Pesquisa identifica diferenças geracionais nas aspirações de moradia e aponta que Gerações Y e Z preferem viver em casas, enquanto Boomers e Geração X optam por apartamentos

Mesmo com o avanço do aluguel e o aumento dos custos imobiliários, o sonho da casa própria ainda resiste entre os brasileiros. Uma pesquisa realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) revelou que 95% dos jovens brasileiros desejam ter um imóvel próprio na terceira idade. O estudo foi publicado em julho de 2025 no International Journal of Urban and Regional Research (IJURR) e analisou preferências habitacionais entre diferentes gerações da classe média urbana.

Segundo o pesquisador Rafael Kalinoski, doutor e urbanista da PUCPR, os dados desafiam a ideia de uma “geração aluguel”. “Os padrões observados desafiam narrativas simplistas de uma suposta ‘geração aluguel’. Há uma série de fatores - individuais, sociais, temporais e espaciais -, que, somados às condições econômicas, mudanças políticas e circunstâncias pessoais, ajudam a explicar o desejo pela casa própria”, afirma. A pesquisa mostra que, embora muitos jovens vivam de aluguel por necessidade, a posse do imóvel continua sendo uma meta de vida.

Três perfis de aspiração

O estudo identificou três perfis distintos de aspiração habitacional. O perfil tradicional, mais comum entre os Boomers (1945-1964), associa a propriedade à segurança e status. O perfil pragmático, predominante entre a Geração X (1965-1984), enxerga o imóvel como proteção patrimonial. Já o perfil flexível, típico das Gerações Y (1985-1999) e Z (a partir de 2000), valoriza liberdade e experiências em detrimento de compromissos financeiros de longo prazo — mas ainda assim mantém o sonho da casa própria como ideal futuro.

Diferenças entre gerações

Os dados também revelam contrastes quanto ao tipo de moradia desejada. Enquanto 75% dos jovens da Geração Z e 58,1% da Geração Y sonham em viver em casas, apenas 38% dos Boomers e 38,2% da Geração X compartilham essa preferência. Entre os mais velhos, o movimento é inverso: 46,8% dos Boomers preferem apartamentos. “Atribuímos esse padrão ao chamado ‘efeito de experiência’: quanto mais vivências habitacionais ao longo da vida, maior o reconhecimento das vantagens práticas dos apartamentos, como acessibilidade, segurança e baixa manutenção”, explica Kalinoski.

Realidade econômica e perspectivas

Embora o aluguel seja hoje uma alternativa comum nos centros urbanos, o estudo mostra que 90% dos entrevistados ainda associam a casa própria à estabilidade e conforto na velhice. “Não estarem presos a uma propriedade permite que explorem oportunidades educacionais, profissionais e pessoais sem as restrições que a aquisição de uma casa própria e suas dívidas associadas podem impor. Mas os jovens podem abraçar esse ideal não porque realmente o prefiram, mas porque veem a aquisição de uma casa própria como inatingível”, observa o pesquisador.

Serviço
Pesquisa: “A ilusão da flexibilidade: aspirações de moradia entre gerações no mercado formal do Brasil”
Publicação: International Journal of Urban and Regional Research (IJURR) – julho de 2025
Disponível em: onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1468-2427.70007