Da Fundaj
Há 100 anos, um encontro de vozes das artes brasileiras se reunia no Theatro Municipal de São Paulo para uma série de exposições, trocas e diálogos que ecoaram por décadas à frente e mudaram os rumos da cultura e da formação da identidade nacional. A Semana de Arte Moderna de 1922 acabou sendo mais que uma reunião de obras e nomes como Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Heitor Villa-Lobos, Victor Brecheret, Di Cavalcanti e o pernambucano Vicente do Rego Monteiro. Celebrando o centenário, a Fundação Joaquim Nabuco, por meio da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), traz ações que reverberam a força e os desdobramentos da Semana de 22, como debate, aula-concerto e exposição.
“A gente celebra a Semana de 22 levando em consideração tanto o evento em si, no qual tivemos um pernambucano que hoje dá nome a um espaço da Fundação, que é Vicente do Rego Monteiro, mas também pensando na Semana como uma metáfora, que sintetiza todo um processo histórico que permite a modernização do país e também que o Brasil possa se descobrir”, ressalta o presidente da Fundaj, Antônio Campos. A primeira ação será um debate sobre a exposição que acontecerá em junho, batizada de “Um Pernambucano na Semana de 22: Vicente do Rego Monteiro”, a partir de uma conversa com o mesmo título entre os pesquisadores da Fundação Moacir dos Anjos e Rodrigo Cantarelli.
Sobre os participantes da Semana de 22, o diretor da Dimeca, Mario Helio, explana que esses formaram um grupo síntese do que estava acontecendo em vários lugares do país em relação ao seu amadurecimento. O próprio regionalismo de Gilberto Freyre, aponta, é uma faceta do modernismo nessa ruptura em busca desses caminhos de identidade. “E a Fundaj é um órgão de identidade e patrimônio, algo que também ganha valorização com o modernismo, em especial, com Mário de Andrade. A Fundação é um desdobramento desse movimento modernista, colocando a questão do ser brasileiro como ponto de partida e chegada”, evidencia o diretor.
Curador da mostra que será instalada na Sala Vicente do Rego Monteiro, no campus Derby da Fundaj, Rodrigo Cantarelli comenta que o artista pernambucano que dá nome à galeria foi um dos mais importantes artistas brasileiros do século XX. Além de ter sido, talvez, o primeiro a olhar para o Brasil num momento em que os outros modernos ainda tinham os olhos muito na Europa. “Embora, em 22, ele estivesse em Paris e não tenha estado presencialmente na Semana, tendo participado com algumas obras, Vicente já vinha desenvolvendo uma linguagem moderna nas artes buscando representar o Brasil que se consolida naquele momento”, destaca Cantarelli.
Na exposição, adianta, será mostrada um pouco dessa trajetória de Vicente do Rego Monteiro. O debate que antecede a mostra será veiculado hoje (dia 17), às 17h, no canal do YouTube da Fundaj. Trará, além de tópicos sobre a exposição, reflexões sobre o legado do artista, que mesmo sem estar presente no Theatro Municipal naquele 1922, teve suas oito obras exibidas no evento, alcançando ainda mais notoriedade e influência nas artes brasileiras.
Moacir dos Anjos ressalta que é importante discutir a obra de Vicente do Rego Monteiro nesse contexto em função da originalidade de sua pesquisa artística, que efetivamente buscava articular elementos de uma cultura moderna européia e hegemônica e elementos somente encontráveis no Brasil. E não somente teorizar sobre o assunto. “Dessa maneira, é possível pensar na obra de VRM como a elaboração de um modernismo com sotaque brasileiro, com acento em modos de fazer não encontráveis em outros cantos, ainda que alicerçada no seu conhecimento da arte moderna europeia”, completa o pesquisador.
No dia seguinte ao debate pelo canal da Fundaj no YouTube, o Cinema da Fundação/Museu, no auditório Benício Dias, receberá, às 15h, o concerto do grupo pernambucano Quarteto Encore. O grupo musical apresentará um repertório voltado à obra de Heitor Villa-Lobos, principal nome da música abraçada pela Semana de 22, e as influências que seu legado deixou. Serão apresentadas músicas como “Movimentos de Quarteto Nº 1”, “Trenzinho do Caipira” e “Melodia Sentimental”, de Villa-Lobos; ao lado de “Movimentos da Pequena Suíte Brasileira”, de Dierson Torres; e “Movimentos A-Temporais”, de Ivanubis Hollanda.
“Homenageamos Villa-Lobos que, dos nacionalistas, é a nossa principal referência, assim como também é para outros compositores, que traremos no concerto. Ao fazer essa homenagem, demonstramos na prática como Villa-Lobos foi uma fonte de inspiração para tantos nomes a partir de seu legado, em especial em Pernambuco e no Nordeste”, explica Carlos Santos, diretor musical do Quarteto Encore. Desde a formação, em 2009, o grupo musical realiza aula-concerto com a finalidade de mostrar às novas gerações a história por meio da música. Esta apresentação no Cinema da Fundação/Museu será para 100 pessoas, sendo 50 professores e alunos da rede pública convidados. Os outros 50 convites são para o público em geral e podem ser retirados na bilheteria até 20 minutos antes da aula-concerto.