A XIII edição da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, o maior evento literário do Nordeste, começa hoje (1º) e segue até o dia 12 de outubro, no Centro de Convenções, localizado em Olinda. Entre os convidados já anunciados, com participação presencial ou virtual, nomes como Mia Couto, André Dahmer, Christian Dunker, Ronaldo Correia de Brito, Heloisa Starling, Kleber Mendonça Filho, Jesse de Souza, Fabrício Carpinejar, Sri Prem Baba, Claudia Costin e Clarice Freire.
Ao longo de 12 dias a Bienal PE promoverá aproximadamente 120 horas de programação, com atividades diversas. Estão previstas 20 oficinas presenciais, mais de 60 lançamentos literários, 50 palestras presenciais e outras 30 virtuais, apresentações artísticas e muito mais, totalizando 220 atividades (presenciais e virtuais). Além disso, na feira, o público poderá conferir mais de 320 estandes distribuídos em 9 mil m² do pavilhão interno do Cecon, uma área maior do que a da última edição. A previsão é movimentar mais de R$ 12 milhões em negócios durante os 12 dias de atividades ininterruptas.
E há mais nomes confirmados na programação. São eles: Itamar Vieira Junior, Lourival Holanda, Silviano Santiago, Zoara Failla, Lucia Santaella, Renan Quianalha, Josélia Aguiar, Rodrigo Casarin, Rogério Pereira, Mariana Enriquez, Lavínia Rocha, Breno Perrucho, Cida Pedrosa e Marcelo Batalha. A participação de 89 livrarias e editoras também foi anunciada.
Rogério Robalinho, produtor da Bienal PE ao lado de Guilherme Robalinho e Sidney Nicéas, adianta que a expectativa de público desta edição é de 350 mil pessoas, com 150 mil participando do evento de forma presencial e mais 200 mil acompanhando a programação remotamente, através da plataforma digital e-Bienal (www.ebienal.com). A curadoria do evento é assinada pelo jornalista e crítico literário Schneider Carpeggiani.
Como de costume, duas grandes personalidades serão homenageadas pela Bienal PE. Uma delas é o educador pernambucano Paulo Freire (in memoriam), que em 2021 completaria 100 anos de idade, e a poetisa sertaneja Cida Pedrosa, vencedora do Prêmio Jabuti de Livro em 2020, na categoria Poesia.
Edson Nery da Fonseca é homenageado da Fundaj na Bienal do Livro de Pernambuco
Em vida, o bibliotecário e escritor Edson Nery da Fonseca (1921—2014) foi um dos mais notáveis conhecedores de histórias. Muitas lidas ou partilhadas dentro dos círculos distintos que frequentou. E boa parte vivida. Considerado o papa da biblioteconomia no Brasil, o pernambucano do Recife teve papel imprescindível na criação dos primeiros cursos universitários da especialidade, colaborou com a modernização das bibliotecas no Século XX, sempre ao lado de grandes nomes. Na 13ª Bienal do Livro de Pernambuco, Nery da Fonseca é homenageado pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
A abertura oficial do estande da Fundaj será no sábado (2), às 17h. Na ocasião, a Orquestra dos Meninos de São Caetano entoará músicas em celebração ao homenageado, o qual tinha grande apreço por músicas eruditas e músicas pernambucanas. Ao todo, serão apresentadas 17 canções, entre elas a composição “No Jardim de um Mosteiro”, de Albert Ketèlbey e “Suíte Nordestina”, de José Ursicino da Silva. “Nery da Fonseca está entre os grandes nomes que marcam a história desta Fundação. Nos Anos 1980, exerceu funções de prestígio e importância à sua altura, como superintendente do Instituto de Documentação, como coordenador de Assuntos Internacionais e como assessor da presidência desta Casa”, recorda o presidente da Fundaj, Antônio Campos.
“A homenagem antecipa o centenário de nascimento do escritor, a completar-se em dezembro deste ano. Livros dele, sobre ele e filmes começam a chamar a atenção para a importância de sua obra”, completa o diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), Mario Helio. Na profissão pela qual é reconhecido até os dias atuais, o pernambucano registra marcos como a criação da Biblioteca Central, da Universidade de Brasília (UnB), onde formatou também o curso de Biblioteconomia.
Colaboradora do Programa Memória do Mundo, da Unesco, a socióloga Gilda Verri lembra que foi convidada para cursar o mestrado na UnB por sugestão de Nery. “A partir do convívio com ele minha admiração por seu trabalho com bibliografia (disciplina de Ciência da Informação) cresceu. Ele trouxe para o país questões bibliográficas no campo das Ciências e das Humanidades”, destaca Verri, que também é formada em Biblioteconomia.
No Distrito Federal, Nery da Fonseca tem sua assinatura também no acervo da biblioteca do Palácio da Alvorada. O projeto foi confiado a Antônio Houaiss e Francisco de Assis Barbosa, mas coube a ele a compra, tombamento e catalogação dos exemplares. Na cidade natal Recife, ele fundou o primeiro curso de Biblioteconomia do Nordeste e reformou as bibliotecas da Faculdade de Direito e da Escola de Engenharia. Autor de “Introdução à Biblioteconomia” (Briquet de Lemos, 2007), o bibliotecário foi um forte defensor da informatização dos acervos, ainda que muitos colegas o criticassem por acreditar que a modernização acabaria com o valor do livro.
Em “Literatura e Vida Literária: diário de confissões”, o crítico literário Álvaro Lins sublinhou: “Edson Nery da Fonseca, então jovem escritor, tornou-se a nossa maior competência e autoridade em biblioteconomia e bibliografia, presentemente, em sentido nacional e internacional”. No curso da história, assistiria nos bastidores as mudanças do Brasil. Foi professor sob a reitoria do intelectual baiano Anísio Teixeira, na UnB. Recebeu do próprio antropólogo Darcy Ribeiro, quando então ministro da Educação de João Goulart, o convite para montar a Biblioteca Central. Em Brasília, Edson foi também assessor do então presidente José Sarney.
Dentre os seus orgulhos, estava o título de maior especialista da obra do sociólogo e escritor Gilberto Freyre. Nery da Fonseca foi também amigo pessoal do autor de “Casa Grande & Senzala” e idealizador da Fundaj. Pela Editora Massangana, da Casa, ele lançou os títulos “Um livro completa meio século” (1983), um ensaio sobre o maior clássico freyriano, e “Em torno de Gilberto Freyre” (2007), publicado 20 anos após a morte do mestre de Apipucos. Ao todo, dedicou 135 ensaios à obra de Gilberto Freyre. Mas também foi amigo de Manuel Bandeira, cujos versos ele sabia de cor e salteado. Era dado a “falar” seus versos. Detestava o termo “recitar”.