Estandartes de ideais de libertários

*Por Paulo Caldas

Dona de admirável bagagem literária, neste “O seminário” Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque sublima a criatividade e contorna os labirintos traçados pelo tempo. Num lance sutil, abdica da missão de narrar a trama e concede a prerrogativa ao memorialista Antônio Joaquim de Mello (participação de Pórcia Constância de Mello), personagem da história e que testemunhou, na alegria e na tristeza, a vida e obra do protagonista: José da Natividade Saldanha.

Assim, nesta terra dos altos coqueiros, o narrador reporta, com fidelidade, os cenários de então, inclusive com detalhes certificadores que convidam o leitor às cenas vivenciadas no Seminário de Nossa Senhora das Graças, numa Olinda ainda distante dos clarins de Momo, mas que desfila blocos de personagens históricos e ergue estandartes de pernambucanidade, soprados pela brisa perene; o aroma da maresia, em evoluções ousadas sob os céus dessa Marin do Caetés, pátria de ideais de libertários.

No decorrer dos escritos, o ontem se faz hoje no discurso pançudo do Frei Miguelinho, por exemplo, nutrido à longevidade das mazelas quando denuncia o desapego dos verdugos às ciências e às artes, mentores da derrocada, que nem os nascidos no agora.

Há recortes notáveis dos usos e costumes, gostos e preferências, e a narrativa ganha o fôlego que seduz o leitor ao ponto de trazer a história dos portais do século 19 ao contexto atual e nos leva às vivências de antanho.

Desvenda mistérios, como a origem do nome da Rua Corredor do Bispo, surgido quando da fuga do bispo Azeredo Coutinho por aquele beco, ante uma possível tocaia para matá-lo. Identifica figuras que apenas conhecemos de nome: João Ribeiro, os Franciscos Rego Barros e Paes Barreto, Saldanha Marinho, Padre Roma, Vigário Tenório e Cruz Cabugá, dentre outros.

A expectativa da leitura nos conduz ao desejo de chegar naquele lugarzinho da casa, exclusivamente nosso, sentar, acender o quebra luz e carpir a liberdade amputada quando da malograda revolução, contudo aplaudir a certeza de que o poder da poesia pertenceu a Natividade Saldanha: E o que mais ele poderia querer?

Com a produção gráfica da Editora Bagaço, revisão de Iolita Campos, capa de Alexandra de Moraes, o livro tem nas “orelhas” um texto primoroso de autoria do escritor Luiz Carlos Albuquerque e prefácio de Arno Wehling. Os exemplares podem ser adquiridos na editora pelo telefone 3205.0132/0133.

  • *Paulo Caldas é Escritor

Deixe seu comentário
anúncio 5 passos para im ... ltura Data Driven na sua empresa

+ Recentes

Assine nossa Newsletter

No ononno ono ononononono ononono onononononononononnon