Do “nosso irmão” a perigo das estradas sertanejas: a trajetória do jumento nordestino – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Do “nosso irmão” a perigo das estradas sertanejas: a trajetória do jumento nordestino

O caminho de marginalização e abandono por onde segue hoje um dos animais-símbolos do Nordeste, o jumento, é o eixo central da série documental Na Contramão, produzida em parceria pela Rima Cultural e a REC Produtores.  Com exibição nos dias 12, 13 e 14 de dezembro, às 20h15, na TV Pernambuco, o trabalho foi desenvolvido a partir da chamada publica FSA 01/2014 – Arranjos regionais, lançada pela Empresa Pernambucana de Comunicação e a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), junto com a Ancine, por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).

Com direção de Marcelo Pinheiro e fotografia de Ivanildo Machado, a série é dividida em três episódios de 26 minutos, cada. Eles foram gravados em cidades de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e da Bahia. Na Contramão refaz a trajetória do jegue no Nordeste a partir do Sertão sobre rodas – onde a imagem do vaqueiro conduzindo o rebanho montado em sua moto começa a virar lugar comum.

“A ideia do projeto surgiu há alguns anos, justamente nas estradas do Sertão, onde é comum observar jumentos mortos, atropelados, às margens das rodovias. Por que seriam eles as vítimas mais usuais destes acidentes? Viveriam soltos, sem donos, sem cercas? As perguntas nos levaram a várias respostas, algumas delas inesperadas. Não eram apenas as motocicletas, de um semiárido sobre rodas, que afetavam as vidas – e, indiretamente, causavam as mortes – dos animais. A confusão era mais complexa. E a ameaça,

ainda maior. Há poucas opções para os jumentos, hoje, além dos riscos de estarem livres nas estradas. Parece sobrar apenas o confinamento ou o abate clandestino, preservadas e assim ‘salvas’ apenas as cada vez mais raras exceções”, diz Ricardo Mello, que divide roteiro e argumento da série com Rafael Marroquim.

Na Contramão promove o choque entre esta nova realidade com os valores e sentimentos que fizeram do jumento “o nosso irmão”, um trabalhador dedicado que se tornou símbolo do semiárido brasileiro. Abandonado pelos antigos donos, vagando sem serventia pelas rodovias, o animal é transformado em vítima e ameaça, sendo abatido em acidentes fatais também para muitos humanos.

“Quando iniciamos as viagens de pesquisa e pré-produção, tínhamos o foco de abordar a substituição dos jumentos pelas motos. No decorrer das viagens, apareceram outros aspectos, como o tráfico internacional de peles”, detalha o produtor Chico Ribeiro, da REC. “Percorremos quase quatro mil quilômetros de estradas e encontramos muitas pessoas preocupadas com a situação destes animais”, conta Chico.

Esse comovente caminho trilhado pelo jumento espelha a rápida transformação de vidas e costumes que toma conta do Nordeste brasileiro. Ao lado dos pequenos agricultores que não abrem mão do jegue na lida da terra e no transporte (cada vez mais raros), estão moradores de cidades em que a entrada do bicho foi proibida. Verdadeiros espaços de confinamento surgiram para manter os jegues longe das cidades e das estradas.

A solução, ao mesmo tempo em que promete resolver o drama dos acidentes noturnos, gera outro problema: o asno é animal errante, ao ser aprisionado, se deprime e morre, ou como diz o coordenador da Fazenda Paula Rodrigues, em Santa Quitéria (CE), Raimundo de

Araújo: “O animal é andarilho, e fica sentido ao ser mantido preso na cerca”.

Outro reflexo desse movimento é a formação cada vez maior de ONGs e grupos de proteção ao jumento, com a preocupação de preservar o rebanho e evitar que surjam propostas como a do recolhimento dos animais abandonados para abate. A luta de ativistas e protetores aumentou após a China demonstrar interesse pela exportação de 300 mil jumentos para servirem de alimento. Mesmo assim, o comércio ilegal do couro e da carne persiste.

“A série apontou diferentes olhares sobre o futuro do jumento, trazendo a opinião de especialistas, produtores, ativistas, artistas e agricultores que ainda fazem uso do jegue no campo. Em várias situações, homem e animal se encontram quando estão ambos à margem, ou mesmo na contramão, como no entorno de rodovias federais ou nos lixões à céu aberto de grandes cidades sertanejas”, comenta Rafael Marroquim, da Rima Cultural.

As respostas a questões sobre qual seria o destino ideal dos jegues são investigadas a partir das histórias dos próprios animais, simpaticamente transformados em personagens na narrativa. “Mais do que integrar um cenário, os jumentos são também protagonistas de uma forma de vida do semiárido brasileiro. Esse encontro entre os personagens – homem e animal – nos ajuda a refletir sobre uma relação iniciada ainda durante a ocupação do Nordeste e do Brasil”, diz Marcelo Pinheiro, diretor da série.

GAME INFANTIL

Além dos episódios na TV, Na Contramão ganhará uma versão em jogo digital, produzida pela empresa pernambucana Kokku Games.

Voltado para o público infantil (8 a 12 anos), o Donkey Blast – Na Contramão traz detalhes sobre o jumento e seus hábitos, a partir da interação da garotada com filhotes virtuais.

O game consiste em atirar botões coloridos para eliminar conjuntos de cores equivalentes. A ideia é fazer com que os pequenos conheçam mais sobre o jumento e seus hábitos, disputando fases em cinco cenários diferentes (fazenda, praia, cidade, estrada e sertão). No total, são 100 etapas.

O design do jogo dialoga com a atmosfera regional da série. Retalhos de tecidos fazem relação com o artesanato, reforçando a originalidade do Donkey Blast.

“O objetivo do game é estender a temática do documentário para as crianças de forma lúdica, sem deixar de levar informação e reflexão, principal propósito do projeto”, destaca o roteirista Ricardo Mello, da Rima Cultural.

FICHA TÉCNICA

Série: Na Contramão

Episódios: Três, com 26 minutos cada um

Direção: Marcelo Pinheiro

Roteiro e argumento: Rafael Marroquim e Ricardo Mello

Produção: Chico Ribeiro

Realização: Rima Cultural e REC Produtores

SERVIÇO:

Estreia da série documental Na Contramão – Dias 12, 13 e 14 de dezembro, na TV PE, às 20h15.

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