Congresso internacional discute impactos da Covid-19 no futuro do tratamento oncológico - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Congresso internacional discute impactos da Covid-19 no futuro do tratamento oncológico

Rafael Dantas

É consenso entre os especialistas que a pandemia da Covid-19 terá um impacto em diversas outras áreas da saúde. O foco nas pesquisas para vencer o coronavírus, o isolamento social e a saturação nos sistemas de saúde pelo mundo são alguns dos fatores que vão mudar a realidade nos próximos anos, inclusive nas pesquisas, tratamentos e diagnósticos de câncer. Esses temas serão debatidos durante o Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, na sigla em inglês), considerado o mais importante congresso mundial sobre câncer, que acontece virtualmente neste final de semana (29 a 31/05).

Durante o evento, diversos painéis vão debater os últimos avanços da pesquisa clínica em oncologia, incluindo novas terapias, drogas e métodos diagnósticos. Reunidos por meio da plataforma digital, especialistas de todo o mundo também vão discutir e analisar como a pandemia vai afetar a doença no curto, no médio e no longo prazo.

“O isolamento fez com que muitas pessoas interrompessem, ou nem começassem seus tratamentos, por medo de contrair o novo coronavírus. Há relatos internacionais de que pacientes não puderam fazer o acompanhamento ideal, principalmente em hospitais que ficaram saturados com os pacientes da Covid. Também é possível prever que, globalmente, muitos diagnósticos serão feitos tardiamente, inclusive porque a ida aos médicos de rotina foi deixada para depois”, comenta a Bruno Ferrari, fundador e presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas.

O especialista lembra que a pandemia do COVID-19 está afetando profundamente o atendimento ao paciente e os resultados podem durar muito tempo após o término da crise. “Oncologistas e seus pacientes enfrentam neste momento o desafio de descobrir a melhor forma de combater os dois inimigos: o câncer e o coronavírus. É importante que essas dúvidas sejam compartilhadas e discutidas em todas as esferas para que possamos ter um olhar que não deixe de lado a linha de cuidado oncológico. O câncer não espera”, diz.

No Encontro da ASCO são apresentados anualmente estudos que transformam a prática clínica e mudam a maneira como devem ser tratados diferentes tipos de tumores. Também são mostradas pesquisas que apontam caminhos promissores, e eventualmente podem se confirmar no futuro como uma mudança de paradigmas no combate ao câncer. E neste ano, inevitavelmente a programação contará com espaço especial para debates sobre os impactos da Covid-19 no diagnóstico e tratamento do câncer.

“Há muitos e importantes aspectos a serem conversados. Trata-se de um desafio global. Milhares de pesquisas em andamento foram interrompidas e centenas de congressos científicos foram cancelados ou adiados em todo o mundo. Sem tempo para tais descobertas de evidências, iremos criar fluxos diferentes dos habituais para assegurar os tratamentos contra o câncer, propondo mudanças de condutas para preservar essa parcela da população imunossuprimida da contaminação pela COVID-19”, diz Clarissa Mathias, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e coordenadora do Comitê Internacional da ASCO.

No Brasil, estimativas das Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica indicam que desde o início da pandemia de Covid-19 no País, ao menos 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer. E só em abril, cerca de 70% das cirurgias de câncer foram adiadas. Os dados são resultado dos cancelamentos de procedimentos não urgentes, como exames, consultas e cirurgias, além da recusa de pacientes com a doença ou sintomas em procurar um hospital ou clínica por medo de contraírem o coronavírus.

“Muitas cirurgias foram adiadas e diagnósticos deixaram de ser feitos neste momento de crise na saúde mundial. Com isso, potencialmente poderemos ter como efeito avanços em casos da doença sendo descoberta em fases mais avançadas, o que impacta diretamente nas chances de resposta aos tratamentos no combate ao câncer”, reforça Clarissa, que também é oncologista do Grupo Oncoclínicas.

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