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Conexão Japão-Pernambuco

Revista algomais

Em um ano, os pernambucanos estarão com olhos atentos para a atuação dos atletas brasileiros nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Enquanto não começam as competições, é possível conhecer mais sobre a cultura nipônica – seus esportes, práticas religiosas, língua e até economia – aqui mesmo no Recife. A maior comunidade japonesa do Brasil está em São Paulo. Mas, apesar da distância geográfica entre o país asiático e Pernambuco, há algumas pontes culturais ainda presentes que foram construídas há décadas, no período pós-Segunda Guerra Mundial. Na capital pernambucana a comunidade nipônica mantém a prática do gateball, realiza suas meditações numa igreja oriental na Zona Oeste e possui um consulado atuante, divulgando a cultura e gerando oportunidades de negócios.

Nas proximidades do Terminal de Passageiros de Pernambuco (TIP) funciona a Associação Cultural Japonesa do Recife. Em torno de 130 famílias são associadas à entidade, entre japoneses, descendentes e brasileiros. Vários idosos se encontram semanalmente para praticar um esporte: o gateball.

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A modalidade, que lembra o críquete, foi criada em 1947 no Japão. Hoje ela está se enfraquecendo no país asiático, de acordo com o secretário da associação, Akira Yoda. Mas aqui, ela movimenta os associados pelo menos quatro vezes por semana e ainda há competições entre grupos de diferentes Estados do Brasil. Com paciência e precisão, os idosos vão dando as tacadas do gateball, que mais do que uma competição, é um passatempo para o grupo. Um ponto de encontro, do qual eles fazem questão de participar.

Na associação, há um conjunto de atividades que celebram a comunhão da comunidade e promovem a cultura do seu país, como cursos do idioma japonês, eventos com oficinas de origami e até um festival de yakisoba e karé (duas comidas típicas da gastronomia nipônica). O evento mais conhecido do grupo, porém, é a Feira Japonesa do Recife Antigo, que acontece no mês de novembro, na Rua do Bom Jesus, e é realizado em parceria com a Associação de Ex-bolsistas do Japão, o Consulado Japonês e a Prefeitura do Recife.

Outra instituição fincada no Recife e que quase passa despercebida da maioria dos recifenses é a Igreja Tenrikyo Hoyo do Nordeste. Situada no bairro do Bongi, seu prédio pode ser visto da Avenida Abdias de Carvalho, bem próximo ao restaurante Yoki Galetos. Essa é provavelmente a maior religião do mundo fundada por uma mulher, a camponesa Miki Nakayama. Há estimativas de que esse segmento religioso reúna no mundo cerca de dois milhões de seguidores, sendo 75% deles no próprio Japão.

“Como igreja completamos 40 anos no Recife. No Brasil ficou com essa denominação de igreja, mas a nossa natureza é mais de templo”, explica o condutor da Tenrikyo Hoyo na capital Pernambucana, Kazuyoshi Sakaguchi. Reúnem-se no espaço cerca de 150 pessoas. Dessa comunidade, praticamente dois terços já é composta por brasileiros, que se identificaram com a instituição. Os japoneses e descendentes representam em torno de um terço dos frequentadores do espaço.

Como um hub diplomático na região, o Recife abriga também o Consulado do Japão para o Nordeste, atualmente sob a direção do cônsul Jiro Maruhashi. O diplomata estima que Pernambuco tenha cerca de 400 japoneses e em torno de 30 mil nipo-brasileiros. Além da capital, há membros dessa comunidade oriental em Petrolina e em Bonito. Apesar da distância entre o Japão e Pernambuco, Maruhashi lembra que há algumas empresas japonesas em atividades no Estado, com destaque para a Musashi, fabricante de peças para automóveis, sediada em Igarassu; a Nissin, fábrica de alimentos, em Glória do Goitá; e a Niagro, uma agroindústria de produtos de acerola, em Petrolina.

Embora a principal atividade do consulado seja emitir os vistos dos brasileiros para o Japão, há um espaço nesse serviço para promover a relação entre a cultura japonesa e a brasileira. Com a proximidade das Olimpíadas, o consulado planeja realizar uma série de workshops e exposições, entre novembro e janeiro no Recife. “Neste ano realizaremos uma exposição de fotografia na Torre Malakoff sobre Tóquio, focando o aspecto antigo e o moderno. Apoiamos também atividades culturais, como a feira japonesa do Recife Antigo, e algumas ONGs em projetos comunitários sociais ligados a saúde e educação”, explica Jiro.

A chegada dos imigrantes japoneses em Pernambuco aconteceu principalmente nas décadas de 1950 e 60. Bonito foi o destino de Masakatsu Morimura. Ele chegou ao Brasil em 1956, instalando-se inicialmente no Rio Grande do Norte e, 10 anos depois, veio para Pernambuco. Ele ergueu a Fazenda Morimura, que se destacou na produção de alface, inhame, entre outras culturas. Hoje ele está aposentado e vive em Caruaru, sua fazenda foi em grande parte arrendada para antigos empregados, que o chamam de Seu Moura. Apenas um dos seus filhos segue na atividade agrícola na cidade.

O interesse pelo Brasil veio do cinema. Quando estudante, conheceu pelas telonas as imagens da Amazônia, dos Pampas Gaúchos, dos cafezais de São Paulo, do cangaço nordestino e do futebol no Maracanã. A vinda para cá, após a Segunda Guerra Mundial, teve como estímulo uma mudança política no seu país. Seu tio, que era agrônomo, perdeu as terras na reforma agrária do Japão.

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Masakatsu Morimura chegou no Brasil em 1956. Segundo o consulado do Japão no Recife, estima-se que Pernambuco tenha cerca de 400 japoneses e em torno de 30 mil nipo-brasileiros.

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“O país tinha saído da guerra, com milhões de mortos, acabaram as cidades de Hiroshima e Tóquio, e o governo estava ainda recuperando a economia. Eu pensava em trabalhar como comerciante. Mas fomos no setor de imigração do nosso país e meu pai conheceu uma oportunidade para vir para um projeto independente no Rio Grande do Norte. Fizemos um treinamento de uma semana e embarcamos no navio para o Brasil”, conta o japonês, que era filho de professores.

Saudosista, Morimura abriu o álbum de fotos antigas da sua família e relembrou a travessia de navio. Uma parada nos Estados Unidos nessa trajetória foi fundamental para uma das primeiras atividades agrícolas no Nordeste: a plantação dos melões “japoneses”. Ele contou que o navio recebeu uma remessa de melões na terra do Tio Sam para alimentar os passageiros, que guardaram as sementes e plantaram no Brasil. “Era um melão californiano, mas ficou conhecido no Brasil como melão japonês”, brincou o agricultor aposentado.

Em 1962, ele estava no Porto do Recife, descarregando melões, ficou sabendo da organização da Colônia Rio Bonito. Quatro anos depois, em 1966, ele veio para Pernambuco para plantar tomates na colônia. Outros imigrantes trabalhavam com flores e avicultura. Mas muitos integrantes dessa comunidade retornaram ao Japão após as crises econômicas dos Governos Sarney e Collor. Hoje poucos descendentes da colônia permanecem em atividades na cidade do Agreste.

Na próxima edição, vamos mostrar a influência da cultura pop japonesa no Recife.

*Por Rafael Dantas, repórter da Algomais (rafael@algomais.com)

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