Os médicos disseram que Emmanuel Castro viveria apenas um ano. Ele nasceu com a deficiência expondilo metafisária óssea. Uma doença rara. Seus portadores têm pequeno crescimento, má formação óssea e ele teve problemas de visão e até audição reduzida. A previsão da medicina falhou. Ele está com 32 anos. Com muita dificuldade e algum medo, venceu toda a educação básica, fundamental e o ensino médio. Mas um salto que até algumas pessoas próximas duvidaram foi a graduação. Amante da Sétima Arte, ele escolheu estudar cinema, curso que já foi concluído numa faculdade particular do Recife. Uma história de superação pela educação que está longe de terminar.
Emmanuel disse que quando era criança tinha medo do bullying dos colegas de escola. Se sentia um “alienígena” nos primeiros dias de aula. Isso tudo, além das dificuldades naturais de qualquer estudante com as disciplinas, principalmente se tratando de um aluno que tinha limitações auditivas.
Com um andajá e devagarinho, Emmanuel vive uma vida comum como qualquer recifense. Driblando os obstáculos das tortuosas calçadas da capital pernambucana, pegando caronas ou usando Uber, ele segue diariamente para seu novo curso, o técnico em rádio e tv. Frequenta os cinemas da cidade. Se encontra com amigos. Uma vida normal. “Sempre lutei pela independência, pela minha autonomia. E fazer faculdade foi importante. Eu queria também conhecer novas pessoas. Meus pais tiveram algum receio do que eu enfrentaria, mas não me impediram e me apoiaram. Aprendi muito no curso, achava as disciplinas muito interessantes”, conta o jovem. Sua trajetória já foi narrada no curta Retratando, projeto do publicitário Philipe Campelo (vídeo abaixo).
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“Tenho que andar sempre em frente. Muitas vezes preciso ir para a avenida, porque as calçadas daqui são muito ruins. Dá medo de cair. Já caí, na verdade. Pensava que a dor fosse maior”, conta Emmanuel.
A luta pela autonomia começou na escola. Sem rampa ou elevador, ele precisava do apoio de um funcionário ou algum colega mais velho para chegar até a sala. Até que decidiu falar com a direção. O pedido por melhor acessibilidade na estrutura da instituição foi atendido. Primeiro com uma rampa e depois com elevador. Uma vitória na escola que representou um pouco mais. Foi um direito atendido por sua reivindicação.
Hoje, Emmanuel diz que perdeu a timidez. Sempre que tem oportunidade fala, se posiciona nas aulas do seu novo curso. Leva sua contribuição para a aula.
Com o diploma em mãos e os conhecimentos técnicos da sétima arte, ele já participou da produção de curtas. Recentemente, ele fez a direção de arte no curta Jessie (dirigido por Stefano Spencer), que foi um dos selecionados para exibição no festival CineFantasy, em São Paulo.
Além do sonho de seguir carreira trabalhando no audiovisual, Emmanuel tem outros sonhos. Um deles é fazer intercâmbio no Canadá ou em algum país europeu. “Se eu não conseguir sair do Brasil, gostaria pelo menos de ter uma experiência morando um tempo em outro Estado, para tentar explorar mais o setor audiovisual”.
Outro projeto, esse num horizonte mais breve, é criar um coletivo com outros jovens portadores de deficiências físicas para realizar novas produções audiovisuais. As conversas e expectativas ainda estão bem no início, conversando com outros produtores e sonhando com novas possibilidades.
Entre formações, experiências profissionais e mais sonhos, Emmanuel segue sua rotina entre as salas de aula e de cinema com um bom humor e alto astral habitual. “Não tenho motivo para ficar triste. Eu me sinto amado, sou feliz. Aproveito todo o dia como se fosse o último”.
Jovens portadores de deficiências nas faculdades e universidades, a exemplo de Emmanuel, são minoria. De acordo com o último Censo da Educação Superior eles representam menos de 0,5% do total de alunos no País. Na rede privada de ensino, as estatísticas são ainda menores, apenas 0,35%.
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*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)