Natural do bairro de Dois Unidos, na periferia da Zona Norte do Recife, Simony César criou uma solução para um problema que ela vivenciou de perto desde cedo: o assédio às mulheres no transporte público. Simony é filha de uma ex-cobradora de ônibus. Na sua família várias pessoas trabalham nos coletivos do Recife. Quando ela mesma trabalhou numa empresa do setor, por um breve tempo, viu como as denúncias abertas pelas passageiras eram ignoradas.
Na universidade, a indignação com o silêncio diante da violência contra as mulheres nos ônibus se transformou em pesquisa e em um serviço, que atende pelo nome de Nina. Ela conseguiu uma publicação científica no Congresso Cybercultura, o que validou cientificamente sua ideia inicial. Após os primeiros passos na academia, o projeto foi aprovado em um edital de empreendedorismo social da RedBull. “Eu queria entender como a violência de gênero na mobilidade urbana é um fator impeditivo para acesso e manutenção das mulheres no curso superior. Uma amiga sugeriu criarmos um produto viável. Fizemos um app para que as mulheres denunciassem o assédio no campus. Depois dessa experiência, percebemos que precisávamos criar uma tecnologia que viesse integrada em aplicativos e não desenvolver um app”, explica Simony.
O projeto foi escolhido pela Toyota Mobility Fondation para receber apoio financeiro e institucional. Com a tecnologia desenvolvida, foi a capital cearense o local escolhido para aplicar a solução. E o Nina foi embarcado no aplicativo Meu Ônibus Fortaleza. Ao apertar um botão no app, as passageiras abrem um alerta e a empresa é obrigada a emitir as imagens do horário da ocorrência do assédio para a Polícia Civil em até 72h. Simony lembra que o serviço não é só de tecnologia. “Temos duas frentes, a tecnologia e a consultoria para mobilidade e gênero. Costuramos toda a política pública para depois integrar a solução tecnológica”. Com as notificações, há um mapa de informações que passam a ser acessadas pela Prefeitura de Fortaleza para combater a violência contra as mulheres.
Essa solução, que nasceu na academia e já está em uso na vida real, chamou a atenção da Forbes. E no dia 31 de dezembro a versão digital da lista começou a circular com o nome da pernambucana. “Isso nunca tinha sido um sonho para mim, nem imaginava a repercussão que veio após a divulgação”, surpreende-se Simony. A jovem pretende levar a Nina para outros estados e até países. A startup planeja também criar um selo de cidades seguras para mulheres.
Há uma expectativa de implantação do sistema em Pernambuco. O secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Marcelo Bruto, afirmou em entrevista à Algomais que o Governo do Estado tem interesse no sistema e está em fase final de desenvolvimento do sistema operacional da frota de transporte (Simop). “Queremos finalizar o Simop no primeiro semestre. Estamos discutindo um plano de trabalho e forma de financiamento. Temos todo desejo de integrar essa tecnologia e tê-la presente dentro do Simob e também no protocolo de atendimento às denúncias e ocorrências da SDS e da Secretaria da Mulher. Estamos numa fase dessa de entendimento e desenho dos protocolos e operação, ao mesmo tempo discutindo condições de financiamento para fechar essa equação. Esperamos que ainda durante o ano conseguirmos esse resultado”.
Mais 5 cidades iniciaram os trâmites para implantação da nossa tecnologia em 2020. De acordo com Simony, que tem circulado o mundo discutindo o tema da violência contra mulher no transporte público e apresentado a solução do Nina, há possibilidade de levar a tecnologia e a consultoria do Nina também para outros Países. Um projeto em fase inicial ainda com a MAN, empresa do grupo Volkswagen que produz caminhões e ônibus, estudar a possibilidade da tecnologia da Nina ser embarcada de fábrica nos ônibus da marca, inicialmente na África do Sul.
“A Nina quer garantir a cidade segura para as mulheres!”, afirmou a empreendedora.
Mais informações sobre o Nina pelo site: portal.ninamob.com. Para acompanhar os passos de Simony, o perfil no Linkedin é www.linkedin.com/in/simonycesar