Centenário do maracatu de baque solto é retratado no livro Festa no Terreiro Mágico - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Centenário do maracatu de baque solto é retratado no livro Festa no Terreiro Mágico

Rafael Dantas

Mais antigo maracatu de baque solto em atividade ininterrupta no Brasil, o Cambinda Brasileira é símbolo de reinvenção e resistência. Para celebrar e contribuir com o registro da memória do brinquedo centenário, o fotógrafo Heudes Regis e a jornalista e pesquisadora Adriana Guarda convidam o público a imergir no universo do baque solto a partir do livro Festa no Terreiro Mágico: 100 anos do Cambinda Brasileira, que será lançado neste domingo (13), às 15h, em debate ao vivo na página do Facebook do projeto (facebook.com/festanoTerreiroMagico).

Segundo os autores, o livro de arte-reportagem tem como objetivo aproximar o leitor do universo encantador do baque solto, a partir da perspectiva de um de seus mais simbólicos representantes. “Não tivemos a pretensão de contar a história oficial do maracatu, nem no texto nem nas imagens. O que queremos com essa publicação é aproximar as pessoas do maracatu de baque solto e da singularidade do Cambinda Brasileira. Queremos convidar o leitor a entrar na sambada, a participar da festa e perder um pouco do ‘olhar estrangeiro’ para a brincadeira”, conta Adriana.

Agenda TGI

“Festa no Terreiro Mágico: 100 anos do Cambinda Brasileira” é um desdobramento da já publicada revista “Não deixem o brinquedo morrer: Memória dos 100 anos do Cambinda Brasileira” (2019), realizada pelo fotógrafo Heudes Regis e pela jornalista Adriana Guarda. Através da vivência do casal ao longo de quatro anos de intensa vivência no terreiro do Cambinda Brasileira, a obra lança um olhar sobre a história do maracatu e das pessoas que compõem este rico brinquedo em seu cotidiano, para além do recorte dos dias de Carnaval. Histórias como a de mestres e caboclos que já passaram pelo Cambinda ou que ainda hoje brincam no maracatu, como o caboclo mais antigo, a madrinha espiritual e os herdeiros do brinquedo.

Durante esse período, a relação com os folgazões se estreitou e nele couberam muitas histórias: vida, morte, separação, saudade, alegrias. Uns foram embora, outros estrearam no maracatu do Cumbe. “O maracatu passou a fazer parte da nossa vida, nosso filho Gabriel nasceu e cresceu durante as visitas ao Cumbe e em meio a esse universo encantador. Fizemos amigos e criamos um vínculo com o Cambinda”, conta a autora. De lá pra cá, o Cambinda Brasileira completou 100 anos de história (2018), entrou para o grupo especial na disputa do Carnaval do Recife (2018), foi reconhecido como Patrimônio Vivo de Pernambuco (2019) e precisou se reinventar após a perda de importantes protagonistas de sua história, como a matriarca e madrinha espiritual Dona Biu, falecida em 2020.

A narrativa visual vai além do colorido das fantasias dos enigmáticos caboclos de lança. Segundo Heudes Regis, a proposta foi desmistificar o imaginário de que o baque solto só acontece no Carnaval e retratar o Cambinda pela força de cada folgazão nos bastidores da brincadeira. “Nós somos levados a crer que o maracatu é uma manifestação exclusiva do Carnaval, mas isso não é verdade. O baque solto ocorre durante todo o ano e faz parte do dia a dia dessas pessoas. Por isso, o ensaio fotográfico conta o universo da brincadeira antes e depois desse período de festa”, afirma. Outra forma encontrada pelo autor para transportar leitor-espectador para o universo do baque solto foi a escolha da fotografia em preto e branco para a maior parte dos registros das sambadas: “Sem o colorido, os arquétipos, os movimentos tortos e quebrados se sobressaem e se deixam perceber”.

O texto foi dividido em cinco capítulos, trazendo particularidades do Cambinda Brasileira, mas sem se desviar do contexto mais amplo do baque solto. Os textos de Adriana Guarda tratam da história, religiosidade, musicalidade, do aspecto simbólico-visual e do conceito sociocultural. Cada um dos capítulos é aberto por histórias de pessoas que fazem ou fizeram parte do maracatu ao longo de sua trajetória centenária.

O título “Festa no Terreiro Mágico: 100 anos do Cambinda Brasileira” faz referência à comemoração do centenário do maracatu, que resistiu ao tempo e, como poucas manifestações no Brasil, conseguiu ultrapassar um século de história. O termo “Terreiro Mágico” é um apelido dado ao Cambinda pelos próprios folgazões, na tentativa de comentar os fenômenos misteriosos que acontecem sobre a terra avermelhada do Engenho Cumbe. “São muitas as histórias mágicas contadas pelos brincantes. Uma delas é a de que quem pisa pela primeira vez no terreiro do maracatu do Cumbe não consegue mais deixar de voltar. Aconteceu conosco”, afirmam.

O lançamento será realizado neste domingo (15), com debate ao vivo entre os autores e a presidente do Cambinda Brasileira, Edlamar Lopes, na página oficial do projeto no Facebook (facebook.com/FestanoTerreiroMagico). Além da disponibilização gratuita de uma versão em PDF, o livro contará ainda com distribuição de exemplares físicos para entidades de cunho socioeducativo e para próprio maracatu, garantindo, assim, o acesso do público à história do brinquedo secular. Os autores já sonham, agora, em contar outras narrativas: “Durante a pesquisa, gravamos mais de 30 horas de áudios de entrevistas, fizemos mais de 10 mil fotografias e transcrevemos aproximadamente 500 páginas de depoimentos. São tantas histórias que não cabem em apenas um livro, pensamos em realizar outros produtos, como exposições e até mesmo um filme”.

Sobre os autores:
Heudes Regis atua como fotógrafo desde 1988 e traduz, em suas imagens, a leveza e a resistência da cultura popular pernambucana. Com um olhar poético, ele traz para o livro retratos de integrantes do Cambinda Brasileira e registros de momentos vividos no maracatu. Foi editor-assistente na Editoria de Fotografia do Jornal do Commercio e da Agência JC Imagem, no Recife, e traz no currículo experiências em diversas outras publicações. Em 2011, participou como fotógrafo e expografista da exposição Pernambuco Vivo, na Torre Malakoff, no Bairro do Recife.

A jornalista Adriana Guarda, formada pela Universidade Federal de Pernambuco e pós-graduada em Literatura Brasileira e Interculturalidade pela Universidade Católica de Pernambuco, é autora da pesquisa Não deixem o brinquedo morrer: Memória dos 100 anos do Cambinda Brasileira, atua como repórter sênior no Jornal do Commercio (Recife) desde 2007, tendo passado antes pela Gazeta Mercantil e Diário de Pernambuco. Conta com mais de 15 premiações no currículo, entre elas o Prêmio Esso de Jornalismo.

SERVIÇO
Lançamento do livro "Festa no Terreiro Mágico: 100 anos do Cambinda Brasileira", com debate ao vivo entre os autores Heudes Regis e Adriana Guarda e a presidenta do maracatu, Edlamar Lopes.
Quando: Domingo (13/12), às 15h
Onde: Página oficial do projeto: Facebook.com/FestanoTerreiroMagico
Com disponibilização gratuita da versão em pdf do livro.

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