Era uma luta. Travada em vários ringues e rounds. Esse negócio de dançar solto, que nem hoje, um fazendo moganga na frente do outro, é fácil. Quero ver dançar junto (agarradinho, então, nem se fala) como era naquele tempo.
Um pro lado, dois pro outro e uma voltinha. Samba-canção e bolero. No ritmo. Conduzindo a dama. Sem lhe pisar o pé – o que seria uma tragédia. Mas, entre todas as tragédias, a da pisadela não era a maior. Maior, muito maior, era que a moça, ao ser tirada para dançar, estava sentada à mesa e se, ao levantar, fosse mais alta do que eu? Também era possível, e, por vezes, até, previsível, levar um golpe certeiro: o corte. “Dança comigo?” “Não, obrigada.”
A turma da Rua Nicarágua (meu irmão Caio, Zé Fernando, Bel e Arlindinho) ia pras festas e eu ia na onda (melhor, ia à luta). Português, Internacional, América, Náutico e Iate, porque ficavam perto de casa. No Carnaval, também Atlético, Aeroclube e Cabanga. Ninguém era sócio de nenhum deles. Nem tinha grana para comprar ingresso. Mas a gente ia.
“Não sei dançar”, confessou Manuel Bandeira num poema. “Uns tomam éter, outros cocaína.” A gente tomava conhaque Dreher e rebatia com chope, dois ou três, num bar dos Quatro Cantos, nas Graças, como preparação para enfrentar a entrada nos clubes – cada caso era um caso e só se sabia como resolver quando chegava lá, à porta – e coragem para tirar as meninas para dançar. Haja coragem!
Lembro-me de duas vezes que a gente não conseguiu entrar. Melhor, entrou e teve que sair. Uma, no Aeroclube, pelo mangue. Sapatos na mão e calças arregaçadas. Mas era tanta lama nas pernas, sem ter onde lavar, que desistimos. Outra, no América. Quando pulamos o muro lateral, estávamos a poucos metros de uma guarnição da Rádio Patrulha. “Vocês vão sair por onde entraram” – disse o sargento. Ora, para entrar, a gente tinha pulado por cima do arame farpado que havia por toda a extensão do muro. “Voltar? Nem James Bond” – disse eu. O sargento riu. E nós saímos humildemente pela porta da frente.
Mas o baixinho aqui tinha suas estratégias antes de tirar uma moça para dançar. Sentava numa cadeira à distância e tentava calcular a altura da dama pretendida. Devo, porém, confessar: não raro, meus um metro e 66 centímetros eram fragorosamente batidos por um reles salto 7¹/². Ou um cabelo armado com laquê.
Verão de lascar. Terno de tropical azul-marinho ou preto, camisa social e gravata. Conhaque Dreher e chope. Tensão. “Será que ela é mais alta do que eu?” “E se me der um corte?” “E se eu pisar no pé dela?” “E se ela usar o para-choque (a mão esquerda na clavícula da gente para manter a distância)?” “E se...” “E se...” O resultado era uma suadeira danada. Suava tanto que, muitas vezes, era eu que pedia pra parar.
Dançar coladinho hoje? Nem pensar! A gente pode ser processado por assédio. Segundo o cronista Mário Prata:
“Se colar a parte de baixo, é baixaria.