Entrevista com Maria das Águas: “Nossas lutas enquanto pescadores são muitas” – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Entrevista com Maria das Águas: “Nossas lutas enquanto pescadores são muitas”

A pesca é uma das atividades econômicas do município de Lagoa do Carro, distante do Recife aproximadamente 65 quilômetros. Com a seca que se abateu na região nos últimos sete anos, a dificuldade na manutenção da atividade aumentou. Mas as lutas dos pescadores da região vão muito além do que a falta dos peixes. À frente da Colônia Z18 de Pescadores de Lagoa do Carro, Maria das Neves, conhecida como Maria das águas, falou para a Revista Algomais sobre as causas que tem levado sua categoria a se mobilizar.

Quantas pessoas trabalham com a pesca em Lagoa do Carro?
Devemos ter 150 pessoas, só em Lagoa do Carro. Outros pescadores da região são de colônias Feira Nova, Lagoa de Itaenga e Limoeiro.

Desde quando a senhora pesca?
Pescava com minha mãe os peixes de mão, desde os 7 anos, sempre fomos pescadores. Só não sabíamos que era profissão. Pescamos no Rio Capibaribe desde antes da construção da Barragem de Lagoa do Carro.

Quais as principais lutas empreendidas pela Colônia Z18 de Pescadores?
Nossas lutas são contra o devastamento ambiental, falta de respeito com o tratamento ao nosso rio, invasão de pessoas que fazem pesca predatória, sem aceitar o nosso conhecimento. Também lutamos contra as cercas das pessoas que se dizem donos das áreas em volta e proíbem a pesca. Além disso, a violência também está chegando lá. Falta um apoio mais de perto do governo em uma assistência com material, faltam canoas também para ajudar os pescadores. O pescador é um grupo muito grande, ele não precisa depender de básica da prefeitura se tem a possibilidade de buscar no rio o seu alimento.

Nado é um dos pescadores da Colônia Z18. Foto: Tom Cabral

A seca afetou a pesca?
Como afetou! Misericórdia. Afeta todo mundo em todos os lugares do Rio Capibaribe. O peixe some, se esconde, fica difícil a captura do peixe.

Qual a importância do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Capibaribe para a proteção do meio ambiente?Esse comitê é a vida do rio. Acredito e tenho certeza que é um grupo de gente que resolveu cuidar, ser pai e mãe do rio, cuidar da sua vitalidade. É muito importante, temos conseguido adesão de pessoas que pareciam não dar muita importância. Temos conseguido êxito. Temos um grande aliado, nosso presidente Alexandre Ramos, tem gente de Toritama, Feira Nova, Lagoa de Itaenga, Santa Cruz do Capibaribe, Limoeiro…

Que vitórias vocês já conseguiram enquanto movimento?
Fazemos parte do movimento dos pescadores e pescadoras brasileiros. Avançamos muito. Nos reconhecemos como profissão. Conseguímos fundar a Colonia de Pescadores. Sofríamos muito com a falta de água, mesmo vivendo bem próximo a barragem. Essa mesma água que serve para Limoeiro, Glória de Goitá, Lagoa do Carro… mas não tínhamos direito à água. Nos reunimos, fizemos piquete, queimamos pneus. E neste momento está sendo feita tubulação para que nossa agrovila tenha dinheiro à água. Agora ela chegará para nossas torneiras, mas antes era só para as cidades. Conseguimos também um projeto de lei que passou a chamar a Barragem de Lagoa do Carro (antes era conhecida como Barragem de Carpina). Não queríamos continuar com nome Barragem de Carpina, mesmo após tantos anos emancipado.

Como é a comercialização da colônia?
Levamos para feira local de carpina. Tem pessoas que vão comprar nas portas dos pescadores também. Tem o camarão, que tem clientes que vão comprar na colônia também. Temos traíra, tilápia, piaba, camarão pequeno, conseguimos apoio para o repovoamento de peixes há alguns anos, que colocou tambaquis e carpas. Temos pegado muito mais peixes nativos, que carpas e tambaquis, por conta de nossas armadilhas que não são adequadas.

Como é a luta por mais direitos para os pescadores?
Uma das nossas bandeiras é que lutamos para que o INSS reconheça o câncer de pele como uma doença ocupacional, aquela que você adquire na atividade de trabalho. Já venci dois cânceres de pele. Foi muita luta. Um foi na minha mão e outro no nariz. A mão fica no remo ou na tarrafa exposta ao sol o tempo inteiro, igualmente ao nariz.

*Recentemente chegaram chuvas na região, que trouxeram uma nova preocupação. Há um grande medo da população das comunidades vizinhas ao Rio Capibaribe, endossado pela pescadora Maria das Neves, de que a Barragem de Jucazinho, localizada em Surubim, não suporte um volume de chuvas maior. A obra de recuperação dessa barragem foi dividida em duas etapas. Apenas a primeira foi concluída.

LEIA TAMBÉM


ENTRE BARRAGENS, CANAVIAIS E GENTE

Deixe seu comentário

+ Recentes

Assine nossa Newsletter

No ononno ono ononononono ononono onononononononononnon