No início da pandemia, existiam dúvidas de que as lentes de contato poderiam ser inseguras e seu uso deveria ser evitado. Mas, estudos recentes têm mostrado que quem as utiliza não tem mais chance de ser infectado do que pessoas que usam óculos. “Como os usuários de lentes de contato estão mais predispostos a desenvolver quadros inflamatórios e alérgicos, a orientação era manter uma rotina rígida de higienização, pois sendo a Covid-19 transmitida pelo contato com as mãos, considerávamos que poderiam infectar as lentes no processo de colocá-las ou removê-las do olho”, explica o oftalmologista José de Barros, especialista em lentes de contato, no Instituto de Olhos do Recife – IOR.
Entretanto, a frequência da conjuntivite em pacientes com coronavírus tem se provado baixa, sendo menor que 3%. Estudo realizado pelo Center for Ocular Research and Education (CORE), em Ontário, no Canadá, demonstrou pouca incidência da Covid-19 no filme lacrimal, sendo baixo o risco de transmissão por meio das lágrimas. A pesquisa também provou que a probabilidade de contaminação das lentes de contato é mínima. “O olho é dificilmente envolvido na infecção por Covid, portanto, as lentes são uma forma de correção ótica bem segura”, confirma Barros.
Outra dúvida era se haveria diferença de risco de infecção, de acordo com os materiais das lentes disponíveis no mercado. “Ainda não temos estudos conclusivos a esse respeito. É necessário investigar melhor a interação do vírus com a matéria prima das lentes”, comenta o oftalmologista. No entanto, as lentes de descarte diário podem ser a melhor opção neste período pandêmico. Já quem estiver com coronavírus, deve suspender imediatamente o uso de lentes de contato.
O aumento no uso de lentes de contato é mais uma tendência identificada, na pandemia. Pesquisa realizada pelo Instituto Penido Burnier, em Campinas (SP), com usuários de óculos de grau constatou que houve um incremento de 10% no número de pessoas que passaram a usar lentes de contato. “Segundo esse trabalho, um dos motivos que levaram os pacientes a deixarem os óculos de lado e migrarem para as lentes é o embaçamento dos óculos pelo ato de respirar com máscara”, explica o doutor Barros.
A adesão também tem sido incentivada pelo aumento da incidência de pessoas míopes. “São pacientes que apresentaram um início ou uma piora na miopia, atribuídos ao uso prolongado de eletroeletrônicos. Ou seja, são novos usuários que antes não precisavam de correção e agora precisam, e muitas vezes acabam optando pelas lentes de contato”, comenta.
HIGIENIZAÇÃO – Seja qual for o motivo para o uso de lentes, Barros frisa a necessidade de manter uma boa higiene. “O mau uso das lentes é ainda a maior causa de contaminação da córnea no mundo. Mais de 60% dos casos ocorrem por má higienização, armazenamento incorreto e uso fora da validade”, alerta. Por isso, e apesar do risco reduzido de infecção pela Covid, todo cuidado é pouco. “O paciente deve manter o hábito de lavar as mãos com água e sabonete neutro ou antibacteriano e secá-las bem, antes e após a retirada das lentes e sempre que tocar em qualquer superfície. Essa prática é muito eficiente e diminui o risco de contaminação por microrganismos”, reforça.
Outro vilão que pode facilitar o contágio é o ar-condicionado. “O uso intensivo de refrigeração, pode causar o ressecamento da lágrima e facilitar a infecção. Quem não tiver como escapar de ambientes refrigerados, deve dar preferência às lentes esclerais, que cobrem uma área maior do olho e diminuem o ressecamento da lágrima”, orienta o oftalmologista.
Confira dicas para o uso correto de lentes de contato e evitar a contaminação:
– Comece a higiene sempre pelo mesmo olho, pois cada um tem sua própria prescrição
– Se usar lentes de troca programada, limpe-as imediatamente após sua remoção
– Se as lentes forem descartáveis, jogue no lixo assim que as retirar
– Siga as orientações do seu oftalmologista para desinfectar as lentes
– Nunca use água da torneira para limpar as lentes ou o estojo
– Siga as instruções de uso da solução para desinfectar as lentes
– Lave o estojo semanalmente e troque-o por um novo a cada três ou quatro meses
– Mantenha limpo o local onde você manuseia as lentes
– Evite dormir com as lentes de contato
– Evite usá-las na praia
– Nunca entre na piscina ou no mar com lentes de contato
– Use colírios lubrificantes, no horário e período indicados pelo seu oftalmologista
O doutor José de Barros lembra ainda que os usuários de lentes de contato devem fazer revisões periódicas, de acordo com os prazos orientados pelo seu oftalmologista.