Presidente da Comissão de Acessibilidade e Mobilidade da Câmara do Recife, Fabiano Ferraz fala nesta entrevista concedida ao repórter Rafael Dantas, da Revista Algomais, sobre os trabalhos do legislativo municipal, comenta o impacto da pandemia nos transportes do município e destaca o incentivo aos deslocamentos a pé e por bicicletas.
No último mês, a Algomais publicou uma Sondagem sobre Mobilidade Urbana, realizada com os vereadores da Câmara Municipal do Recife. Confira também os resultados dessa pesquisa exclusiva.
Sondagem: vereadores defendem mobilidade ativa e transporte público
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Quais as principais pautas da comissão de mobilidade da Câmara do Recife em 2021?
FABIANO FERRAZ – Iniciamos os trabalhos da Comissão de Acessibilidade e Mobilidade da Câmara do Recife buscando, principalmente, entender quais iniciativas estavam sendo tomadas e quais poderiam aparecer como alternativas para os recifenses dentro desta pandemia do novo Coronavírus. Para isso, realizamos reuniões com representantes do Consórcio Grande Recife e visitamos dois Terminais de Integração de Transporte Público, onde realizamos vistorias e sugestões de melhorias na prevenção à Covid-19.
O incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte também é uma das nossas pautas. Criamos a campanha “Bora de Bike”, que começou incentivando os funcionários da própria Câmara ao uso da bicicleta no deslocamento até o trabalho, mas que também tem o objetivo de conscientizar e influenciar todos os recifenses no uso desse meio de transporte mais sustentável. Em uma reunião com a CTTU, discutimos sobre os Planos de Mobilidade e Cicloviário da Cidade.
Recebemos em reuniões representantes do Sintespe e Unitrans/PE, além de um debate sobre a Segurança Viária da capital pernambucana, uma parceria da Prefeitura do Recife com a Iniciativa Bloomberg.
Especificamente sobre mobilidade ativa, quais as preocupações do legislativo municipal e o que é possível ser feito para incentivar os deslocamentos a pé e por bicicletas?
FABIANO FERRAZ – Uma das pautas que estão sendo discutidas dentro do legislativo municipal tem relação com a segurança destes usuários, principalmente dos pedestres que, segundo dados, entre 2017 e 2019, foram as principais vítimas dos acidentes de trânsito (46%). Os ciclistas são 9% destas vítimas. Uma percentagem menor, mas também muito preocupante. Estamos pedindo o aumento no número de vias com ciclofaixas e ciclovias, além da melhora na infraestrutura das calçadas, para tornar os caminhos mais seguros e atrativos, servindo também como incentivo à caminhada.
Na sua opinião, como a pandemia impactou essa temática da mobilidade urbana?
FABIANO FERRAZ – Com a diminuição das frotas de ônibus, mas com a necessidade de muitos recifenses continuarem trabalhando, a falta de veículos nas integrações acabou levando superlotação para o transporte público. Mesmo com todo o cuidado tomado pelo Grande Consórcio Recife com a limpeza dos terminais, estes são locais propícios para a contaminação. Muitas pessoas também optaram pelo uso mais constante do veículo próprio, buscando se defender do Coronavírus, por causa da própria indicação de distanciamento social. Então temos mais carros nas ruas, circulando pela cidade, o que também influi na necessidade de melhorias das vias.
Estamos em constante conversa com o Grande Recife Consórcio, buscando alternativas para diminuir a grande quantidade de pessoas nestes terminais. Também por isso estamos sempre buscando incentivar a utilização das bicicletas e as caminhadas, para aqueles que conseguem chegar aos seus destinos andando, sendo eles mais próximos.
O transporte coletivo público no Recife é integrado com os demais municípios (seja o ônibus ou o metrô). Nesse cenário que extrapola os limites do município, é possível que a Câmara Municipal aprove leis que incentivem o transporte público? Caso, sim, que medidas estão em discussão?
FABIANO FERRAZ – A Câmara Municipal aprova leis relacionadas à cidade do Recife, cabendo incentivar melhorias dentro do seu município. Entretanto, algumas ações já foram propostas pela Câmara Municipal do Recife, que ultrapassam os limites municipais da RMR, com o intuito de melhorar as condições de transporte coletivo público de toda a população. Foi o caso, por exemplo, da legislação sobre ar-condicionado nos coletivos que se originam no município do Recife, mas adentram outros municípios da RMR, interferindo, dessa forma, na autonomia dos municípios afetados pela proposta.
Ainda neste semestre, se discutiu e foi proposto reforçar o transporte público com o apoio das estruturas (veículos e pessoal de operação) dos transportes de turismo e escolar, porém os tipos de veículos disponíveis nestas categorias, além de questões jurídicas complicadas, estão travando a continuidade desta iniciativa.
Estamos sempre buscando alternativas que melhorem a qualidade e o serviço oferecido no nosso transporte público.
Há alguns meses foi debatido no Recife o escalonamento das atividades econômicas para reduzir a pressão sobre o transporte público nos horários de pico. Qual a sua opinião sobre essa temática?
FABIANO FERRAZ – Esta é uma medida que poderia trazer um benefício significativo à redução das aglomerações em terminais e nos veículos, mas sua implementação enfrenta grandes dificuldades, haja vista a intricada relação entre as múltiplas atividades econômicas exercidas na Região Metropolitana do Recife, os variados interesses pessoais dos usuários do sistema de coletivos e as limitações e premissas estabelecidas, política, institucional e administrativamente por cada município integrante da RMR. Por isso que nenhuma das iniciativas já tentadas em cidades brasileiras de diversos portes, surtiu um efeito que pudesse ser considerado um sucesso permanente. Evidentemente, a Comissão de Mobilidade da Câmara do Recife estará atenta à promoção de ideias e sugestões que possam contornar as dificuldades apontadas e propiciem situações de efetivo ganho para a população, no que se refere à redução das aglomerações e a consequente diminuição dos índices de contaminação no transporte coletivo.
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