Combater a dor. Esse é o principal desejo dos pacientes com suspeita de chikungunya que chegam diariamente aos serviços de urgência ou aos consultórios. Os analgésicos mais receitados pelos médicos, como dipirona ou paracetamol, na maioria dos casos, passam longe de aliviar o desconforto. Como a doença tornou-se um grave problema na saúde pública – até o início de maio havia quase 17 mil casos suspeitos e 371 confirmados – e alcança parcela significativa da população, surge neste momento uma série de indicações populares do que fazer para amenizar os sintomas. Cada um dá um pitaco. Entre os médicos, no entanto, foi desenvolvido um protocolo para orientar esse tratamento.
Apesar do sofrimento que os pacientes passam nos primeiros dias da chikungunya, na sua fase inicial, há algumas restrições para o uso de medicamentos. “Não são recomendados os anti-inflamatórios nessa primeira etapa, pois caso esse paciente tenha dengue, e não a febre chikungunya, o uso desses medicamentos poderá desencadear uma reação hemorrágica. Os sintomas dessas duas doenças são bem semelhantes”, alerta o infectologista do Hospital Esperança, Moacir Jucá. Essa fase aguda dura de dois dias até duas semana.
Leia mais: Pacientes com chikungunya procuram fisioterapia
Enquanto as dores da dengue são consideradas leves e os sintomas da zika são classificados como de leves a moderados, a gravidade das sensações provenientes da febre chikungunya estariam entre moderadas e intensas, segundo os especialistas. Uma característica que acomete os pacientes desse quadro mais agravado é que a maioria segue para a fase subaguda da doença.
“Cerca de 80% dos pacientes entram nessa fase, em que há uma piora das dores articulares, em geral nas mesmas regiões já acometidas no primeiro momento, apesar de não haver mais febre. Os pacientes que continuam por mais de três meses entram numa fase classificada como crônica da doença”, diz Moacir Jucá. De acordo com informações do Ministério da Saúde, os sintomas dessa última fase podem durar até três anos.
A partir da fase subaguda e da fase crônica – já com um diagnóstico e um quadro clínico mais preciso da doença – são iniciados tratamentos com o uso de anti-inflamatórios esteroides ou não esteroides (estes últimos são conhecidos como corticoides). Aos pacientes que chegam à última fase é necessário acompanhamento de um reumatologista. Recentemente foi desenvolvido pela Secretaria de Saúde do Recife o protocolo “Manejo de Dor na Chikungunya”, que designa qual o tipo de tratamento a partir da escala de dor do paciente, que é medida de 0 a 10.
De acordo com a especialista em reumatologia e tutora de medicina da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS), Zelina Barbosa, que integrou a equipe de elaboração do protocolo, o nível da sensação dolorosa é medido durante as consultas médicas a partir de entrevistas com o paciente. “Identificamos algumas pessoas com graus 9 ou até 10. São casos mais intensos, que precisam de um acompanhamento de um especialista, pois pode haver a necessidade inclusive de usar derivados de morfina no tratamento”, afirma.
Para as crianças, que também são vítimas frequentes da doença, o protocolo de tratamento é semelhante ao dos adultos, apenas considerando a ressalva das medicações que não são recomendadas para a fase infantil. “O quadro clínico dos pequenos é bem semelhante ao do adulto. Muitas manifestações cutâneas, além das dores nas articulares são muito presentes nas crianças. O tratamento também é muito parecido, respeitando drogas que têm restrições na infância. Buscamos os analgésicos, anti-inflamatórios e corticoides que são indicados para a idade”, ressalva Zelina.
Com o desenvolver da doença alguns pacientes correm o risco de perder massa muscular ou até chegar a quadros de incapacidade funcional, de acordo com a médica. Nesses casos é possível fazer indicações de tratamentos alternativos com fisioterapia e até acupuntura. As indicações alimentares que têm sido propagadas pelas redes sociais, como o uso de sucos com inhame, não têm comprovação científica na literatura médica.
RISCOS
De acordo com a reumatologista do Real Instituto de Oncologia do Hospital Português e do Imip, Renata Menezes, os pacientes com maior risco de entrar na fase crônica, com comprometimento das articulações são as pessoas acima de 45 anos, portadoras de doenças articulares preexistentes. “O sintoma mais comum nessa fase é o acometimento articular persistente e semelhante à artrite reumatóide. Nessa fase podem ainda estar presentes a fadiga, rigidez matinal, artrite, tenossinovite e sintomas neurológicos”, declara.
Ela alerta que muitos pacientes estão se automedicando com corticóides, o que nem sempre é aconselhado, devido os riscos e contraindicações, além da volta dos sintomas após a suspensão da medicação (efeito rebote), que deve acontecer de forma moderada. Na fase crônica da artrite por chikungunya deve-se considerar, além dos corticóides, a possibilidade de uso de drogas usadas no tratamento da artrite reumatóide.
(Rafael Dantas)