Os analistas que descrevem e interpretam os fenômenos históricos, sociais e econômicos se atêm geralmente aos fatos. Todavia, fatos não se constituem apenas em temas para análise, eles contêm emoções porque envolvem fenômenos coletivos, alguns trágicos, que se entranham na existência de cada pessoa. Guerras e revoluções e, mesmo transformações que não causam rupturas bruscas, trazem consigo um caudal de experiências humanas que eventualmente são registradas por observadores, sejam eles jornalistas ou literatos, entre outros, que têm um olhar diferenciado sobre a aventura da humanidade. Transições políticas e econômicas violentas também produzem grande impacto sobre as vidas das pessoas. As guerras civis e insurreições na África e no Oriente Médio são fatos que alimentam os temas dos analistas políticos, mas o drama humano dos milhares de refugiados é algo que parece fugir, na sua inteireza, ao nosso alcance.
Isso se aplica ao desemprego. No caso da economia brasileira, a maior recessão já registrada na história, legado de anos de irresponsabilidade fiscal e monetária do Governo Dilma, causou enormes perdas para os brasileiros. A maior delas foi o desemprego, manifestada objetivamente pelo rompimento ou dificuldade de acessar o mercado de trabalho de onde as pessoas retiram, pela venda dos seus serviços, o sustento do dia a dia. O fato é que hoje 12,6% da força de trabalho brasileira, cerca de 13 milhões de pessoas, estão buscando emprego. Desses, alguns milhões perderam seus empregos, outros milhões se incorporaram à procura por trabalho para compensar a desocupação de familiares ou simplesmente porque chegou o momento, no ciclo da vida, de entrar no mercado. A história de vida de cada um deles é pontuada por aflições, ilusões, esperanças e decepções. Uma trajetória repleta de emoções que não são captadas pelos números nem iluminadas pela análise das causas da crise econômica.
Temos agora o fato da minha despedida e a emoção de não lhe ter mais como meu leitor nesta revista onde pretendi ser formador de opinião. Durante os 11 anos em que escrevi mensalmente na Algomais, acompanhei de perto os fatos econômicos do Estado e do País, analisei os ciclos de subida e descida da economia, aplaudi iniciativas, critiquei omissões, apontei erros, avaliei propostas e falei também dos sonhos e das realizações dos brasileiros, em geral, e dos pernambucanos, em particular. Tratei também das emoções que nos atingiram quando o imponderável da vida e da morte atravessou-se na nossa frente e dos enormes desafios que ainda temos de enfrentar: a violência que agora volta a nos assustar, a desigualdade que continua sendo o maior estigma da nossa sociedade, a educação das nossas crianças e jovens que persiste em nos provocar e a assistência à saúde da população que apresenta tantas deficiências. Esses foram temas, associados de alguma forma à economia, que também abordei nessa coluna.
Agradeço aos leitores, à direção da revista que me convidou em caráter pessoal para assumir a coluna de Economia e à Ceplan- Consultoria Econômica e Planejamento da qual tive que furtar algumas horas mensais de trabalho como sócio-diretor para escrever os artigos. Foi um privilégio compartilhar com vocês, leitores, fatos e emoções. Vamos nos encontrar em outro espaço. Até logo.
Fatos e emoções
Claudia Santos
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