Ciclo de debates da Fundaj discute impactos na pesca ocasionados por sucessivos desastres – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Ciclo de debates da Fundaj discute impactos na pesca ocasionados por sucessivos desastres

Da Fundaj

Pesquisadores ao redor do planeta observam a ocorrência, muitas vezes simultaneamente, de desastres naturais e tecnoindustriais com repercussões no meio ambiente e nas atividades socioeconômicas. Devido à magnitude cada vez maior dos impactos relacionados aos desastres, sobretudo nas populações em situação de alta vulnerabilidade social, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), por meio da sua Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes), do Centro de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist) e do Centro de Estudos de Cultura, Identidade e Memória (Cecim), realizará o “Ciclo de Debates Virtuais de Frente Pra Costa 2021″, com o tema geral “Impactos recentes na pesca: o pescado em evidência”.

O evento está sob coordenação da pesquisadora da Fundaj Lígia Albuquerque de Melo. “Os webinários serão espaços de reflexão sobre temas atuais relacionados às problemáticas ambientais que afetam os indivíduos. Esses debates trarão a discussão de temas de pesquisas que interessam ao poder público, principalmente por reunir outras instâncias, sujeitos sociais, entidades, ONGs, gestores públicos etc”, destacou Lígia Albuquerque.

Com 19 anos de existência, o “De Frente Pra Costa” é um espaço de reflexão e divulgação das produções científicas da Fundaj, onde os sujeitos sociais da pesca, entre outros, participam de debates.

A programação do evento contará com três webinários, todos com transmissão no canal da Fundaj no YouTube. O primeiro deles está marcado para o dia 26 deste mês, das 10h às 12h, trazendo a discussão sobre a Síndrome de Haff.

O encontro virtual de estreia será mediado pela pesquisadora da Fundaj Beatriz Mesquita, que receberá o médico, professor titular da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutor pela EHESS – Paris, Pós-doutorado pela ENSP/FIOCRUZ, Paulo Pena, o gerente geral da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), farmacêutico e especialista em Vigilância Sanitária – Escola Nacional de Saúde Pública, Josemaryson Bezerra, além do educador social e membro do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) – Regional Nordeste 02, Severino Antônio dos Santos (Biu)

“A importância dos debatedores convidados é ampliar o debate técnico e científico sobre a doença de Haff e a relação com a pesca artesanal”, resumiu Beatriz Mesquita.

“O que sabemos e o que não sabemos sobre a doença da urina preta?” é o questionamento principal da estreia do “Ciclo de Debates Virtuais de Frente Pra Costa 2021”.

“A minha participação será focada no caso recente do Recife, envolvendo a pesquisa do surto que chegou com a suspeita da ingestão do peixe como causadora dos sintomas e a confirmação da doença de Haff, além da rastreabilidade do peixe consumido. Essas são ações de competência da Apevisa”, comentou Josemaryson Bezerra.

Diante da necessidade de estudos, a discussão parte dos esforços para esclarecer as causas da Síndrome de Haff (doença da urina preta), que surpreende com surtos e desinformações decorrentes.

“É de extrema importância um esclarecimento para a sociedade, de forma geral, do que de fato ocasionou essa contaminação do pescado, quais os riscos ele pode trazer a saúde e também deixar claro que nem todos os pescados estão sujeitos a esse tipo de contaminação”, alertou Paulo Pena. Ele conhece as comunidades pesqueiras e realiza trabalhos na área de saúde com pescadores e pescadoras.

Nos anos de 2019 e 2020, alguns casos da Síndrome de Haff foram registrados no estado da Bahia, todos associadas ao consumo de peixe, especificamente do peixe ‘Olho de Boi’. Em Pernambuco, no mês de fevereiro deste ano, também houve a existência de infecção associada ao consumo de peixe, chamado de ‘Arabaiana’. Mesmo com nomes diferentes entre Pernambuco e Bahia, trata-se da mesma espécie (Seriola spp.). Esse tipo de pescado tem bastante ocorrência na região Nordeste por ser bem apreciado na culinária regional, sendo considerado de fácil consumo por conter pouca espinha.

“Foi divulgado pelas instituições sanitárias que o pescado contaminado veio de um lote importado do estado do Pará, na região Norte, e que os pescados do litoral de Pernambuco estão aptos ao consumo. Essa resposta dos agentes responsáveis é a mesma dos agentes da Bahia, logo fica uma pergunta: qual o controle sanitário que temos no estado de Pernambuco para os produtos importados de outros estados? Se na Bahia, em 2020, já havia sido diagnosticado que o pescado específico vindo do Pará, o Seriola spp, apresentava risco a saúde porque não houve um cuidado maior com o pescado trazido do Pará e comercializado livremente em Pernambuco?”, questionou Severino Antônio (Biu), que atua no acompanhamento de comunidades de pescadores e pescadoras artesanais no litoral de Pernambuco e Alagoas.

A Dipes tinha por tradição promover o “De Frente Pra Costa”, que reunia pescadores artesanais para debater sobre temas inerentes à sua atividade com pesquisadores da área. Em 2020, em virtude da pandemia, o encontro não aconteceu. Para este ano, o Cedist teve a iniciativa de transformar o evento em debates virtuais.

“O ‘De Frente Pra Costa” abordará três temáticas que afetaram profundamente a pesca artesanal. Pesquisadores e pescadores serão convidados para uma reflexão sobre políticas públicas possíveis para atender populações vulneráveis ou fortemente atingidas por desastres como o derramamento do petróleo e a pandemia”, afirmou o diretor da Dipes, Luís Henrique Romani.

O coordenador geral do Centro de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist) da Fundaj, Neison Freire, afirma que é necessário cumprir o papel da pesquisa social, mostrando o que se conhece e o que ainda se tem dúvidas em relação às ciências ambientais e naturais, mas também das ciências exatas.

“O derramamento de petróleo que ocorreu no litoral do Nordeste brasileiro em 2019 fez com que porções de petróleo cru chegassem à praia. Mas, de fato, ainda não sabemos o tamanho desse desastre nos ecossistemas marinhos e costeiros e para as populações tradicionais que vivem da pesca artesanal, pois são as mais afetadas”, recordou.

“Também temos a pandemia da Covid-19, que está em curso, e a doença da Síndrome de Haff, que são simultâneas neste momento. Tais desastres implicam na multiplicação de impactos graves e profundos. Interessa às ciências sociais investigar a situação dessas populações para, assim, poder subsidiar políticas públicas que possam auxiliar essas populações que sobreviverem em meio à sequência de desastres”, acrescentou Neison.

Webinários

Os outros encontros do “Ciclo de Debates Virtuais de Frente Pra Costa 2021” acontecerão nos meses de abril (dia 30) e maio (dia 28), com as seguintes temáticas: “O desastre do petróleo e as atividades litorâneas no Nordeste do Brasil” e “A Covid-19 e as populações que vivem da pesca artesanal”, respectivamente.

Serviço:

”Ciclo de Debates Virtuais de Frente Pra Costa 2021″

Tema do 1º webinário: “O que sabemos e o que não sabemos sobre a doença da urina preta (Síndrome de Haff)?”

Data: 26/03

Horário: 10h às 12h

Transmissão: canal da Fundaj no YouTube

Palestrantes: Paulo Pena (professor da Universidade Federal da Bahia – UFBA – professor titular da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutor pela EHESS – Paris, Pós-doutorado pela ENSP/FIOCRUZ), Josemaryson Bezerra (gerente geral da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), farmacêutico e especialista em Vigilância Sanitária – Escola Nacional de Saúde Pública) e Severino Antônio (educador social e membro do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) – Regional Nordeste 02)

Mediação: Beatriz Mesquita (pesquisadora da Fundaj)

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