A partir do próximo dia 9 de junho, o Museu do Trem, no centro do Recife, vai receber a exposição Caleidoscópio que reúne três artistas de diferentes gerações numa mostra conjunta. Daniel Santiago, representante da geração 1960, Gil Vicente, dos anos 1970, e Marcelo Silveira, da década de 1980. Apesar de terem despontado na cena artística em momentos distintos e trabalharem com uma poética também diferente, pode-se buscar pontos de convergência e diálogo entre eles. A mostra, que tem curadoria de Joana D´Arc Lima, e é patrocinada pelo Funcultura, fica em temporada até 29 de julho. A exposição já passou por Petrolina e Garanhuns e encerra sua circulação agora no Recife.
Os três artistas guardam entre eles uma conversa, uma proximidade e uma cumplicidade notadamente revelada nessa exposição pelo ato de produzir imagens com base no gesto de criação lúdico e experimental. Em suas trajetórias e experiências de formação, as biografias desses criadores se entrelaçam na dinâmica do campo artístico em Pernambuco, convivem juntos, estabelecem proximidades e distancias, similitudes e diferenças, se tocam em muitos fazeres das artes visuais contemporânea e da história da arte brasileira.
Frequentaram os mesmos espaços de formação da cidade do Recife em épocas diferenciadas, exphttp://portal.idireto.com/wp-content/uploads/2016/11/img_85201463.jpgam juntos, ocuparam os espaços de exibição, enfim, habitam o mesmo território. Todos os três, à sua maneira, produziram em alguns dos seus trabalhos invenções lúdicas e maneiras de brincar com os materiais, com formas, espaços e com os participantes, o que a curadora chamou de poética lúdica.
Nessa esteira interpretativa consideramos que o brincar tem uma analogia direta com as imagens produzidas pelo caleidoscópio. “As múltiplas visões, possibilitadas pela transformação contínua de combinações e encontros de formas, cores e composições, numa rede de relações harmônicas, se assemelham à forma de encarar a vida sob a perspectiva das possibilidades, da sensibilidade, da criação, da invenção e reinvenção do mundo. A ideia de caleidoscópio, como brinquedo de adulto e criança ao mesmo tempo, com suas infinitas combinações, cai bem com a ideia de conhecimento, como algo plural (que também contêm o singular) dos diversos pontos de vista de uma mesma realidade. Brincar – por que não dizer? – é uma forma mais bela de se ver o mundo!”, explica Joana D´Arc.
O mote para a exposição foi a potencialidade do caleidoscópio, que forma imagens virtuais à medida que o objeto é manipulado manualmente. Trata-se de um instrumento óptico que serve para criar efeitos visuais simétricos com o auxílio de um conjunto de espelhos e vidros coloridos. “Imagens fragmentadas, fraturadas, irreais, obtidas por meio da manipulação do outro e ou do gesto dos artistas interessam estar presentes nessa exposição. Juntar, justapor, manipular, inventar, enganar o olhar, construir um fractal – estrutura geométrica complexa cujas propriedades, em geral, repetem-se em qualquer escala – são gestos que resultam em trabalhos que estarão presentes na exposição”, detalha a curadora.
O artista Daniel Santiago criou o seu próprio caleidoscópio (uma escultura de madeira com espelhos, 120 x 50 cm). A obra é um objeto interativo que o público poderá manusear produzindo uma sorte de imagens. Um vídeo apresenta ao público um experimento de Daniel, que colocou uma câmara fotográfica dentro do caleidoscópio e transformou-a no seu personagem central, na sua Câmera Atriz, como foi batizada a obra. Gil Vicente vai expor a série de desenhos recentes Espelho Meu, a série Cartemas (que se inspira em Aloísio Magalhães e traz a ideia do duplo) e uma coleção de pequenos objetos escultóricos. Marcelo Silveira acompanha os colegas e também propõe um trabalho que aposta na variação das imagens, algo que está no cerne do conceito de Caleidoscópio, porém perturbando o espaço físico da mostra. Ele apresenta uma obra inédita composta de 18 portas que se entrelaçam e formam um grande círculo, formando um espaço que só pode ser alcançado pelo olhar que sorrateiramente espreita por meio de brechas. Novamente aqui a força do olhar e do movimento do corpo são colocados em movimento na busca de ver o que não se pode alcançar com os pés.
Também Marcelo Silveira construirá uma” espécie de caleidoscópio” dentro do espaço expositivo. Uma grande parede espelhada será composta por ele, numa tentativa de transformar o espaço físico que abrigará a mostra num grande caleido que captura os movimentos dos visitantes e os demais trabalhos dos artistas presentes. Uma pequena instalação com placas de acrílico (quase um penetrável) será instalada no espaço, provocando sempre o olhar e o movimento do corpo. O formato final dessa montagem é sempre uma surpresa, pois a exposição Caleidoscópio tira partido do espaço físico. Certamente o resultado será diferente das montagens feitas em Petrolina e em Garanhuns.
“As múltiplas visões, possibilitadas pela transformação contínua de combinações e encontros de formas, cores e composições, numa rede de relações harmônicas, se assemelham à forma de encarar a vida sob a perspectiva das possibilidades, da sensibilidade, da criação, da invenção e reinvenção do mundo”, pondera Joana D´Arc. Etimologicamente, a palavra caleidoscópio se originou a partir da junção dos termos gregos kallós (“belo”, “bonito”); eidos (“imagem”); e skopeo (“olhar para”, “observar”). Assim, o significado original da palavra grega seria “ver belas imagens”.
A partir dessas referências, a proposta da mostra é reunir processos criativos e poéticas de três artistas para sobrepô-las em suas identidades comuns e nas suas diferenças. Segundo a curadora, as ideias de sobreposições de poéticas, o fazer junto, a cooperação, o fundir-se, o associar-se e o separar-se serão operados enquanto movimentos de criações coletivas. “Todas essas dimensões que permitem as invenções coletivas e as visibilidades individuais serão ampliadas para o público visitante, que será entendido como participador das obras construídas ampliando, por meio de seu toque e gesto, sentidos de cada um dos trabalhos expostos. Um jogo entre artista, participador, funcionários. Achamos que a arte, em seu horizonte maior, serve para aproximar, juntar, sobrepor, separar e abrir conversas. Por isso Caleidoscópio nos parece importante no contexto atual da contemporaneidade”, detalha Joana D’ Arc.
Caleidoscópio – Daniel Santiago, Gil Vicente e Marcelo Silveira
Curadoria: Joana D´Arc Lima
Vernissage: 9 de junho de 2018, das 10h às 13h
Visitação: 11 de junho a 29 de julho de 2018
Museu do Trem: Rua Floriano Peixoto, s/n, São José
Horário: Terça a sexta, das 9h às 17h, sábados das 10h às 17h, e domingo das 10h às 14h.