Ninguém me disse. Observei, investiguei e descobri. E minha esperança é que os arqueólogos-antropólogos-culturais-esportivos do Recife me deem o devido crédito.
Antes de mais nada, quando tudo começou. Início dos anos 50. Época em que o bom-humor reinava entre os torcedores de futebol. A regra era tirar sarro, botar apelido nos jogadores, gozar derrotas e placares. Adversários. E não inimigos.
A sede do Náutico pegou fogo. Com doações da torcida, construíram outra; a que taí até hoje, nos Aflitos. Tricolores (entre os quais me incluo) e rubro-negros, com certa inveja, reconheço, apelidaram-na de “Maternidade do Náutico”. Como os alvirrubros eram chamados de “pó de arroz”, eu – e muita gente, acho – pensava que “maternidade” aludia apenas à pseudo-feminilidade da torcida. Também é verdade. Essa a intenção. Mas, por que maternidade? A ficha só caiu agora, 50 anos depois.
A sede do Náutico, Art Déco, foi projetada pelo engenheiro-arquiteto Heitor Maia Filho. Pois bem. Na praça Chora Menino, havia a Clínica Arthur Moura. Projetada pelo mesmo Heitor. E, também, Art Déco. Uma parecia com a outra.
De clínica hospitalar (operava ouvido, nariz e garganta) pra maternidade, ficou por conta da maledicência de tricolores e rubro-negros. Taí, pois, a origem da brincadeira, Maternidade do Náutico. (Tese sujeita às chuvas e trovoadas de historiadores, arquitetos e, sobretudo, alvirrubros de plantão.)
E, por falar em futebol, falo agora dos legados da última Copa. Assisti aos jogos num bar. Quase ninguém sabia nada sobre a Rússia de hoje. Para alguns, ainda Cortina de Ferro. Apelido dado por Churchill. E que pegou mundo afora, até a Perestroika e Glasnost de Gorbachev.
Mais do que surpresa, a plateia no bar estava perplexa. As reportagens mostravam cidades belíssimas, limpas e organizadas; povo bonito, saudável e alegre nas ruas. Tecnologia por toda parte. E bem que câmeras e repórteres investigativos tentaram, a todo custo e distância, descobrir contrastes sociais. Mas, qu’eu tenha visto, não acharam nada nem de longe parecido com o que se vê no Bronx, em N.Y., e muito menos nas periferias brasileiras.
Entrevistado numa feira de São Petersburgo, um alegre velhinho, bem vestido e com todos os dentes, tocava sua sanfona de oito baixos (parecida com a de Januário, pai de Luiz Gonzaga) pra defender uns trocados. Reclamou da aposentadoria, desceu o sarrafo em Putin e se disse saudoso do comunismo. “Esse aí tá lascado, vai pra Sibéria amanhã” – sentenciou um dos caras no bar. A surpresa do cara, por certo, era com o conteúdo político do discurso, que ele imaginava proibido. Um gay, na mesma feira, falou sobre perseguição aos LGBTs. “Ora, ora – disse uma moça, depois de um gole de chope – Trump acabou de expulsar gays do exército americano. E aqui, no Brasil, não perseguem, matam.”
E o discurso de Putin na abertura? “Vai ser vaiado” – disse um. Mas foi aplaudido. Talvez, por mais de 70% do estádio, que foi por quantos foi escolhido na última eleição. “Tem câmeras vigiando por todo canto. Vaiou, vai em cana” – concluiu um outro.
“Esta foi a melhor, mais organizada, segura e tecnológica Copa de todos os tempos”, disse o suíço-italiano, presidente da Fifa.
O time do Náutico de Salomão e Bita ganhou o hexa. Os times do Brasil de Pelé e Ronaldinho ganharam o penta. A França de Mbappé, a taça e o bi. Mas foram os russos que ganharam a Copa de 2018.
O mundo viu. Há mais do que girassóis na Rússia.