Do Sistema OCB
Faz quase uma semana que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou a queda da Taxa Básica Juros (Selic) para 2,25% ao ano, e a medida tem despertado a preocupação das instituições financeiras quanto à redução do seu spread. Ao mesmo tempo, a população vê os seus investimentos com possibilidades ainda menores de rendimentos, o que contrasta com as oportunidades do atual cenário para o cooperativismo de crédito, que conta com mais de 900 cooperativas no Brasil, quase 10 milhões de associados e 68 mil empregados. As cooperativas financeiras possuem muitas opções de aplicação para garantir rendimentos mesmo no período desfavorável.
O Recibo de Depósito Cooperativo (RDC), por exemplo, remunera mais do que a poupança, e é um fundo de renda fixa restrito a associados. Quanto maior a aplicação realizada, maior também a participação nos resultados. Ao se associar a uma cooperativa, o interessado investe um valor mínimo em uma cota parte e passa a ser um dos donos do empreendimento, fazendo jus ao retorno das aplicações, como o RDC, de forma proporcional. Outras formas de garantir rendimentos para os cooperados, por exemplo, são as bandeiras dos cartões de crédito, que remuneram as instituições financeiras em 1% do valor pago por cada cliente. Em se tratando de um banco, esse dinheiro segue para os donos da instituição financeira, mas, no caso da cooperativa de Crédito, os donos são os próprios associados e os recursos retornam para ele.
Para Giovanni Prado, diretor executivo da Sicredi Pernambucred, cooperativa com sede no Recife, que conta com mais de 20 mil associados, o cooperativismo de Crédito tem se mostrado hábil neste momento de crise. “A cooperativa trabalha diretamente ligada ao associado. Temos cooperados que estão querendo alavancar um negócio e precisam de dinheiro e temos aqueles que querem aplicar os excedentes na cooperativa. As duas partes ganham. Além disso, temos um spread pequeno e despesas administrativas enxutas e, depois de pagar aos associados, os resultados são devolvidos para todos os sócios”, frisou.
Os cooperados também contribuem para o crescimento de suas cooperativas ao utilizarem os serviços oferecidos. No caso de boletos, por exemplo, as instituições que recebem o pagamento do cliente em suas agências ganham um percentual da entidade emissora do título por isso. Quanto mais os associados pagarem seus boletos na cooperativa, mais recursos irão para os resultados do empreendimento cooperativista e eles, consequentemente, serão remunerados. “O mercado financeiro é um mundo de oportunidades, porque, na cooperativa, não há somente operações de crédito e investimentos, há uma gama de serviços financeiros que também vão rentabilizar o associado. Em 2019, tivemos R$ 13 milhões em resultados, cuja distribuição será decidida pelos cooperados em assembleia. Um outro destaque é que o dinheiro fica na área de atuação da cooperativa, em Pernambuco”, concluiu.
Para o diretor da RM Consultoria e professor convidado do MBA em Gestão de Cooperativas de Crédito (Pecege-Esalq/USP), Roberto Marchelli, existem também outras oportunidades com a queda da taxa Selic, a exemplo do investimento na intercooperação, sexto princípio do cooperativismo. “Com essa queda e na situação que estamos vivendo hoje, os bancos estão restringindo muito o acesso ao crédito, então, as demais cooperativas (de outros Ramos) que necessitam de recursos financeiros, com certeza, estão passando por algum tipo de dificuldade. Uma parceria interessante é as cooperativas de Crédito se tornarem um braço financeiro eficaz para outras cooperativas”, frisou.
É na Assembleia Geral Ordinária (AGO) que os sócios da cooperativa determinam o destino dos resultados do exercício anterior e qual o percentual que será reinvestido no negócio. Com a prorrogação das assembleias ordinárias para o final do mês de julho, incluindo também as cooperativas de Crédito, é possível aproveitar o momento assemblear para incluir questões importantes sobre o crédito na ordem do dia. “É importante avaliar se a cooperativa tem condições de suportar eventuais inadimplências que podem ocorrer. Se a cooperativa não tem reserva legal suficiente, seria interessante destinar a maior parte dos resultados para essa finalidade”, concluiu Marchelli, referindo-se ao fundo instituído pela lei 5.764/1971, que deve ser composto por, no mínimo 10% das sobras líquidas.
Diante não apenas da redução histórica da Selic, mas também no que concerne ao atual contexto da pandemia, nunca se fez tão necessário o conhecimento acerca da educação financeira. Muitas pessoas estão atravessando dificuldades ainda maiores por não possuírem um orçamento familiar e nem uma reserva de emergência. Por isso, no âmbito do cooperativismo e seus princípios, a educação financeira tem se tornado tão importante, sendo oferecida também no rol de capacitações do Serviço Nacional de Aprendizagem ao Cooperativismo (Sescoop). “Já existem cooperativas de Crédito no Brasil adotando linha de crédito com taxa diferenciada para cooperados que passam por algum programa de formação de educação financeira e educação cooperativista. Essa é uma pegada legal que as cooperativas de crédito precisam adotar em nível nacional, atuando como cooperativa. Não apenas oferecendo crédito, mas ensinando o cooperado como ele deve utilizá-lo”, concluiu Marchelli.