Quando se trata da rede pública, os desafios para inovar na educação são históricos e envolvem alguns milhares de alunos. Para transpor os problemas que colocavam Pernambuco entre os piores sistemas de ensino há pouco mais de uma década, o Governo do Estado elegeu alguns eixos de atuação: a melhoria da infraestrutura, o ensino em tempo integral, a oferta de insumos pedagógicos (que incluem estratégias para tornar a escola mais atraente) e aperfeiçoamento na gestão escolar. Como expoentes de um planejamento estratégico que perdura desde 2007, estão a oferta de ensino técnico e integral, e o programa Ganhe o Mundo que aposta em novas tecnologias pedagógicas.
Atrair os jovens para o ensino médio foi um dos grandes desafios perseguidos pela gestão estadual nos últimos anos. Pernambuco era, em 2007, o segundo Estado com maior evasão escolar do Brasil, com uma taxa de abandono de 24%. “Percebíamos que precisávamos não apenas melhorar o trabalho da escola, dando mais estrutura, mas tornar a escola mais atrativa. O jovem de hoje é muito diferente de décadas atrás e precisávamos de estratégicas para aumentar o interesse deles”, destaca Frederico Amancio, secretário de Educação de Pernambuco.
Para enfrentar essa realidade, uma das decisões públicas foi investir em escolas técnicas. Na época, o Estado dispunha de apenas 6. Hoje são 37 e com previsão de serem 48 unidades até o final do próximo ano. “Muitos alunos não planejavam ou sonhavam chegar à universidade, mas queriam uma formação. Esse investimento no ensino técnico, que prepara para o mercado e para a vida, não apenas para o acesso ao ensino superior, nos ajudou a atrair os jovens”, afirma Amancio. Algumas escolas já têm concorrência bastante elevada, como a Cícero Dias, cujo processo seletivo é de 15 alunos por vaga.
Uma das grandes mudanças no ensino estadual nos últimos anos foi também a decisão de disseminar as escolas de tempo integral. Ao todo já são 369 nessa modalidade (entre as de referência e as técnicas), o que representa 51% de toda a rede. “Fomos o primeiro Estado do Brasil a implantar a escola integral. Em 2007 tomamos a decisão estratégica de massificar essa experiência. Hoje temos ensino em tempo integral em todos os municípios do Estado. Em números absolutos, temos mais escolas nessa modalidade que São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais juntos”, afirma Frederico Amancio.
A ampliação do horário com os alunos e a oferta de conteúdos como empreendedorismo, protagonismo, projeto de vida, entre outros, têm possibilitado a formação de um estudante mais analítico, na avaliação do secretário. Outra característica das escolas integrais é a maior oferta de atividades em laboratórios. “O que o mercado quer não são apenas as boas notas em português e matemática, mas um profissional que saiba resolver problemas, se relacionar, atuar em equipe e se comunicar. Nas escolas de tempo integral trabalhamos essas questões e eles são estimulados a desenvolver atividades em equipe, com o professor”, explica Amancio.
O programa Ganhe o Mundo, que leva estudantes do ensino médio público para uma experiência de intercâmbio no exterior (8 países recebem alunos), é outro elemento nas ações para tornar o sistema mais atrativo para o jovem. “O Ganhe o Mundo é mais que um intercâmbio. A primeira etapa é o programa Segunda Língua, que tem 25 mil vagas de inglês ou espanhol espalhadas em todo Estado. Desses, selecionamos 1.030 que irão para o exterior, a partir de uma prova de desempenho dos alunos em português e matemática. Ele valoriza o estudante que se esforça”.
Neste ano, duas especialidades do programa foram criadas: o Ganhe o Mundo Esportivo e o Ganhe o Mundo Musical, que levarão atletas de alto rendimento e instrumentistas ou cantores para fora do País. Outra novidade é a inclusão recente da Alemanha no roteiro dos destinos que recebem os estudantes pernambucanos. Renata Cheron, 17 anos, foi uma das alunas que esteve em Dresden, cidade daquele país. “Eu nunca havia saído sequer de Pernambuco. Ir pra Alemanha foi minha primeira experiência de viagem para longe da família e dos amigos. Foi muito mais que viajar e conhecer culturas, foi, na verdade, me descobrir e descobrir o mundo ao meu redor”, afirma.
Ela relata que além de aprofundamento no idioma alemão, o programa compreendia diversas visitas culturais a museus e outros espaços turísticos, onde aprendeu sobre artes, teatro e culinária. Além do aprendizado cognitivo e cultural, ela destaca o intercâmbio com outros costumes. “Não conheci apenas a cultura alemã, já que o intercâmbio contou com mais cerca de 60 alunos do mundo inteiro, convivi com pessoas do Kuwait, Turquia, Macedônia, EUA, Itália, Índia, Indonésia, África do Sul. Acabei aprendendo a lidar melhor com as diferenças. Essa interação faz a gente ter um olhar mais humano para o mundo”.
Dentro das ações para tornar a escola mais atrativa estão ainda o investimento em robótica, o desenvolvimento de novos programas, como o Pernambucoders (a formação de clubes de programação para o aprendizado de linguagem de computadores) e a oferta de mídias digitais educacionais através do Portal Escola Conectada. O conjunto dessas atividades elevou o desempenho do sistema educacional, que assumiu a liderança nacional do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) em 2015 e tornou Pernambuco o Estado com menor índice de evasão desde 2013, sendo a taxa atual de 1,7% no ensino médio.
MUNICÍPIOS
Iniciativas para fixar o aluno na escola também são realizadas nas redes municipais. Segundo o secretário de Educação do Recife, , a fase que requer maior atenção é o período do 6º ao 9º ano, quando a taxa de abandono é maior. “Nosso desafio é tornar a escola mais interessante, com ações mais inovadoras. Investimos nas Olimpíadas dos Jogos Educacionais, que promovem uma disputa entre as escolas, numa competição com enigmas para envolver os alunos. Apostamos também no trabalho com a robótica e estamos trazendo uma experiência do uso de laboratórios tecnológicos (makers) para a rede pública, a partir de um modelo desenvolvido pela Universidade de Stanford”, afirma o secretário.
Neste ano serão instalados os dois primeiros laboratórios inspirados no modelo americano. Até o final da atual gestão, em 2020, eles estarão em 36 escolas, segundo o planejamento da secretaria. “É um espaço onde o aluno pode colocar em prática a teoria que aprendeu em sala. Não é um laboratório tradicional de ciências. Lá eles vão trabalhar com as diversos tipos de conhecimento, colocando a mão na massa, produzindo através de projetos, prototipando coisas que vão levar para o cotidiano deles posteriormente”, afirma o diretor-executivo de gestão pedagógica, Rogério Moraes.
A robótica é outra vertente pela qual o poder municipal tem atuado para tornar mais atrativo o processo de aprendizagem. “O mercado da economia criativa é crescente e demanda esse tipo de conhecimento. Estamos com pressa em conectar o nosso ensino com essa necessidade do mundo. Desde a educação infantil eles são instruídos nas primeira etapas de montagem, com o Lego, e nos anos finais começam a trabalhar com linguagem de programação. Eles aprendem a atuar em grupo e são estimulados a serem criativos com esse trabalho”, afirma Rogério.
Em Caruaru, a prefeitura lançou neste ano o Movimento Juntos pela Educação, com o objetivo de engajar a sociedade pela melhoria na qualidade do ensino no município. Os cofres municipais destinaram R$ 60 milhões principalmente para a melhoria na infraestrutura das escolas, segundo Rubenildo Moura, secretário de educação. “Estamos criando novos espaços educativos, dotando as escolas com ferramentas que possam mobilizar os estudantes na construção do conhecimento” afirma.
Além da requalificação física das unidades escolares e a aquisição de equipamentos mobiliários e tecnológicos, estão nos planos estratégicos do município o investimento em formação continuada dos professores e o avanço na oferta de escolas em tempo integral. “Faremos a implantação de quatro escolas em tempo integral, concebidas a partir de uma metodologia voltada para que o aluno do ensino fundamental tenha uma direção de vida, enquanto cidadão e profissional. É o que chamamos de escola das escolhas”, explica Rubenildo. No sistema de período integral serão incluídos 4 mil alunos do 1º ao 9º ano. “Todo esse percurso será orientado por metodologias inovadoras, que irão contribuir para que o adolescente possa definir o que vai querer do seu futuro”.
Outro projeto criado em parceria com a UFPE mantém 20 bolsistas do curso de engenharia de produção envolvidos na formação de mais de 600 estudantes de 10 escolas. “Nossa proposta é capacitar esses alunos como agentes de desenvolvimento local, criando uma perspectiva de cuidado e respeito ao meio ambiente. Eles serão estimulados a serem ativos e participativos no processo de pensar e serem protagonistas na comunidade em que estão inseridos”, explica o secretário.