*Por Luciana Almeida
A presença das mulheres no mercado de trabalho ainda enfrenta uma série de desafios significativos. Um estudo realizado após o período de pandemia pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelou que as mulheres retrocederam mais de três décadas em termos de participação no mercado de trabalho. Esse retrocesso é atribuído ao fato de que, em momentos de crise, são as mulheres que muitas vezes sacrificam seus empregos para assumir as responsabilidades domésticas e familiares, além de terem muita dificuldade com rede de apoio e suporte. Este fenômeno está intimamente ligado à economia do cuidado, ou seja, ao trabalho invisível realizado pelas mulheres, que consome muito mais tempo do que uma jornada de trabalho convencional de 44 horas por semana. Infelizmente, esse trabalho não recebe o reconhecimento merecido e raramente é remunerado.
Dados de pesquisas da Oxfam (2020) revelam que se o trabalho doméstico fosse remunerado, isso representaria uma injeção de dinheiro na economia equivalente a trilhões de reais ao ano. No entanto, a realidade está muito distante desse cenário. Nossa cultura ainda perpetua a ideia de que cabe exclusivamente às mulheres a responsabilidade de cuidar do lar e da família. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou dados alarmantes, indicando que 86% das jovens entre 14 e 24 anos são encarregadas das tarefas domésticas e do cuidado com a família. Essas jovens, no futuro, enfrentarão dificuldades para se afastar desse papel de cuidadoras, podendo sentir-se culpadas por se dedicarem ao trabalho fora de casa e deixarem seus filhos aos cuidados de terceiros.
Por outro lado, os homens experimentam uma realidade muito diferente. Apenas aqueles que optam por morar sozinhos passam a gastar mais tempo com as responsabilidades domésticas, já que não têm a quem delegar essas tarefas. É crucial que comecemos a desconstruir essa realidade e a mudar essa cultura. Isso requer não apenas uma mudança social mas, também, uma mudança de mentalidade entre as próprias mulheres.
Durante muito tempo, acreditou-se que as mulheres precisavam desempenhar todos os papéis atribuídos a elas para alcançar sucesso e reconhecimento, incluindo cuidar da casa, da família, ser uma esposa exemplar, ter uma vida social ativa e ainda assim manter uma carreira profissional. Esse ideal levou as mulheres a um estado de exaustão e sobrecarga insustentáveis. No entanto, é hora de repensarmos esses padrões e valorizar nossos desafios como únicos e distintos dos enfrentados por outros grupos.
Além disso, é fundamental que a sociedade e as empresas estejam mais preparadas para acolher as mulheres em seus ambientes. Isso implica em desmistificar e eliminar alguns preconceitos comuns existentes nesses ambientes de trabalho e também revisar suas práticas institucionais. A inclusão das mulheres é um investimento crucial em diversidade, impulsionando a inovação e a produtividade. Alguns preconceitos que ainda atrapalham o ingresso das mulheres no mercado dizem respeito diretamente a essa cultura do cuidado, ou seja, estão ligados à maternidade, tempo dedicado ao cuidado com filhos e afazeres domésticos. Outra dificuldade comumente encontrada pelas mulheres é lidar com eventuais microagressões que perturbam a segurança e autoestima no dia a dia e que são vistas por muitos como “brincadeiras” (de muito mau gosto, diga-se de passagem).
Em termos de práticas empresariais, a flexibilidade de horários, o trabalho híbrido ou home office e o investimento em programas de desenvolvimento de carreira para mulheres são fundamentais. Dados mostram que, uma vez dentro do mercado de trabalho, elas enfrentam dificuldades adicionais para progredir e alcançar cargos de liderança.
Em conclusão, a luta das mulheres no mercado de trabalho é uma batalha por igualdade e reconhecimento justo de suas contribuições. Superar os desafios que enfrentam requer não apenas ação social e mudanças estruturais mas, também, uma revisão profunda de nossas próprias percepções e expectativas sobre o papel das mulheres na sociedade. À medida que avançamos para um futuro mais inclusivo e equitativo, é imperativo que todos, indivíduos e instituições, trabalhem juntos para criar um ambiente onde o talento e o potencial das mulheres sejam valorizados e cultivados plenamente. Só então poderemos alcançar verdadeira igualdade de oportunidades e um mundo onde todos possam prosperar, independentemente de gênero.
Luciana Almeida é sócia da TGI Consultoria