Antes da pandemia pensar em abrir uma faixa exclusiva para o transporte público na avenida de maior movimentação do Recife era um tabu. Há um consenso da necessidade de investir no transporte público e na mobilidade ativa para tornar a cidade mais sustentável, mas a resistência em reduzir o espaço do veículo individual para os coletivos sempre foi grande. Hoje (16), um dia após a reabertura de mais uma etapa das atividades econômicas no Estado, foram abertos 4 quilômetros de Faixa Azul na Avenida Agamenon Magalhães.
O cálculo da Prefeitura do Recife é que essa medida irá beneficiar mais de 250 mil passageiros que utilizam uma das 64 linhas de ônibus que circulam na via. Para comparar com os veículos particulares, segundo a PCR circulam em média 150 mil passageiros nos carros e motos nessa avenida, embora ocupem mais espaço. Para exemplificar a necessidade de inversão da lógica de prioridade dos deslocamentos na cidade, a última pesquisa de origem e destino desenvolvida pelo Instituto Pelópidas Silveira apontou que mais de 78% dos recifenses vão ao trabalho de transporte público, de bicicleta ou a pé.
Com o novo corredor, o Recife chega à marca de 62 km de corredores de ônibus. Para as dimensões do Recife e diante da grande circulação de veículos de toda a RMR, são necessários mais avanços tanto em faixas exclusivas, como na retomada dos BRTs e no investimento em metrôs e VLTs para qualificar o transporte público do Estado e inverter a lógica de favorecimento das vias aos veículos particulares, conforme sugeriram Mariana Zerbone, Rafaella Cavalcanti e Túllio Ponzi em recentes publicações na Algomais. E, diante dos riscos que o uso dos transportes públicos oferecem de disseminação do novo coronavírus, é preciso que se pense num novo padrão desses modais, reduzindo consideravelmente a enorme aglomeração nos terminais e nos próprios ônibus e metrôs.
Apesar desse “porém”, a abertura do corredor na principal via da cidade é um marco, que embora estivesse nos planos há anos, se torna um legado importante do período da pandemia. Que outras mudanças na cidade surjam desse momento de extrema dificuldade, mas que exphttp://portal.idireto.com/wp-content/uploads/2016/11/img_85201463.jpgam que o antigo “normal” não era tão normal assim. A ampliação do espaço para as bikes, maiores investimentos em calçadas e de estrutura para os pedestres e ao menos o planejamento da expansão do sistema metroviário poderiam ser os próximos passos para compor a construção do “novo normal” da Região Metropolitana do Recife.
*Por Rafael Dantas, jornalista, especialista em gestão pública e mestre em Extensão e Desenvolvimento Local (rafaeldantas.pe@gmail.com | rafael@algomais.com)
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