Quando os profissionais, munidos com seus notebooks e smartphones, instalaram seus ambientes de trabalho nas residências, não tinham dimensão do quanto suas rotinas iriam mudar. Passado um ano, desde que a Covid-19 levou muitas empresas a fechar seus escritórios, o futuro ainda permanece meio nebuloso. Mas nesta entrevista a Cláudia Santos, o sócio da TGI, Fábio Menezes, vislumbra alguns cenários. Fábio, que é consultor em gestão estratégica de negócios, especialista em formulação e execução de planejamento estratégico empresarial, analisa as perspectivas do home office e dos impactos da tecnologia, como o 5G, além de alertar para a necessidade ainda maior de incentivar a educação no Brasil e requalificar os profissionais. Reflexões importantes para esta semana em que celebramos o Dia do Trabalhador.
A pandemia impôs a necessidade do home office para muitas empresas e chegou-se a dizer que essa seria uma modalidade de trabalho que veio para ficar. No entanto, grandes empresas, inclusive da área de tecnologia como o Google, anunciaram o retorno ao escritório, mesmo que seja de forma híbrida. Qual o futuro do home office?
Acho que o home office veio para ficar, não como substituto definitivo do trabalho presencial, mas como recurso, pelo menos para boa parte das empresas. Entendo que não necessariamente precisamos colocar a equação presencial x remoto, mas presencial + remoto. As análises que estão sendo feitas agora estão usando uma base muito específica, que é a pandemia. Muitas empresas saíram do 100% presencial para o 100% remoto, muito rapidamente, sem planejamento e sem nem mesmo desejo, foram obrigadas a se modernizar. Por isso, acho ainda cedo para avaliar se o home office funciona ou não. Aposto mais no modelo complementar: físico + remoto, com as adaptações necessárias a cada segmento de negócio, função dentro das organizações, perfis dos profissionais, entre outras características específicas.
De certa forma, o avanço da tecnologia nas últimas décadas já foi construindo essa condição. Quantos de nós deixamos de ter computadores fixos (desktops) e telefones fixos em casa? Na medida em que usamos notebooks e smartphones já facilitamos muito a circulação do trabalho pelos ambientes corporativos e residenciais, literalmente nos bolsos e nas bolsas. Quando podemos checar o e-mail ou responder a uma mensagem em qualquer lugar, dia ou horário, usando uma ferramenta que está sempre conosco, ao alcance das mãos, isso significa que é cada vez mais difícil separar o home do office. Assim como tantas outras questões, a pandemia acelerou o que já estava em curso.
Quais as habilidades que passaram a ser necessárias no trabalho com o surgimento da pandemia?
Entendo que ninguém se preparou para enfrentar uma pandemia nas proporções como estamos vivendo. Talvez só consigamos analisar bem os impactos daqui a alguns anos, depois de sairmos do meio do furacão e após vários estudos complementares. No entanto, minha impressão é que a pandemia tem sido uma espécie de “pós-graduação” em planejamento estratégico para muitos empreendedores e profissionais. De fato, estamos vivendo um tempo em que é muito difícil projetar cenários e administrar as incertezas, estamos lidando com uma variável (o vírus) ainda muito desconhecida e surpreendente.
E já que está difícil vislumbrar o futuro, um efeito quase que automático é a angústia gerada pelas incertezas, sobretudo quando os impactos envolvem o risco à saúde e à sobrevivência, tanto pessoal como empresarial. Por isso, outra competência importante é a capacidade de suportar pressões e ameaças, manter o equilíbrio e conseguir decidir com pragmatismo.
Como a tecnologia vai continuar impactando o trabalho?
O desenvolvimento tecnológico influencia a forma como as pessoas vivem de maneira abrangente – como produzem, estudam, consomem... Portanto, a tecnologia impacta também os modelos de trabalho na medida em que traz novas possibilidades, às vezes substituindo padrões antigos, outras vezes acrescentando recursos e ferramentas novas. Por exemplo, estamos nos aproximando cada vez mais do 5G e isso deve trazer novas possibilidades que mudarão a forma como muitas pessoas trabalham atualmente.
Segundo um estudo da Nokia e da consultoria Omdia, a expectativa é de mais de US$ 1 trilhão de investimento até 2035, com potencial de agregar cerca de um ponto percentual ao ano no PIB brasileiro. A implantação do 5G vai acelerar as transformações que já estão em curso como IoT (internet das coisas), big data, analytics, entre outras. Vai possibilitar a conexão não só entre computadores, tablets e celulares, como também entre outros equipamentos, como carros, eletrodomésticos, drones e máquinas.
Isso tudo muda a vida das pessoas e, consequentemente, aparecem novas demandas de trabalho. Afinal, quantas pessoas hoje trabalham diretamente com internet e mídias sociais ou usam, de alguma forma, essas ferramentas nos seus negócios?
Leia a entrevista completa na edição 181.5 da Revista Algomais: assine.algomais.com