Comentar livro cuja apresentação tem a chancela de professores do naipe de Lourival Holanda e Zuleide Duarte é um verdadeiro desafio. Contudo, tornou-se uma tarefa prazerosa, considerando já conhecermos a destreza desse mestre da palavra chamado Sidney Rocha.
No seu recém-lançado “Guerra de Ninguém” (Iluminuras 2016), o autor mostra-se, como de hábito, determinado, astuto e, sobretudo fiel ao binômio pensamento x escrita. Aqui, Rocha proclama independência formal e estética, que transcende limites da relação tempo e espaço, numa atitude ousada, virtude identificada e referida por Zuleide Duarte desde outras obras como “Matriuska”, “O destino das Metáforas” e “Fernanflor”: “A escrita de Sidney fala por si nesse nada generoso cenário da literatura brasileira”, afirma a professora.
Na opinião do acadêmico Lourival Holanda, bem que se poderia definir Sidney Rocha pela lixeira do seu computador. “Ou pela frequência de toques na tecla delete: tão burilados estão os textos nesses contos, que o leitor tem, juntos, a satisfação e a surpresa de uma narrativa curta, densa – como um tiro surdo”.
Sem surpresas lemos “Guerra de Ninguém” e mais uma vez constatamos o fato de que, em toda a sua obra, o autor lembra a lida de um cerzidor; dedos hábeis tecendo o croché das frases, laçando com sutileza cada palavra posta no seu ponto exato. Há força narrativa aguda nos instantes pungentes do livro e ao mesmo tempo a atrocidade é sutilmente suavizada, sem que ele precise aderir à pieguice.
O exemplo está na crueza delicada, vista nos contos “O menino de Bombaim” e “De volta para casa”, momentos que o leitor se envolve em algo de ternura, espécie de atenuante às mazelas de uma estupidez chamada guerra. E, como diria o tenente Keynes, caro “Sid Ney”, “as guerras não são para sujeitos como nós”.