Já pensou em usar filtro solar antes de trabalhar no computador? Ou já passou por sua cabeça que o cansaço ou a insônia que você sente podem ser motivados pelo smartphone? E que jogos online são uma ferramenta importante nas sessões de psicoterapia? Pois é, as novas tecnologias invadiram o cotidiano trazendo transformações que impactam a saúde física e mental, e também as formas de tratamento.
Uma da consequências mais evidentes dessa realidade é a chamada “fadiga cognitiva”. Estudiosos como o filósifo alemão Harmut Rosa constatam que as recentes revoluções tecnológicas aceleraram o ritmo de vida. Muitos não conseguem se adaptar a essa velocidade, principalmente os migrantes digitais (que nasceram e cresceram antes da internet). E aí sentem-se cansados. “Isso nos desestabiliza bastante. Exige uma adaptação cognitiva”, analisa Véronique Donard, psicanalista, professora da Universidade Católica, membro do Grupo de Pesquisa Humanidades Digitais da Unicap.
Redes sociais e-mails tornaram-se alguns dos motivadores desse cansaço. “São ferramentas que exigem uma resposta imediata. Se você não responde em pouco tempo é como se estivesse em débito. O que torna o cotidiano fatigante”, constata Leopoldo Barbosa, psicólogo da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS).
A fadiga também acomete o homem pós-moderno porque as novas tecnologias aceleraram sua produtividade, mas não aumentaram suas horas de ócio. Véronique exemplifica apontando que hoje um funcionário produz um relatório no computador mais rapidamente do que na época da máquina de escrever. O problema é que ele terminará o trabalho e imediatamente fará outra atividade. “Por isso as pessoas se esgotam. A tecnologia ajuda, mas a possibilidade de conceber uma ideia ou texto burocrático é de uma pessoa só”, distingue a psicóloga.
Mas antes de demonizar computadores e gadgets (dispositivos portáteis como smartphones, tablets) pelos males que afetam a saúde é bom entender que a culpa não é deles.“As novas tecnologias são um instrumento para o bem viver, quem faz o mau viver somos nós”, alerta Véronique. Para a psicóloga devemos, na medida do possível, impor nosso ritmo. “Quem responde às mensagens somos nós, portanto, devemos responder no momento que considerarmos mais adequado”.
Muito se tem debatido também sobre as consequências das novas tecnologias no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Barbosa acha preocupante, por exemplo, o fato da garotada se acostumar aos textos breves e sem profundidade característicos da web. “Termina deixando o cérebro moldado a ler uma quantidade menor de informações. Muitos estudantes que se depararam com textos mais aprofundados reclamam”. O psicólogo também se preocupa com a valorização que eles dão para a quantidade de curtidas que recebem no Facebook. “Eles passam a se mensurar pelo número de pessoas que curtiram seu post”.
Véronique, no entanto, assegura que muitos dos males atribuídos às novas tecnologias são provenientes de dificuldades psicológicas preexistentes. O fato de a criança passar muito tempo nas redes sociais ou em jogos digitais, por exemplo, pode não configurar um problema. Mas se ela está solitária, triste, engordando, tirando notas ruins são um alerta para os pais. “Essa criança precisa ir ao psicólogo não por causa do jogo, mas pelo seu comportamento”, orienta.
Não se pode esquecer que por intermédio das redes sociais, as pessoas não estão sozinhas, estão em contatos outras pessoas e muitas têm recuperado o círculo de amizades antigas. Benefícios que não se restringem à geração digital. Barbosa destaca que muitos idosos se comunicam com amigos e familiares pelo Facebook ou WhatsApp e se sentem menos solitários e mais incluídos socialmente. E para os que pensam que games são brincadeiras inconsequentes, estudos mostram as vantagens desses jogos na saúde e no comportamento. Por meio deles, aprende-se a trabalhar em equipe, porque o jogador faz parte de uma comunidade digital, e a cumprir compromissos. “Se o adolescente acordou às 4 da manhã para jogar é porque ele marcou com seu time e está aprendendo a ser pontual”, pondera Véronique.
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Por Cláudia Santos