O Dia Mundial da Pesca será no próximo domingo (21) e para comemorar esta data, o Coletivo Ocupe a Peixaria faz trabalho de conscientização. Na pauta com os pescadores da colônia Z-25 e membros do Coletivos falaram sobre preconceito racial, melhorias da pesca artesanal em Jaboatão dos Guararapes e como Governo Federal e municipal são ausentes em dados sobre a pesca, também o papel da universidade na pesquisa sobre a pesca e os trabalhos com a comunidade pesqueira.
O Dia Internacional da Pesca foi estabelecido em 1998 como uma oportunidade para a reflexão sobre o estado dos oceanos, peixes, pescadores e comunidades costeiras. Para celebrar esta data, o Ocupe a Peixaria – coletivo em defesa dos pescadores e pescadoras artesanais de Jaboatão dos Guararapes – fez uma visita para poder conversar com os pescadores entendendo as suas dificuldades em trabalhar durante a pandemia e o preconceito que sofrem. Porque de acordo com dados do Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, mais de 80% das pescadoras e pescadores são negras e negros, o que revela um profundo racismo ambiental e institucional no processo de desmonte das políticas públicas e assistência à categoria.
Fábio é pescador da Z-25 e faz alguns bicos de pedreiro para complementar a renda, ele relata sobre o preconceito por ser negro que sofreu e a dificuldade de viver da pesca artesanal “Eu e minha esposa que também é negra já fomos barrados de entrar num certo estabelecimento. A discriminação é muito grande por ser nego e isto precisa diminuir, pois somos todos iguais. Desejaria que a nossa batalha aqui dos pescadores pudesse melhorar e essa discriminação contra a nossa cor acabasse”
A pesca artesanal é importante para a economia e subsistência dos que vivem no litoral pernambucano e é por meio do mar que os pescadores tiram seu sustento como fala o engenheiro de pesca Vanildo Souza Oliveira, Prof., Dr. do Departamento de Pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), “A produção de alimento da pesca artesanal tem o papel social importantíssimo de dar esse suporte a essas comunidades. No estuário norte onde está localizado o canal de Santa Cruz, Ilha de Itamaracá que é o município que tem o maior número de pescado de Pernambuco. A pesca artesanal é importante para a economia, mesmo que uma pessoa esteja desempregada aquele indivíduo sabe que na maré vai conseguir pescar um caranguejo ou sururu e depois vender para ter o que comer. A pesca artesanal é importante também para as mulheres que são maioria em Itamaracá na coleta dos mariscos e estas conseguiram ter o reconhecimento e a valorização como profissional pelo INSS. No entanto, deve-se ter atenção para a exploração excessiva e é um fator que preocupa tanto as autoridades, como ambientalistas para manter o equilíbrio desses ambientes tão sensíveis atualmente.”
A ausência do Governo brasileiro com os pescadores artesanais vai na falta de dados sobre a atividade pesqueira, já que o último levantamento foi em 2011. Contudo, a pesquisa mais recente é da Auditoria da Pesca no Brasil 2020, documento realizado pela ONG Oceana, mapeou os 118 principais estoques pesqueiros do país. Destes, apenas 7 dispunham de avaliações atualizadas, o que representa 6% do total explorado comercialmente, ou seja, o Brasil não tem ideia de 94% de sua produção pesqueira.
Sobre essa falta de dados, de acordo com Vanildo Oliveira, a falta de informação prejudica a pesca em Pernambuco e no país “o Brasil é um dos poucos países do mundo que não coleta dado sobre a pesca no país, com essa desinformação não tem como estimar o quanto e o que pode ser explorado. Quando tinha o Ministério da Pesca houve a tentativa de estruturação e de manter os dados coletados pelo IBAMA e por questões políticas com o encerramento do Ministério o setor pesqueiro é uma secretaria do Ministério da Agricultura que não tem corpo técnico suficiente para tocar um setor tão importante quanto esse no Brasil e isso reflete justamente na situação que a pesca artesanal se encontra atualmente”.
O Ocupe a Peixaria tem seu trabalho como de conscientização e trazer informação, Allen Jerônimo, Idealizador e diretor do coletivo fala um pouco do seu trabalho com os pescadores de Jaboatão dos Guararapes “A parceria com a colônia dos pescadores e pescadoras da Z-25 e de todo Jaboatão ela já acontece há muito tempo. Desde a minha adolescência vivo neste ambiente costeiro e na pesca artesanal, após a criação do Ocupe a Peixaria em 2019 a união se consolidou e se iniciou uma série de atividades com esta e outras associações pesqueiras, abraçando a causa e a luta na comunidade dos pescadores. Porque esta classe fica à mercê de políticas públicas e ficam isoladas sem apoio nenhum, nosso papel enquanto ativistas é trazer informações sobre seus direitos e levar para a população em geral as ações que a comunidade pesqueira vem fazendo. Com isso, nosso coletivo percebeu esta dificuldade e resolveu criar o documentário ‘Rede de Arrasto’, com o objetivo de trazer essas informações, denúncias e contações de vitórias da classe pesqueira. Também foi idealizado para escutar a voz da mulher pescadora na orla de Jaboatão e ausência de ações do município com estes trabalhadores e documentar tudo isso para que a sociedade conheça mais de perto este mundo tão lindo que é a pescaria”.
Sobre o Dia Mundial da Pesca, Jerônimo complementa “Esta data é para comemorarmos bastante nossas conquistas e nossos avanços. Tanto na colônia quanto também no Ocupe a Peixaria, nós passamos por uma pandemia e foi muito difícil seguir com esse trabalho voluntário, mas eu sinto que é momento festejarmos, procurar a valorização e chamar a atenção da sociedade que existe uma classe pesqueira forte”
Para o Dia Internacional da Pesca é importante ressaltar o trabalho que a universidade vem fazendo com os pescadores e a sociedade, mas para isso faltam recursos e políticas públicas como relata o Prof. Vanildo Oliveira “a academia tem o papel importante em estudar os seus comportamentos, suas técnicas, tradições pesqueiras e dá um suporte no desenvolvimento nos recursos pesqueiros. Projetos de extensão financiados pela Pró-Reitoria de Extensão da área de pesca, mas ainda é muito tímido o financiamento nas pesquisas. A educação vem sofrendo bastante principalmente, as universidades com as comunidades , a não ser pelos próprios pesquisadores que correm atrás de financiamento e recentemente a Organização das Nações Unidas por meio da FAO – órgão responsável pela agricultura- no qual apoiou os projetos que as universidades tiveram acesso e havendo um acompanhamento com os pescadores e mostrando técnicas de pescas mais seletivas , principalmente de arrasto fazendo com que esse tipo de pesca diminua os impactos causados na natureza. Quando o projeto acabou ficou um hiato e não existe nenhum incentivo de trabalhos com a comunidade. A academia faz com que os estudantes estejam dentro das comunidades e eles serão os futuros profissionais e essa interação de como funciona os sistemas é importante e precisamos de políticas públicas na educação voltada para a pesca e aquicultura.”.