo aqui um alerta importante: reconstruir a vida não significa necessariamente casar de novo. Às vezes, precisamos recolher nossos cacos para seguir adiante. E isso leva tempo.  Porém, o mais importante é realmente seguir em frente, do jeito que der e puder. Conheço uma mulher que viveu em um casamento por 30 anos, se divorciou e escolheu não mais se relacionar amorosamente. Durante o casamento, ela abriu mão de muitos desejos como estudar e viajar. E, após o divórcio, segue formada, trabalhando e conhecendo o mundo.  Lembro de ter visto uma entrevista da atriz Eliane Giardini que, após um longo casamento com o ator Paulo Betti, disse ter preguiça de se relacionar. Que ocupava essa lacuna com o trabalho, amigos, viagens, filhos e netos. Eu achei aquilo tão sensacional, que nunca mais esqueci. Sim, às vezes dá preguiça mesmo. A gente “enche o saco”, se ilude, se desilude, arrisca, volta atrás, desiste, insiste, se arrepende, cansa. Algumas mulheres seguem tentando, outras desistem, e outras simplesmente não ligam.  A escritora Ana Holanda escreveu uma declaração de amor, semana passada, para o novo namorado. Após um divórcio doloroso, ela encontrou o amor quando menos esperava. Ela escreveu: “Eu não estava mais à espera de um grande amor. Nem acreditava mais em um grande amor. Já havia amado bastante e capotado na mesma medida. Já estava de bom tamanho para uma vida. Talvez por não estar à espera, não coloquei peso nem expectativas. Apenas permiti que entrasse”, diz ela em relação ao seu companheiro, Marcos.  Aos 20 anos, quando comecei a namorar o meu ex-marido, eu não estava exatamente como a Ana, mas lembro de não estar disponível para me apaixonar por ninguém. Eu cursava o terceiro ano na faculdade, estava com vários planos, amigos novos, projetos e um mundo de descobertas e “azaração”. Nesse momento a gente entende que não consegue mandar no destino, nem controlar os sentimentos.  Quando o amor bate na nossa porta, a gente simplesmente deixa ele entrar. Hoje, claro, possivelmente o amor tenha que bater mais de uma vez na porta, ou talvez tente pular a janela, ou ainda quem sabe, possa passar por uma trilha pedregosa, mas certamente ele encontrará uma vista tão incrível e deslumbrante, que rapidamente se esquecerá dos percalços.  Sim, existe vida após o divórcio. Muita vida, eu diria. Uma vida nova, interessante, sedutora. Uma vida novamente de solteira, sem que isso soe como fracasso ou algo parecido. Simplesmente uma vida que começa a ser vivida com mais intensidade e plenitude. Uma vida em reconstrução. Uma vida cheia de novas escolhas e possibilidades.   *Manu Siqueira é jornalista (mmsiqueira77@yahoo.com.br)

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Uma mulher trocando de pele

*Por Manu Siqueira Um dia desses, ouvi esse termo da atriz Isabel Teixeira, em uma entrevista na qual ela falava sobre envelhecer e todos os processos que cercam essa fase da vida. Tive tanta conexão com a frase, que pensei, por milésimos de segundos, em perpetuá-la na minha pele, a mesma que habito há 46 anos, e que está perdendo colágeno e ganhando algumas tatuagens, manchas e rugas. Tudo junto!  Envelhecer é um processo natural e que deveria ser visto de tal forma. Na natureza, podemos observar o envelhecimento de algumas espécies. Em casa, com os animais domésticos, também acompanhamos essa fase.   E assim, como uma serpente ou camaleoa, também me vejo trocando de pele, só que em uma proporção mais ampla. Além de ganhar celulites, enxergo essa “troca de pele” como uma mudança, um renascimento, uma nova oportunidade de ser, finalmente, quem sempre desejei me tornar. É como se despir em camadas, fazendo aflorar uma essência verdadeira, que muitas vezes é suprimida ou esmagada por situações abusivas. A cantora Maria Bethania fala que gosta dos seus cabelos brancos, das rugas. Diz que pertencem a ela, que o tempo a presenteou, que ela mereceu ganhar, e completa: “envelhecer é um privilégio”. Pegando carona nesse pensamento, te pergunto: “não seria mais prático e fácil a gente simplesmente aceitar pacificamente o nosso processo de envelhecimento?”. E já te respondo: “NÃO!”. Exatamente assim, com letras garrafais. Ir de encontro a um sistema mundial gigante e devastador, que venera a juventude e despreza os velhos pode ser muito, mais muito exaustivo. Desde crianças, na própria família, aprendemos que não podemos ser gordas, mesmo que as nossas taxas sanguíneas estejam normais. Também não podemos ter cabelos brancos. Se surgir uma ruga, já devemos fazer um procedimento estético ou passar algum creme como se aquilo fosse uma doença. Aprendemos que as unhas devem estar sempre bem feitas e pintadas, e que não podemos sair sem maquiagem e, muito menos, sem sutiã. “Já passei da idade”, “estou velha demais para isso”, “não tenho mais corpo para usar biquíni”, “meu tempo já passou”. Quem nunca ouviu uma dessas frases, dita, geralmente, por uma tia, mãe ou avó? Depois de um tempo tentando entender essa avalanche de nomenclatura para mulheres que estão em processo de envelhecimento, entendi que madura, coroa, loba ou ageless (sem idade), por mais que esse movimento seja interessante, são algumas expressões usadas pela mídia apenas para camuflar a palavra velha.  De um lado, eu entendo essa linguagem, criada pela indústria estética, que te leva a acreditar em uma juventude eterna, que sabemos, é inexistente, mas que, mesmo assim, movimenta milhões de reais todos os anos. Afinal, se você parar essa leitura agora e for pesquisar no Google alguns sinônimos para mulher velha, você vai encontrar as seguintes palavras: caduca, decrépita, engelhada, anciã, arcaica, antiga, antiquada, idosa e obsoleta.  Do outro lado, continuo sonhando com o dia em que a palavra ‘velha’ não ressoe como xingamento, não tenha conotação pejorativa e nem venha associada à demência. Quero ter orgulho de estar me tornando uma velha. Nesse momento, você deve estar se perguntando se eu não estou exagerando, já que tenho 46 anos, apenas. Apenas? Pois bem antes disso eu já sofri etarismo, acredita? Mas esse é outro papo. Quero abrir aqui, porém, um parêntese em luz neon: “Não sou fruta para ser ou estar madura, e acumulo idade sim, aliás, coleciono. E isso, caro leitor, nunca deve ser motivo de vergonha. Afinal, só não envelhece quem morre jovem”. Anotou? Nas culturas indígenas, que enobrecem a ancestralidade e os antepassados, os mais velhos são tratados com imenso respeito, se tornando responsáveis pela liderança e condução de vários rituais. Na China, Japão e na cultura judaica, eles têm um papel importante por serem vistos como sábios.  Quando eu tinha 39 anos, escrevi em um blog que mantinha na época, quase em tom de confissão: “nos últimos anos vividos, em quase quatro décadas, os sinais do envelhecimento já são latentes. No pescoço, certo enrugamento. Os seios, antes firmes, já começam a dar sinais de flacidez. A gravidade insiste em pô-los para baixo. O metabolismo é bem mais lento, a gordura se acumula nos braços e quadris. E agora? O que se faz? Vive-se! Apenas vive-se”. Continuo compactuando com esse pensamento. Claro que agora, sem tanto foco estético no corpo e sim, na saúde, destacando os cuidados com a mente, com o emocional e com o espiritual. Dessa forma, todos os dias, eu arranjo uma maneira de exercitar o meu olhar pueril e encantado pela vida. E garanto: com o tempo, isso só melhora e se aperfeiçoa. A gente encontra mais felicidade nas horinhas de descuido e observa os detalhes que ninguém reparou. E isso é mágico! Ah! E uma das coisas mais importantes que tenho feito nos últimos anos é escolher bem a minha rede de apoio e de afeto. São essas pessoas que não vão te julgar, te abandonar e nem largar a sua mão quando você estiver em uma guerra. Essa presença será mais importante que a própria trincheira, como diria Ernest Hemingway. Por isso, cultive as pessoas que lhe querem bem e siga rodeada de boas energias. Só quem conhece a profundidade das sombras, reconhece um olhar iluminado.  *Manu Siqueira é jornalista (mmsiqueira77@yahoo.com.br)

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