A proximidade do verão, período que marca a alta nas temperaturas em todo o país, acende um importante alerta: a exposição prolongada ao sol sem proteção adequada pode levar a consequências importantes à saúde. Além de causar o envelhecimento precoce, o contato direto com raios nocivos aumentam em até 10x o risco de câncer de pele, o mais incidente entre os brasileiros, correspondendo a um total que ultrapassa a marca de 185 mil novos casos a cada ano – cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
E apesar de uma considerável parcela da população acreditar que sabe lidar com o sol por viver em um país tropical, campanhas de conscientização como o Dezembro Laranja são essenciais para que informações precisas sejam transmitidas e assim seja possível reduzir os índices deste tipo de câncer, evitável na maioria das situações.
“Já são décadas de campanhas alertando sobre a necessidade de proteger a pele da exposição aos raios ultravioletas do sol – UVA e UVB – com filtro solar e com barreiras físicas, como roupas e chapéus, por exemplo. Mas ainda precisamos superar as barreiras da desinformação, especialmente sobre mitos em relação ao câncer, como, por exemplo, achar que apenas pessoas de pele clara têm risco aumentado de desenvolver a doença ou que o uso de protetor solar só é necessário em momentos de lazer, quando na verdade essa deveria ser parte da nossa rotina essencial diária”, diz o oncologista Bruno Ferrari, fundador e presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas.
E mesmo com os avanços da ciência e da medicina que garantem qualidade de vida e bem estar aos pacientes, o médico é categórico em afirmar que a melhor forma de combater o câncer de pele é a vigilância ativa para identificação de possíveis sinais de alerta e o foco na prevenção. Por isso, o Instituto Oncoclínicas – iniciativa do corpo clínico do Grupo Oncoclínicas para promoção à saúde, educação médica continuada e pesquisa – realiza neste mês uma série de ativações nas redes sociais para alertar sobre a importância dos cuidados com a pele como forma efetiva de achatar os índices de ocorrência da doença.
Com o mote “A melhor dica é viver bem”, a ação é direcionada à sociedade em geral, e ressalta uma importante informação: proteja sempre a pele contra os raios solares e busque aconselhamento especializado para que o diagnóstico aconteça o quanto antes.
Nem todo câncer de pele é igual
O oncologista Sergio Jobim Azevedo, líder do grupo de pele da Oncoclínicas, explica que existem dois tipos de câncer de pele: o melanoma e o não melanoma (o mais comum deles). Entre os sintomas do câncer de pele não-melanoma estão a presença de lesões cutâneas com crescimento rápido, feridas que não cicatrizam e que podem estar associadas a sangramento, coceira e algumas vezes dor. Esses sinais geralmente surgem em partes do corpo que costumam ficar mais expostas ao Sol, tais como rosto, pescoço e braços.
Já os indícios do câncer de pele do tipo melanoma – cuja incidência representa apenas 3% dos casos dos tumores de pele, mas com um grau elevado de agressividade, o que eleva suas chances de letalidade – costumam se manifestar através de pintas escuras que apresentam modificações ao longo do tempo.
“Esse tipo de tumor pode aparecer na pele ou mucosas, na forma de manchas, pintas ou sinais. Feita pela própria pessoa ou pelo profissional de saúde, a observação regular das pintas do nosso corpo permite identificar novos sinais ou mudanças previamente não existentes. Isto deve ser levado à atenção do médico para que, havendo necessidade, sejam realizados exames mais complexos e, assim, obter o diagnóstico necessário”, reforça Sergio Azevedo.
Pessoas com histórico familiar de melanoma e/ou que tenham um volume maior que 50 pintas pelo corpo também devem manter a vigilância ativa para controle dos riscos de desenvolver a doença. As alterações avaliadas como suspeitas são classificadas como “ABCDE” – Assimetria, Bordas irregulares, Cor, Diâmetro, Evolução.
“Quando descoberta em fase inicial, a indicação é que seja realizada a ressecção cirúrgica das lesões por especialista habilitado para adequada abordagem das margens ao redor do tumor. E isso vale tanto para os casos de câncer de pele melanoma como para os não-melanoma. A cirurgia de fato é capaz de resolver a maioria dos casos, fazendo com que quaisquer outros tratamentos complementares sejam raramente necessários”, reforça Sergio Azevedo.
Dependendo do subtipo, estágio e extensão da doença, o especialista conta que outras condutas de tratamentos podem ser empregadas. Em casos mais avançados e com metástase, especificamente de melanoma, a imunoterapia – uma medicação que ativa o sistema imunológico para que ele se torne capaz de combater as células malignas – tem provado ser uma alternativa com bons resultados para a qualidade de vida e bem estar dos pacientes. Outro tipo de intervenção nestes cenários avançados, para um número limitado de pacientes cujo melanoma apresenta uma mutação nos gene BRAF, é o uso de medicamentos orais que inibem a proliferação celular anormal.
Para esclarecer as dúvidas mais comuns sobre o câncer de pele, o oncologista da Oncoclínicas Sergio Azevedo comenta 12 mitos e verdades relacionados à doença:
1 – É preciso usar protetor em dias nublados.
Verdade. Os raios ultravioleta, principalmente o UVA, estão presentes na mesma intensidade em dias nublados, portanto, o uso de protetor solar é imprescindível.
2 – O risco é maior no verão.
Verdade. O que determina maior risco de incidência de câncer de pele é o índice ultravioleta (IUV), que mede o nível de radiação solar na superfície da Terra. Quanto mais alto, maior o risco de danos à pele. Esse índice é mais alto no verão, porém pode ser alto em outras épocas do ano.
3 – Existe exposição ao sol 100% segura.
Mito. É preciso evitar excessos e sempre tomar sol com moderação. E os cuidados devem ser seguidos o ano inteiro e vale intensificá-los no verão. Isso inclui evitar ao máximo se expor diretamente ao sol, em especial das 10 às 16 horas, sempre usar protetor solar e não abrir mão de viseiras, chapéus e/ou bonés, bem como roupas e óculos de sol com proteção UV, em momentos de exposição mais intensa aos raios, como durante a prática de esportes ao ar livre ou descanso em locais como parques, clubes e praias, além de muito protetor solar com diferentes aplicações ao longo do dia.
4 – Quem tem pele, cabelo e olhos claros corre maior risco de ter câncer de pele.
Verdade. Mas atenção: isso não significa que quem possui características diferentes destas está imune ao câncer de pele. De fato as pessoas que produzem mais melanina (pigmento responsável pela cor da pele) têm com isso um fator de proteção extra à pele, que a torna menos vulnerável. Contudo, a regra vale para todos os indivíduos: é preciso se proteger e sempre usar protetor solar nas áreas expostas ao sol.
5 – Negros não precisam usar protetor solar.
Mito. Independentemente da cor da pele, todas as pessoas têm de usar protetor solar para se proteger. Apesar de o câncer de pele ser menos comum entre pessoas com maior quantidade de melanina presente na pele – o que confere uma fotoproteção natural, aumentando a resistência cutânea a esse tipo de dano causado pelo sol -, isso não as torna imunes ao carcinoma espinocelular, carcinoma basocelular e o melanoma. Por isso, a regra vale para todos os indivíduos: evite ao máximo a exposição desprotegida ao sol ou por fontes artificiais.
6 – Toda pinta escura é câncer de pele.
Mito. A pinta precisa ser examinada pelo médico do paciente ou dermatologista para avaliação. Somente após esta avaliação o especialista indicará a retirada ou não da pinta. É preciso atenção com pintas que coçam, que crescem, que sangram. Um jeito de identificar se uma pinta ou mancha pode representar algum perigo é utilizar a escala do ABCDE:
A de assimetria entre as metades da mancha
B de bordas irregulares
C de cores, que avalia a variação da coloração
D de diâmetro
E de evolução (mudança no padrão de cor, crescimento, coceira e sangramento)
7 – Na sombra não é preciso usar filtro solar.
Mito. Mesmo na sombra é preciso passar o protetor solar, pois não estamos livres dos raios ultravioleta.
8 – Câncer não-melanoma pode evoluir para melanoma.
Mito. São lesões distintas. Mas quando a pessoa tem um câncer não-melanoma é sinal de que abusou do sol e que também poderá ter um melanoma, então precisa ficar sempre atenta.
9 – Melanoma não tem cura.
Mito. O importante é o diagnóstico em estágios iniciais, quando os tratamentos são mais eficientes. Hoje já há tratamentos inclusive para estágios mais avançados, com excelentes resultados para casos metastáticos a partir da inclusão do uso de imunoterápicos e dos medicamentos orais alvo-direcionados, mas quanto antes o problema for identificado e começar o tratamento, melhor.
10 – Somente regiões expostas diretamente ao sol podem ser afetadas.
Mito. A maioria dos tipos câncer de pele (não melanoma e melanoma) de fato tem uma relação de risco de surgimento aumentada devido aos impactos do sol. Mas vale lembrar que os raios ultravioleta que causam danos à pele são capazes de atravessar janelas e até mesmo o concreto. Um alerta: alguns subtipos de melanomas podem surgir em áreas do corpo que muitas vezes não observamos com a devida cautela, como genitais, glúteos, couro cabeludo, palmas das mãos, solas do pé, debaixo das unhas e entre os dedos.
11 – Câmaras de bronzeamento são 100% seguras.
Mito. No Brasil, este tipo de bronzeamento é proibido, assim como em outros países, justamente pelo alto risco que oferecem. As câmaras de bronzeamento não são seguras, causam câncer e melanoma. Portanto, não devem ser usadas ou permitidas existir.
12 – Quem tem muitas pintas ou histórico familiar de câncer de pele corre mais riscos.
Verdade. Pessoas com histórico familiar da doença ou que tenham de 50 a 100 pintas no corpo devem ser avaliadas com maior frequência e também têm de redobrar os cuidados com a proteção adequada, usando sempre filtro solar e se expondo ao sol com moderação.