O alto índice de intenções de votos em brancos e nulos e a aposta em candidatos que estão fora das grandes estruturas partidárias são os sintomas da insatisfação popular com a política. O sentimento das ruas frente às eleições 2018 foi debatido na reunião do Conselho Estratégico Algomais Pernambuco Desafiado, no mês de agosto. Mais que discutir os prováveis vencedores do pleito deste ano, os jornalistas Sérgio Montenegro Filho e Gilvan Oliveira fizeram uma análise desse desencanto dos eleitores brasileiros e ressaltaram que processo semelhante aconteceu em outros países, como nos Estados Unidos, França e Espanha.
Ao fazer uma analogia com o que aconteceu nos últimos anos no cenário político-partidário desses países, Gilvan Oliveira aponta que os brasileiros estão “órfãos” de representatividade. “As pessoas que estão ficando à margem da democracia tradicional buscam algum tipo de movimento que não está sendo refletido pelos partidos. Elas não se sentem abraçadas pelos discursos, práticas e ideologias partidárias”, afirma.
Um sentimento que se refletiu nas eleições vitoriosas dos presidentes norte-americano Donald Trump e francês Emmanuel Macron. Gilvan explica que Trump teve uma formação política fora do sistema tradicional e conseguiu vencer as prévias do Partido Republicano sem o apoio de nenhum “cacique”. No embalo da insatisfação dos eleitores que estão fora dos grandes centros econômicos e que se sentem excluídos do sistema de globalização, ele contrariou quase todas as previsões que apontavam Hillary Clinton como vencedora.
Com algumas semelhanças da ascensão de Trump, Macron criou um movimento e conseguiu derrotar as tradicionais forças políticas francesas (o Partido Socialista Francês, o Partido Republicano e aqueles de extrema direita, ligados à família Le Pen). Na Espanha, dois movimentos cresceram à sombra do distanciamento dos partidos aos anseios populares, o Podemos e o Ciudadanos, ambos já com representação no parlamento.
Essa rejeição às estruturas políticas tradicionais foi mensurada recentemente no Brasil por uma pesquisa realizada pelo Instituto da Democracia. O estudo, publicado em junho deste ano, apontou que 77,8% dos brasileiros afirmam não ter nenhuma confiança nos partidos. Em 2014, o índice de desconfiança era de 46,4%. E em 2010, apenas 36,7%. Números que apontam a degradação da imagem dessas organizações.
Aplicando isso ao contexto de 2018, os analistas afirmaram que esse desencanto foi o responsável pelo surgimento de tantos candidatos e pelo discurso de que representam algo novo na política. “Chegamos a uma eleição com 13 candidaturas. O maior número desde 1989. Naquela época, a quantidade de candidatos era a expressão da liberdade que construiu tantas alternativas. Hoje é o efeito pós-corrupção. Todos se colocam como renovação nos discursos de campanha”, afirmou Sérgio Montenegro.
A avaliação dos analistas políticos é de que os partidos se distanciaram tanto da população que têm dificuldade, inclusive, de construir um discurso com o qual os eleitores se identifiquem. Até o fechamento desta edição, as pesquisas eleitorais apontavam que a soma das intenções de votos brancos, nulos e de eleitores indecisos se aproximavam de 30% em alguns cenários nacionais.
ECONOMIA
A reunião do conselho contou ainda com um balanço sobre as diretrizes econômicas dos candidatos realizado pelo economista e sócio da CEDES Consultoria e Planejamento, Ecio Costa. Analisando os discursos das principais candidaturas, ele identificou muitas similaridades em várias delas e poucos pontos divergentes.
Costa apontou quatro temas que deverão compor a agenda econômica para o Brasil a partir de 2019. “Qualquer político eleito para a Presidência terá que se preocupar com a redução do déficit fiscal, o fomento ao crescimento econômico via investimentos e geração de empregos, a organização e continuidade às reformas que diminuam o peso e a ineficiência do Estado e a promoção de uma maior abertura comercial. São temas que precisam ser resolvidos”, afirmou.
Ecio Costa ressaltou a influência exercida pela economia sobre a política, sendo ela até fundamental para a estabilidade do próximo presidente. “Os governos perduram ou continuam desde que a economia vá bem. O impeachment de Dilma Rousseff, na verdade, foi uma desculpa para retirá-la, porque a economia estava afundando, como vimos em 2014 e 2015. Se a economia apresentar uma recuperação nos próximos anos, o presidente provavelmente irá se reeleger. Mas, para isso, ele precisa tomar diversas medidas que façam a economia brasileira voltar a crescer”, assegura.