Céu ausente é o novo livro de contos da Cepe

(Da Cepe)

“Acho que jogo no time da narrativa curta e aguçada que busca uma voz poética própria. E consegue, depois de trabalhar bastante”. As aspas são do escritor Gustavo Rios, 48 anos, a respeito de sua escrita, cujo gênero predominante é o conto. O autor soteropolitano lança, pela Cepe Editora, a coletânea de contos Céu ausente, dia 9 de fevereiro, na Livraria LDM, às 19h, em Salvador.

Na obra de 128 páginas, 13 contos foram selecionados entre mais de 30 que estavam nos arquivos do escritor. Céu ausente versa sobre casamentos fracassados, divórcios adiados, sexos culpados, amores declarados e desmentidos, infelizes infâncias, solidão, medo, tédio, tempo, ditadura e tortura. “Tudo isso faz – ou deveria fazer, no caso da literatura – parte da vida de qualquer um. Seja escritor, pintor de paredes ou capitão de um transatlântico: todos têm seu quinhão de perdas e dramas”.

Rios é um narrador poético da vida real que se esbarra em toda esquina com a ficção, e vice-versa. “Tudo é ficcional. E nada é. Considerando o relato de nossas vidas já como reinvenção, toda mentira é verdadeira. E toda verdade é um apanhado de mentiras mais ou menos bem sucedidas”, afirma o autor para, em seguida, citar o cineasta italiano Federico Fellini (1920-1993), a quem define como “um mentiroso magnífico” e, ao mesmo tempo, “um dos homens mais verdadeiros que conheci”.

Diante dessa visão de Rios, a literatura pode ser descrita como um “confronto extraordinário”. “Nela, na literatura, podemos dizer verdades que, de outra forma, não seriam aceitáveis. De outra forma, permanecemos agindo como sonâmbulos que insistimos em ser. De segunda à segunda, das oito às dezoito”, pontua.

TRECHOS DO LIVRO:

Repetíamos o dia anterior no seguinte. O pouco para nos manter em pé, levantar da cama, lavar o rosto e seguir… A convulsão das velas distorcia os movimentos já sem o peso da culpa; a alma pedia alimento, eu obedecia.

O esquecimento: não lembrava a solidão forçada, a fileira de gangorras vazias, silêncio incomum para a manhã de verão… Sempre depois da resposta. Passaria sem as imagens definidas do cenho, as sobrancelhas tensas, o espanto, crianças carregadas com pressa. Rostos de medo ao ouvirem seu nome. Meu nome é Cipriano, o Santo, dizia o menino. A culpa era do pai. Soube bem depois.

Já quis estar perto do mundo dos literatos, aquela febre caótica e prodigiosa — a anarquia, os punks, até mesmo a barba-comunista; Artaud e seus paradoxos; Zaratustra. Mas só depois descobriu a inutilidade daquilo… Sua batalha era particular, logo aprendeu… Seu velho abria a porta e examinava as paredes, o tapete, a árvore de Natal num canto se igualando a um bicho morto, vértebra inútil e dissimulada para um janeiro ou março… Queria que o dia seguinte, metido num brilho inesperado, fosse a alvorada definitiva de sua utopia.

O AUTOR

Natural de Salvador (BA), Gustavo Rios é autor dos livros de contos O amor é uma coisa feia (7Letras, 2007) e Allen mora no térreo (Mariposa Cartonera, 2015). De poesia, lançou Rapsódia bruta — poemas e outras brutalidades (Mariposa Cartonera). E ainda integra as coletâneas Tempo Bom (Iluminuras), As Baianas (Casarão do Verbo), além da Revista Confraria (Confraria dos Ventos).

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