“A eólica é hoje a segunda fonte de geração de energia elétrica no Brasil” – Revista Algomais – a revista de Pernambuco
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Rafael Dantas

“A eólica é hoje a segunda fonte de geração de energia elétrica no Brasil”

Diante do avanço da agenda global pela transição da geração de energia em direção às matrizes renováveis, entrevistamos Elbia Gannoum, Presidente da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), sobre como anda no País a energia movida pelos ventos. Ela destaca a participação do Nordeste neste mercado (80% dos parques eólicos estão na região) e das oportunidades para quem quer investir no setor.

Qual o cenário atual da geração de energia eólica no Brasil, no Nordeste e em Pernambuco? Houve crescimento em 2020, apesar da pandemia?

A eólica é hoje a segunda fonte de geração de energia elétrica no Brasil e, em dias de recorde, já chegou a atender até 17% do País durante todo o dia. É uma trajetória virtuosa de crescimento sustentável no Brasil, compatível com o desenvolvimento de uma indústria que foi criada praticamente do zero no País, o que foi o grande desafio deste período. Do ponto de vista de resultados de instalação tivemos um bom ano e terminamos 2020 com pouco mais de 17 GW. Agora em fevereiro de 2021, a eólica acaba de atingir a marca de 18 GW de capacidade instalada, em 695 parques eólicos e mais de 8.300 aerogeradores. Vale lembrar que 80% dos parques eólicos estão no Nordeste. Pernambuco tem 798 GW e 34 parques.

Há exatos dez anos, em 2011, tínhamos menos de 1 GW de capacidade instalada e cá estamos nós comemorando 18 GWs no início de 2021. É um feito impressionante, fruto não apenas dos bons ventos brasileiros, mas também de uma indústria que se dedicou a construir fábricas, trazer e implantar novas tecnologias e que se tornou muito competitiva.

Quais as perspectivas nacionais para o segmento eólica e para as energias renováveis de forma geral no contexto pós-pandemia? Há alguma previsão de avanço para o ano de 2021?
O ano de 2020 foi muito desafiador e no que se referem à impactos da Covid-19 precisamos separar em efeitos de curto, médio e longo prazo. Num primeiro momento, o maior impacto foi a queda de demanda de energia, o que levou ao cancelamento dos leilões regulados. Para a indústria eólica, no entanto, tivemos uma boa saída que foi o mercado livre. Como o ACL já era mais importante que o ACR para eólicas desde 2018, isso nos deu uma opção para seguir fechado contratos e terminamos o ano com um bom número de novos contratos, mas todos graças ao mercado livre.

No que se refere a pedidos para cadeia produtiva, não há impactos no momento. Importante entender que as fábricas estão produzindo hoje aerogeradores, pás e torres eólicas para parques que são fruto de leilões realizados ou contratos no mercado livre nos anos anteriores, para entregas nos próximos anos. Produzir equipamentos para o setor eólico é um negócio de longo prazo. Não é, por exemplo, como outras cadeias produtivas de bens de consumo que recebem o impacto de forma muito rápida com a queda no consumo. O ponto é que a crise de demanda que estamos vivendo fará com que as contratações sejam pequenas e a retomada vai depender da velocidade com que nossa economia vai se recuperar. Não existe dúvida, no entanto, de que a expansão da matriz elétrica se dará por meio de renováveis, com forte destaque para a eólica, dados seus preços competitivos. Portanto, ainda que as contratações sejam menores, entendemos que as eólicas farão parte disso. Importante entender que uma contratação de nova capacidade de energia eólica muito pequena em 2020 e 2022 vai se refletir nas fábricas daqui cerca de dois anos, mas esse efeito pode ser diluído se o mercado livre conseguir se manter num bom nível, que é o que estamos verificando. Ainda considerando o longo prazo, sabemos que os negócios seguem sendo discutidos e o mercado livre, que já vinha representando a maior parte da contratação nos últimos dois anos, pode ser um fator decisivo para que o setor de eólica não sofra impactos muito grandes da pandemia.
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O recente movimento do presidente americano Joe Biden de adoção de várias metas para redução das mudanças climáticas pode influenciar o Brasil e o mundo no avanço nas energias renováveis?

Decisões que significam diminuir a geração de energia por meio de combustíveis fósseis e poluentes são não apenas louváveis e bem-vindas, mas profundamente necessárias para o planeta. Há um grande esforço global de vários países para aumentar o peso das renováveis em suas matrizes energéticas e as decisões do governo Biden estão alinhadas com essa necessidade e isso é uma boa notícia. No caso do Brasil, considerando que já temos uma das matrizes elétrica mais renováveis do mundo dado nosso potencial hidrelétrico, estamos caminhando bem no que diz respeito à geração de energia por fontes renováveis, sendo que a eólica é hoje a segunda fonte da matriz e deve ser uma das principais fontes de expansão para os próximos anos. Vale sempre lembrar que o Brasil tem um enorme potencial eólico, com um dos melhores ventos do mundo, o que é uma das caraterísticas que explica a grande expansão da eólica no Brasil nos últimos anos, assim como o grande futuro que essa fonte tem pela frente em nosso país.
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Quais as principais oportunidades e vantagens de se fazer uma transição para a energia eólica? 

A energia produzida pelos ventos é renovável; não polui; possui baixíssimo impacto ambiental; contribui para que o Brasil cumpra o Acordo do Clima; não emite CO2 em sua operação; tem um dos melhores custos benefícios na tarifa de energia; permite que os proprietários de terras onde estão os aerogeradores tenham outras atividades na mesma terra; gera renda por meio do pagamento de arrendamentos; promove a fixação do homem no campo com desenvolvimento sustentável; gera empregos que vão desde a fábrica até as regiões mais remotas onde estão os parques e incentivam o turismo ao promover desenvolvimento regional. Além de estarmos nos destacando, ano a ano, no cenário global do mercado de energia eólica, o Brasil também está contribuindo por um futuro sustentável para nosso planeta.

Ressalto, ainda, que a ABEEólica publicou, no ano passado, o estudo “Impactos Socioeconômicos e Ambientais da Geração de Energia Eólica no Brasil”, realizado pela consultoria GO Associados que quantifica os já conhecidos impactos positivos da energia eólica. O trabalho analisa, por exemplo, os efeitos multiplicadores dos investimentos realizados pelas empresas, assim como o impacto dos valores pagos para arrendamentos de terras para colocação de aerogeradores. O estudo também fez uma comparação entre um grupo de municípios que recebeu parques eólicos e outro que não tem energia eólica, para avaliar o impacto da chegada dos parques no Índice de Desenvolvimento Humano – IDHM e no PIB municipal. No que se refere ao IDHM e PIB Municipal, os municípios que têm parques eólicos tiveram uma performance 20,19% e 21,15% melhor, respectivamente, para estes dois indicadores. Este é um resultado que mostra que não há dúvidas: a energia eólica chega e seus efeitos positivos multiplicadores impactam nos indicadores do município.

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Empresas de que porte poderiam fazer esse tipo de investimento?

Há várias formas de se utilizar exclusivamente eólicas, desde investir grandes montantes em parques eólicos, como é o caso da Honda, que tem seu próprio parque, até investimentos menores para compra de certificados de energia renovável ou energia eólica em contratos no mercado livre.
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Você destacaria algum gargalo importante que precisa ser superado para o setor avançar mais rapidamente?
No caso do Brasil especificamente, o principal gargalo hoje não é uma questão do setor eólico, mas da economia em geral, que precisa crescer para que haja mais contratação de energia.

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