Francisco Cunha: “Pernambuco perder a Transnordestina é inaceitável”

Desde que ouvi falar pela primeira vez no projeto da Ferrovia Transnordestina com dois ramais (um indo até o Porto de Suape em Pernambuco e o outro até o Porto de Pecém no Ceará) fiquei com a forte impressão de que o objetivo oculto do projeto era passar a ferrovia direto para o porto cearense, deixando o pernambucano só a ver navios e, nunca, trens.

Quando me perguntavam as razões de minha desconfiança, declinava algumas evidências como os interesses econômicos dos controladores da empresa concessionária no Ceará e em Pecém ou o fato, inexplicável, de se começarem as obras pelo trecho Trindade-Missão Velha, praticamente todo dentro do Ceará, quando o mais lógico seria que as obras começassem a partir dos portos em direção ao interior, de modo a que pudessem operar ainda sem a malha completa estar totalmente lançada…

Todavia, a principal causa de desconfiança era minha velha intuição que, ao longo da carreira profissional, aprendi a respeitar: mesmo quando não tenho evidências materiais ou lógicas consistentes sobre uma determinada questão, mas a intuição me aponta uma direção, terminei descobrindo que em mais de 90% das vezes ela está certa… E a intuição sempre me disse que não havia nenhum interesse real da concessionária (TLSA) em fazer com que o ramal chegasse, de fato, a Suape.

Eduardo Campos, quando governador de Pernambuco, certamente também desconfiado das intenções não declaradas dos controladores da empresa concessionária, montou um esquema acelerado de desapropriações que, na prática, impulsionou a construção em direção ao Suape, com os trilhos passando por Salgueiro (onde chegou a operar por um bom tempo, “a maior fábrica de dormentes do mundo”) e chegando até Custódia. Inclusive, salvo engano, chegou a ser construída uma obra bem trabalhosa que foi um túnel para permitir a passagem da ferrovia no meio do vale em que se instalou a cidade de Arcoverde.

Depois a construção parou, os encaminhamentos entraram por uma perna de pinto, por uma perna de pato, e quando saiu do outro lado, o ramal pernambucano literalmente sumiu do mapa. As doutas autoridades concluíram que… o ramal não interessava à concessionária…

Como se diz por aí: seria cômico se não fosse trágico! O interesse que deve predominar é o de uma concessionária que toca uma obra com a maior parte de recursos públicos ou os interesses nacionais, regionais e de todo um estado da Federação, debatidos há décadas seguidas? Ainda mais com alternativas econômicas sólidas e já negociadas com outros investidores privados que se dispõem até a construir uma ferrovia “paralela” para escoar minério de ferro de uma mina no Piauí pelo ramal pernambucano 100 km mais curto que o cearense?

Sem a ferrovia, o Porto de Suape, uma das maravilhas logísticas do Brasil, jamais se consolidará como um porto nacional mas, apenas, como um porto local!

Ao contrário dos concessionários, defendo enfaticamente que sejam construídos os dois ramais e não apenas o pernambucano. Vamos construir os dois e deixar que os portos compitam de forma saudável e com as mesmas condições de partida em termos de infraestrutura ferroviária! Não tenho a menor dúvida de que Suape levará a melhor pelas suas vantagens competitivas que não é o caso neste artigo repassar. Talvez seja justamente isso que os que defendem só o ramal para Pecém temam…

Pelo exposto concluo que impedir a implantação do ramal pernambucano é um crime de lesa-pátria, lesa-região e lesa-estado! Portanto, simplesmente, INACEITÁVEL!

Apelo às autoridades que ajam firmemente para impedir esses crimes! Sinceramente, diante da desfaçatez dos argumentos e das intenções, dá vontade de dizer: “Ah é? Querem passar com os trilhos direto para Pecém, sem levá-los também a Suape? Então, encontrem outro caminho porque por dentro de Pernambuco NÃO PASSARÃO!

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