Cultura bem temperada

Cultura bem temperada

Raul Lody

  Com Mário de Andrade à mesa

*Por Raul Lody / Fotoinstalação de Jorge Sabino

 “Tacacá com tucupi”, certamente, é o único texto exclusivo de Mário de Andrade sobre comida brasileira.E assim, Mário a partir do seu olhar e sentimento modernista que é  profundamente valorizador da identidade, da singularidade e da etnicidade que formam os nosso sabores regionais e autorais.  

Dessa maneira há um sentimento dominante de Mário nas suas formas de buscar brasilidades, no que ele olha como a “arte – fazer”.

A arte-fazer é um evidente reconhecimento dos saberes tradicionais por meio das muitas tecnologias artesanais que estão desde a feitura de um berimbau aos processos par se obter o leite se obter  o leite coco , por exemplo .Ainda neste princípio  conceitual  da arte-fazer está uma fruição ampla e diversa das matrizes etnoculturais que fazem a nossa criação popular. 

  Tudo reúne-se a esta busca de Mário por um Brasil brasileiro E assim com identidades regionais marcadas por diferentes processos históricos , sociais, ecológicos e culturais, reveladores suas preferências gastronômicas e principalmente  os relatos  dos seus alumbramentos com os  sabores da Amazônia.

Está também em Mário, um desejo de mapear as nossas comidas . E buscar um entendimento para a diversidade alimentar do brasileiro com um reconhecimento patrimonial e de expressão de arte.  É preciso segundo Mário:” conhecer o Brasil pela sua cultura culinária”.

Nos movimentos intelectuais no Brasil nos anos 1920 fervem com os movimentos artísticos no mundo ocidental, vive-se  os “loucos anos 1920”e sem dúvida além e Paris  assinar a maioria destes movimentos a “paulicéia”,  também fala de modernidade e também Pernambuco conectado com a Europa  e com o Brasil regional.

   Nestes cenários ampliados sobre uma valorização integrada das comidas regionais é fortalecido com o entendimento de tradição e de modernidade a partir da multiculturalidade e da pluralidade das matrizes étnicas tradutoras dos nossos sistemas alimentares.  

As descobertas e a valorização presente das nossas comidas e trazem  no artigo de Mário de 1939 desejos de organizar e principalmente criar restaurantes de comida brasileira , inclusive em Nova York e em São Paulo. 

Na proximidade do lançamento do livro Açúcar de Gilberto Freyre, em 1939, Mário sensível aos temas de comer cita e olha para  o açúcar .

“(…)  a reserva de caloria ajudam grandemente a dar para o nosso corpo brasileiro um fogo mais permanente(…)’

E ainda sobre o açúcar ´e preciso mostrar que este produto é formador de uma verdadeira civilização com muitas formas e linguagens de manifestar o que Mário olha e a chama da “arte-fazer”.  

 Em “Tucupi no Tacacá´”, embora Mário tenha experimentado comidas  tradicionais do  Nordeste mostra uma preferência com as comidas da Amazônia.  . 

As aventuras etnográficas traçam muitas faces do Brasil e sem dúvida, o sentimento paulistano e modernista constroem elementos evidentes de filtro na exposição dos modos pessoais do fascínio de  de Mário com aa  etnografias das culturas populares.

São todos componentes de um projeto estético modernista que quer nas manifestações artísticas nacionais construir suas bases de mostrar um Brasil brasileiro e principalmente que busca o moderno. 

Creio que o que é exótico marca também este certo ‘purismo’ sobre o Brasil  dos povos tradicionais, idealizações do Brasil. 

Mário deslumbra-se na Amazonia, certamente são muitos os motivos , muitos encantamentos com a floresta ,  com as águas,  com os peixes,  com a mandioca interpretada no tucupi, na maniçoba , muitas maneiras de comer e de beber o Basil.

“Belém me entusiasma cada vez mais. O mercado estava hoje fantástico de tão acolhedor , Só aquela sensação do mungunzá sentado no chão (…) saia s fumaça branquinha do mungunzá branco branco. Tenho gozado demais Belém”   

Mário ainda na busca para mostrar a nossa culinária multicultural brasileira  diz : 

“O importante é que fundindo bases, princípios constitucionais de pratos asiáticos e condimentação africana, modificando nesse ou  naquele sentido pratos ibéricos, tínhamos chegado a uma cozinha original e inconfundível. E completa”.

Em Tucupi e Tacaca´, Mário revela-se nas descobertas dos temperos e dos novos sabores, em especial da comida da Bahia.

  “(…) o efó preparado à baiana, com muita pimenta é diluído no azeite de dendê, é tão brutalmente delirante que nem somos nós que o comemos, ele é que nos devora” . 

Ainda no Nordeste outras experiências estéticas e gastronômicas

“(…) o sururu alagoano bem como o dulcíssimo pitú nordestino são espécimes delicadíssimas de manjar”.

E ainda 

“Em geral a nossa culinária se dirige também pelas normas do belo”  E assim, Mário depara-se com a clássica feijoada 

“A feijoada, por exemplo em que o feijão deixa de ser propriamente a base .para se tornar a dissolvente das carnes fortes.”

O texto de Mário de Andrade no seu artigo ‘Tucupi no tacacá ´” ´e um  evidente revelar da formação cultural dos paladares, das maneiras de se relacionar com os novos temperos e usos de ingredientes traduzidos na diversidade multicultural brasileira  .

E assim diz :”Almoça-se pelo Brasil, mas  janta-se na Amazônia”.

Raul Lody é antropólogo

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