O crescimento do número de consumidores com contas em atraso e registrados no cadastro de inadimplentes perdeu força neste início de ano. Dados apurados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostram que a inadimplência ficou praticamente estável no primeiro trimestre de 2019, com um pequeno avanço de 0,13%. No mesmo período do ano passado, a variação trimestral havia sido de 2,38% na quantidade de pessoas inadimplentes. Na comparação anual, isto é, entre março de 2019 e o mesmo mês do ano anterior, também houve uma desaceleração na quantidade de consumidores que deixaram de pagar suas contas, com uma alta de 2,12%. Em março passado, a alta fora de 3,13%.
Ainda assim, o Brasil encerrou o primeiro trimestre deste ano com aproximadamente 62,7 milhões de pessoas inscritas em cadastros de inadimplentes e que, portanto, enfrentam dificuldades para obter acesso a crédito no mercado, seja por meio de compras a prazo, financiamentos ou empréstimos. O dado representa mais de 40% da população adulta brasileira.
Em três regiões a inadimplência do consumidor se manteve praticamente estável no mês de março: ligeira alta de 0,70% no Norte e de 0,24% no Centro-Oeste, além de um pequeno recuo de -0,04% no Nordeste. Já no Sudeste, o crescimento do volume de pessoas com contas atrasadas foi de 4,34%, enquanto no Sul houve um avanço de 2,15%.
Em termos proporcionais, o Norte é a região que possui a população mais inadimplente: 47% de seus residentes estão com o CPF negativado, o que representa 5,74 milhões de inadimplentes. Em seguida aparecem Centro-Oeste (43% da população inadimplente ou 5,07 milhões de negativados), Sudeste (40% de inadimplentes ou 27,01 milhões de pessoas nessa situação), Nordeste (40% de inadimplentes ou 16,36 milhões consumidores em contas em atraso) e Sul (37% de sua população inadimplente ou 8,51 milhões de pessoas com o CPF negativado).
Para o presidente da CNDL, José Cesar da Costa, o ritmo de recuperação da economia está aquém do esperado e, consequentemente, afeta a melhora dos índices de inadimplência. “O desempenho da economia neste início de ano frustrou as expectativas. O desemprego persiste em um nível elevado e o consumo não esboça um crescimento vigoroso. Apesar da desaceleração da inadimplência neste início de ano, o estoque de pessoas com o CPF restrito ainda é muito alto. O que mais favorecerá um ciclo de queda da inadimplência será uma recuperação mais acentuada do mercado de trabalho e da renda dos trabalhadores”, analisa o presidente.
Inadimplência cai quase 23% entre jovens de até 24 anos e cresce 8% na população acima dos 65 anos. País tem quase 18 milhões de inadimplentes na casa dos 30 anos
Dados detalhados do indicador revelam que a inadimplência apresenta comportamento distinto entre as faixas etárias. No último mês de março, houve uma queda de -22,89% na quantidade de pessoas inadimplentes com idade entre 18 e 24 anos. Também houve recuo nas faixas etárias de 25 a 29 anos (8,31%) e de 30 a 39 anos (-0,42%).
Já entre a população de idade mais elevada, houve alta nos atrasos de pagamento. Idosos entre 65 e 84 anos apresentaram um crescimento de 8,46% no volume de negativações de CPF. A elevação também foi observada nas faixas etárias de 50 a 64 anos (4,76%) e de 40 a 49 anos (3,29%). Em termos percentuais, é a faixa dos 30 aos 39 anos que reúne o maior número de consumidores com contas em atraso no país: são 17,7 milhões de brasileiros na casa dos 30 anos que não conseguem honrar seus compromissos financeiros. “É justamente nessa fase da vida em que a corrida ao crédito acaba sendo inevitável, pois muitos já constituíram família, possuem filhos e assumem mais compromissos financeiros. Em um momento de crise, pode ser difícil equilibrar o orçamento se não houver controle e disciplina”, explica o presidente do SPC Brasil, Pellizzaro Junior.
Volume de dívidas cai 1,07% em março, o terceiro recuo seguido do indicador
Outro número calculado pela CNDL e pelo SPC Brasil é o volume de dívidas que estão no nome de pessoas físicas. Nesse caso, houve uma queda de 1,07% em março deste ano na comparação com o ano passado. Trata-se do terceiro mês seguido em que há um recuo no indicador.
Os segmentos que apresentaram as quedas mais expressivas na quantidade de dívidas foram o setor de comunicação, que engloba contas de telefone, internet e TV por assinatura (-9,56) e o de comércio (-5,91%). O número de dívidas bancárias, que levam em conta faturas de cartão de crédito, empréstimos e financiamentos, ficou praticamente estável em março, com ligeira alta de 0,02% no período. O único ramo que mostrou alta em março foi o setor de água e luz, cujo crescimento foi de 17,20%.