O Clube Carnavalesco Misto das Pás completa 130 anos hoje (19), e para marcar a data, a agremiação prepara uma série de atividades comemorativas. Na sede do Clube das Pás, em Campo Grande, na Zona Norte do Recife as comemorações começam a partir das 17h com uma celebração ecumênica em Ação de Graças pela data. Em seguida, a partir das 19h, se apresentam no palco principal do clube a Orquestra das Pás e a Escola de Frevo do Clube que leva o estandarte do bloco carnavalesco do Clube Pás, o mais premiado do carnaval do Recife. Às 20h30 o discurso do presidente do Clube Rinaldo Lima abre a cerimônia comemorativa que homenageia 30 personalidades pernambucanas entre autoridades e aristas com uma medalha comemorativa aos 130 anos do Clube, entre os homenageados o cantor Glaudionor Germano recebe a honraria pela vida dedicada o frevo. Às 21h, teremos um dos momentos mais especiais da festa com o corte do bolo e uma belíssima queima de fogos. O clube promove ainda um coquetel para os convidados e em seguida, um show do cantor Elymar Santos, a partir das 22h.
Fundado em 1988, dois meses antes da Abolição da Escravatura no Brasil, o Clube das Pás, como é popularmente conhecido, é o Clube de Frevo mais antigo do Brasil. Em 2018 a agremiação se consagrou bicampeã do grupo especial da categoria, com um enredo em homenagem a Carmen Miranda.
Apesar da origem e da tradição carnavalesca, o Clube das Pás também é referência quando o assunto é música romântica. Grandes artistas nacionais já passaram pela casa, entre eles Elymar Santos, Roberta Miranda, Arlindo Cruz, The Fevers, Reginaldo Rossi, Beto Barbosa, Trio Irakitan, Agnaldo Timóteo, Fernando Mendes, Gilliard, Adilson Ramos e muitos outros. Todos os fins de semana a casa é o endereço certo para aqueles que buscam o melhor da música romântica. Hoje, o espaço se tornou o reduto romântico da cidade do Recife.
130 anos de História
Fundado no dia 19 de março de 1888, dois meses antes da Abolição da Escravatura no Brasil. O Recife fervia de alegria no carnaval, enquanto um navio cargueiro atracado no Porto do Recife precisava ser abastecido de carvão, às pressas, para seguir viagem. Como não tinha trabalhador interessado naquela tarefa, em plena folia, uma empresa encarregada do abastecimento do cargueiro, ofereceu pagamento dobrado aos estivadores. Daí, o comerciante português Antônio Rodrigues reuniu um grupo de homens dispostos a deixar a folia de lado e tratar de fazer o trabalho por uma remuneração maior.
Depois do serviço concluído e com muito dinheiro no bolso, o grupo de foliões, formado por Francisco Ricardo Borges, Manoel Ricardo Borges, João da Cruz Ferreira e João dos Santos, botou as pás de carvão nas costas e foi comemorar no Clube dos Caiadores. Enquanto brincavam o carnaval, eles tiveram a ideia de fundar um clube carnavalesco. Começaram a discutir os nomes: Clube das Pás de Carvão, Clube das Douradinhas e Anjos da Boa Vista. No final, foi escolhido Bloco das Pás de Carvão.
Nos primeiros anos, a agremiação funcionou na Boa Vista. Depois, para erguer a sede do Clube, o grupo de foliões comprou na Rua das Hortas, por seis mil cruzeiros, um terreno de propriedade do Recolhimento de Nossa Senhora da Glória do Recife, Conceição de Olinda e Sagrado Coração de Jesus de Igarassu. Até que, muito tempo depois, a Associação Carnavalesca de Pernambuco comprou um terreno localizado na Rua Odorico Mendes, em Campo Grande, e o doou ao Clube das Pás. Meses depois, a senhora Maria do Carmo, que era sócia das Pás, arcou com as despesas de legalização do terreno junto à Prefeitura do Recife.
Àquela época, na Rua Odorico Mendes só havia casas muito simples. Assim, foi erguida uma palhoça, até ser construída uma sede maior em alvenaria. Depois de duas grandes reformas, o espaço ganhou um primeiro andar e recebeu o nome de Universidade do Frevo Reitor Josabat Emiliano, em homenagem a um de seus ex-presidentes, falecido no domingo, 21 de agosto de 2016, aos 98 anos.
O Bloco das Pás de Carvão desfilou nos carnavais de 1888, 1889 e 1890 e em março do último ano mudou o seu nome para Clube Carnavalesco Misto das Pás. A primeira notícia impressa sobre as Pás foi publicada no dia 4 de março de 1905, no jornal Diario de Pernambuco. A cada 13 de Maio – dia da Abolição da Escravatura – o clube realizava uma passeata pelo Recife, em homenagem ao pernambucano e abolicionista Joaquim Nabuco.
Alguns clubes carnavalescos criados na época eram oriundos de corporações de operários urbanos e impregnados de elementos presentes nas procissões religiosas, que foram proibidos pelas autoridades eclesiásticas. Alguns dos elementos transplantados se encontravam em cordões de lanceiros, mascarados, diabos, balizas, bobos, morcegos e damas de frente. No final do século XIX e início do XX, surgiram no Recife, além do Clube das Pás, os clubes de carnaval Vassourinhas (1889), Lenhadores (1889), Toureiros de Santo Antônio (1914), Pão Duro (1916) e Pavão Misterioso (1919), entre outros.
O Misto do nome das Pás é porque nesta agremiação podiam brincar homens e mulheres. O clube, que representa o mais tradicional espaço de gafieira de Pernambuco, possui o estandarte mais antigo, datado no início do século XX, possivelmente nos idos de 1910. O responsável pelo desenho foi Manoel de Matos, onde estavam evidenciadas folhas de acanto e outros elementos barrocos, o monograma do Clube, franjas e pingentes dourados, duas máscaras e uma boneca fabricada em porcelana francesa, trazida pelo antigo porta-estandarte, o alfaiate Manuel das Chagas. A confecção, que foi em veludo, acolchoado de algodão, forrado com cetim e bordado com fios de ouro, ficou a cargo das monjas beneditinas do Convento do Monte de Olinda.
O atual estandarte das Pás foi confeccionado por Maria do Monte, uma antiga aluna e bordadeira do mesmo convento de Olinda, em 1980. O desenho tem a figura de um anjo, representada por uma boneca trazida de Portugal. O estandarte traz, ainda, os dizeres “Amor e Ordem”, bordados sobre uma esfera azul que simboliza o globo terrestre. O estandarte pesa cerca de 60 Kg e é conduzido durante o desfile na avenida por três porta-estandartes, que se revezam durante a apresentação na segunda-feira de carnaval. Em julho de 2007, a Prefeitura do Recife patrocinou a ida de doze integrantes do Clube para duas apresentações do seu estandarte no Rio de Janeiro, uma em Niterói e outra na Quadra da Mangueira.
O Clube das Pás tem entre seus dirigentes uma personagem que faz parte da história do carnaval pernambucano. A vice-presidente Josefa Ribeiro da Silva, a Marly das Pás, figura no livro “Sem elas não haveria carnaval”, de autoria da pedagoga e produtora cultural Claudilene Silva e da historiadora Ester Monteiro. Lançado em 2011 pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife, o livro traz depoimentos dessa carnavalesca de 50 anos que faz parte da agremiação há 35. “Aqui tenho minhas amizades, tenho um bocado de ‘filhos’. No Dia das Mães, ganho presentes de todo mundo. Isso é ter carinho. É melhor do que em certas famílias. Aqui já arrumei meu abrigo de velha”, revela ela, sempre sorridente. Há três décadas e meia, Marly está envolvida com os preparativos do carnaval do Clube.
Os bailes das Pás mantêm a tradição mais que secular de começar com a execução de três frevos. Afinal, o clube nasceu durante o carnaval. Depois é que vêm os ritmos mais dançantes, com destaque para as músicas latinas e os boleros.
PROJETOS SOCIAIS
Poucos sabem, mas o Clube das Pás mantém diversos projetos sociais que atendem a comunidade de Campo Grande e adjacências, na Zona Norte do Recife, e em vários municípios do interior pernambucano.
Projeto Pás na Praça
Com objetivo principal de difundir a cultura do frevo em todo o Estado de Pernambuco, a iniciativa leva aos municípios um grupo de passistas do Clube, além da Orquestra das Pás, que promovem uma verdadeira aula do ritmo que traduz o que é “ser pernambucano”. Em 2017 receberam o projeto cidades como Sairé, Goiana e Tamandaré.
Pás na Comunidade
A iniciativa visa contemplar crianças e adolescentes da comunidade Ilha do Joaneiro, oferecendo aulas de frevo, cursos de idiomas, técnicos de computação e informática, cabeleireiro, manicure e pedicure, corte e costura e babado. As aulas são ministradas por profissionais de cada área, de segunda a sexta-feira, na sede social do Clube das Pás, em dois períodos: das 9h às 12h e das 14h às 16h, com direito a lanche. O objetivo do projeto é afastar crianças e adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade e oferecer oportunidade de capacitação profissional, que abrirá portas para o mercado de trabalho. A comunidade Ilha do Joaneiro, localizada em frente ao clube, conta com cerca de quatrocentas e cinquenta residências, onde moram aproximadamente setecentas e cinquenta crianças e adolescentes. Desse contingente, cerca de trezentas serão atendidas pelo projeto, sem nenhum custo, e fora do horário escolar.
O CLUBE
A Orquestra das Pás
Patrimônio do Clube das Pás, a orquestra regida pelo Maestro Ernani se apresenta em todas as festas promovidas pelo Clube, além de eventos externos. O repertório vai dos grandes clássicos do frevo pernambucano aos grandes sucessos da música romântica brasileira com canções de artistas como Adilson Ramos, Reginaldo Rossi, Moacyr Franco e Leonardo Sullivan.
Acervo
Em 130 anos de história o Clube das Pás guarda logo na entrada da sua sede um verdadeiro acervo de troféus, estandartes e premiações que marcam os tantos carnavais vividos pela agremiação desde a primeira década do século XX até os dias atuais.
Estrutura
Sob nova administração desde 2017, o Clube das Pás que é presidido por Rinaldo Lima. Na nova gestão, o clube ganhou uma importante reforma em sua estrutura. Hoje, além de uma arrojada estrutura de palco e camarotes, a casa conta com excelente serviço de bar e petiscaria, além de climatização em todos os ambientes, camarotes individuais e um espaço pub. A nova gestão também vem investindo forte na agremiação, que em apenas dois anos já subiu para o grupo especial, venceu dois carnavais consecutivos e trouxe o glamour e a tradição dos antigos carnavais de volta ao Recife e aos salões do clube. Para isso, há dois anos o clube ainda contratou o mais premiado carnavalesco de Pernambuco, José Hilário, que foi campeão por quase dez anos à frente da escola Gigantes do Samba.