Deter a derrubada da arborização é uma preocupação cada vez mais comum dos recifenses. Os moradores de um dos bairros mais conhecidos pela grande concentração de árvores, realizaram o abaixo-assinado #EspinheiroSombreado que foi entregue ao secretário de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente da Prefeitura do Recife Bruno Schwambach para que sejam tomadas providências na preservação e restauro do seu ativo ambiental. A entrega aconteceu logo após uma Audiência Pública na Câmara dos Vereadores do Recife sobre a arborização da cidade, que foi convocada pelo vereador Jayme Asfora.
O documento, com mais de 100 assinaturas de moradores e profissionais que atuam no bairro, solicita que o poder público municipal realize um diagnóstico da arborização atual do bairro e que apresente um plano de manejo e rearborização para restaurar o sombreamento do Espinheiro.
O consultor Francisco Cunha, que trabalha no bairro, é um dos militantes dessa causa. “O sombreamento do bairro está em amplo processo de degradação”, denuncia. Ele ressalta que o Espinheiro é historicamente um dos bairros mais arborizados do Recife, fruto do plantio de oitizeiros na primeira metade do Século 20, que promoveu um efeito de “túnel verde” em diversas ruas. “Hoje em apenas poucos trechos é perceptível esse efeito, porque há um processo contínuo de poda extensiva e erradicação de árvores sem replantio. Isso tem provocado a abertura de ‘clareiras’ e o aumento da insolação no bairro”, afirma o consultor.
A doutora em geografia e professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Mariana Zerbone afirma que a arborização da cidade é fundamental para o conforto e o embelezamento urbano. “Quando a copa das árvores é frondosa há uma grande capacidade de absorção dos raios solares. Isso cria um ambiente mais refrescante. Atua no microclima do local, reduzindo a temperatura”.
Ela destaca que as árvores estão no centro de uma concorrência intensa pelo espaço na cidade.“Há uma grande disputa pela calçada, pois há um conflito entre todos que a utilizam: o transeunte, os moradores, as lojas que colocam mesas, os camelôs. A árvore é mais um elemento a disputar esse espaço”, afirma Zerbone. A professora, que já realizou uma pesquisa sobre arborização na rua Amélia, há mais de uma década, destaca que além dessa tensão pelo espaço da calçada, as árvores disputam ainda o espaço do subsolo (com as encanações) e o aéreo (com os postes e a fiação elétrica e telefônica, por exemplo).
A especialista afirma que a derrubada das árvores no espaço urbano é um problema de longa data, mas que visivelmente se acentuou nos últimos anos. “Muitas vezes a própria poda errada da árvore acaba matando-a. Mas temos observado que há muitas sendo cortadas sem justificativa”, avalia.
O vereador Jayme Asfora pretende apresentar, em breve, um projeto de lei defendendo algumas medidas sugeridas pelo movimento pelo #EspinheiroSombreado. O parlamentar ressaltou na audiência a relevância das árvores urbanas para tornar a cidade mais agradável e saudável ambientalmente. “Quanto mais verde nossa cidade for, mais ela vai estimular as pessoas a andarem pelas ruas e ocuparem os espaços públicos, contribuindo, inclusive, para a questão da segurança”, afirmou Asfora.
A retirada da vegetação urbana da cidade, inclusive, entra em choque com um dos objetivos do projeto Parque Capibaribe, que é de elevar a taxa de área verde pública da cidade do Recife. De acordo com informações do projeto, atualmente o Recife tem 1,2 m² de área verde pública por habitante. A meta do parque é de que em 2037, quando a capital pernambucana completar 500 anos, essa média salte para 20 m² por habitante.
*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)