Crítica: Nordeste 1817 – Estruturas e argumentos – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Crítica: Nordeste 1817 – Estruturas e argumentos

*Por Rafael Dantas

Publicado em 1971, o livro “Nordeste 1817 – Estruturas e argumentos” foi reeditado pela Edições Sesc São Paulo e a Editora Perspectiva neste ano em que celebramos e refletimos sobre o bicentenário da Independência do Brasil. A obra de Carlos Guilherme Mota resgata não apenas os acontecimentos dessa insurreição que pressionou Dom João VI, como traz um panorama do pensamento que circulava na região Nordeste na época. Afinal, quais os ideais que impulsionaram um movimento tão forte contra a Coroa Portuguesa na segunda década daquele século?

Com um rigor acadêmico e metodológico, o autor reuniu vários textos históricos de acervos brasileiros e portugueses para ler o contexto socioeconômico do Nordeste da época, as influências políticas do mundo que sopraram na formação do pensamento das lideranças da região e as particularidades do efervescente ano de 1817, que teve desdobramentos em movimentos que eclodiram também anos após, especialmente em 1821 e em 1824.

A obra integra um conjunto de publicações do bicentenário que expõem um cenário muito mais amplo que o ato do Grito da Independência. “Nordeste 1817 – Estruturas e argumentos” detalha a forma como os motins que estouraram em Pernambuco, mas também no Maranhão, Bahia e Minas Gerais, costuraram o cenário que levaria à emancipação política brasileira.

A reflexão acerca do pensamento corrente do século 19 é uma das grandes contribuições dessa obra. Carlos Guilherme Mota escreve que a insurreição de 1817 inaugurou uma linhagem de pensamento que ele denomina de reformista. “Tal linhagem situa-se a meio do caminho entre as formas de pensamento revolucionárias e aquelas tradicionais do sistema colonial. (…) O movimento insurrecional eclodido ganhou facilmente as ruas, o litoral, o sertão: impôs-se como uma realidade inapelável, e muitos foram os que temeram, por exemplo, que os acontecimentos da Revolução da Ilha de São Domingos, se repetissem no Nordeste brasileiro, fazendo subir a maré da escravaria” (p. 175).

Nas palavras do historiador, havia um tumulto de ideias difícil de ser simplificado, mas responsável pela contestação e abalo das estruturas do governo colonial no Brasil.

O federalismo, o liberalismo, o sentimento reformista, a insatisfação com a crise econômica que abateu a região diante da concorrência do mercado internacional… muitos foram os combustíveis e comburentes que levaram a tomada do governo pelos revolucionários e a queda poucos meses após. Ainda que derrotados pelas tropas do militar Luís do Rego Barreto, nem Pernambuco, nem o Brasil seriam os mesmos após o movimento de 1817.

O livro Nordeste 1817 – Estruturas e argumentos (320 páginas) contou com prefácio do professor da UFPE, Antônio Jorge Siqueira e pode ser adquirido no site da Editora Perspectivas por R$ 70.

*Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais e assina as colunas Gente & Negócios e Pernambuco Antigamente (rafael@algomais.com | rafaeldantas.jornalista@gmail.com)

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