Crítica: Maquiavel, a democracia e o Brasil - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Crítica: Maquiavel, a democracia e o Brasil

Revista algomais

*Por Rafael Dantas

O mais recente livro de Renato Janine Ribeiro, Maquiavel, a democracia e o Brasil (pela Edições Sesc São Paulo e pela Editora Estação Liberdade), faz um mergulho nos conceitos do clássico O Príncipe e apresenta uma série de reflexões sobre a democracia brasileira atual. As rupturas e continuidades entre o contexto das monarquias e da idade média e o atual momento político ganham dimensões bem diferentes, respondendo a percepções sociais quase que opostas sobre a legitimidade e perspectiva de poder dos seus governantes.

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A análise de fatos passados nos principados italianos e em algumas monarquias e a comparação com as práticas de poder político no Brasil desde a redemocratização até o governo Bolsonaro são observados pelo autor sobre as lentes da fortuna e de virtù, ambas tratadas por Maquiavel.

Destaque para o debate sobre o papel e a atuação das instituições que atuam na democracia e limitam o poder do governante. Afinal, qual o papel delas na transição para mudanças esperadas na sociedade ou para a continuidade do contexto social presente? O autor compreende que as instituições assumem uma relevância diferente quando se trata de países mais desenvolvidos e quando em questão está um Estado com intensas desigualdades socioeconômicas estruturais, como é o caso brasileiro.

Em ambos os contextos e nos diferentes períodos em que os conceitos de Maquiavel podem ser estudados, Janine considera que uma questão transversal é a da legitimidade. Eis uma temática extremamente atual no Brasil e em outros países mesmo com longas experiências democráticas. A crise da legitimidade, que ganhou volume com a disseminação das novas tecnologias digitais, é um dos desafios intensos do panorama político nacional e internacional há alguns anos.

Janine faz uma leitura histórica dos presidentes brasileiros, traduzindo suas trajetórias de acesso ao poder e de governabilidade por esses dois conceitos: a fortuna e a virtú. Como se mantiveram na gestão até o final de seus mandatos e como conseguiram vencer as eleições. Alguns chegando ao poder pela fortuna e governando com a vírtu , por exemplo. Outras experiências ascendendo e governando através da virtú. O autor não se esquiva de classificar os nossos presidentes. Trata-se de um breve passeio pela nossa lista de ex-presidentes, mas com a lente dessa percepção de Maquiavel.

QUEM É RENATO JANINE RIBEIRO?

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo (USP), na qual se doutorou após defender mestrado na Universidade de Paris I (Pantheon-Sorbonne), França. Tem-se dedicado à análise de temas como o caráter teatral da representação política, a ideia de revolução, a democracia, a república e a cultura política brasileira. Foi ministro da Educação no governo Dilma Rousseff e, em 2021, eleito presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Entre suas obras destacam-se A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil (2000, Prêmio Jabuti de 2001) e A boa política: ensaios sobre a democracia na era da internet (2017), ambas pela Companhia das Letras, além de A pátria educadora em colapso (Três Estrelas, 2018). Pela Estação Liberdade, no fim de 2021, publicou Duas ideias filosóficas e a pandemia.

ONDE ADQUIRIR O LIVRO?

O livro pode ser adquirido pelo site da editora Sesc São Paulo

*Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais e assina as colunas Gente & Negócios e Pernambuco Antigamente. Com especialização em Gestão Pública, ele é mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (rafael@algomais.com)

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